Algumas semanas se passaram. A noite de lua cheia banhava a floresta com sua luz prateada, e a aldeia estava em alerta máximo, com os guerreiros preparados para mais uma batalha contra os lobos que ameaçavam suas terras. O ar estava carregado de tensão, e as barricadas eram a última linha de defesa contra as criaturas que caçavam sob a luz traiçoeira. Johann, como sempre, estava determinado a proteger sua casa, mas desta vez, exigiu que sua filha, Catarine, ficasse ao seu lado. A espada que ela mesma havia forjado brilhava ao seu lado, refletindo a lua cheia como uma promessa silenciosa de sua força. Ao seu redor, no entanto, os homens murmuravam entre si, incomodados com a presença de uma mulher no campo de batalha. “Uma mulher, Johann? Você está ficando louco?” resmungou um dos guerreiros, seu olhar fixo em Catarine, como se ela fosse uma anomalia entre os combatentes. Johann não hesitou. "Cale a boca. Catarine maneja uma espada melhor do que você." Mas os homens não estavam satisfeitos. Para eles, era impensável que uma garota pudesse lutar ao lado deles, especialmente uma que ainda era tão jovem. "Ela ainda é uma mulher," insistiu o homem, sua voz carregada de desprezo. "Existem papéis na sociedade, e uma mulher não nasceu para ser guerreira ou ferreira. Agora que ela virou mulher, como espera arrumar um bom marido para ela?"
Outro guerreiro, afiando sua espada próxima à barricada, riu de forma debochada. "Ela espanta todos os garotos da idade dela. Quem vai querer se casar com uma mulher assim?" Enquanto os homens discutiam, Catarine, imperturbável, continuava sua luta contra os lobos. Com uma destreza impressionante, ela matou um dos animais com sua adaga de prata, limpando o sangue na calça com uma frieza que rivalizava com qualquer guerreiro experiente. Ela sequer piscava diante do horror e da brutalidade ao seu redor. Para ela, aquela era apenas mais uma noite, mais uma batalha para proteger o que amava. "Ela tem algum vestido?" perguntou outro homem, quase com incredulidade. Johann, exasperado, respondeu: "Vestidos atrapalham a lutar." Mas o tema não desaparecia. Um guerreiro ao lado, com um sorriso malicioso, sugeriu: "Talvez eu possa garantir um futuro para ela. Meu filho Bernhard acabou de fazer dezoito anos." "Bernhard?" Johann riu, sarcástico. "O garoto que mal consegue respirar enquanto segura uma espada? Catarine vai acabar com ele."
O homem riu alto, mas com uma ponta de verdade. "Tem razão. Talvez Wenzel, então. Ele é forte, viaja muito... um bom partido." Johann pensou por um momento. "Wenzel? Quantos anos ele tem agora?" "Vinte e três. E é um homem forte, sempre viajando de porto em porto." Enquanto Johann ponderava sobre a possibilidade de arranjar um casamento para sua filha, Catarine estava do outro lado da barricada, lutando com sua usual coragem e precisão. Ela não fazia ideia de que, enquanto sua espada protegia a aldeia, o seu futuro estava sendo decidido como se fosse uma mera transação entre homens. Seu destino, para muitos ali, era algo trivial. Mas para Catarine, que enfrentava os lobos com uma determinação inabalável, o destino que desejavam para ela estava muito distante dos sonhos que realmente possuía. "Quantos anos ela tem, afinal?" perguntou um dos homens, perplexo com a habilidade da garota. "quatorze," respondeu Johann, com uma pontada de orgulho na voz. "Quatorze?" o homem exclamou. "Está na idade perfeita para casar. Tire a túnica daquela garota e compre um vestido decente. Ela precisa começar a agir como uma mulher." Eles observaram Catarine arrastar o corpo de mais um lobo morto até a barricada. Ela o largou sem cerimônia, limpando o sangue de suas mãos com uma expressão de frieza no rosto, alheia à conversa que acontecia nas sombras. O suor e o sangue misturavam-se em seu rosto jovem, mas seu olhar permanecia firme.
"Cristo…Quem vai querer se casar com uma mulher assim?" um deles murmurou, desconcertado com a cena. Johann, no entanto, riu, orgulhoso. "Eu quero um homem forte e viril para ela. Se os seus filhos não têm bolas o suficiente para lidar com Catarine, então talvez eles não sejam os pretendentes perfeitos." O silêncio que se seguiu entre os homens estava carregado de desconforto. Catarine, por outro lado, permanecia focada na batalha, sem saber que o que realmente temia não eram os lobos, mas o futuro incerto que outros insistiam em traçar para ela. Ela sabia que, assim como naquela noite, lutaria para moldar o próprio destino.
O pai de Wenzel, percebendo a hesitação momentânea de Johann, tentou pressionar um pouco mais. Ele deu um sorriso complacente, como se tentasse parecer razoável, mas Johann não estava disposto a ceder. "Ouça, Johann," começou o homem, sua voz mais baixa, como se tentasse iniciar uma negociação. "Wenzel é um bom rapaz. Forte, trabalhador. Ele viaja muito, mas isso demonstra o quanto é capaz de cuidar de uma família, de sustentar uma esposa." Johann cruzou os braços, seu semblante rígido. "Você fala como se ela fosse um prêmio a ser conquistado." "Não é isso, Johann. Mas sua filha precisa de segurança. Ela é forte, sim, mas quem vai cuidar dela quando você não estiver mais aqui? Um casamento com Wenzel seria uma excelente oportunidade." Johann olhou para Catarine, que, ao longe, limpava a lâmina da espada após abater mais um lobo. Ele sabia que ela tinha apenas quatorze anos, mas sua força e determinação a faziam parecer mais velha. Ouvindo o pai de Wenzel, ele sentiu uma onda de frustração. "Ela não é uma ovelha, a ser entregue ao primeiro homem que você achar adequado," Johann retrucou, seu tom cortante. "Catarine decidirá por si mesma, e não irei simplesmente empurrá-la para um casamento." O outro homem hesitou, percebendo a firmeza de Johann. "Johann, você precisa entender... As pessoas falam. Uma garota como Catarine não pode simplesmente continuar lutando nas trincheiras. É perigoso." "Ela não é uma criança indefesa," Johann respondeu, agora com mais intensidade. "Catarine é uma guerreira. E o que mais precisamos neste momento é de guerreiras, não de esposas submissas." "Mas ela está na idade perfeita para casar," insistiu o pai de Wenzel. "A vida de uma mulher não é na guerra. Wenzel estará de volta em breve. Ele é forte e respeitável. Por que não dá uma chance ao futuro deles juntos?"
