Christian caminhou pelas ruas tranquilas de Hinode, uma pacata cidade japonesa onde a vida fluía sem pressa. Com menos de cinco mil habitantes, era um refúgio de simplicidade e tranquilidade, onde os residentes se conheciam pelo nome e os rumores raramente se espalhavam. As lanternas de papel penduradas nas pequenas lojas de artesanato lançavam uma luz suave, iluminando as calçadas de pedra e criando um cenário acolhedor. Ao se dirigir ao galpão abandonado nos arredores da cidade, Christian sentia a atmosfera envolvente e familiar de Hinode, onde a natureza se entrelaçava harmoniosamente com a vida humana. As árvores de cerejeira, ainda vestidas com algumas folhas douradas do outono, balançavam suavemente ao vento, como se sussurrassem segredos antigos. Ali, a desconfiança e o frenesi das grandes cidades não faziam parte do cotidiano, trazendo um conforto singular.
Ao entrar no galpão, a luz fraca refletiu nas paredes de madeira desgastadas. Harlan, um vampiro antigo conhecido como Yin de Eternité, estava sentado à mesa, cercado por documentos e uma aura de ansiedade. Quando Christian entrou, ele ergueu o olhar, um misto de alívio e nervosismo na expressão. “Você chegou,” Harlan disse, ajustando os papéis à sua frente. “Esse é o nome que você escolheu?” Ele deslizou um passaporte forjado, onde os caracteres kanji formavam o nome "Taishou Seiji." Christian pegou o passaporte, admirando a habilidade com que Harlan havia elaborado o documento. “Taishou Seiji,” repetiu, deixando um sorriso se formar em seus lábios. “Um nome que soa forte e respeitável.” Harlan assentiu, aliviado ao ver a transação se desenrolando como esperado. “Espero que você consiga usar isso sem problemas. Aqui em Hinode, ninguém questiona nada.”
Christian observou o vampiro, lembrando-se da estranha amizade que haviam formado ao longo dos séculos. Desde o encontro em meados do ano 1700, Harlan sempre teve gostos peculiares para “serviços do submundo,” como forjar identidades e até mesmo mortes. Apesar de ser um membro do clã de Eros de Eternité, ele nunca havia tentado matá-lo, e sim ajudado a moldar diversas vidas diferentes para que pudesse continuar sobrevivendo nesse mundo em constante mudança. “E sobre o pagamento?” Christian perguntou, abrindo uma pequena bolsa de couro e colocando-a sobre a mesa. O tilintar do ouro ecoou suavemente, e Harlan olhou para as moedas, seus olhos brilhando com a promessa de um ganho considerável. “Aqui está. Suficiente para garantir que você não se esqueça de mim.” “Só espero que ‘Taishou’ seja mais discreto que os nomes anteriores,” Harlan comentou, agora um pouco mais relaxado.
“Discrição é minha especialidade,” Christian respondeu, guardando o passaporte cuidadosamente em seu bolso. “E lembre-se, Harlan, não procure por mim a menos que eu o chame. Aqui, em Hinode, a vida é simples, e quero que continue assim.” “Certo. Cuide-se, Taishou,” Harlan murmurou, aliviado por encerrar a transação e perceber que nada o ligava a este lobisomem de passado misterioso. Ao sair do galpão, agora com a nova identidade de Taishou, Christian se misturou à atmosfera serena de Hinode. A cidade não tinha a agitação das metrópoles, e os moradores eram calorosos e acolhedores, tornando seu novo nome perfeito. Ele se sentia como um estranho que poderia se tornar parte da tapeçaria da cidade, sem levantar suspeitas. O vento suave acariciou seu rosto, e enquanto caminhava, Taishou sentiu uma nova determinação brotar dentro dele. Em Hinode, ele encontrava um espaço onde poderia construir um novo começo, longe das sombras de seu passado. A eternidade poderia ser um fardo, mas agora, com a identidade de Taishou Seiji, ele estava pronto para enfrentar o futuro, mesmo que a dor da perda de sua amada Catarine ainda o perseguisse.
Taishou caminhava pelas ruas tranquilas de Hinode, absorvendo a atmosfera serena da pequena cidade. Cada passo que dava na calçada de pedra era acompanhado pelo suave balançar das árvores de cerejeira, que pareciam dançar ao ritmo da brisa suave. O ar estava impregnado com o aroma doce das flores em flor, e a luz do sol filtrava-se através das folhas, criando um padrão de sombras e luzes que dançava sob seus pés. Os moradores passavam por ele com sorrisos acolhedores e acenos amigáveis, e Taishou sentia que já fazia parte daquela comunidade, apesar de sua nova identidade. As pequenas lojas de artesanato, com suas lanternas de papel iluminadas, convidavam a uma exploração tranquila, mas ele preferia a simplicidade da vida ao ar livre. A ideia de se estabelecer em uma cabana isolada na floresta, rodeado pela natureza, preenchia seu coração com uma sensação de paz que ele não sentia há muito tempo.
