Catarine estava nas montanhas, batendo suas ferramentas contra as pedras, como fazia diariamente. A luz do sol filtrava-se pelas nuvens, iluminando o suor que escorria por seu rosto, enquanto ela focava em extrair os minerais de que precisava. No alto de uma árvore próxima, Christian estava deitado em um galho, observando-a e conversando casualmente. "Exilado?" ela perguntou, curiosa, enquanto fazia uma pausa no trabalho para limpar o suor do rosto. Ela olhou para cima, onde o lobo estava, suas pernas balançando despreocupadamente enquanto o vento balançava suas roupas. "Sim," ele respondeu com uma leve ironia na voz, "fui exilado da minha própria alcateia." Catarine franziu o cenho, surpresa. "Isso é horrível, Christian..." Ela voltou a golpear a rocha com sua ferramenta, mas sua mente parecia distante, refletindo sobre o que ele tinha acabado de dizer. "Por que seu alfa faria isso? Por que exilar alguém que claramente quer o bem de todos?" Christian olhou para o céu, pensativo. "Demétrio não vê as coisas da mesma maneira. Para ele, o poder está acima de tudo. Ele acredita que devorar inocentes o tornará mais forte... e quem se opõe a ele, como eu, não tem lugar na alcateia." Catarine parou novamente, largando as ferramentas por um momento e esfregando a testa. Ela estava cansada, mas a história de Christian mexia com ela. "Esse alfa da sua alcateia é mesmo um homem horrível," comentou, com uma leve amargura na voz. "Não posso acreditar que ele esteja disposto a destruir vidas só para alimentar a própria sede de poder."
Christian suspirou, seus olhos se fixando nela por um momento. "O problema é que, para ele, isso é tudo que importa. E para muitos da alcateia também." Catarine balançou a cabeça, desanimada. "Eu queria poder ajudar de alguma forma, mas... você já fez tanto por mim." Ela olhou para ele, seus olhos cheios de preocupação. "E agora você está exilado por isso." Christian sorriu de forma amarga. "Eu sobrevivo, garota. Sempre sobrevivemos. Mesmo sem uma alcateia, ainda há muito a fazer. E você, mais do que qualquer um, entende o que significa lutar para proteger o que resta." Catarine, após uma pausa longa, perguntou com uma voz suave e preocupada, sem desviar os olhos do trabalho: "Mas... você não se sente... sozinho? Vivendo na floresta sem nenhum amigo?" Christian, que estava deitado no galho da árvore, levantou-se lentamente, seus olhos vagando pelas copas das árvores e pelo céu claro. O vento soprou levemente, mexendo seus cabelos negros e fazendo as folhas ao redor sussurrarem. "Às vezes, sim," ele admitiu, sua voz mais séria. "A solidão é inevitável quando você não pertence a lugar nenhum. Já estive cercado por muitos, na alcateia, mas agora... é diferente." Ele olhou para Catarine, observando como ela se preocupava com ele, algo que o surpreendia. "Mas não me entenda mal. Eu já me acostumei. Talvez seja parte da maldição de ser o que sou."
Catarine parou o que estava fazendo, pousou a picareta no chão e o encarou. "Você não está sozinho, Christian. Você me tem. Talvez... eu não seja da sua espécie, e talvez eu não entenda completamente o que você está passando, mas eu sei como é perder pessoas. E, por mais que o mundo diga que somos inimigos... nós somos amigos. Certo?" Christian sorriu, um sorriso pequeno e genuíno, algo raro em sua expressão geralmente mais séria. Ele desceu da árvore, pousando suavemente ao lado dela. "Sim, Catarine," ele disse, seus olhos brilhando com uma sinceridade que ela raramente via. "Somos amigos. E acho que isso faz com que a solidão não pareça tão pesada." Catarine sorriu de volta, sentindo uma conexão crescente com o lobo que, mesmo exilado e marginalizado, havia encontrado nela uma amiga. Christian a observava de perto, vendo como Catarine, apesar de ser tão jovem, carregava consigo uma força e determinação impressionantes. Seus olhos seguiam cada movimento da garota enquanto ela batia na pedra com uma precisão prática e cuidadosa, o suor escorrendo por seu rosto, e suas mãos calejadas, ainda pequenas, segurando a ferramenta com firmeza.
“Isso é um trabalho pesado demais para uma garotinha, você não acha?” ele comentou, inclinando a cabeça levemente, os olhos curiosos e um tom de preocupação em sua voz. Catarine riu, interrompendo seu trabalho por um instante. "Diga isso para meu pai." Ela limpou o suor da testa com o braço, e o sorriso que antes iluminava seu rosto foi substituído por um olhar de orgulho misturado com seriedade. "Para ele, eu não sou mulher, muito menos fraca. Ele sempre me criou para ser uma guerreira forte, sempre me moldando com o máximo de rigor possível." Christian ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que ela disse. Mesmo tão jovem, ela já carregava uma carga enorme sobre seus ombros. A pressão de viver em um vilarejo ameaçado por lobisomens, a ausência da mãe, e agora, o trabalho árduo na mineração. Ela parou novamente de bater nas rochas, abaixou-se e começou a juntar o ferro e o cobre que conseguiu reunir. "Hoje vou fazer minha espada," disse ela com uma determinação clara em seu olhar, os olhos brilhando com a ideia de criar sua própria arma. Christian olhou para ela, surpreso com a confiança. "Uma espada? Isso é algo que exige habilidade. Já tem experiência?" "Não muita," respondeu Catarine, ajeitando os metais em seu cesto. "Mas meu pai me ensinou o básico, e hoje eu vou colocar em prática. Não tenho medo de desafios, Christian. Eu sei que posso fazer isso."