"Porque eu sou o pai dela e decidirei o que é melhor para ela," Johann cortou, seu olhar firme. "E, se eu decidir que ela deve se casar, será com um homem que a respeite e a valorize, não com alguém que veja apenas um troféu." O homem se calou, percebendo que Johann estava irredutível. "Mas você realmente acha que Catarine estará feliz nesse caminho? O que ela deseja?" "Ela deseja fazer o que é certo," Johann afirmou, "e isso inclui proteger nossa vila. Mas, quando chegar a hora, não hesitarei em arranjar um bom casamento para ela, desde que o homem seja digno." Enquanto isso, na escuridão da noite, Catarine permanecia imersa na batalha, alheia ao fato de que seu futuro estava sendo decidido entre os homens. Johann, com seu coração de pai, não hesitaria em moldar o destino da filha, mesmo que isso significasse ignorar os desejos dela.
Enquanto a lua cheia iluminava a densa floresta, Christian, o lobo branco de olhos vermelhos, permanecia vigilante. Ele era um lobo solitário, afastado a alguns quilômetros da vila, onde os humanos estavam se preparando para mais uma noite de luta contra a sua espécie. Seus ouvidos estavam atentos a cada som, seus sentidos aguçados. Ele não podia simplesmente ignorar o que acontecia na vila, mas, ao mesmo tempo, seu lugar na alcateia estava comprometido. Um ruído leve entre as árvores chamou sua atenção. Ele rosnou, erguendo-se, pronto para atacar, mas ao invés disso, Caspian apareceu. O lobo de pelagem prateada e olhos cinzentos mantinha uma postura cautelosa, sem intenções de combate, mas havia um peso em sua presença. "Christian," Caspian começou, sua voz carregando uma seriedade que raramente exibia. Christian não abaixou a guarda. Ele rosnou em advertência, suas presas visíveis, mas não atacou. "O que foi, Caspian?" Ele perguntou com frieza. "Eu vim aqui discutir com você a respeito desses ataques. Isso não está sendo bom para a nossa alcateia," disse Caspian, encarando o amigo de longa data com seus olhos prateados que brilhavam à luz da lua. Christian riu, uma risada seca e sem humor. "É o que eu venho dizendo todos esses anos, mas o alfa nunca me escutou. E agora você vem aqui...?" Ele deu um passo para trás, sem disfarçar o desprezo. Caspian, no entanto, manteve sua postura calma. "Eu sei que você sempre foi contra esses ataques... mas precisamos de você de volta à alcateia. Além dos humanos, agora temos uma ameaça maior. Os vampiros estão se aproximando de Silver Moon."
Christian deixou escapar um grunhido cínico, seus olhos estreitos e cheios de desconfiança. "Vocês me exilaram, Caspian. Jogaram-me fora como se eu não fosse nada. E agora que as coisas estão ficando ruins, querem que eu volte?" "Sim," Caspian respondeu com uma honestidade brutal. "É mais ou menos isso. Os malditos humanos estão nos caçando como presas, um por um. Você tem andado com eles. Sabe seus pontos fracos e seus pontos fortes. Conhece o território como ninguém." Christian moveu-se desconfortavelmente, seus pensamentos divididos. "Eu não vou trair a confiança de Catarine. A família dela vive naquela vila." Caspian o observou em silêncio por um momento, os olhos sérios. "Você se importa com ela, não é?" A pergunta ficou no ar, pesada. Christian desviou o olhar, o conflito interno evidente em seu semblante. "Ela é diferente," ele disse baixinho, quase como se estivesse falando consigo mesmo. "Não é como os outros." Caspian deu um passo à frente, tentando persuadir o amigo. "Se os vampiros tomarem Silver Moon, nem os humanos, nem você, nem ela terão chance. Pense nisso, Christian. Nós precisamos de você." Christian olhou de volta para a direção da vila, sua mente correndo com dúvidas. "Eu não vou deixar os humanos se ferirem. Mas não vou trair os lobos, tampouco," ele murmurou, deixando sua decisão ainda nebulosa, enquanto Caspian se afastava nas sombras, ciente de que Christian precisava fazer sua escolha sozinho.