Enquanto passeava, Taishou visualizava o futuro ao lado de Caleb. Ele se imaginava contando histórias ao filho sob a luz do luar, com o som suave da floresta ao fundo. A vida de andarilho que conhecera por séculos parecia agora um peso desnecessário. Em Hinode, ele poderia finalmente ter um lar, um lugar seguro onde Caleb poderia crescer longe das sombras de seu passado. Ele acreditava que, juntos, poderiam criar memórias, construir uma vida cheia de amor e alegria, longe das complicações do mundo exterior. O caminho que levava à sua cabana era ladeado por flores silvestres e arbustos densos, um santuário isolado que oferecia a tranquilidade que ele tanto desejava. O som dos pássaros cantando, misturado ao suave murmúrio de um riacho próximo, criava uma trilha sonora perfeita para seus pensamentos. A imagem da cabana, com suas paredes de madeira rústica e uma chaminé que soltava uma leve fumaça, trouxe um sorriso ao seu rosto. Era ali, naquele espaço simples, que ele poderia realmente viver, sentir-se em casa e proteger Caleb de qualquer mal que pudesse ameaçá-los.
A visão da floresta ao seu redor, com suas árvores imponentes e o sol filtrando-se através das folhas, reforçou a certeza de que tinha feito a escolha certa. Hinode era o lugar onde poderia deixar para trás a vida solitária e cheia de perigos, e abraçar uma nova jornada, uma repleta de amor, paz e esperança. Taishou sentiu um leve peso se dissipar de seus ombros, enquanto seus olhos brilhavam com a determinação de criar um futuro melhor para si e para Caleb. A vida que ele sempre desejara estava finalmente ao seu alcance, e ele estava pronto para acolhê-la de braços abertos. Yin de Eternité, sob o codinome humano Harlan, caminhava de volta para sua casa isolada em Hinode, onde a tranquilidade da natureza circundante envolvia o pequeno refúgio que ele chamava de lar. O crepúsculo lançava um suave tom dourado sobre a floresta, e as folhas farfalhavam levemente ao vento, quase como se sussurrassem segredos antigos. Ao entrar em sua casa, o aroma acolhedor do chá de jasmim o envolveu, e ele se permitiu um momento de paz enquanto preparava a bebida, sabendo que seu trabalho no submundo sempre exigia uma certa dose de tensão. Após a água ferver, Yin despejou o líquido quente em uma xícara de cerâmica delicada, observando as folhas de chá se agitando antes de se acomodarem no fundo. Ele se sentou à mesa, um olhar contemplativo no rosto enquanto se perdia em pensamentos sobre as vidas que havia moldado ao longo dos séculos. A solidão de sua existência era uma companhia constante, mas as pequenas alegrias do dia a dia, como o ritual de tomar chá, o mantinham ligado à humanidade.
No entanto, essa paz foi interrompida por uma presença familiar que parecia se manifestar no ar ao seu redor. A temperatura do ambiente caiu ligeiramente, e o espaço se encheu com a energia quase palpável de um ser poderoso. Eros de Eternité, o mestre de Yin, apareceu diante dele, sua figura imponente projetando uma sombra que parecia absorver a luz ao redor. "Oh, Mestre," Yin disse, sua voz um misto de respeito e leve sarcasmo, "o que devo a sua presença em minha humilde casa?" Eros, com seu olhar penetrante, não perdeu tempo com formalidades. "Sem papo furado, Yin. Quero um relatório de toda criatura sobrenatural que você ajudou a mudar de identidade no último século." Yin franziu a testa, sabendo que, embora Eros tentasse manter uma postura austera, havia uma preocupação não ditada em sua voz. Ele lembrava-se das histórias da infância de Eros e Christian, amigos inseparáveis cujos laços haviam sido forjados em tempos de inocência e camaradagem. "Está procurando alguém em específico, mestre?" "Você sabe que estou."
"Oh, mestre," ele respondeu, com um sorriso maroto, "mas você sabe que meus serviços são...estritamente sigilosos." "Só me responda se ele ainda está vivo." Yin hesitou um momento, ciente de que Eros, apesar de sua fachada fria e autoritária, sempre nutria uma preocupação profunda por Christian. O vampiro sabia que, de séculos em séculos, seu mestre havia buscado informações sobre o amigo que desaparecera. "Christian," ele confirmou, observando a expressão de Eros se suavizar levemente. "Sim, ele ainda está vivo." "Ótimo, isso é tudo que eu desejo saber," Eros disse, sua presença poderosa diminuindo um pouco enquanto a urgência de sua busca era satisfeita. Yin soltou um suspiro de alívio, embora uma parte dele se perguntasse qual seria o destino de Christian, um homem que, mesmo depois de tantos séculos, ainda provocava um misto de admiração e preocupação. Ele sabia que a busca de Eros por Christian era apenas o começo de algo que poderia se desdobrar de maneiras imprevistas. Ao olhar para o mestre, Yin percebeu que, por trás da máscara de autoridade, Eros carregava a dor da amizade perdida e a esperança de reencontrá-la. E, com isso, uma nova responsabilidade começou a pesar sobre os ombros de Yin: ele teria que proteger essa conexão, mesmo que isso significasse intervir em um jogo muito maior do que imaginava.
