Era uma péssima ideia, mas eu já estava habituada e fazer péssimas escolhas,
então concordo. Estamos diante desse monte de gente em volta da piscina, bebendo e
nadando, nesse churrasco para o qual eu não devia ter me inscrito. Bergmann conversa
com dois colegas mais adiante, eu fico lhe encarando, até Rafa me puxar num canto e
pedir para eu não ser tão óbvia. Beto já sumiu outra vez, como tem feito com
frequência, mas não dizemos nada.
Eu ainda não estava segura o suficiente para tirar minhas roupas e ficar só de
biquíni, por isso usava um vestidinho mais solto, muito a cara do verão, tentando não
deixar muito explícito o que eu pretendia esconder. Como sempre, Rafa logo está
enturmada, conversando com um monte de gente que desconheço. Eu, que não tenho
essa habilidade ou disposição, resolvo me sentar numa bancada, próxima à
churrasqueira, analisando a higiene do local. Em alguns momentos, quase me levanto
e vou embora, de tão entediante que é o barulho na minha cabeça e as conversas
cruzadas que sem querer eu ouço.
“Você gosta de mim?”
Eu levo um susto, olho para o lado, para o dono daquela voz agora tão familiar.
“Eu... Eu? Não!”, tento responder Bergmann, completamente desorientada.
“Pensei que gostasse, porque você fica me encarando”, ele diz isso e toma um
gole da bebida que carrega numa caneca escura.
“Ah, eu... Eu... Não...”, enquanto gaguejo, ele me entrega sua caneca.
“Experimenta isso aqui.”
Analiso o conteúdo da caneca com preocupação, mas acho que eu beberia até
veneno se ele me oferecesse com aquele sorriso.
Dou um gole, estranho o gosto, mas bebo mais alguns goles. E assim, sou
batizada. Agora vou beber vodca o resto da minha vida.
“Não é tão ruim”, falo.
“Mentirosa”, ele acusa.
Rimos disso, e meu coração dá uns pulinhos, como idiota.
“Eu não gosto de você, Gabriel”, falo depressa, tentando consertar o bem
entendido dele.
“Tudo bem”, ele ri de novo. “Nesse caso, devolve minha caneca.”
“Nunca mais”, eu alego.
Ele concorda, esconde o sorriso, e vai embora. Fico me perguntando se eu
devia ter falado outra coisa, alguma que pudesse mantê-lo por perto por mais tempo.
Ele volta para seus amigos e eu fico com a sensação de que estraguei tudo.
A tarde passa rapidamente e logo é noite, ainda estamos ali, na beira da piscina
e bêbados. Depois de falar com Bergmann, depois de achar que estraguei tudo, quero
dançar e esquecer o fiasco, quero que ele me veja dançando e que venha falar comigo
outra vez. Isso não acontece, então eu desperto desse meu sonhar acordada e percebo
que quase todo mundo foi embora. Beto não apareceu ainda e Rafa saiu há alguns
minutos, com um menino que estava xavecando. Enquanto estou ali, um pouco bêbada
demais e triste, um dos colegas de Bergmann se aproxima de mim. Eu não lembro o
nome dele também. Ele fala comigo, e vai colocando suas mãos na minha cintura, vai
se aproximando demais, como se fosse me beijar. Eu não quero isso, mas não consigo
falar nada. É como se eu estivesse sem voz. Estou sem voz, porém, consigo recuperar
um pouco da minha força, então empurro o menino, quase me desequilibrando com o
gesto. Vejo o rosto dele, sente raiva, como se eu não tivesse o direito de colocá-lo em
seu devido lugar, como se eu não tivesse apenas me defendido. Ele acha que eu não
sou ninguém para empurrá-lo dessa forma, que não poderia jamais rejeitá-lo, por isso,
ele também me empurra.
Caio na piscina, mas não sei nadar. Estou um pouco perdida, enquanto me
debato com a água. Interrompendo o meu desespero, Bergmann aparece, e me ajuda
a voltar à superfície.
“Você está bem?”, ele pergunta, ofegante.
Quero chorar, estou assustada, tentando entender o que aconteceu.
“Maria, você está bem?”, ele repete, urgente.
Eu acordo.
“Sim, estou”, sussurro, envergonhada. “Obrigada, você me salvou.”
“Você não sabe nadar?”, pergunta.
Estou confusa, mas respondo:
“Não.”
Bergmann se aproxima, sorri e diz:
“Hold your breath.”
Eu obedeço, enquanto afundamos.
Debaixo d’água tudo era mais bonito.