Naquela noite, a lua cheia se erguia como uma testemunha impassível, banhando as montanhas com sua luz gélida enquanto Demétrio, o implacável alfa da alcateia de lobisomens, avançava em silêncio mortal. As ruínas da antiga fortaleza emergiam das sombras como dentes quebrados na paisagem, e ali, na penumbra, Eros, o lorde dos vampiros, o aguardava com uma paciência letal. O ar estava carregado de tensão, como se a própria noite contivesse a respiração, antecipando o confronto que se aproximava. Demétrio, em sua forma lupina, era uma besta colossal, sua pelagem negra parecia absorver a escuridão ao redor, e seus olhos, duas safiras incandescentes, cortavam o véu da noite com um brilho feroz. Ele não precisava de palavras para anunciar sua presença; sua simples aproximação fazia a terra vibrar sob suas patas pesadas. Cada músculo de seu corpo estava pronto para explodir em fúria selvagem, mas ele avançava com uma calma aterradora, como a tempestade que se forma antes do caos. Eros, esguio e pálido como a própria morte, estava parado entre as sombras, sua figura alta e envolta em um manto negro que ondulava suavemente no vento frio. Seus olhos vermelhos brilhavam com uma intensidade que desafiava a escuridão ao seu redor, mas seu sorriso — aquele sorriso traiçoeiro que sempre revelava mais do que suas palavras — era mais perturbador do que qualquer brilho sanguinário. "Sempre você, Demétrio," sua voz ressoou, suave, mas letal, como o sussurro de uma lâmina prestes a cortar. Ele deu um passo à frente, o som de sua risada seca se misturando ao silêncio da noite. "Caçando no meu território, como um animal que esqueceu as regras." Demétrio respondeu com um rosnado baixo, um som profundo que reverberava pelas árvores como um trovão distante. Cada fibra de seu ser clamava pelo combate, mas ele se conteve, mantendo o controle sobre a fera dentro de si. "Não me provoque, Eros," ele grunhiu, sua voz carregada de um ódio contido, mas palpável. "Já te avisei... não me force a despedaçar você." Eros deu uma risada suave, sem qualquer indício de medo. Seus olhos brilhavam, vermelhos como brasas, cheios de raiva antiga e um prazer sombrio. "Você sabe que me matar seria um erro... mesmo para um lobo como você," ele murmurou, aproximando-se mais, cada passo medido, como se soubesse que estava pisando na beira de um precipício. "Afinal, não nos encontramos aqui por acaso... existe algo mais forte que nos impede de cruzar essa linha." O sorriso de Eros se alargou, um gesto de pura malícia. "Você só não me matou ainda por um motivo... nossa velha amizade. Ou será que é algo mais profundo?"
Demétrio parou, os olhos azuis como gelo, fixos em Eros, cada fibra de seu corpo carregada de ressentimento e de um passado pesado que ainda o assombrava. O silêncio entre eles era denso, cheio de memórias que há muito haviam apodrecido. Séculos atrás, suas garras e presas lutaram lado a lado, em uma aliança tão improvável quanto poderosa, que salvou suas espécies de aniquilação. Mas o tempo, sempre impiedoso, corroeu essa parceria, transformando-a em uma rivalidade amarga e envenenada. Agora, o que restava eram os cacos de uma antiga lealdade, fragmentada e enterrada sob montanhas de desconfiança. "Velha amizade?" A risada de Demétrio foi cortante, um som cheio de desprezo. "Isso é piada, Eros? Aquela amizade morreu junto com os sonhos desses dias. Agora, somos o que sempre fomos destinados a ser: inimigos. Você controla seus morcegos, e eu protejo os meus lobos. Qualquer outra coisa não passa de um eco de um passado morto." O rosto de Eros escureceu, sua habitual expressão de desdém suavizada por algo mais sombrio, algo mais antigo. "Não somos tão diferentes, Demétrio," ele sussurrou, as palavras carregadas de um peso quase profético. "Humanos, lobos, vampiros... no fim, todos estamos destinados a sucumbir à escuridão. A única diferença entre nós é que aceitamos nossa queda. Você ainda luta contra o inevitável." Os olhos de Demétrio se estreitaram, sua paciência no limite. Seus instintos gritavam para ele atacar, para rasgar Eros em pedaços ali mesmo, acabar com aquela ameaça e terminar o que começara séculos atrás. Mas, em vez disso, ele se forçou a ficar parado, o controle sobre sua fúria prestes a se romper. "Se quer me dar lições filosóficas, guarde-as para outro. Não vim aqui para ouvir devaneios sobre o destino. Me chamou para isso?" Eros se inclinou contra uma pedra próxima, com uma languidez calculada, como se estivesse à vontade, mas seus olhos vermelhos não deixavam Demétrio fora de vista nem por um segundo. "Talvez eu tenha chamado apenas para conversar com um velho amigo," ele disse com um sorriso fino, o sarcasmo pingando de cada palavra. "Não tenho permitido a mim mesmo esse luxo há muito tempo."
Ele fez um gesto vago, convidando Demétrio a se aproximar. "Desculpe se te incomodo com esse encontro, mas há algo que preciso discutir. Algo que pode te interessar." Demétrio permaneceu imóvel, os músculos retesados sob a pelagem negra. Ele observava Eros com desconfiança, como um predador farejando uma armadilha. No entanto, a curiosidade estava plantada, apesar de sua relutância. Ele deu um passo à frente, mas sua postura se manteve pronta para o combate, seus olhos fixos no vampiro. "Então, o que é tão importante que justifica me trazer até aqui?" Eros balançou a cabeça lentamente, seu sorriso desaparecendo. "Eu te chamei para avisar que, se continuar invadindo meu território, a guerra que estamos evitando por séculos vai, finalmente, eclodir. E não importa o que você pense, Demétrio... não é uma guerra que você pode vencer." Um rosnado profundo vibrou do peito de Demétrio, sua paciência finalmente se desgastando. "Eu caço onde for necessário para manter minha alcateia viva. Não vou deixar meu povo morrer de fome por causa do seu orgulho mesquinho, Eros. Se quer que eu saia, faça alguma coisa sobre isso." Eros, com um sorriso frio e calculista, inclinou a cabeça levemente. "Eu poderia... mas, por enquanto, escolho não fazer. Talvez, no fundo, ainda exista uma pequena parte de mim que se lembra do que éramos." Demétrio deu um passo à frente, o ar ao redor deles eletrizado pela ameaça crescente. "Não teste minha paciência, Eros. A amizade que você tanto menciona não vai te proteger para sempre." Eros apenas o observou com seus olhos vermelhos e brilhantes, um olhar tão profundo quanto a própria noite. "Nem sua força bruta vai te salvar da escuridão, meu velho amigo," ele murmurou, sua voz baixa, carregada com a frieza de séculos de sangue e traição. A tensão entre eles estava prestes a explodir, mas ambos sabiam que esse confronto, quando finalmente chegasse, seria mais do que um simples combate — seria o fim de tudo o que ainda os conectava.