Eros de Eternité sentiu o familiar poder da magia se agitar ao seu redor enquanto ele se preparava para abrir um portal. A aura do castelo que agora chamava de lar, situado na sombria Inglaterra, o envolveu, e, com um gesto ágil da mão, ele criou uma fenda no espaço-tempo. As luzes brilhantes se entrelaçaram em uma dança vibrante e, num piscar de olhos, Eros se viu novamente em seu castelo, onde Demétrio o esperava, um sorriso travesso nos lábios. Demétrio estava recostado em um dos sofás de veludo escuro da sala, um copo de vinho tinto em uma mão e um olhar inquisitivo em seu rosto. “Finalmente, você retorna. Estava começando a me perguntar se você havia decidido se esconder novamente de seus problemas,” ele brincou, dando um gole na bebida. Eros deixou escapar uma risada, embora sua expressão revelasse a seriedade da missão que o trouxera de volta. “Ele ainda está vivo.” A resposta provocou um arqueamento de sobrancelhas por parte de Demétrio. “Eu não sei por que você ainda se importa com Christian. Eu pensei que você odiasse lobisomens.” “Ora, Demi, você e Christian são... exceções deliciosas da minha longa vida,” Eros respondeu, um brilho peculiar nos olhos.
“Eu odeio tanto lobisomens que eu moro com um,” Ele completou, um toque de sarcasmo na voz. “Não me irrite, degenerado,” Demétrio respondeu, balançando a cabeça, mas um sorriso travesso se formou em seus lábios. “Ah, eu adoro quando você me trata dessa maneira tão... carinhosa,” Eros provocou, inclinando-se para frente, a expressão um misto de malícia e curiosidade. Demétrio suspirou, sua mente ainda longe, perdida em pensamentos sobre Christian. “Ele está vivo, não está? Onde ele está?” “Em algum lugar do Japão. Mas Yin jamais vai me falar onde,” Eros disse, a frustração permeando sua voz. “Japão, hein? Talvez eu queira uma nova mudança de nome e de perspectiva em minha vida. Já me cansei da Europa,” Demétrio comentou, com um ar de desafio. “Já faz mais de 690 anos,” Eros respondeu, observando o amigo com um olhar crítico. “Sim, faz...” Demétrio concordou, mas seu tom de voz era provocador. “Você vai me deixar para ir atrás de Christian?” Eros perguntou, a preocupação sutil se infiltrando em sua voz. “Está com ciúmes?” Demétrio provocou, um sorriso malicioso brincando em seus lábios.
“Não seja tolo, eu não tenho ciúmes... no final, você sempre volta para mim, Demi,” Eros afirmou, um tom possessivo subjacente na frase. “Oh, você é muito convencido, Eros,” Demétrio respondeu, mas não pôde evitar o brilho de diversão em seus olhos. Enquanto a conversa se desenrolava, a tensão e a camaradagem entre os dois tornavam-se palpáveis. Eros sabia que, mesmo que sua busca por Christian o levasse para longe, sempre haveria um espaço seguro ao lado de Demétrio. E, apesar de todas as brincadeiras e provocações, havia um laço inquebrantável que os unia, uma conexão que resistia ao teste do tempo e das escolhas que cada um deles fazia. Demétrio estava animado com sua nova vida no Japão. A ideia de deixar a Europa para trás e embarcar em uma aventura em uma terra tão rica em cultura e tradições o fascinava. Após sua conversa com Eros, onde a menção de Christian havia acendido uma centelha de curiosidade e anseio, ele decidiu que era hora de um novo começo. Com um toque de ironia no coração, ele fez suas malas e partiu.
Ao chegar a Hinode, uma cidade serena cercada pela natureza exuberante, Demétrio se sentiu instantaneamente atraído pela atmosfera acolhedora. As ruas tranquilas, as lanternas de papel balançando suavemente ao vento e a presença constante das árvores de cerejeira criavam um cenário quase onírico. Ele se estabeleceu em uma pequena casa de madeira nas bordas da cidade, onde os sons da vida cotidiana se misturavam com o canto dos pássaros e o farfalhar das folhas. Demétrio se dedicou a explorar sua nova cidade. Ele caminhava pelas calçadas de pedra, absorvendo cada detalhe da cultura japonesa. Visitava as lojas de artesanato local, experimentava a culinária típica e tentava se misturar à vida pacata dos habitantes. Apesar de ser um lobisomem antigo e poderoso, havia algo de reconfortante na simplicidade daquela cidade. Ele começou a se sentir parte daquele lugar, como se tivesse finalmente encontrado um lar.