Ele sorriu, admirando a determinação feroz que aquela garotinha carregava, algo que ele via em poucos, mesmo entre guerreiros adultos. "Se precisar de ajuda, não hesite em pedir," disse ele, inclinando-se um pouco mais perto. "Eu posso não ser um ferreiro, mas já segurei algumas espadas na minha vida." Catarine lançou-lhe um olhar travesso. "Talvez eu precise que você teste a espada depois, lobo. E eu espero que ela seja afiada o bastante para dar trabalho até para você." Christian riu suavemente. "Veremos, pequena guerreira." Christian continuou observando de longe enquanto Catarine juntava todo aquele metal pesado em uma trouxa de pano, amarrando-a com cuidado e colocando nas costas. Ele sentiu a vontade de oferecer ajuda, mas hesitou ao ver a facilidade e a naturalidade com que ela lidava com aquilo. “Você quer que eu te ajude com isso?” Ele perguntou, ainda impressionado pela carga. Catarine riu, sua expressão firme e decidida. "Eu não preciso de sua piedade, Christian. Faço isso desde os cinco anos de idade." Os olhos de Christian se arregalaram. Desde os cinco anos? Quanto mais tempo ele passava com Catarine, mais admirava sua força, tanto física quanto mental, além da sua inteligência. Ela era resiliente de um jeito que ele não esperava de alguém tão jovem. Ele a seguiu à distância, sempre pronto para intervir ao menor sinal de fraqueza, mas Catarine raramente dava essa abertura. Ela carregava o peso dos minérios nas costas e na cabeça com destreza, uma jovem moldada pelo rigor da vida e pela disciplina de seu pai.
Ao chegar em casa, a forja estava viva com o calor das brasas e o cheiro de metal quente. O pai de Catarine, Johann, já a aguardava na entrada, braços cruzados e expressão severa como de costume. Seus olhos avaliavam a filha com um olhar atento e crítico. "Espero que tenha pegado bons minérios para fazer uma boa espada, Catarine," ele disse, sem qualquer traço de afeto na voz. "A espada começa com o melhor material." "Sim, pai, fiz meu melhor para reunir os melhores minérios," respondeu ela, com firmeza, mas havia um toque de nervosismo. Sabia que seu pai seria implacável em seus julgamentos. "Veremos se você aprendeu algo de útil." Ele assentiu, apontando para a bigorna. Sem hesitar, Catarine pegou os materiais e começou a aquecer o metal na forja. O calor intenso fazia o suor escorrer por seu rosto novamente, mas ela não se importava. Seus olhos estavam fixos na lâmina que começava a se formar diante dela. Johann observava cada movimento com olhos afiados, sempre pronto para corrigir. À medida que ela martelava o metal incandescente, o som ecoava pela forja. O processo era árduo, exigindo força e precisão, e embora Catarine fosse habilidosa, o peso da tarefa às vezes a superava. Em um momento, enquanto virava o metal para aquecê-lo mais, suas mãos suadas escorregaram, e ela encostou o braço na lateral da fornalha. Um som de queimadura chiou, e ela se afastou, contendo o grito de dor, mas não o suficiente para escapar dos olhos rígidos de seu pai. "Você vai se queimar de verdade se não prestar atenção," Johann resmungou, sem demonstrar preocupação. "Não existe espaço para erro na forja." Catarine respirou fundo, voltando ao trabalho com ainda mais cuidado, mas outro contratempo veio quando, ao afiar a lâmina, a pressão foi demasiada, e ela cortou o dedo. O sangue escorreu, pingando na mesa, e Johann apenas estreitou os olhos.
"Isso é o que acontece quando não se tem controle. Sangue no aço só o enfraquece," ele disse, impassível. Apesar das palavras duras, Catarine não recuou. Ela envolveu o dedo em um pedaço de pano e continuou. A lâmina começava a tomar forma, a espada que ela tanto sonhava criar estava finalmente nascendo em suas mãos. Mesmo sob o olhar crítico de Johann, ela mantinha o foco, cada martelada no metal carregava sua determinação, e embora a dor a acompanhasse, ela não permitiu que isso a impedisse. Christian, que observava do lado de fora, sentia uma crescente admiração pela jovem. A cada erro, a cada corte e queimadura, Catarine não desmoronava, mas se fortalecia. Ela era, sem dúvida, uma verdadeira guerreira, mesmo que ainda estivesse aprendendo a arte de forjar armas.