Demétrio fitou Eros por um momento que pareceu se arrastar no tempo, seus olhos azuis fervilhando com uma mistura perigosa de raiva e desejo reprimido. O ar entre eles parecia vibrar com uma eletricidade invisível, e então, com um movimento fluido e predatório, Demétrio começou a se transformar. Seus ossos se ajustaram com estalos audíveis, a forma imponente de lobo encolhendo, moldando-se em um homem alto e musculoso, cada movimento seu carregado de uma força crua e selvagem. A luz da lua cheia delineava sua pele pálida, como se destacasse a tensão que enchia o ar frio ao redor deles. Mas o frio da noite não os alcançava. O calor intenso que emanava de suas presenças preenchia o espaço, carregado de uma fúria latente, de uma história mal resolvida que pulsava entre ambos. Eros, como sempre, mantinha sua postura arrogante, seus olhos vermelhos fixos em Demétrio, sem desviar nem por um segundo. Aquele olhar, afiado e calculado, era um jogo que Eros jogava há séculos, sempre buscando mexer com os nervos do lobo. Quando Demétrio deu um passo à frente, mais humano agora, mas ainda tão ameaçador quanto na forma lupina, os olhos de ambos brilharam com um vermelho carmim intenso, um reflexo de algo mais profundo que compartilhavam: um fogo interno, ardente, que tentavam desesperadamente esconder sob camadas de ressentimento, rivalidade e orgulho.
Eros passou a mão pelos longos cabelos de um azul profundo, o gesto casualmente despreocupado, mas carregado de um ego afiado que Demétrio conhecia bem demais. O vampiro sorriu, aquele sorriso familiar, torturante, que sempre fazia o sangue de Demétrio ferver — uma mistura de superioridade e provocação que o alfa lobisomem detestava, mas nunca conseguia ignorar. "Você adora desafiar minha paciência," Demétrio murmurou, sua voz grave e carregada de ameaça, agora tão próxima que o ar parecia vibrar entre os dois. "Sempre foi assim, desde que éramos pequenos." Eros, com um brilho malicioso nos olhos, inclinou a cabeça de leve, como se apreciasse a provocação. "Velhos hábitos morrem difíceis, Demétrio." Sua voz era um sussurro afiado, um toque de zombaria pairando nas palavras. "E, no fundo, você ainda aprecia o jogo." O lobo apertou os punhos, seus instintos gritando para atacar, para fazer Eros pagar por toda essa arrogância acumulada ao longo dos séculos. O calor de sua raiva era quase palpável agora, e o sangue corria quente em suas veias, lutando contra o controle que ele tentava manter. "Não teste meus limites, Eros," ele rosnou, cada palavra carregada de um aviso claro. O sorriso de Eros apenas se alargou, sem medo, sem hesitação. "Oh, Demétrio," ele disse, com um tom sedutor e perigoso. "Seus limites são exatamente o que eu gosto de testar." O silêncio que se seguiu foi cortante, a tensão entre eles atingindo um pico insuportável. Ali, sob a luz da lua, a velha amizade que um dia os uniu se desfazia completamente, deixando apenas dois inimigos, prontos para explodir em violência a qualquer segundo.
Eros soltou uma risada suave, cada nota impregnada de arrogância, como se estivesse saboreando a tensão crescente que enchia o ar. "Sempre fui o mais forte de nós três, não é?" Ele arqueou uma sobrancelha, os olhos carmesins perfurando os de Demétrio. "Christian, você, eu... Presos nessa teia inescapável de séculos de amizade, traição e ódio." O rosnado baixo de Demétrio reverberou no ar como um trovão distante, mais um reflexo de sua natureza selvagem e contida do que uma ameaça direta. Ele avançou, cada passo um aviso silencioso. Quando seus corpos ficaram perigosamente próximos, suas respirações se misturaram no ar gélido da floresta. O frio ao redor não era páreo para o calor pulsante que emanava de ambos, uma energia intensa e furiosa que parecia prender o espaço entre eles, esticando-o ao limite. A tensão, antes apenas hostil, começou a se transformar em algo mais denso, algo sombrio e carregado de uma história inexplorada, enterrada profundamente sob camadas de ressentimento e violência. Havia uma atração inegável, um peso silencioso que sempre pairava sobre suas interações, mesmo que nenhum dos dois admitisse. Eros ergueu o queixo ligeiramente, os lábios se curvando em um sorriso astuto, quase predatório. "Você sempre soube que eu gosto de te provocar, Demétrio." Sua voz era baixa, envolta em malícia, mas havia algo mais. Uma faísca nos olhos vermelhos de Eros, algo que apenas se revelava na presença do lobo negro. Demétrio o encarou, seus olhos vermelhos cintilando com uma raiva controlada, mas também com algo indefinido, algo que ele se recusava a nomear. O silêncio entre eles não era de paz; era a calma inquietante antes da tempestade, o prelúdio de uma violência iminente ou de uma verdade que ambos tentavam enterrar.
"Você gosta de brincar com fogo, Eros," Demétrio sussurrou, sua voz grave e ameaçadora. "Mas até o fogo pode consumir a escuridão." Eros sorriu, seus olhos brilhando ainda mais. "Talvez, Demétrio. Mas sempre sou eu quem controla as chamas." Demétrio deu um passo à frente, tão próximo que o calor entre eles era palpável, mesmo na noite fria. Suas mãos tremiam ligeiramente, os dedos se curvando como se estivessem prestes a agarrar Eros pelo colarinho, mas ele se conteve no último segundo. Sua respiração ficou pesada, e quando falou, sua voz era um sussurro rouco, quase inaudível, carregada de desejo reprimido que ele não podia mais esconder. "E você adora testar seus limites comigo, não é?" Eros, com um sorriso malicioso, inclinou-se ainda mais próximo, o rosto a centímetros do de Demétrio. "É verdade," murmurou, sua voz macia e hipnotizante, como a calma enganosa de uma tempestade iminente. "Mas... você também gosta disso, não é? De finalmente encontrar alguém que não se curva ao seu poder." Seus olhos vermelhos brilharam com uma mistura de provocação e algo mais profundo. Ele se ergueu lentamente, ficando de frente para o lobo, tão perto que podia sentir cada pulsar de energia que emanava do corpo tenso de Demétrio. "Não somos tão diferentes," Eros continuou, inclinando-se ligeiramente, o olhar fixo e penetrante. "Sempre foi assim entre nós, não foi? Lutando pela dominância, mas nunca capazes de nos afastar de verdade." Suas palavras eram como veneno doce, insinuando-se na mente de Demétrio.