Inconscientemente, Demétrio estava também se aproximando de outro ser imortal: Taishou Seiji. Ambos vagavam pelas mesmas ruas, frequentando os mesmos cafés e mercados, mas o destino parecia brincar de esconde-esconde. Taishou, que se estabelecera em Hinode com a intenção de deixar seu passado para trás e viver em paz, muitas vezes se sentia observado, como se uma energia familiar o seguisse. No entanto, ele não tinha ideia de que o olhar que o seguia era de um amigo de longa data de seu passado. Anos se passaram, e a vida em Hinode continuava tranquila. Demétrio se envolveu com a comunidade local, ajudando a restaurar a antiga casa onde morava, transformando-a em um lar aconchegante. Ele frequentemente contemplava a beleza do lugar e pensava em como o Japão se tornou um refúgio inesperado. Cada dia que passava, ele se sentia mais conectado a essa nova vida, mesmo que Christian ainda estivesse presente em seus pensamentos. Enquanto isso, Taishou Seiji também experimentava seu próprio crescimento. Embora a dor da perda de Catarine ainda o assombrasse, ele começava a encontrar um novo propósito em sua vida em Hinode. O lobisomem começou a criar raízes, construindo laços com os habitantes da cidade e descobrindo novas facetas de si mesmo. O destino, com sua estranha forma de entrelaçar vidas, não havia esquecido os dois imortais. Embora o tempo e o espaço os separassem, havia um fio invisível que os conectava, um fio que um dia os reuniria. Para Demétrio e Taishou, suas histórias estavam prestes a se entrelaçar, e o encontro, quando finalmente acontecesse, mudaria tudo novamente. Mas até lá, cada um caminhava em sua jornada, sem saber que as estrelas estavam alinhadas para um reencontro que seria tão significativo quanto inesperado.
Era mais um dia comum para Caspian, envolto pela serenidade da vasta floresta de Inverness. O ar estava frio e gelado, e a neve cobria o chão em um manto branco. Enquanto caminhava entre as árvores altas, um lobo branco, conhecido como Fenris, aproximou-se dele. O animal grunhiu e choramingou baixinho, transmitindo uma mensagem urgente. "O que foi, Fenris?" perguntou Caspian, percebendo a inquietação do lobo. Fenris deu duas voltas em torno de si mesmo, abaixou-se na altura do chão e colocou as patas sobre o focinho, uma expressão que Caspian havia aprendido a interpretar ao longo dos anos. A conexão entre eles era profunda, e ele imediatamente entendeu a gravidade da situação. "Está bem, me mostre," disse Caspian, seguindo o lobo que liderava o caminho pela floresta. Com a agilidade adquirida ao longo de séculos, ele e seus lobos escalaram um terreno montanhoso, até que, em um local isolado, encontrou um jovem. O garoto, não mais do que 18 anos, tinha cabelos curtos e pretos, e seus olhos escuros refletiam uma mistura de dor e medo. Ele estava machucado, com o tornozelo claramente quebrado. Caspian hesitou por um momento, lembrando-se de como era raro ter contato com alguém além de seus lobos. Mas o instinto de ajudar prevaleceu. Ele se aproximou lentamente, observando o garoto que parecia confuso, como se estivesse diante de uma miragem. "Você está bem?" perguntou Caspian, a preocupação evidente em sua voz. O rapaz, surpreso, respondeu em inglês, revelando que não pertencia àquela região da Escócia, provavelmente um viajante que se aventurara sozinho e se machucara. Caspian sorriu, suas experiências ao longo dos séculos lhe ensinaram muitas línguas, e o inglês era uma delas. "Me chamo Caspian, Caspian Taylor. E você?" "Christian... Christian Smith," respondeu o jovem, com um misto de alívio e apreensão nos olhos. A conversa havia começado, e, embora o destino deles fosse incerto, um novo vínculo estava prestes a se formar no coração da floresta.
Christian tentou ficar de pé, mas a dor no tornozelo o fez se apoiar novamente na árvore. Sua situação era precária, ele havia se perdido na floresta enquanto fazia uma trilha sozinho, tentando espairecer após as tensões da cidade. Agora, ele se via preso, indefeso e vulnerável diante do desconhecido. "Meu tornozelo... está quebrado." ele confessou, sentindo-se um idiota por ter se metido nesta situação. Com uma delicadeza surpreendente, Caspian abaixou-se ao lado de Christian e, em um movimento fluido, ergueu o rapaz nos braços. Christian arregalou os olhos, surpreso e um tanto alarmado. Ele sabia que seu peso não era pouco, mas Caspian o segurava com facilidade, como se fosse leve como uma pluma. Atravessando a floresta com passos firmes, Caspian andava com a segurança de quem conhecia cada árvore e pedra ao redor. As sombras dançavam sob o céu nublado, e o frio começava a intensificar-se. "Você... é daqui?" perguntou Christian, a voz meio trêmula, ainda processando a força e o mistério de seu salvador. "Sim," respondeu Caspian, seu tom calmo. "Eu moro aqui na floresta há muito tempo." Christian franziu a testa, incrédulo. "Na floresta? Como assim... na floresta?" Caspian soltou uma risada baixa, carregada de compreensão. "Ah, não se assuste," disse ele, desviando o olhar para o caminho à frente. "Eu... bem, moro em um chalé próximo daqui. Vou levar você até lá. Agora me diga, como foi que acabou com a perna quebrada no meio da montanha?"