Catarine finalizou a espada, com suas mãos ainda doloridas e sujas de fuligem. O metal brilhava sob a luz da forja, uma obra fruto de esforço e sacrifício. Ela a ergueu para que seu pai pudesse avaliá-la, seu coração batendo acelerado, esperando uma palavra de aprovação, por menor que fosse. Johann se aproximou com o olhar severo de sempre. Ele pegou a espada das mãos dela e a analisou, virando-a de um lado para o outro, testando seu equilíbrio. O silêncio entre os dois parecia ensurdecedor, até que, sem aviso, Johann deu-lhe uma coronhada violenta com a espada. Catarine cambaleou para trás, sua testa latejando de dor. "Está uma porcaria!" Ele gritou, sua voz ecoando pela forja. "Você chama isso de espada? Inútil! Faça de novo!" Catarine mal teve tempo de recuperar o equilíbrio quando Johann, com o olhar frio, aproximou-se novamente, batendo no rosto dela com a mão aberta, o som seco ressoando pelo ar. "Eu não crio fracos. Se quer sobreviver nesse mundo, você vai ter que aprender a fazer as coisas certas!" Ele lançou a espada no chão aos pés dela, exigindo que ela começasse tudo de novo. Do alto de uma árvore ao longe, Christian observava a cena com os olhos apertados de fúria. Sua natureza lupina rugia dentro dele, o desejo de descer até lá e proteger Catarine crescia a cada golpe que o pai dela desferia. Suas garras quase saíram quando viu a forma como Johann a tratava, mas algo o conteve.
Mesmo sob os insultos e a dor, Catarine não derramou uma única lágrima. Seu rosto estava marcado pela agressão, mas seus olhos permaneciam firmes, sem vacilar. Era como se cada golpe apenas alimentasse sua determinação, tornando-a mais resistente. Ela abaixou-se, pegou a espada jogada aos seus pés, e, com o mesmo fervor de antes, caminhou de volta à bigorna. "Ela não se quebra," Christian pensou, impressionado. "Mesmo quando tudo ao seu redor tenta esmagá-la." Ele observou enquanto Catarine, silenciosa e determinada, reiniciava o trabalho. Seu pai, ainda rígido e frio, mantinha-se por perto, sem perceber que sua dureza não destruía a filha, mas a moldava de uma forma que ele talvez não pudesse compreender. Christian ficou ali, na árvore, seus olhos fixos na garota que, contra todas as adversidades, continuava a martelar o metal, transformando o sofrimento em força. A cada martelada, ele se perguntava quanto tempo mais ela aguentaria, e quanto tempo ele, por sua vez, poderia continuar apenas observando. O som repetitivo do martelo contra o metal ecoou pela forja durante o dia inteiro. Catarine, com as mãos cobertas de calos e o rosto sujo de fuligem, persistia sem parar. Cada vez que o trabalho parecia estar concluído, seu pai fazia uma avaliação rápida, olhava para ela com o mesmo olhar rígido e insatisfeito, e ordenava que refizesse tudo de novo. A cada nova espada forjada, Catarine sentia seu corpo exausto, mas a determinação em seu olhar não vacilava. Seu pai nunca admitia fraqueza, e ela se recusava a mostrar qualquer sinal de cansaço, mesmo com a dor constante nas mãos e no corpo. Foi assim cinco vezes. Em cada uma, ela aprendeu algo novo sobre o metal, sobre o peso da lâmina e o equilíbrio necessário. Mas, principalmente, aprendeu a manter sua postura diante da dureza de seu pai. Christian, ainda observando de longe, não conseguia acreditar na resiliência daquela garota. Ele sentia um misto de admiração e raiva ao ver como ela aguentava tudo, sem nunca demonstrar fraqueza.
Quando a noite caiu e a lua alta já iluminava a forja, o som do martelo parou. Catarine, exausta, finalmente entregou sua quinta espada. Suas mãos tremiam de cansaço enquanto ela a estendia para o pai. Ela já não esperava elogios, nem palavras de aprovação, mas preparava-se, como das outras vezes, para o golpe que sempre vinha junto com a rejeição. Johann pegou a espada em suas mãos. O silêncio tomou conta da forja, interrompido apenas pelo crepitar do fogo nas fornalhas. Ele girou a lâmina no ar, testando seu equilíbrio, analisando cada detalhe com precisão. O tempo parecia se arrastar, e Catarine, mesmo com o corpo dolorido e o olhar cansado, preparava-se para o pior. Mas, dessa vez, em vez de um golpe, seu pai fez algo inesperado. Ele pousou a espada delicadamente na frente dela. "Esta está boa," Johann disse, sua voz firme, mas sem o habitual tom de reprovação. "Agora você pode treinar com sua própria espada a partir de amanhã." Catarine piscou algumas vezes, surpresa. Ela havia esperado um novo insulto ou até um golpe, mas, pela primeira vez, recebeu algo próximo de uma aprovação. Ela não sorriu, nem comemorou, apenas acenou com a cabeça, aceitando a vitória silenciosamente. Sua mente já estava tomada pelo cansaço, e ela sabia que o dia seguinte seria tão desafiador quanto este.