O lobo alfa cerrou os punhos com tanta força que os nós dos dedos branquearam. A tensão dentro dele era quase insuportável, um conflito feroz entre raiva e um desejo que ele se recusava a admitir, mesmo para si mesmo. "Isso não é verdade," rosnou, sua voz carregada de emoções conflitantes. "Isso... isso é uma prisão, Eros. Uma maldita necessidade de te desafiar... mas não significa..." Ele parou, as palavras morrendo na garganta, incapaz de terminar a frase. Eros não perdeu tempo. Ergueu a mão, seus dedos frios roçando suavemente o rosto de Demétrio, o toque tão leve quanto uma brisa, mas carregado de intenções sombrias. "Não significa o quê, Lobo?" Sua voz era um sussurro afiado, cortando a fachada de força que Demétrio tentava manter. O lobo deu um passo para trás, mas não foi o bastante para quebrar o feitiço que pairava entre eles. "Não significa que eu tenha sentimentos por você," Demétrio forçou as palavras, mas sua voz falhou, traindo-o no último momento. Eros soltou uma risada baixa, rica em desprezo e diversão. "Ah, Demétrio... você acha que pode me enganar? Depois de mil anos? Eu te conheço melhor do que você conhece a si mesmo." O coração de Demétrio martelava no peito, cada batida ecoando como um tambor de guerra. Ele sabia que, mesmo diante de todo seu poder e brutalidade, não poderia se permitir demonstrar fraqueza diante de Eros. Mas naquele momento, a linha entre o ódio e o desejo se tornou dolorosamente tênue. "Eu não sou o mesmo de antes, Eros. Não pense que me controla," rosnou, sua voz grave e ameaçadora. "Ah, meu caro lobo," Eros sussurrou, seus lábios quase tocando a pele de Demétrio. "Não se trata de controle. Nunca foi."
"Este território pertence à minha alcateia, Eros," Demétrio disse, sua voz baixa, mas carregada de firmeza. "Você é poderoso o suficiente para caçar em qualquer outro lugar. Não precisa desse vilarejo para se alimentar. Você e seu clã de morceguinhos podem muito bem encontrar outro campo de caça." Eros suspirou, sua expressão endurecendo. "Você sabe que não é assim simples. Esse vilarejo pertence aos vampiros há gerações. Não é apenas uma fonte de sustento. É um símbolo de controle, de poder. Algo que você, mais do que ninguém, deveria entender." Ele deu um passo à frente, ficando cara a cara com Demétrio, os olhos vermelhos faiscando de raiva contida. "E pare de me chamar de morceguinho." Demétrio não pôde conter um sorriso de canto, o humor sombrio surgindo mesmo no meio de uma tensão palpável. "Ah, mas eu adoro te provocar com isso. Ou você acha que eu sou ingênuo o bastante para não perceber como você odeia ser lembrado de que, no fim das contas, é tão mortal quanto eu?" Eros revirou os olhos, a irritação clara em sua expressão. "Eu não sou mortal, seu tolo presunçoso. Tenho mais de mil anos." "Mas ainda assim, sua raça está presa às mesmas leis da natureza," Demétrio rosnou, movendo-se mais uma vez na direção do vampiro, encurtando a distância entre eles de maneira deliberada, desafiadora. O ar parecia crepitar com a eletricidade que se formava entre os dois, um campo invisível de forças opostas e, ao mesmo tempo, atraídas uma pela outra. Eros sentiu o impacto da proximidade, seu corpo reagindo antes que sua mente pudesse protestar. A mão dele se ergueu, quase por reflexo, e roçou de leve o ombro de Demétrio. Foi um toque breve, quase insignificante, mas carregado de implicações que nenhum dos dois estava pronto para admitir. Um gesto pequeno, mas que continha uma faísca de tudo que eles estavam tentando negar.
Os olhos de Demétrio se estreitaram, analisando cada movimento de Eros. Ele sabia que estavam jogando um jogo perigoso, onde o equilíbrio entre poder, desejo e ódio os mantinha suspensos à beira de um precipício. "Você sabe que isso não vai terminar bem, não sabe?" murmurou, a voz grave e ameaçadora. Eros, com um sorriso quase imperceptível nos lábios, encarou o lobo com o brilho astuto nos olhos. "Oh, Demétrio," sussurrou, aproximando-se ainda mais, até que seus corpos quase se tocassem. "Este jogo nunca foi sobre terminar. Foi sempre sobre quem vai ceder primeiro." Demétrio sentiu seu sangue ferver. Cada palavra de Eros era como uma lâmina fina, cortando através de seu autocontrole. As tensões entre eles haviam se transformado em algo muito maior do que qualquer disputa territorial — era uma batalha pela própria alma de ambos, uma luta que os consumia desde o início dos tempos.