Christian tentou se acalmar e aceitar a situação bizarra. "Eu... eu estava fazendo uma trilha sozinho e escorreguei em um trecho íngreme." admitiu ele, envergonhado. "Parecia seguro, mas aí escorreguei e caí. E acabei aqui..." Christian olhou para o próprio tornozelo, que parecia já estar começando a inchar. "Está doendo um pouco..." Christian hesitou, parecendo um pouco envergonhado. "Eu… achei que conseguiria escalar sozinho. Queria um pouco de aventura, sabe? Caspian assentiu, uma expressão de simpatia em seu rosto. "Bem, então esta floresta talvez tenha decidido que precisávamos nos encontrar." Atravessando as sombras frias da floresta, Caspian caminhava com passos tranquilos, ainda segurando Christian com uma facilidade que o rapaz achava desconcertante. O ar estava denso com o perfume dos pinheiros e o murmúrio das folhas secas sob os pés. Quando os dois começaram a se aproximar de uma clareira, Christian percebeu algo ainda mais curioso: três lobos brancos surgiram entre as árvores e passaram a segui-los em silêncio, deslizando como fantasmas através da vegetação.
Christian observou os lobos com surpresa, sentindo um misto de temor e fascínio. "Esses... esses são lobos?" perguntou ele, a pergunta meio óbvia. "Por que eles estão nos seguindo?" Christian nunca havia estado tão próximo de lobos, e o fato de estarem andando ao redor deles assim, sem demonstrar nenhuma ameaça, era de um estranho deslumbramento. “Ah, não se preocupe com eles.” Respondeu Caspian com calma. Com a respiração suspensa, Christian observou aqueles animais, os olhos luminosos refletindo um olhar atento e quase familiar. "Esses lobos... eles são seus?" ele perguntou, tentando disfarçar o nervosismo. Caspian lançou um olhar leve e divertido para ele. "Sim," disse ele, com um sorriso sutil. "São meus amigos." "Amigos?" Christian franziu o cenho, intrigado. Caspian deu de ombros, os olhos cintilando com um toque de mistério. "É... uma longa história." Christian sorriu, ainda confuso. "Você é um cara estranho, Caspian." Atravessaram o resto do caminho em silêncio, até que, entre as árvores, o chalé de Caspian apareceu. Era uma construção antiga e simples, de madeira escura e paredes cobertas de musgo e trepadeiras, quase se fundindo ao cenário da floresta ao redor. Pequenas janelas revelavam a luz amarela e reconfortante que emanava do interior, e uma leve fumaça subia da chaminé, dispersando-se na brisa fria.
Christian observou o chalé com admiração, notando a harmonia com a floresta ao redor, como se tivesse crescido ali mesmo. O cheiro de pinho, fumaça e madeira úmida era estranhamente reconfortante. Os lobos se espalharam pelo pátio, com as línguas de fora, enquanto Caspian abriu a porta de entrada. "Bem-vindo". Caspian empurrou a porta com um ombro e levou Christian para dentro, colocando-o cuidadosamente em uma cadeira próxima ao fogo. Sem dizer nada, ele pegou uma caixa de madeira antiga, cheia de ervas e bandagens. Ele se ajoelhou ao lado de Christian e, com mãos hábeis e gentis, começou a examinar a perna ferida. Christian observava em silêncio, sentindo-se estranhamente seguro. "Você já fez isso antes," comentou, a voz um pouco surpresa. Caspian lançou-lhe um olhar rápido e tranquilizador. "Digamos que tive bastante prática ao longo dos anos." Caspian trabalhou em silêncio, enrolando a bandagem firmemente, mas com delicadeza, até que estivesse seguro de que o curativo ficaria firme. "Pronto," disse ele finalmente, endireitando-se e dando um tapinha no ombro de Christian. "Isso deve aguentar até você estar pronto para voltar." Christian olhou para Caspian, ainda sentindo aquela estranha sensação de familiaridade e admiração. "Obrigado, Caspian. Sabe… talvez você seja o amigo mais interessante que já fiz." Caspian soltou uma risada suave, abaixando-se para alimentar o fogo com algumas lenhas. "Eu te surpreendo então?" Christian observou o fogo crepitando, sua mente começando a se acalmar depois da adrenalina da queda. A situação toda era tão surreal, mas, de alguma forma, parecia mais natural a cada momento que passava. "Você é tão diferente de qualquer outra pessoa que conheci. A vida na floresta deve fazer isso, imagino."
Caspian assentiu, os olhos fixos nas chamas. "A floresta é meu lar há muito tempo. Ela molda quem você é, e você molda ela. Há uma ligação muito profunda aqui." Depois de alguns momentos de silêncio, Caspian levantou-se e foi para a cozinha improvisada do chalé. "Estou com fome", disse ele, abrindo um fecho de couro e pegando alguns frutos silvestres e raízes. Em um caldeirão de ferro pendurado na lareira, ele começava a preparar uma espécie de sopa. Christian observou as ações habilidosas de Caspian, admirado com a facilidade com que ele parecia se mover entre os objetos comuns do chalé e os ingredientes disponíveis da floresta ao seu redor. A sopa em breve começou a borbulhar, enchendo o chalé com um aroma rico e aromático. Christian podia sentir seu estômago roncar em expectativa. "Posso te fazer uma pergunta?" ele perguntou, olhando para Caspian, que estava ocupado mexendo a panela. "Certamente", respondeu Caspian, os olhos ainda fixos na sopa. "Pergunte o que quiser." "Mas como é... Como é possível?" Christian estava confuso, mas fascinado. "Eu não consigo entender como é possível se comunicar com lobos da maneira que você faz. Eles não são simplesmente animais?" "Não são simplesmente animais. Eles tem consciência. Sentimentos, emoções. Eles têm uma percepção do mundo tão profunda quanto a nossa." Enquanto preparava as tigelas para a sopa, Caspian olhou diretamente para Christian. "Nós criamos uma conexão, ao longo dos anos. Uma língua comum, que vai além das palavras faladas."