No entanto, enquanto o pai saía da forja, deixando-a sozinha com o brilho da lâmina recém-forjada, algo dentro dela finalmente cedeu. Não era uma lágrima de tristeza, nem de dor. Era um sentimento de conquista, por menor que fosse. Do alto da árvore, Christian sorriu ao ver a pequena vitória de Catarine. Ele sabia que aquele momento significava muito mais do que a criação de uma espada. Era o símbolo de sua força, de sua capacidade de resistir, mesmo quando o mundo parecia se colocar contra ela. Nas semanas que se seguiram, Catarine começou a treinar intensamente com sua nova espada. Cada manhã, ao amanhecer, ela ia para a forja onde seu pai a esperava com uma expressão dura e exigente. As lições que ele lhe passava eram breves, muitas vezes faltando em detalhes, como se ele esperasse que ela descobrisse sozinha os segredos do combate. Cada correção era pontuada por palavras secas, e os erros eram raramente explicados com clareza.
“Posição mais firme!” gritou Johann uma manhã, enquanto ela praticava golpes contra um boneco de treino. Catarine ajustou sua postura, mas antes que pudesse continuar, ele se aproximou e bateu na espada que ela segurava. “Assim não vai durar uma batalha! Concentre-se!” Sem questionar, ela endireitava a postura, refazia o golpe e recomeçava. Dia após dia, a rotina era a mesma. Seu pai a treinava apenas por alguns minutos, corrigia um movimento ou outro, e então a deixava sozinha, esperando que ela praticasse por horas. Catarine nunca reclamava, mesmo quando seu corpo pedia por descanso. Ela sabia que, para ganhar o respeito de seu pai, não poderia demonstrar fraqueza ou hesitação. A garota passava o resto do dia na clareira atrás da forja, repetindo os movimentos que ele lhe ensinara. O sol atravessava as árvores, iluminando o suor que brilhava em sua testa, enquanto ela desferia golpes, fintas e defesas. Seus braços doíam cada vez mais, os calos nas mãos cresciam, mas Catarine continuava, incansável. Com o tempo, ela começou a criar sua própria técnica, refinando os ensinamentos curtos e ríspidos de seu pai.
Christian, que muitas vezes se escondia por perto, observava seus treinos. Ele via o quão determinada ela era, se forçando além dos limites, mesmo quando parecia que não poderia mais levantar a espada. Quando o sol se punha, ela ainda estava lá, praticando na penumbra da noite. Apesar das poucas palavras de incentivo de Johann, a habilidade de Catarine crescia a cada dia. A espada, antes pesada em suas mãos, agora se movia com mais fluidez, como uma extensão de seu corpo. Ela começava a entender os padrões dos golpes, os momentos para atacar e defender, mesmo sem a ajuda direta de seu pai. Uma tarde, enquanto ela treinava, o som da lâmina cortando o ar foi interrompido pela voz de Johann ao longe. "Mais rápido! Você nunca vai derrotar um verdadeiro oponente com essa lentidão!" Catarine, ofegante, apenas assentiu, sem baixar a espada. Ela sabia que a aprovação completa dele ainda estava distante, mas sua determinação em alcançar isso a impulsionava cada vez mais. Nas horas de descanso, suas mãos tremiam, seus músculos queimavam, mas havia um brilho de orgulho em seu olhar. Cada pequena melhoria, cada movimento mais preciso, era uma vitória que ela comemorava em silêncio. A espada que ela forjara com tanto esforço agora se tornava sua aliada, e Catarine sabia que não demoraria muito para que sua habilidade estivesse à altura das expectativas de seu pai — e, quem sabe, até além disso.
As semanas de treinamento árduo começaram a mostrar seus frutos. A cada golpe que Catarine desferia, sua espada parecia mais rápida, mais precisa. O cansaço ainda pesava em seus ombros, mas a garota já conseguia manter o ritmo por muito mais tempo do que no início. Seu corpo, antes magro e frágil, começava a mostrar sinais de força; os músculos de seus braços e pernas estavam mais definidos, e sua postura, cada vez mais firme. Seu pai, Johann, observava com um olhar crítico e, embora não dissesse muito, ocasionalmente dava um leve aceno de aprovação — o mais próximo de um elogio que ela receberia. A espada, que ela forjou com tanto sacrifício, agora respondia ao seu comando com fluidez, como se fosse uma extensão de seu corpo. Mesmo assim, Johann exigia sempre mais. "Isso é o mínimo que se espera de você, Catarine", ele dizia, com a mesma rigidez de sempre. O progresso de Catarine não passava despercebido por Christian. Embora mantivesse sua distância, ele se sentia atraído pela força de vontade daquela garota. Em silêncio, ele a observava das árvores ou da borda da clareira, impressionado com a evolução que ela mostrava a cada dia. Sua admiração crescia conforme via Catarine, tão jovem, treinando incansavelmente, sem nunca reclamar ou pedir por descanso.
