“Eu não sei que porcaria você pensa que está fazendo com sua vida, Maria,
mas você precisa acordar”, Beto quase grita. “É legal estar com essa galera, só que
você precisa ficar esperta. Berg é um cara legal no rolê. No rolê, entendeu? Não pense
nele fora de lá, não leve esse cara pra sua vida. Ele fica com qualquer uma, então, se
não quer ser qualquer uma, se liga!”
Minha cabeça explodia, eu podia entender o meu amigo, mas queria tanto estar
enganada, queria tanto que ele estivesse enganado. Por algum motivo, eu não
conseguia me iludir totalmente. Talvez fosse o comportamento de Bergmann nos dias
seguintes àquele. Ele não voltou a falar comigo, parecia me evitar. Eu me aproximava,
ele afastava, sem nenhuma desculpa, sem cerimônia, como se ficar perto de mim fosse
incômodo, desagradável. Ou talvez estivesse apenas esclarecendo as coisas: ele não
queria mais nada comigo. Fui tão idiota, tão estúpida, tão tola.
Apesar de ainda confiar nele, de um jeito estranho porque ele nunca dera
motivos para isso, algumas pessoas do grupo ficaram sabendo sobre nós, então não
pude evitar a dúvida. Eu estava exposta, alvo de cochichos, de comentários entre os
meninos nas mesas de bar, entre as meninas na manicure, entre todos eles nas festas
do clube. Eu não podia acreditar que Bergmann tivesse contado, acreditava mais na
possibilidade de alguém ter nos visto naquele dia. De toda forma, eu era a única
exposta, porque, conforme logo descobri, não era a primeira vez que Bergmann
transava com uma menina virgem. Nesses ciclos, ele era elogiado como se fosse
alguma espécie de modelo ou super-herói para os outros meninos, enquanto eu saí da
história como a garota burra que ficou com o maior pegador do grupo.
E assim eu fui me afastando deles, todos eles. O momento decisivo para isso
foi quando uma das inúmeras garotas declaradamente a fim de Bergmann veio me
dizer, como se fossemos amigas, que eu não precisava ficar com vergonha, porque eu
não tinha sido a primeira a me enganar pela encenação de Bergmann, com sua voz e
violão e um olhar que nos fazia sentir únicas e especiais.
Então eu acreditei, acreditei em todos eles, e duvidei de mim. Fiz tudo o que
eu pude para correr daquela cidade, como se precisasse fugir dali. Precisava respirar,
e não poderia fazer isso no pequeno amontoado de pedras que formavam casas
tombadas pela prefeitura.