Christian segurou o celular com a mão trêmula, movendo-o de um lado para o outro, tentando desesperadamente captar algum sinal, mas a tela continuava a exibir as mesmas duas palavras desanimadoras: "Sem sinal." Ele suspirou, frustrado. Caspian, que observava o esforço em silêncio, sorriu de leve. "Tudo bem, não tem problema," disse ele com tranquilidade, gesticulando com a cabeça para a floresta ao redor. "Você pode ficar aqui até recuperar o suficiente para atravessarmos a montanha." Christian hesitou, desconfortável com a ideia de ser um peso. "Eu… não quero incomodar." "Não é incômodo nenhum," respondeu Caspian, com um sorriso tranquilo, antes de se virar e retornar ao trabalho de manter o chalé em ordem. Christian observava Caspian se movimentando pelo chalé, notando a tranquilidade e o equilíbrio nas suas ações, enquanto sua própria mente estava cheia de dúvidas e ansiedade. Finalmente, reuniu coragem para perguntar: "Caspian, como você está conseguindo manter a calma nessa situação? Estou preso aqui, machucado, sem sinal, sem forma de avisar ninguém. Devo ser um problema e tanto." Caspian olhou para ele, calmamente, enquanto colocava mais algumas lenhas no fogo. "Você não é um problema, Christian. Você está aqui, é meu hóspede. Estou cuidando de você justamente porque isso é o certo a se fazer." Christian sentiu um estranho conforto nas palavras de Caspian, uma certeza que até então era desconhecida. "Mas eu só estou te estressando com isso… Eu deveria ter tomado mais cuidado ao escalar aquela droga de montanha."
Caspian riu suavemente, balançando a cabeça em desaprovação. "Você tem razão, não foi exatamente a atitude mais inteligente. Mas todo mundo comete erros. O importante é aprender com eles." Christian soltou um suspiro de frustração e alívio, esfregando o rosto com as mãos. "Eu nunca me senti tão idiota em toda a minha vida." "É normal se sentir assim," disse Caspian, com uma expressão gentil e compreensiva. "Mas não seja tão duro consigo mesmo. Todos nós temos momentos de fraqueza e imprudência. O que importa é como você reage depois." Christian assentiu, ainda um pouco inseguro, mas começando a relaxar com a presença tranquila de Caspian. Os dias passaram lentamente, e a pequena rotina dos dois foi tomando forma. Caspian cuidava da perna de Christian, verificando o curativo com a mesma dedicação paciente de um amigo leal. Em troca, Christian começava a se sentir parte daquele mundo tão incomum — um lugar onde o tempo parecia mais lento, marcado apenas pelo som das folhas e pelo farfalhar dos lobos ao redor do chalé.
Certo dia, Christian acordou com o som de Caspian murmurando suavemente. Espiou pela janela, e viu seu salvador conversando com os lobos brancos. As criaturas o cercavam, ouvindo atentamente, como se entendessem cada palavra, e Caspian falava com eles como se fossem velhos amigos. Christian observou a cena com curiosidade, franzindo a testa, perguntando-se se seu anfitrião era um excêntrico solitário… ou se havia algo mais profundo, algo que ele escondia sob aquele ar enigmático.
Christian continuou observando a interação de Caspian com os lobos, notando novamente a estranha e fluida comunicação entre eles. Ainda mais intrigado, ele se levantou da cama, apoiando-se cuidadosamente na perna machucada, e se aproximou da janela, tentando ouvir a conversa da maneira mais discreta possível. As palavras de Caspian eram suaves, e embora Christian não conseguisse entender exatamente o que ele dizia, havia uma qualidade musical nelas, quase como uma melodia. Os lobos respondiam com sons e gestos, parecendo entender perfeitamente o significado de cada gesto e expressão de seu companheiro. Christian sacudiu a cabeça, tentando desesperadamente encontrar uma explicação lógica para tudo aquilo. Quando Caspian terminou a conversa e se virou na direção da janela, percebendo a presença de Christian, um sorriso malicioso se espalhou pelo rosto do homem. "Bom dia, dorminhoco." Christian sentiu o rosto enrubescer, meio constrangido por ter sido pego espreitando a conversa.