Nenhum dos dois cederia facilmente, mas ambos sabiam que estavam dançando à beira de um precipício. A atração entre eles queimava como uma chama contida, pronta para explodir a qualquer momento. "Você nunca aprendeu a se controlar, Demétrio," provocou Eros, sua voz suave, mas carregada de malícia. Seus dedos deslizaram pelos cabelos azuis, um gesto de vaidade que também servia de convite implícito, um desafio calculado. "E é exatamente essa falta de controle que sempre te deixou à minha sombra." Demétrio estreitou os olhos, sentindo uma mistura de fúria e desejo borbulhar dentro dele. Ele conhecia bem o jogo de Eros, o jeito que o vampiro testava seus limites, empurrando-o para o abismo, sempre brincando com o fogo. Mas desta vez, algo estava diferente. A tensão entre eles era mais espessa, mais perigosa, como uma corrente elétrica invisível que os envolvia, prestes a romper todas as barreiras. Algo mais profundo e inegável corria sob a superfície — algo que nenhum deles queria nomear. "Não me subestime, Eros," Demétrio sussurrou, sua voz carregada de uma ameaça velada e uma promessa sombria. "Você pode pensar que tem o controle, mas sabe o que acontece quando eu deixo de me controlar." Os dois se encararam em um silêncio carregado, o ar ao redor deles pulsando com a energia tensa e explosiva de uma batalha iminente. As palavras se tornaram lâminas afiadas, e os olhares, armas letais. Ambos eram mestres na arte da sedução e do conflito, e agora, no campo de batalha silencioso que haviam criado, cada movimento, cada palavra, carregava um peso imenso.
Eros sorriu, mas não era um sorriso de triunfo — era um sorriso perigoso, um que escondia o próprio desejo que ele tentava esconder. Ele se inclinou para mais perto, sua respiração quente roçando a pele de Demétrio. Seus lábios se aproximaram do ouvido do lobo, sua voz transformando-se em um sussurro rouco, quase inaudível, mas cheio de implicações. "Você fala como se não quisesse que isso acontecesse, Demétrio... Mas nós dois sabemos a verdade. Você gosta de perder o controle quando está comigo." Demétrio sentiu o coração acelerar, o corpo reagindo antes que pudesse se conter. Sua raiva e desejo se entrelaçavam, e por um instante, ele esteve à beira de sucumbir à provocação. Mas ele não podia. Não ainda. "Cuidado com o que deseja, Eros," ele murmurou, sua voz baixa e ameaçadora, os olhos brilhando em um vermelho intenso. "Você pode não estar preparado para lidar com as consequências. Não me subestime" Ambos sabiam que estavam brincando com fogo, jogando um jogo em que o controle era apenas uma ilusão. A qualquer momento, a linha tênue que os separava poderia se romper, e quando isso acontecesse, não haveria como voltar atrás.
"Eu não estou subestimando, seu cachorrinho rebelde. Estou apenas te lembrando quem aqui é o mais velho e o mais poderoso." A voz de Eros soava suave, mas com uma ameaça velada. Seus dedos deslizaram pelo peito de Demétrio, um toque sutil, carregado de intenções perigosas. "E sobre esse controle... sempre achei muito mais interessante quando você o perde." A tensão entre eles era sufocante, como uma tempestade prestes a explodir. Poder e desejo colidiam em um jogo sem vencedores. Demétrio sentia-se atraído por Eros, como uma mariposa sendo consumida pela chama, lutando contra a força irresistível, mas sabendo que já estava perdendo essa batalha. "Você sempre foi perigoso, não foi?" ele murmurou, a voz rouca e carregada de emoção reprimida. "Mas eu também nunca fui de recuar facilmente." Mesmo enquanto suas palavras tentavam manter distância, o corpo de Demétrio respondia ao toque do vampiro. Ele deu um passo para trás, tentando se desvencilhar da pressão sufocante que crescia entre os dois. Seu coração disparava no peito, cada batida ecoando o conflito interno que ele tentava sufocar. Eros riu baixinho, um som suave e cheio de provocação. "Oh, Demétrio, meu velho amigo... por que está se afastando? Será que você tem medo de finalmente perceber que amor e ódio são lados da mesma moeda?" A garganta de Demétrio secou, sua mente lutando para encontrar uma resposta que mantivesse a raiva e a atração sob controle. Ele desviou o olhar, tentando esconder a verdade que Eros tão cruelmente trazia à tona. "Para de falar merda, seu rato com asas," ele retrucou, a voz vacilante em sua tentativa de manter a fachada.
Mas Eros não se deteve. Ele avançou mais uma vez, dessa vez agarrando o rosto de Demétrio com firmeza, forçando-o a encará-lo. Os olhos de Eros brilhavam em um azul profundo, intensos e implacáveis, uma janela para o abismo entre eles. "Então, por que não vem aqui e cala a minha boca, cãozinho?" Demétrio sentiu o corpo enrijecer sob o toque de Eros. A provocação e o poder exalado pelo vampiro sempre o atraíram de uma forma quase visceral, como um imã puxando-o para algo que ele sabia que seria sua ruína. Mesmo tentando resistir, ele sentia a energia pulsante entre eles, algo muito além da simples rivalidade. Seus lábios quase se moveram em resposta, um instante de hesitação que dizia mais do que qualquer palavra poderia. O silêncio entre os dois era ensurdecedor. Demétrio estava à beira de um colapso, seu autocontrole desmoronando lentamente sob a intensidade da situação. Ele sabia que, se cruzasse essa linha, não haveria retorno. E, no fundo, essa era a verdadeira provocação de Eros — levá-lo ao limite, arrastá-lo para o ponto de não retorno, onde o desejo e a fúria se tornariam uma só coisa.
Ele segurou o pulso de Eros com firmeza, tentando se afastar, mas a pressão do vampiro era inegável. "Você sempre foi um manipulador de primeira," ele disse entre os dentes, a raiva e o desejo entrelaçando-se como serpentes. "Fique longe de mim, seu vampiro presunçoso." Eros soltou uma risada suave, quase provocativa. "Oh... é a sua maneira de dizer que eu sou... atraente?" A ironia em sua voz era palpável, como um fio elétrico que vibrava entre eles. Demétrio soltou o pulso de Eros, mas, em um impulso súbito, agarrou a camisa do vampiro e o puxou para perto, seus olhos desafiadores ardendo com uma chama perigosa. "Não, é a minha maneira de dizer que você é uma dor de cabeça persistente." No entanto, o cintilar em seus olhos denunciava a verdade oculta em suas palavras. Eros não se afastou; em vez disso, sorriu de maneira maliciosa, deixando Demétrio ainda mais tenso. "Oh... me agarre mais... cãozinho." A provocação dançava em seu olhar, como uma dança flamejante que desafiava Demétrio a ceder.
