“Esse acordo foi péssimo! Eu fui lesada!”, grito, fugindo dele. “Você não me
deixa dormir!”, gargalho, quando ele me alcança de novo. “Eu saí prejudicada aqui!
Vou ter que rever com o pessoal do jurídico, preciso encontrar uma brecha, preciso
quebrar esse contrato!”, brinco.
Ele beija minha orelha, fazendo cócegas.
“Tão ingênua! Achando que pode fugir de um animal com fome!”, diz,
enquanto me abraça de novo, daquele jeito apertado que não me deixa respirar direito.
“Bernardo, eu estou realmente com fome”, reclamo.
Ele me solta, me encara, de um jeito que já conheço.
“Não!”, grito. “Eu estou com fome de verdade, entendeu?”
Bernardo ri, então toma minha mão e finalmente vamos preparar alguma coisa
para comer.
Ele tem me mantido numa espécie de cárcere privado, se não brigar, não
consigo nem me alimentar ou hidratar o suficiente. Ele nunca está satisfeito, nunca
saciado, e agora estou quase tão faminta quanto ele. Mas eu preciso recuperar um
pouco da minha rotina, preciso voltar para casa, preciso tomar uma taça de vinho na
minha sacada, preciso trabalhar até tarde, tudo que não tenho feito nos últimos dias.
Estou praticamente morando na casa dele. Não quero isso, concordamos de caminhar
devagar. Combinamos de manter nosso relacionamento em segredo no trabalho,
embora o falatório já tenha começado e se intensifique a cada dia, principalmente após
nosso momento na rua perto do ministério, eu prefiro esperar para assumir
abertamente o nosso caso.
Tudo isso era preocupação para outra hora, porque hoje eu estava muito
animada, hoje eu finalmente conheceria o filho dele. Não era uma surpresa para mim
quando Bernardo me disse que tinha um filho, logo no início. Durante minhas
pesquisas sobre a vida dele, quando ainda tinha receio da sua chegada no ministério,
eu encontrei essa informação num dos artigos que li. Quando ele me contou isso, tinha
uma expressão engraçada no rosto, como se eu pudesse desistir do nosso acordo
porque ele tinha um filho. Bernardo não fazia ideia de como eu estava feliz por ele ter
alguém assim em sua vida.
Ele me falou muitas coisas sobre o filho, como o fato de ele morar com a mãe,
como o fato de se verem pouco, infelizmente. Joaquim era uma criança de oito anos,
era muito tímido, ao contrário do pai, não falava facilmente com todas as pessoas,
então me identifiquei com ele antes mesmo de conhecê-lo. Bernardo me disse que
namorou a mãe do Joaquim quando eram bem mais novos, que não planejaram a
criança, mas que ficaram muito felizes com o seu nascimento. Foi um de seus
inúmeros relacionamentos pouco duradouros, com Natália, a mãe de seu filho, mas
ambos desenvolveram uma amizade não só necessária para Joaquim, como para o
término saudável que tiveram.
Eu queria que Joaquim gostasse de mim, estava ansiosa. Nem me lembrava
mais dessa sensação.