"Bom dia," ele respondeu, rapidamente desviando o olhar. "Eu… eu só estava tentando me mexer um pouco, sabe?" Caspian assentiu, um olhar divertido cruzando seu rosto. Enquanto ele se aproximava da cama, Christian voltou a se posicionar na cadeira ao lado da lareira. "Eu já estava pensando em te acordar," disse Caspian, enquanto começava a trocar o curativo de Christian. "Quero te mostrar algo." Christian franziu a testa, sentindo uma pontada de desconforto na perna enquanto Caspian trocava o curativo. "O que é?" perguntou ele, curioso apesar de tudo. "É uma surpresa," respondeu Caspian, com aquele mesmo olhar enigmaticamente divertido. "Você vai ter que confiar em mim." Christian suspirou, sabendo que não tinha escolha a não ser aquiescer. Enquanto Caspian terminava de trocar o curativo, ele olhou para os lobos na janela, que observavam a cena com olhos brilhantes e atentos. A linguagem corporal deles era quase reverencial, como se Caspian fosse alguém a quem eles davam respeito e obediência quase totais. Christian não conseguia evitar a sensação de que havia algo a mais se passando ali. "Estou curioso para ver essa surpresa," disse ele finalmente, tentando manter um tom de calma. Caspian terminou o curativo e se levantou, dando um passo atrás. "Vista um casaco," ele instruiu, com um olhar significativo. "O clima lá fora muda rápido." Christian assentiu, pegando um casaco de penas e usando com cuidado, fazendo uma careta por causa da dor na perna.
"Eu sei que dói," disse Caspian, observando-o, "mas vai melhorar com o tempo." Ele abriu a porta do chalé, e um ar gelado e revigorante entrou, junto com o cheiro familiar e reconfortante da floresta. "Venha," ele disse, fazendo um gesto para que Christian o seguisse. Christian saiu cautelosamente do chalé, apoiando-se na borda da porta para manter o equilíbrio. Ele olhou em volta, sentindo-se como um estranho em seu próprio mundo ao encarar a floresta. Os lobos se levantaram de onde estavam e se juntaram a Caspian, como uma escolta silenciosa. Christian franziu a testa, não conseguindo imaginar aonde iriam. Enquanto subiam montanha acima, Christian podia sentir a altitude aumentar a cada passo. Ele apoiou nas árvores, usando-as como ponto de apoio enquanto seu corpo se ajustava à nova atividade. Caspian e os lobos pareciam deslizar pela trilha com facilidade, como se pertencessem àquele terreno íngreme e acidentado. Depois de algum tempo, finalmente chegaram ao topo de uma elevação rochosa, com vista para um vasto vale abaixo. O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu com tonalidades laranja e roxo. Christian ficou surpreso com a vista, respirando fundo enquanto observava a paisagem. "É belo, não é?" perguntou Caspian, parando ao lado de Christian. Os lobos se acomodaram ao redor deles, olhando para o horizonte. Christian assentiu, incapaz de tirar os olhos das lindas cores que preenchiam o céu. "É incrível," ele murmurou.
Os dias se seguiram com uma rotina de simplicidade que, para Christian, parecia ser um pequeno refúgio de paz. A cada manhã, ele acordava com o aroma da lenha queimada e o suave barulho do vento filtrando-se entre as árvores ao redor do chalé. Caspian sempre estava por perto, pronto para trocar o curativo, trazendo-lhe água fresca e cuidando de sua recuperação com uma atenção que era ao mesmo tempo prática e gentil. Com o tempo, a intimidade entre eles foi crescendo — um passo de cada vez. Quando o silêncio caía entre as conversas, não havia desconforto; apenas uma quietude que, de alguma forma, era mais eloquente do que qualquer palavra. Em certa manhã, Christian, ainda sonolento, pegou-se observando Caspian enquanto ele preparava o chá. Havia uma precisão calma em cada gesto, como se cada movimento fosse um reflexo de sua própria natureza silenciosa.
Enquanto Christian tomava seu primeiro gole de chá e sentia o líquido quente percorrer sua garganta, ele deu uma olhada rápida para Caspian. O outro homem estava concentrado no fogo da lareira, acrescentando um pouco mais de lenha. Havia uma tranquilidade em seu rosto, como se a atividade simples de cuidar de uma pequena chama o satisfizesse de alguma forma. Christian não pôde evitar uma leve corrente de admiração por aquela quietude. Era como se Caspian pertencesse a outro tempo, ou talvez a outro mundo. Christian sacudiu a cabeça, sentindo o rosto esquentar com o pensamento, e murmurou para si mesmo. "Isso é uma loucura… mas ele é… bonito." Tentando afastar aquele pensamento indesejado, Christian olhou para longe, mas sabia que, até se recuperar, estava preso ali, à mercê daquele estranho misterioso e fascinante. A ideia de depender de alguém que ele mal conhecia fazia com que Christian se sentisse vulnerável de uma forma que não era agradável. Enquanto olhava para as chamas crepitantes da lareira, ele tentou afastar a curiosidade e a admiração que sentia pelas habilidades de Caspian em cuidar de si. Mas era como tentar negar uma corrente de água; cada palavra gentil, cada gesto cuidadoso de seu anfitrião, parecia apenas aumentar seu fascínio por ele.