De vez em quando, Christian deixava uma garrafa de água ou uma fruta próxima a ela, silenciosamente, sem se fazer notar. Ele sabia que ela não gostava de se sentir fraca ou de aceitar ajuda, então fazia isso em segredo, como uma forma sutil de apoiar seu progresso. Catarine, apesar de nunca comentar, notava esses gestos. Ela bebia a água com gratidão silenciosa e comia a fruta entre um intervalo e outro, reconhecendo a presença de Christian sem palavras. Uma tarde, enquanto ela treinava com um ritmo incessante, desferindo golpes cada vez mais rápidos e precisos, Christian se aproximou mais do que o normal, ficando à vista. Ele observava de perto, impressionado com a velocidade que ela atingira. Sua espada cortava o ar com uma precisão quase profissional, e seus movimentos, que antes eram desajeitados, agora fluíam como se fossem naturais. Ela sentiu a presença dele, mas não parou de treinar. "Está vendo algum defeito?" Catarine perguntou, entre um golpe e outro, sem tirar os olhos do alvo improvisado à sua frente. Christian sorriu levemente, cruzando os braços enquanto encostava-se a uma árvore próxima. "Na verdade, não. Você está ficando muito boa nisso."
Ela parou por um momento, ofegante, limpando o suor do rosto com o antebraço. "Tenho que ficar. Meu pai espera isso de mim." E, após uma pequena pausa, ela acrescentou: "Eu espero isso de mim." Christian se aproximou um pouco mais, a postura ainda descontraída, mas o olhar sério. "Você é mais forte do que muitos guerreiros adultos que já conheci, Catarine. Talvez até mais forte do que você imagina." Ela olhou para ele, sem conseguir esconder uma pequena chama de orgulho em seu olhar. "Espero que sim." Ele deixou outra garrafa de água ao seu lado, dessa vez sem se preocupar em escondê-la. "Você merece um descanso, nem que seja por alguns minutos." Catarine suspirou, sentando-se no chão com a espada ao lado, finalmente aceitando o pequeno intervalo. "Só por alguns minutos," ela concordou, pegando a garrafa com um leve sorriso. Mesmo sem dizer em voz alta, ela sabia que aquela pequena ajuda de Christian estava lhe dando a força extra para continuar, e talvez, em algum nível, ela começasse a perceber que, ao contrário de seu pai, ele acreditava genuinamente em seu potencial.
Na escuridão da noite, Catarine tremia sob o manto de estrelas que cobria a floresta. O frio da madrugada misturava-se com o calor febril que ela sentia. Sua respiração estava pesada, e cada passo que dava em direção ao rio próximo parecia mais difícil. A dor em seu ventre era constante, pulsando como se algo dentro dela estivesse mudando de forma, e a sensação era nova, estranha. Ela nunca havia sentido algo assim antes. "Ah, droga... parece que tem um maldito elefante pisando na minha barriga..." Ela gemia baixinho, apertando o estômago com as mãos, tentando aliviar o desconforto, mas sem sucesso. Suor frio escorria por sua testa, e seu coração batia rápido, não apenas pela dor, mas também pela confusão. Ela sabia que havia algo errado. Quando viu a mancha de sangue nos lençóis, seu corpo congelou por um momento. O pânico a tomou. Seu rosto corou imediatamente, e ela não sabia o que pensar. Sangue. O que isso significava? Catarine sentiu um nó na garganta. Ela não entendia por que isso estava acontecendo tão cedo. "Não... isso devia acontecer tão cedo?" sussurrou para si mesma, sentindo o calor subir em seu rosto.
Sem hesitar, ela agarrou os lençóis manchados e vários panos, escondendo-os com pressa. A última coisa que queria era que seu pai descobrisse. Sabia que ele seria rígido ou, pior, a acharia fraca. De jeito nenhum ela permitiria que ele visse isso. Ela jamais o incomodaria com algo assim. Com passos rápidos e silenciosos, Catarine saiu pela porta dos fundos, correndo em direção à floresta. O peso da dor não diminuía, mas ela se forçava a continuar. O rio próximo era seu destino, um local onde ela sabia que poderia se limpar e, quem sabe, entender o que estava acontecendo com seu corpo. A água fria certamente ajudaria a clarear sua mente. Ao chegar à beira do rio, ela soltou os panos que carregava e, com mãos trêmulas, começou a tirar sua túnica e calça. Cada movimento era cuidadoso, quase tímido, enquanto ela olhava ao redor para se certificar de que ninguém a estava observando. "Por que... por que isso está acontecendo agora?" Ela murmurou, abaixando-se para lavar o sangue de suas roupas e de seu corpo. A água fria do rio a fez estremecer, mas também aliviou a ardência que ela sentia. Ela esfregava os panos manchados de sangue com força, tentando limpá-los, mas o vermelho teimava em não sair completamente. Sua mente estava uma mistura de confusão e vergonha, e a sensação de estar lidando com algo muito maior do que ela era assustadora.
