As três batidas firmes na porta eram caracterÃsticas de Eros quando ia procurá-la e encontrava a porta fechada.Â
O capitão e melhor entre os protetores a acompanhava de perto desde que ambos eram quase crianças, quando ainda não era a senhora e sim uma noviça escolhida como herdeira. Era de longe a pessoa em que mais confiava.Â
Trancada com os netos por tempo suficiente para preocupar seu protetor, quase se esqueceu de que havia um mundo demandando atenção.Â
Abriu só um pouco a porta e puxou Eros para dentro pelas roupas. Ainda não queria que o conselho os visse. O acordo de serem um lugar seguro para os netos nunca tinha sido mencionado para ninguém. Primeiro porque esperava que não fosse necessário e que o filho estivesse errado, um pouco de paranoia resultado de um mundo de medo constante misturada ao trauma pelo que havia passado, e porque se mencionasse a alguém, acabaria chegando aos ouvidos do conselho e eles não se recusariam a dar guarida aos garotos, mas exigiriam que a segurança do herdeiro fosse garantida, ainda que passando por cima de sua vontade.Â
Eros ouviu a porta sendo novamente trancada a suas costas enquanto analisava os dois homens naquele quarto. Nunca os tinha visto antes, pela lógica só podiam ser os filhos de Elohi, mesmo que faltasse um. Se virou para encarar a Senhora que estava junto a porta.Â
A pergunta não indicava a preocupação. Não era o momento.Â
—Eu não sei, acho que sim. Eu ouvi a voz dele a pouco.Â
—Quer que eu vá buscá-lo?Â
—Não sei onde ele está. Não consigo encontrá-lo. Não, não é um momento bom para ficar sem você aqui.Â
Liana não poderia explicar se precisasse, sentia o peito apertado e uma eletricidade percorrer o ar. Algo grande estava para acontecer e a sensação de não saber o que era torturante.Â
—Se houver algo dele com vocês, acho que podemos ver como ele está. Â
Liana o encarou, se perguntando do que ele falava. Eros pareceu perceber a confusão de sua protegida.Â
—Eu nunca fiz, nem acho que posso. Vi algo a respeito em um dos livros que o garoto esqueceu em casa na última visita. Ele saiu tão apressado que se esqueceu dele. Não é um livro nosso, é uma coisa encardida com ideias estranhas, mas pode ser útil numa hora dessas. Â
O rosto de Liana se iluminou um pouco. Elohi já tinha comentado algo sobre os estudos que fazia sobre outros povos, ela não gostava da ideia, sempre tinha dito que eram aprendizados sujos, ele insistia que saber nunca era demais, vai saber quando precisaria?Â
—Eu quero ver esse livro!Â
Eros saiu em seguida, mantendo seu ritmo normal e seus passos firmes seguido por Liana e seus netos. Não precisavam alarmar ninguém fora do quarto do espelho.Â