“Tem certeza de que quer fazer isso?”, ela me pergunta.
Eu tomo a escova da sua mão, obrigo ela a se sentar na cama, de costas pra
mim. Inacreditavelmente, estou escovando os cabelos molhados dela, tentando ser um
homem diferente, tentando ser paciente. O mais engraçado é que com ela nem parece
tão difícil. Sentimento foda do caralho!
Beijo seus ombros nus, querendo fazer amor com ela de novo.
Ela está quase adormecendo ao meu toque, e isso me faz sentir como se eu
tivesse tudo. Toda vez com ela é isso, é esse sentimento foda, como se eu pudesse ser
um desgraçado feliz pra caralho. Beijo seu pescoço cheiroso, trago ela pra mais perto,
tô viciado nesse cheiro! Preciso me controlar, é difícil. Só que nessa noite, antes da
gente fazer amor, tem umas coisas que preciso entender.
Lembro do outro dia, no restaurante. Aquela conversa tá me incomodando, não
sei bem por quê. Quando ela disse que estava disposta a se arriscar por mim, eu queria
beijar ela inteirinha, calar a boca daquela mulher dos infernos, mas tive que me
segurar. Só não vou ficar puto com ela porque aquele papo de merda acabou me
ajudando, e porque entendi que ela só estava preocupada com a Laura. Não tinha como
aquela mulher saber o que sinto.
Ela foi embora e a Laura ficou ali, tentando não chorar. Fiquei meio perdido,
sem saber o que fazer, querendo socar a cara de qualquer filho da puta responsável
pela tristeza dela. Falou que a família não ligava pra ela, falou que nunca tinha se
apaixonado. Eu não entendi, não acreditei, porque pra mim é impossível que nenhum
filho de puta tenha ganhado o coração dela antes. Foi aí que eu saquei que podia ter
acontecido alguma merda. Fiquei curioso sobre ela, sobre a vida dela, talvez
preocupado. Merda! Eu fiquei inseguro! Bateu um medo danado de fazer merda, medo
de machucar ela, dando razão pra todo mundo.
“Bernardo?”, ela me chama.
Percebo que eu viajei.
Beijo seus ombros de novo.
“O que foi?”, ela continua.
“Laura, no restaurante...”
Perco a coragem. Não tô acreditando na merda que tô fazendo!
“Sim?”
“Sua família...”
Ela se vira pra mim.
Merda!
“O que você está tentando me perguntar?”
Ela fica me encarando com aqueles olhos lindos da porra!
Tento falar alguma coisa, não sai nada. Merda! Merda!
Tô perdido, mas ela me entende. Sorri, me matando.
“Eu não tenho contato com a minha família, Bernardo. Na verdade, eu não
tenho uma família”, ela parece tímida, é a primeira vez. “Sou o resultado de uma
traição, então nasci odiada por duas famílias. Como era muita gente me detestando,
eu corri de casa bem cedo e fui viver minha vida.”
Ela continua rindo, tentando disfarçar sua vergonha. Ela sempre tenta disfarçar
tudo, seu choro, seu desconforto quando demonstro afeto, sua dor. Percebo, de novo,
que ela é perfeita pra mim. É uma mulher foda do caralho.
Não sei o que dizer, por isso lhe abraço.
Ela está chorando agora, sinto suas lágrimas pingarem no meu ombro. A
porcaria do meu coração se parte. Tô perdido, mas tenho que fazer alguma coisa. Pego
ela no meu colo, limpo seu rosto, beijo seu cabelo molhado e cheiroso.
“Estou feliz que eles não gostem de você, meu amor”, consigo finalmente falar,
esperando seus olhos assustados, quando ela me olha, eu dou um sorriso, tentando
afastar essa merda toda. “Desse jeito, eu não preciso dividir você com ninguém.”
Ela ri, eu consigo arrancar isso dela.
Beijo seus lábios úmidos, aprendendo como fazer isso, como beijá-la com
carinho, como controlar meu desespero por esse corpo dela que me deixa louco. Mas
aí ela me envolve com essas pernas gostosas, que já quero tanto morder de novo, e me
empurra na cama. Tem um olhar faminto, essa mulher. Minha mulher. Só minha.