Com os panos limpos o suficiente, ela improvisou um curativo para conter o sangramento, prendendo os tecidos extras ao redor do corpo da melhor forma que conseguia. "Isso não devia estar acontecendo..." Ela repetia para si mesma, com os olhos fixos na água que fluía lentamente. A noite ao redor dela era silenciosa, exceto pelo som suave do rio e o bater ocasional das folhas com o vento. Sozinha naquele momento, Catarine tentou processar o que significava aquela mudança repentina. "Será que é isso que acontece com todas as mulheres? Será que... é normal?" Pensamentos rodavam em sua cabeça enquanto ela se vestia novamente, tentando se recompor. Ela sabia que não podia ficar ali para sempre. Precisava voltar antes que seu pai sentisse sua ausência e começasse a fazer perguntas. Ainda com dor, mas determinada a não parecer vulnerável, Catarine se levantou, ajustando os panos ao redor da cintura para conter o sangramento. A jovem guerreira estava lidando com algo muito além do que estava preparada, mas, como sempre, ela faria isso sozinha, sem incomodar ninguém. Christian, sempre atento aos arredores, estava deitado em um dos galhos altos de uma árvore, observando a casa de Catarine à distância, como fazia costumeiramente. Seu olfato aguçado captou um cheiro estranho no ar, que fez seu corpo enrijecer. Sangue. E não era de algum animal ferido, nem um predador por perto. Era o sangue de Catarine.
"O que está acontecendo?" Ele murmurou, sentindo seu instinto aflorar. Catarine... cheiro de sangue... Um misto de preocupação e adrenalina correu por seu corpo, e sem hesitar, ele pulou de árvore em árvore com uma agilidade surpreendente, movendo-se rapidamente em direção ao local de onde o cheiro emanava. Entre as sombras da floresta, ele finalmente a viu. Catarine caminhava sozinha, um pouco curvada, claramente desconfortável, mas tentando manter uma postura firme. Christian pousou no chão, emergindo de repente das árvores com a suavidade de um predador silencioso, mas seus olhos mostravam preocupação. "Cate... você está bem?" Ele perguntou, sua voz firme, mas carregada de preocupação. Catarine deu um pulo, claramente surpresa ao vê-lo ali, seus olhos arregalados enquanto corava intensamente. "Christian! Que... que droga você está fazendo aqui?" Ela exclamou, sua voz uma mistura de constrangimento e frustração. Seus braços se moveram rapidamente para esconder os panos que segurava atrás de suas costas, como se pudesse esconder seu embaraço junto com eles.
"Eu senti cheiro de sangue. Você está ferida?" Ele insistiu, seus olhos vasculhando-a de cima a baixo, procurando algum sinal de ferimento. Mas conforme ele a observava mais de perto, o cheiro de sangue era inconfundível e... peculiar. Ela não estava machucada de forma comum. Catarine ficou ainda mais vermelha, desviando o olhar e mordendo o lábio. Ela sabia que não conseguiria esconder a verdade, mas a vergonha a impedia de admitir o que estava acontecendo. "Ferida? Não... eu... eu só..." Ela gaguejou, tentando encontrar uma maneira de fugir daquele momento incrivelmente constrangedor. Christian continuou olhando para ela, suas sobrancelhas franzidas em confusão enquanto tentava entender a situação. Então, de repente, algo clicou em sua mente. Ele corou junto com ela, suas orelhas esquentando ao perceber o que era. Ah... é isso… "Oh..." Ele murmurou, sua voz carregada de um misto de surpresa e desconforto. "Você... está..." "Não!" Catarine interrompeu, quase gritando, a vergonha tomando conta de todo seu rosto. Ela levantou a mão, como se pudesse silenciar Christian apenas com um gesto. "Não ouse falar nada!" Ela continuou, seus olhos firmes, mas seu rosto ainda corando profundamente. Christian, percebendo a situação delicada, levantou as mãos em um gesto de rendição, tentando não piorar as coisas. "Tá bom, tá bom. Eu... só queria ter certeza que você estava bem." Ele se virou um pouco, tentando dar a ela espaço e respeitar sua privacidade, embora ainda preocupado. "Se você precisar de alguma coisa... qualquer coisa, estou por perto, ok?"
Catarine respirou fundo, tentando reunir coragem. Apesar da dor latejante e do desconforto que a envolvia, ela não queria que Christian a visse assim — vulnerável e fragilizada. Mas a necessidade de aliviar a dor a levou a fazer um pedido que nunca pensou em fazer, especialmente para um lobisomem. "Christian..." Ela começou, sua voz hesitante, quebrando o silêncio constrangedor. "Você se importa de me ajudar com... algumas ervas medicinais? Para fazer um chá?" Sua mente voou para as memórias de sua mãe, que sempre preparava chás reconfortantes durante esse período. A camomila, a erva-cidreira e até o gengibre eram as favoritas, sempre ajudando a acalmar as dores e a ansiedade. Christian virou-se lentamente, sua expressão mudando de surpresa para compreensão. Ele poderia ter sido pego de surpresa por sua vulnerabilidade, mas também sentiu uma onda de compaixão por ela. "Claro, eu posso ajudar. Que ervas você precisa?" Ele perguntou, tomando um passo à frente, a preocupação se infiltrando em sua voz. Catarine hesitou, ainda um pouco envergonhada por pedir algo tão íntimo. "Ah, você sabe... camomila, erva-cidreira e gengibre, se você encontrar..." Ela murmurou, desviando o olhar. "É... é só que minha mãe sempre fazia isso quando ela... você sabe, passava por isso." Christian a observou por um momento, percebendo que, apesar da dor e da situação constrangedora, ela ainda encontrava força em suas memórias. "Eu vou procurar," ele disse suavemente, decidindo que essa seria uma oportunidade para ajudá-la, para ser o amigo que ela precisava.
