Joaquim se esconde atrás da mãe, ele não quer me conhecer. Engulo a
decepção, tentando entender a criança. Se eu estivesse em seu lugar, também não
gostaria de conhecer a namorada do meu pai. Não pude evitar pensar na minha
madrasta, mas estávamos há anos luz de distância em qualquer comparação.
“Filho, responde a Laura”, implora Natália.
Joaquim não cede.
“Não se preocupe, Natália”, sorrio para a mulher que encarna o estereótipo da
beleza grega, dessas que poderia seduzir o humano ou o deus que quisesse. “Está tudo
bem”, garanto.
Embora eu mantenha a minha postura o máximo que posso, estou realmente
ansiosa, querendo que tanto Joaquim quanto Natália gostem de mim. Eu não queria
parecer uma intrusa em suas vidas. Então Bernardo coloca uma mão na minha cintura
e beija meus cabelos, estragando tudo. Fico imóvel, com receio de ter ofendido
alguém, não sei bem quem.
Ele me solta e busca o filho atrás da ex-namorada. Pega-o em seu colo, tenta
fazê-lo rir sem muito sucesso, leva-o para a mesa posta, onde faremos a refeição em
breve. Acho que eles tentam ter uma conversa pai e filho, acredito que Bernardo tenta
tranquilizar a criança, embora já tenha falado com ele sobre mim noutro momento,
quando eu não estava presente, logicamente.
Ficamos eu e Natália ali, encarando a outra, envergonhadas.
Bernardo me disse que Natália tem uma namorada agora, que está muito feliz,
eu acredito nele, mas ainda assim é uma situação estranha para mim, tentar conversar
com sua ex-namorada, mãe do seu filho, sobretudo quando sou péssima nisso.
“O que acha de bebermos um pouco de vinho?”, tento, meio tímida.
“Claro!”, ela aceita, também sem muito jeito.
Seguimos para a cozinha, cômodo que tanto ela como eu conhecemos bem.
Ainda sem saber se devia deixá-la fazer isso ou não, sirvo a bebida em duas taças.
Bernardo e Joaquim ainda conversam na sala. Não podem nos ouvir, a menos que se
esforcem para isso.
“Muito obrigada pela oportunidade, Natália”, começo incerta. “Eu estava
muito ansiosa para conhecer o Joaquim.”
Ela sorri, é doce.
“Só dê um tempo para ele, Laura. Tenho certeza de que vão ser bons amigos
em breve”, ela bebe um pouco do vinho.
“Não tenho certeza se posso perguntar...”
“Claro que pode!”, ela me interrompe.
Reúno coragem para fazê-lo.
“Como ele reagiu com as outras namoradas do pai?”
Natália parece confusa.
“O Bernardo nunca apresentou o Joaquim para nenhuma delas, Laura”, diz por
fim. “Claro que sabíamos, eventualmente até nos encontrávamos com algumas, mas
elas nunca foram propriamente apresentadas.”
Merda!
Bebo um gole de vinho, tentando digerir tudo.
“Foi uma grande surpresa quando ele nos contou sobre você”, ela prossegue.
“Imagino que seja algo especial, entre vocês dois.”
Levo um susto, ela percebe isso.
Natália ri, amigável.
“Não se preocupe comigo, eu gostaria muito que fossemos amigas”, ela se
aproxima e segura minhas mãos. “Se o Bernardo escolheu você, deve mesmo gostar
de você. Isso significa que vamos nos ver bastante, significa que você fará parte da
nossa vida, então não se preocupe, estamos em família aqui.”
Não sei o que me assusta mais, a possibilidade de ter uma família ou as palavras
dela, nas quais quero tanto acreditar.
“Muito obrigada, Natália”, tento ser doce também. “Significa muito ouvir isso
de você.”
Ela me abraça, de repente. Fico imóvel. Não estou confortável, mas não posso
fazer nada além de abraçá-la também.
“Eu estou muito feliz por vocês”, ela continua. “O Bernardo merece ser
finalmente feliz, depois de tudo o que ele passou.”
E suas palavras ficam suspensas, estou à deriva, numa confusão difícil de
compreender. É muita coisa para processar. Não, não se parece nada comigo. Essa
abertura exposta, fenda que não fecho, coloca o meu coração em perigo. É como se
qualquer um pudesse tomá-lo. Preciso me lembrar: eu não sou mais uma garotinha
vulnerável.