Demétrio começou a tremer, não apenas de raiva, mas de algo mais intenso que o dominava. "Para com essa merda... você está... me hipnotizando com seus... poderes... não está?" A voz dele saiu rouca, carregada de um desejo que ele tentava ignorar. Eros arqueou uma sobrancelha, seu sorriso se aprofundando. "Você acha mesmo que eu ia desperdiçar meu poder para fazer você se apaixonar por mim? Ah, não... isso já vem de... séculos." Cada palavra era uma provocação, um fio que se estendia entre eles, aquecendo o ar e deixando tudo mais carregado. Demétrio sentiu a provocação correr por suas veias, acendendo algo dentro dele que ele lutava para controlar. Seu pulso disparou, a adrenalina inundando seu corpo enquanto suas mãos se agarravam com mais força à camisa de Eros, como se isso pudesse ancorá-lo à realidade. A intensidade da situação fez seu coração acelerar, e a linha entre ódio e desejo se tornava cada vez mais tênue. Ambos sabiam que estavam em um terreno perigoso, onde a tensão poderia facilmente se transformar em algo muito mais profundo e incontrolável. O ar estava saturado de emoções, e cada respiração parecia carregada de um peso que poderia explodir a qualquer momento. Demétrio se permitiu um momento de hesitação, seu olhar fixo nos olhos de Eros, a batalha interna entre se afastar ou se entregar fervendo como magma sob a superfície.
"Então por que estou me sentindo assim?" Demétrio murmurou, sua voz entrecortada, tentando dominar o caos que fervilhava dentro dele. "Por que estou tremendo assim? Por que minha pele arrepia toda vez que você me toca?" A vulnerabilidade em suas palavras contrastava com a dureza de sua postura. Os olhos azuis de Eros se fixaram nos de Demétrio, brilhando com uma intensidade enigmática que parecia penetrar em sua alma. "Porque a atração que existe entre nós é tão antiga quanto nossa desavença. Não é algo que nenhum de nós controla." A proximidade do vampiro se intensificou, seus corpos quase se tocando, como se a tensão no ar fosse uma corda prestes a se romper. Demétrio sentiu cada fibra do seu ser reagir à presença de Eros. O cheiro dele — uma mistura sedutora de lavanda, hortênsias e o inconfundível aroma do sangue — inundava suas narinas, como um veneno doce que o tornava mais consciente de seus próprios desejos. Ele agarrou Eros com força, mas desta vez não havia hostilidade; era um impulso, um reconhecimento de um intenso desejo que o dominava. "Maldito morcego idiota..." Demétrio resmungou, a indignação misturando-se ao desejo que pulsava em seu peito. O fato de ceder, de demonstrar essa vulnerabilidade, não passou despercebido por Eros. O vampiro se aproximou ainda mais, envolvendo a cintura de Demétrio com uma mão, enquanto a outra deslizava suavemente pelos cabelos dele. A eletricidade entre eles se tornava quase insuportável. "Oh, meu querido e bravo lobo," Eros sussurrou, a voz suave e provocante, como um convite para que Demétrio se rendesse ao que ambos sabiam que era inevitável. "Por que luta tanto contra o que sabemos que é inevitável?" A provocação nas palavras de Eros era um fio de seda, delicado e afiado, que ameaçava quebrar a resistência de Demétrio. "Porque somos inimigos, seu maldito..." Demétrio respondeu, mas a firmeza em sua voz vacilava. Cada palavra se tornava um esforço contra a maré que o arrastava em direção a Eros, e ele sentia o peso da luta interna aumentando. O desejo e o ódio se entrelaçavam, criando uma tempestade de emoções que fervia entre eles, uma batalha silenciosa que apenas intensificava a tensão no ar.
Os olhares se mantinham fixos, a distância entre eles se encurtando a cada segundo. O mundo ao redor parecia desvanecer, e tudo que restava era o calor de seus corpos e a inevitabilidade de suas emoções. Em um momento de fraqueza, Demétrio se permitiu um lampejo de possibilidade, e a conexão entre eles se tornava um campo de batalha onde cada toque e cada sussurro eram armas afiadas, cortando a linha entre amor e ódio. "Mas nem sempre fomos," Eros respondeu, um sorriso nostálgico iluminando seu rosto ao lembrar do passado que eles compartilhavam. "E nossa antiga amizade só torna a tensão entre nós mais intensa." Ele acariciou a nuca de Demétrio, passando as unhas levemente pela pele, um toque que enviou ondas de eletricidade pelo corpo do lobo. "Você sabe que a raiva e o desejo andam de mãos dadas, meu cãozinho."