Ele se afastou um pouco, seu olfato apurado ajudando a identificar as ervas. A floresta era repleta de vida, e embora muitos dos aromas fossem familiares para ele, os da medicina e da cura eram um pouco diferentes. Em pouco tempo, ele localizou o que procurava — as folhas verdes da camomila e da erva-cidreira, e até mesmo algumas raízes de gengibre. Colocou tudo em uma pequena trouxa que encontrou, e voltou rapidamente para onde Catarine estava. "Encontrei!" Ele exclamou, com um sorriso satisfeito enquanto se aproximava dela. "Aqui estão as ervas. Você consegue fazer o chá com isso?" Ele a observou cuidadosamente, admirando sua determinação, mesmo em meio à dor. Catarine olhou para as ervas com gratidão, seu coração aquecido pela gentileza dele. "Obrigada, Christian," ela disse, pegando as ervas e admirando o que ele havia coletado. "Isso vai me ajudar muito." Enquanto ela se preparava para fazer o chá, a tensão que antes existia entre eles foi se dissolvendo, deixando espaço para uma amizade mais forte e genuína. Apesar do embaraço do momento, Catarine sabia que Christian estava ali para apoiá-la, e isso tornava a dor um pouco mais suportável. Na manhã seguinte, Catarine acordou com o estômago ainda repleto de desconforto. Embora o chá de ervas que Christian havia feito a ajudasse a acalmar a dor, a sensação persistente de mal-estar ainda a acompanhava. Ela se levantou da cama, vestindo suas roupas com um esforço considerável, a pressão em seu baixo ventre a fazendo gemer em silêncio. Ela sabia que não poderia deixar que seu pai percebesse sua fragilidade, especialmente em um dia de treino.
Quando finalmente chegou à forja, seu pai estava esperando, sua expressão impassível e rígida como sempre. "Vamos logo, Catarine! O que está acontecendo com você hoje? Está mais lenta que um caracol!" O tom dele era cortante, e cada palavra parecia perfurar ainda mais a confiança já abalada da garota. Catarine lutava para manter o ritmo, tentando ignorar as dores que a impediam de se mover com agilidade. Cada golpe da espada exigia mais do que ela podia dar naquele dia. Ela sentia a pressão subir e a determinação de seu pai a empurrava para frente, mas a dor nas cólicas se tornava insuportável. Sua mente se esforçava para focar no treino, mas o corpo simplesmente não obedecia. "Concentre-se, garota! Você não pode ser fraca!" O pai dela insistiu, a voz cortando pelo ar como uma lâmina afiada. "Se você quer se tornar uma verdadeira guerreira, tem que treinar até mesmo quando estiver mal." O tom dele se tornava mais ríspido a cada momento, e Catarine começou a perceber que não teria como escapar. A tensão no ar se intensificou quando, em um momento de frustração, seu pai bateu em seu rosto com a mão, a força da agressão a fazendo cambalear para o lado. "Você é fraca!" Ele gritou, a desaprovação estampada em seu rosto.
Catarine sentiu as lágrimas ameaçando escorregar pelo seu rosto, mas imediatamente as reprimiu, determinada a não mostrar fraqueza. A dor física era insuportável, mas o golpe emocional do pai foi ainda mais doloroso. Em vez de ceder ao desespero, ela respirou fundo, tentando canalizar a raiva e a dor em sua determinação. "Eu não sou fraca," ela murmurou para si mesma, mais como uma afirmação do que uma resposta. Ela se levantou, erguendo a espada novamente, decidida a mostrar que, apesar de tudo, ela era forte. Seus movimentos estavam lentos e hesitantes, mas ela se negou a desistir. Se seu pai não poderia ver sua luta interna, ela se tornaria a guerreira que ele queria que ela fosse, mesmo que isso significasse superar suas próprias limitações e o peso de sua rigidez. Afinal, ela tinha um objetivo em mente, e nada poderia impedi-la de lutar por isso. Finalmente, após o que parecia uma eternidade de treinos extenuantes e humilhações, o pai de Catarine parou de gritar e lançou um olhar penetrante para ela. Ele a observou por um momento, como se estivesse tentando entender o que havia mudado nela. "Você está agindo de forma estranha, Catarine," ele disse, sua voz agora carregada de confusão. "Por que está tão mole hoje?" A expectativa em seus olhos era de que ela oferecesse uma explicação que justificasse seu comportamento.
