Não posso dizer que o convite de Natália para tomar um café com ela realmente
me surpreendeu. Eu estava preparada para qualquer reação da sua parte, após o
aniversário de Joaquim. Estava pronta para um ataque ou para uma tentativa de
reconciliação, que podia muito bem ser outra tentativa de me manipular. De toda
forma, eu aceito seu convite, quero ver o que vai acontecer.
Ela acaba de chegar no lugar marcado, senta-se de frente para mim e pede um
capuccino. Percebo alguma coisa como vergonha no seu semblante. Espero paciente,
deixando que ela conduza esse encontro.
“Laura, muito obrigada por me encontrar aqui”, inicia. “Eu realmente
precisava falar com você depois da festa do Joaquim.”
Eu balanço a cabeça, assentindo.
“Eu detestei a forma como ficamos naquele dia”, prossegue. “Eu preciso pedir
desculpas, Laura. Não foi minha intenção falar com você daquela forma.”
Bebo um gole do meu café, ela continua:
“Eu aprecio de verdade a sua preocupação com o Joaquim, sei que você quer
se aproximar dele.”
Encaro-lhe, é um aviso.
“Não estou dizendo que está fazendo isso com segundas intenções, por favor,
não é isso”, ela se atrapalha. “Eu sei que você realmente se importa com o Joaquim.
E eu sou mesmo grata por isso.”
“Então qual é o real problema, Natália?”, quero saber, ainda paciente.
Ela suspira, toma coragem para continuar.
“Acho que eu fiquei apavorada, Laura”, confessa. “Eu fiquei apavorada
quando percebi quão sério o Bernardo está em relação a você.”
Ela me analisa, estuda minha reação. Não esboço nenhuma, então ela continua
mais uma vez:
“Não é segredo para ninguém o que eu sinto por ele”, ela ainda está
envergonhada. “Quando eu conheci você, Laura, pensei que poderia me aproximar,
que logo você e o Bernardo terminariam e eu voltaria a me iludir com a possibilidade
de reatarmos algum dia.”
“E a Júlia?”, pergunto, calma.
Natália derrama algumas lágrimas.
“Eu a amo também, mas nosso relacionamento é complicado, Laura.”
Eu não tinha mais dúvidas sobre isso.
“Você pode me perdoar, Laura?”
Penso numa resposta.
“Naquele dia, o Joaquim me perguntou se eu amava o pai dele, assim como
você”, comecei, assistindo mais lágrimas derramarem pelo rosto dela. “Quando eu
precisei elaborar uma resposta para o Joaquim, eu disse que amar é querer que o outro
fique sempre bem”, encaro seus olhos chorosos. “É assim que você ama o Bernardo,
Natália? Você quer que ele fique sempre bem ou essa possibilidade não existe se ele
não estiver com você?”
“Você é muito cruel, Laura”, ela sorri, enquanto ainda chora.
“Não, Natália, crueldade é você trabalhar duro para conseguir a confiança de
alguém e depois explodir o chão sob seus pés”, digo. “Crueldade é você descuidar do
que precisa proteger.”
Ela começa a chorar convulsivamente. Eu espero, paciente.
Quando Natália se acalma, ela me pergunta:
“Nós ainda podemos ser amigas?”
“Só depende de você”, respondo, sinceramente.