"Você parece… conhecer bem este lugar," comentou Christian, certa vez, enquanto Caspian colocava uma xícara de chá diante dele. Caspian sorriu, encolhendo os ombros de leve. "É meu lar, na verdade," respondeu ele. "A floresta e eu temos uma… compreensão mútua." E, com o passar dos dias, Christian começou a entender o que ele queria dizer. Vez ou outra, quando Caspian saía para verificar alguma armadilha ou buscar mantimentos, Christian via os lobos brancos o seguindo em fila, como se fossem uma extensão dele. E toda vez que Caspian retornava, Christian sentia um leve alívio. Era uma surpresa para si mesmo — perceber o quanto se acostumara àquela presença firme e tranquila, um sentimento tão antigo e forte quanto as raízes das árvores ao redor.
Às vezes, Christian se pegava observando Caspian com um olhar estudado. Havia algo no homem que parecia não fazer sentido; uma leveza na forma como ele se movia, como se o mundo pesasse menos para ele do que para os outros. E, no entanto, havia também algo poderoso e velado nele, como a superfície calma de um rio esconde sua correnteza. Christian se perguntou, às vezes, qual seria a verdadeira força que fluía sob aquela pacífica fachada, como se Caspian fosse uma pessoa que conhecesse profundamente o som do silêncio. Uma noite, enquanto o frio apertava lá fora, Christian e Caspian sentaram-se próximos ao fogo. Caspian contou histórias da floresta, de seus anos vagando e do respeito que nutria pela natureza. Christian ouvia cada palavra, capturado pela profundidade de quem via o mundo de maneira diferente. "Você realmente ama tudo isso, não é?" murmurou Christian, quase em um sussurro, enquanto observava as chamas dançarem entre eles.
Caspian assentiu, com um sorriso suave. "A floresta é… a única coisa que nunca me abandonou." O olhar de Christian, ao ouvir essas palavras, ficou mais suave, e ele sentiu uma conexão inesperada entre eles. Sem que percebessem, a distância que os separava se encurtava um pouco mais a cada dia. O tempo havia passado rapidamente, e a recuperação de Christian estava quase completa. Logo, ele já conseguia andar sem muita dificuldade e preparava-se para retornar à vida que deixara para trás. Mas, conforme seus dias na cabana se aproximavam do fim, ele começou a notar algo incomum em Caspian.
Era quase um tremor imperceptível na mão de Caspian; um estremecimento leve e recorrente. A princípio, Christian quase não o notou, mas à medida que observava-o trocar o curativo da perna, o movimento começou a parecer mais evidente. Era quase como se Caspian estivesse lutando contra algo incontrolável dentro dele, algo que ele escondia muito bem. Christian franziu a testa, perguntando-se o que poderia estar causando aquele tremor estranho. A noite seguinte foi especialmente fria, com uma chuva leve batendo contra as janelas da cabana. Christian acordou com um sobressalto, com a súbita sensação de que algo estava errado. Sentou-se na cama, escutando atentamente a escuridão. Só então percebeu aquele estranho tremor outra vez — mas, desta vez, ele não vinha de Caspian, e sim da porta da cabana. Caspian parecia inquieto, lançando olhares fixos para o céu, especialmente quando a lua cheia começava a ganhar força no céu. Era como se algo dentro dele estivesse em tensão, à beira de uma revelação que ele mantinha cuidadosamente guardada. Christian observou aquele comportamento estranho durante algum tempo, tentando ignorar a sensação de que algo não estava certo. Mas, à medida que a noite se aprofundava, o tremor tornou-se mais evidente, assim como a inquietação de Caspian. Christian franziu a testa, sentindo uma pontada de curiosidade e preocupação ao mesmo tempo.
Enquanto as horas se arrastavam devagar, a única fonte de iluminação na cabana era a luz fraca das brasas da lareira, diminuindo gradualmente à medida que as horas avançavam. Christian tentou tirar os pensamentos estranhos da cabeça, mas cada momento estranho de Caspian parecia aumentar seu desconforto. Ele perguntou, finalmente, tentando soar casual embora a curiosidade falasse mais alto: "Você está bem?" Estou sim, eu...estou me sentindo um pouco mais cansado essa noite. Acho que vou dormir mais cedo." Christian franziu a testa em dúvida. A voz de Caspian havia soado um pouco estranha, como se ele estivesse lutando para controlar alguma emoção. Mas, novamente, a cautela de Caspian estava presente, e Christian sentiu que não seria fácil arrancar dele uma verdade completa.
Então, a noite aprofundou na cabana, a lua cheia brilhava no céu acinzentado, Os dois homens estavam em seus quartos, quando Christian acordou ao ouvir passos apressados. Caspian estava saindo da cabana, tentando não fazer barulho, mas Christian notou e, intrigado, decidiu segui-lo. A floresta parecia um labirinto de sombras e luz prateada enquanto ele o acompanhava, em silêncio, até uma clareira oculta. Ali, no centro da clareira iluminada pela lua cheia, ele viu o segredo de Caspian. Em uma mistura de horror e incredulidade, Christian observou enquanto Caspian se transformava — seu corpo alongando-se, músculos se retorcendo, pele e pelos surgindo enquanto ele assumia a forma de uma fera lupina. Ele era um lobisomem, e o peso dessa revelação caiu sobre Christian como um golpe de gelo. Ele tentou controlar o pânico, mas a visão o paralisava. Aquilo que ele julgara ser apenas um homem estranho e solitário agora se mostrava algo muito mais perigoso e sobrenatural.