Catarine hesitou, sua timidez se tornando uma barreira quase intransponível. Mas, decidida a ser honesta com seu pai, respirou fundo e finalmente respondeu: "Pai, eu... eu estou passando por um período... diferente." As palavras saíram de sua boca em um sussurro, mas, mesmo assim, ela sentiu a necessidade de se abrir. "Eu estou... é difícil explicar. Estou menstruando." Ele ficou em silêncio por um momento, com uma expressão de surpresa que rapidamente se transformou em uma mistura de nojo e desprezo. "O que você está dizendo?" Ele balançou a cabeça, como se não pudesse acreditar no que ouvira. "Você não vai ficar perto de mim durante esse período." A dureza de suas palavras cortou o ar como uma lâmina. Catarine sentiu seu coração disparar, o medo se infiltrando em sua mente. "P-Por quê?" ela perguntou, a voz trêmula. "Pai, eu não quero... eu só preciso de um pouco de compreensão." "Entendimento?" Ele soltou uma risada amarga, um olhar de raiva crescendo em seu rosto. "Você quer que eu tenha compreensão por sua fraqueza? Isso é uma maldição, garota! É algo sujo e fraco! Você vai dormir no estábulo aqui fora. Não quero que isso contamine a forja!" Catarine sentiu uma onda de humilhação invadir seu ser. A rejeição do pai foi um golpe profundo, fazendo suas lágrimas se acumularem novamente, mas ela se esforçou para não deixá-las escapar. Em vez disso, ela assentiu, quase em estado de choque, enquanto seu pai se afastava, claramente desiludido. Arrastando-se até o estábulo, a escuridão daquela noite parecia engoli-la. Ela se sentou em um canto, cercada pelo cheiro do feno e do couro, sentindo-se mais sozinha do que nunca. As paredes que antes representavam segurança agora pareciam um cárcere, e a dor no estômago se misturava à dor em seu coração. "Eu sou forte," ela sussurrou para si mesma, as palavras ecoando na quietude. "Eu sou forte." Mas, naquele momento, a solidão e a rejeição foram quase insuportáveis.
Catarine estava encolhida no escuro do estábulo, as lágrimas escorrendo silenciosamente pelo seu rosto. Ela se sentia pequena e frágil, como uma folha solta sendo levada pelo vento. O peso da rejeição do pai era esmagador, e, enquanto a dor em seu estômago pulsava, a dor emocional parecia ser ainda mais intensa. A solidão se transformava em um abismo profundo, e o feno ao seu redor não fazia nada para suavizar seu sofrimento. Então, a porta do estábulo se abriu lentamente, e uma figura familiar apareceu. Christian se aproximou com cuidado, seus passos suaves para não assustá-la. "Cate?" Ele chamou, sua voz baixa e preocupada. Catarine olhou rapidamente de relance, mas a vergonha a fez desviar o olhar e se esconder ainda mais entre o feno. "Vai embora... eu sou nojenta e posso contaminar você..." suas palavras saíram entrecortadas, tingidas de tristeza. A última coisa que ela queria era ferir Christian com sua suposta impureza. Mas, ao ouvir seu lamento, Christian não recuou. Pelo contrário, ele se aproximou do feno e sentou-se ao lado dela. "Está tudo bem, garota, eu estou aqui," ele disse, tentando transmitir um pouco de conforto. Ela ficou vermelha, um rubor que iluminou seu rosto enquanto, pela primeira vez, se permitia ser vulnerável diante dele. "Eu... eu posso sentar no seu colo?" perguntou, a voz chorosa, quase um sussurro. Christian sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao ouvir aquelas palavras. Um misto de proteção e carinho se acendeu dentro dele. "Claro," ele respondeu, a voz suave. Catarine deslizou para o colo dele, sentindo-se imediatamente mais segura. Christian a envolveu em seus braços, sentindo o calor do corpo dela contra o seu. O cheiro de sangue ainda estava presente, mas, mais do que isso, ele também podia sentir a doce fragância do cabelo dela e a suavidade da sua pele. Era um aroma que o fazia sentir-se em paz, como se todo o resto do mundo tivesse desaparecido.
Enquanto ela se aconchegava mais, Christian começou a acariciar os cabelos dela, seus dedos deslizando suavemente entre os fios. O movimento era quase automático, uma ação que emanava cuidado e carinho. Não demorou muito para que Catarine, exausta e envolta pela segurança que ele oferecia, fechasse os olhos e finalmente adormecesse em seu colo. Christian observou o rosto dela, a tranquilidade agora substituindo a angústia. Um sorriso involuntário se formou em seus lábios enquanto ele a segurava, sentindo uma sensação de proteção que nunca havia experimentado antes. Ele se questionava sobre o que exatamente estava sentindo, algo que ia além da amizade e do companheirismo. Aquela conexão era algo especial, e ele não queria que aquele momento terminasse. A noite prosseguiu calmamente, e, enquanto as estrelas brilhavam lá fora, Christian sabia que, mesmo que os desafios ainda estivessem por vir, ele estaria ao lado dela, pronto para enfrentá-los juntos.