Demétrio rosnou baixo, sentindo as garras de Eros arrepiar os pelos de sua nuca, a mistura de dor e prazer o deixando em um estado de vulnerabilidade. "Maldito..." ele murmurou, seu corpo se aproximando mais de Eros, os lábios quase se tocando, a respiração de ambos se entrelaçando em um jogo perigoso de desejo contido. "Oh, sim, você fica ainda mais sexy quando reclama," Eros murmurou, seu tom carregado de malícia, enquanto um pequeno sorriso provocador brincava em seus lábios. A distância mínima entre eles parecia um abismo, carregado de promessas não ditas e sentimentos reprimidos. "E você rosnando assim só me deixa ainda mais excitado, meu cãozinho." Demétrio sentiu um calor intenso subindo por seu corpo, e seu rosnado se transformou em um suspiro, a proximidade de Eros despertando algo íntimo e incontrolável dentro dele. "Eu odeio você..." ele sussurrou, mas havia uma fraqueza na sua voz, uma verdade não reconhecida que apenas acentuava o desejo ardente que crescia entre eles. "Eu também odeio você..." Eros repetiu, suas palavras ecoando como um desafio, e, em um instante que pareceu durar uma eternidade, os lábios dos dois finalmente se tocaram. O beijo começou como uma batalha, uma explosão de emoções conflitantes — ódio, desejo, rivalidade e uma paixão reprimida que se manifestava em cada movimento. Era um beijo raivoso, cheio de mordidas e carícias brutais, um reflexo da luta que sempre existiu entre eles. As bocas se moldavam uma na outra, a tensão se transformando em uma dança de urgência, como se o mundo ao redor tivesse se desvanecido, deixando apenas o calor de seus corpos e o frenesi de seus sentimentos. A cada toque, a cada sussurro, a linha entre amor e ódio se tornava mais tênue, e Demétrio percebeu que essa batalha interna só os tornava mais próximos, mais desesperados um pelo outro. Em meio à paixão desenfreada, ambos sabiam que estavam jogando um jogo perigoso, mas estavam dispostos a se entregar a ele, mesmo que isso significasse se perderem um no outro.
Mas, ao mesmo tempo, havia uma conexão antiga, profunda, uma lembrança vívida das noites passadas juntos, em uma época remota e esquecida. A intensidade daquelas memórias pulsava entre eles como um eco distante, alimentando a tensão no ar. Eros pressionou Demétrio contra a árvore, aprisionando-o com seu corpo, a respiração entrecortada e os corações acelerados. Ele aprofundou o beijo, fazendo com que Demétrio se sentisse cercado por um calor que desafiava qualquer resistência. As mãos de Eros percorriam o corpo de Demétrio com firmeza, redescobrindo cada contorno, cada detalhe que conhecia tão bem, como se estivesse gravando tudo em sua memória. As línguas se enroscaram em uma batalha intensa, uma dança de poder e entrega que deixava ambos à beira da perdição. Sob a raiva que os consumia, havia um desejo desesperado, uma necessidade que pulsava em suas veias com a mesma intensidade, transformando cada toque em um convite e um desafio.
Demétrio segurou firme os cabelos azuis de Eros, cravando as unhas na raiz e puxando-o para mais perto, como se tentasse absorver toda a energia daquela conexão. As línguas duelavam dentro de suas bocas, um jogo primal que instigava ainda mais a tensão entre eles. Eros, com seus olhares sedutores e um sorriso malicioso, provocava Demétrio, que mantinha sua expressão carrancuda e cara fechada, lutando contra o prazer que brotava dentro dele. Cada movimento de Eros era um desafio, um convite à rendição, enquanto Demétrio se esforçava para manter o controle em meio ao turbilhão de emoções. Finalmente, em um impulso de raiva e confusão, Demétrio se separou com um súbito empurrão, ofegante e desorientado. "Desgraça..." Ele respirava acelerado, seu coração disparado, enquanto Eros arrumava os cabelos de maneira egocêntrica e debochada, como se nada tivesse acontecido. "Foi muito bom conversar com você, velho amigo," Eros disse, sua voz carregada de sarcasmo. "Lembre-se de que seu clã não é o único que tem fome. O meu também tem. Vamos aprender a dividir como bons amigos..." Ele piscou para Demétrio, provocando uma explosão de fúria no lobo. As garras de Demétrio surgiram, prontas para atacar Eros, a raiva pulsando em suas veias como um veneno. Eros, no entanto, apenas sorriu de lado, desafiador, como se estivesse saboreando cada momento dessa troca eletrizante. "Oh, eu gosto quando você fica assim, cãozinho. Isso me excita." A provocação de Eros pairou no ar como uma faísca, acendendo a chama da disputa entre eles. Demétrio estava prestes a romper a linha tênue que os separava, lutando contra a atração que queimava sob a superfície e o desejo incontrolável que ameaçava consumir tudo ao seu redor. Em um instante, estavam prontos para mais um confronto, onde não apenas suas vidas estavam em jogo, mas também o que restava de seus corações.
Ele segurou com firmeza o pulso de Demétrio, os olhos ardendo com uma mistura de desafio e malícia. "E eu não teria problema em dividir," disse Eros, sua voz baixa e provocante, como um sussurro sedutor que vibrava no ar. "Contanto que você saiba que eu sou o principal nessa história." Demétrio rosnou, sua raiva pulsando como um tambor dentro de seu peito. "Vai sonhando," ele retrucou, a tensão quase elétrica entre eles. "Suma daqui... desgraçado!" Com um movimento rápido, ele investiu contra Eros, o instinto de ataque aflorando em cada fibra do seu ser. No entanto, antes que pudesse realmente atingi-lo, Eros desapareceu em um piscar de olhos, como um fantasma que escapa das garras da morte. A única coisa que ficou foi a risada maligna do vampiro, ecoando em sua mente como um veneno doce. "Foi um prazer conversar com você, Demi..." Demétrio permaneceu ali, sozinho e furioso, a adrenalina ainda queimando em suas veias. Seu rosto ardia, não apenas pela proximidade, mas pela mistura intensa de raiva e frustração. A risada de Eros ressoava em seus ouvidos, irritante como uma mosca zumbindo em torno da cabeça. Ele estalou a língua em irritação, tentando recuperar o controle de suas emoções, mas a presença de Eros ainda parecia flutuar no ar ao seu redor, como uma sombra incômoda. “Maldito vampiro irritante…” Demétrio pensou, o coração acelerado enquanto lutava contra a onda de sentimentos conflitantes que ameaçava transbordar. O desejo de lutar e o desejo de ceder colidiam em seu interior, criando uma tempestade de tensão que pulsava entre eles, cada vez mais insuportável. Com um suspiro frustrado, ele se permitiu se concentrar, a determinação tomando conta de sua mente. Eros poderia ter desaparecido, mas a batalha estava longe de terminar.