It was.
It was raining.
It was raining when we first met.
Raining like crazy.
I was curious about him. I was curious about that man in front of me. His
strange socks and shoes. I was intrigued by his look too. It was raining. It was raining
when we first met. I was frozen in the crowd like a corpse, a dead person, deciding
what to do next. Should I take another plane? Could they cancel the flight because of
the weather? Then he came to me, asking if I was okay. He was wearing a suit, but he
had strange colored socks and weird shoes on his feet. It was funny. Usava um crachá
com seu nome, um dos três nomes estava destacado, indicando sua preferência.
Ahmed Lavi White. Lavi era sua escolha, sua preferência, era como ele queria ser
chamado. Eu estava curiosa sobre ele, sobre tudo nele. Seu sobrenome era White, mas
ele era preto. Seu nome era Lavi, mas ele usava uma pulseira com crucifixo. Seu nome
era Ahmed, mas ele era britânico, aparentemente. He was like a brand-new world to
discover, a completely different language to understand. He asked my name. A chuva
começava devagar, preguiçosa. Then it was like the world could end. Eu não tinha um
guarda-chuva, tudo o que eu tinha eram algumas memórias, nas quais me afoguei.
“Are you really okay, Laura?”, he asks me again.
Eu estava submersa, mas sua pergunta me faz voltar à superfície. Mesmo
assim, não sei o que responder. Provavelmente não, não estou nada bem, ainda estava
confusa, sem saber o que fazer. O que eu vou fazer com elas agora? O que eu vou
fazer com todas essas memórias? Eu me levantei, mas parece que ainda estou no chão.
Como se recupera de algo assim? Por que eu deixei as coisas chegarem a esse ponto?
Eu achei que sairia ilesa desse jogo, mas ele ganhou. Ele me venceu. Nenhuma derrota
doeu tanto quanto esta. O que eu vou fazer agora? O que eu vou fazer com essa chuva
que me lembra o dia em que nos conhecemos? O que eu vou fazer com esse medo? O
que eu vou fazer?
“I think there’s something in your hair”, ele diz enquanto se aproxima, tocando
meu cabelo, cuidadoso. E num instante, num gesto sutil que me surpreende, ele move
minha cabeça em direção ao seu peito. Só aí percebo que estou chorando. Não havia
nada no meu cabelo, eu tenho certeza, mas eu aceito esse abraço, estranho, peaceful,
warm and quiet. Talvez ele seja algum especialista em psicologia ou psiquiatria,
porque ele sabe exatamente o que fazer.
Eu quero descansar, eu quero dormir. Acho que passei a minha vida toda
tentando ser o mais forte que eu pudesse ser, gastando todas as minhas energias nesse
empreendimento, porém, agora eu quero descansar, só descansar, sem pagar um preço
muito alto por isso. Seria possível? Será possível descansar sem pagar tão caro por
isso? Eu quero um sono tranquilo, que não me assuste, eu quero uma morte tranquila.
Será que ainda precisaria esperar muito tempo pelo meu descanso?
“You’ll be alright, Laura”, Lavi afirma, numa voz doce. “Don’t worry
anymore, okay?”
Eu acredito nele, acredito que vou ficar bem, que tudo vai passar. Não sei onde
consigo coragem para acreditar nisso de novo, mas eu acredito, mais uma vez. A
minha viagem não foi planejada, eu simplesmente acordei na manhã seguinte ao
desastre e parti, sem dar muitas explicações. Eu tinha muitas folgas para tirar, nem
lembrava a última vez que havia tirado férias, então a administração pública me devia
essa. Eu parti sem muito rumo, só precisava de um tempo sozinha, longe de tudo.
Minhas memórias e emoções estavam descontroladas, eu não conseguia lidar com
muita coisa. Eu já estava cansada de ficar murmurando para mim mesma o mesmo
mantra de sempre, exigindo uma força que talvez nem precisasse ter, pelo menos não
o tempo todo. Então eu desembarquei ali e fiquei fascinada por umas meias coloridas,
dentro de um sapato também um pouco estranho, estava pensando se devia pegar
qualquer outro voo para bem longe desse lugar. Estava pensando que lembraria dele
agora toda vez que chovesse. Estava pensando que não queria pensar nele no tempo
passado.
Quando me dou conta disso, eu me assusto, eu acordo, entendo que tem um
estranho me abraçando. Eu o afasto de forma abrupta. Não é esse o homem que me
faz dormir. Mas ele tem um sorriso muito gentil no rosto, e conseguiu me acalmar por
momento, então eu vou lhe agradecer, antes de partir.