“O que você queria ser quando era criança?”, pergunto, um pouco incerta.
Bernardo beija meu pescoço, respira profundamente, antes de responder:
“Jogador de futebol, claro.”
Rimos.
Ele aperta meu corpo contra o seu, então continua:
“Para um moleque como eu, sem porra nenhuma, crescendo sozinho na favela,
os jogadores de futebol eram deuses, era um sonho comum”, ele beija meu cabelo.
“Por que você me perguntou isso, amor?”
“Estive pensando no sonho do Joaquim”, respondo, rindo das cócegas que ele
me provoca. “Qual será o sonho dele, Bernardo?”
Bernardo se interrompe por um momento, está envergonhado. Conheço bem
essa expressão.
“Eu acho que você devia passar mais tempo com ele, Bernardo”, tento, ainda
incerta. “Posso ver como ele observa você, como espera sua atenção. Acho que você
é como um jogador de futebol para o Joaquim, Bernardo. Acho que você pode ser o
sonho dele.”
“Laura...”
Bernardo está triste, eu lhe abraço, tentando apertá-lo da maneira como ele faz
comigo quando estou triste.
“Eu sei que é difícil pra você”, continuo. “Eu sei que você não sabe o que fazer
na maioria das vezes, mas acho que podia tentar mais um pouco. Só fique do lado
dele, Bernardo. O Joaquim é muito esperto, ele vai saber o que fazer com você.”
Nós rimos.
Bernardo me toma em seu colo.
“Acho que você tem essa mesma habilidade, amor”, diz. “Você sempre sabe
direitinho o que fazer comigo.”
Bernardo realmente dá muito trabalho. Sinto pena de mim e do Joaquim.