Catarine caminhava pela vila com o coração leve e uma empolgação vibrante. O sol brilhava suavemente sobre as ruas de paralelepípedos, e o ar estava impregnado com o aroma delicioso de pão fresco e flores recém-colhidas no mercado. Ela não conseguia conter o sorriso enquanto espiava pelas vitrines das lojas, já imaginando como seria maravilhoso escolher o vestido perfeito para o festival. A cada passo, o tilintar de suas moedas no bolso parecia mais precioso. Cada uma delas representava o fruto de dias de trabalho duro na forja, onde ela mostrava sua força e habilidade. Porém, hoje, havia algo diferente em sua jornada. Ela não estava buscando armas ou armaduras. Não, desta vez, estava em busca de algo delicado, algo que destacasse uma parte de si que raramente tinha a chance de mostrar. Depois de percorrer várias lojas, ela finalmente encontrou o que procurava: um vestido que a fez prender a respiração. Era de um verde profundo, quase como a escuridão das folhas mais densas da floresta, e os bordados delicados de flores silvestres pareciam dançar pela saia, como se fossem vivas. O tecido era macio ao toque, e o corte simples e elegante abraçava suavemente sua silhueta. A ideia de usar aquele vestido a fazia sonhar com o festival. Seria a oportunidade perfeita para mostrar um lado seu que poucos conheciam – não a guerreira incansável com espada em mãos, mas a mulher por trás da armadura. Ela imaginou-se dançando, o vestido fluindo com seus movimentos, enquanto a música enchia o ar e as estrelas brilhavam acima. E, talvez, naquele momento, não fosse apenas mais uma noite. Talvez fosse a noite em que Christian a veria de forma diferente, em que todos a veriam de forma diferente.
Ao sair da loja, levando o vestido cuidadosamente dobrado nos braços, ela mal podia esperar pelo que estava por vir. O festival não era apenas uma celebração; era uma chance de transformação. E, pela primeira vez em muito tempo, Catarine se permitiu sonhar que, naquela noite, ela seria mais do que uma guerreira – seria uma mulher que poderia viver uma nova história. Catarine caminhava de volta para a forja com um misto de excitação e ansiedade, pronta para mostrar a novidade ao pai. O sol iluminava as ruas de pedra, e o cheiro de pão recém-assado e flores frescas preenchia o ar. Mas ao entrar na forja, sua animação foi interrompida. Johann estava conversando com um homem desconhecido que logo capturou sua atenção. Ele era loiro, com cabelos longos presos em um coque despretensioso, e uma franja que lhe caía suavemente sobre os olhos verdes. Vestia uma blusa de linho simples, uma túnica verde, calças bege e botas marrons, com um sorriso amigável que parecia iluminar o ambiente. "Ei, garota, venha cá," Johann chamou, sem perceber o impacto que aquela situação tinha sobre Catarine. Com o coração acelerado, ela obedeceu, sentindo o peso da presença do homem à sua frente. "Esse é Wenzel Fischer," seu pai apresentou com um tom de orgulho. "O rapaz de quem te falei." O rosto de Catarine esquentou. As palavras de Johann sobre casamento vieram à tona, e um desconforto a invadiu. Wenzel parecia simpático e seguro de si, mas o incômodo crescia dentro dela. Johann, por outro lado, estava focado nas questões práticas. "E quanto às suas posses? Como está sua situação financeira?", perguntou. Wenzel manteve o sorriso tranquilo. "Herdei um navio do meu pai. Sou marinheiro experiente e tenho trabalhado para garantir que ele esteja sempre pronto para zarpar," respondeu com confiança. "A vida no mar me ensinou a ser responsável, sempre buscando novas oportunidades." Catarine ouvia em silêncio, observando a interação entre os dois homens. Mas por trás das respostas de Wenzel, sua mente voltava para Christian. Seu coração já pertencia a ele, o que tornava a ideia de um casamento com outro homem quase insuportável.
"E você, Wenzel, como planeja contribuir para a vila?" Johann continuou a interrogar, sem perceber a batalha interna de sua filha. "Quero usar meu navio para trazer mercadorias e recursos. O porto tem crescido, e vejo grandes oportunidades para todos nós." A convicção de Wenzel era evidente, e Catarine percebeu o brilho de ambição em seus olhos. Mesmo assim, seu coração estava dividido. Como poderia seguir adiante com o casamento que seu pai queria, quando seus sentimentos por Christian eram tão fortes? As palavras do pai ecoavam em sua mente, e a realidade do festival parecia tão distante quanto seus próprios desejos. Enquanto a conversa continuava, Catarine deu alguns passos para trás, perdida em pensamentos. O vestido que escolhera para o festival já não parecia tão especial, e a ideia de dançar sob as estrelas parecia sufocada pelas expectativas de seu pai. Quando finalmente Wenzel se despediu, ela observou enquanto ele partia, mas suas emoções estavam em outro lugar. "Ele é um bom homem, Catarine," Johann disse com orgulho, virando-se para a filha. "Tem estabilidade financeira e será um ótimo marido para você."
A palavra "marido" fez o estômago de Catarine revirar. Ela engoliu em seco, tentando organizar seus pensamentos. "Papai, eu..." "Não discuta comigo, garota," Johann a cortou, a voz dura. "Eu sei o que é melhor para você. Vocês deveriam dançar juntos no festival de outono." Catarine congelou. "Eu... eu já convidei outra pessoa." Johann olhou para ela com um olhar severo, os olhos estreitados. "Quem?" "Christian..." Ela respondeu, sua voz saindo mais firme do que ela se sentia por dentro. O rosto de Johann imediatamente endureceu. "Christian? Aquele lobisomem? Você ficou louca? Quer se relacionar com um andarilho? Você se esqueceu que aquela espécie é nossa inimiga?" "Christian não é nosso inimigo, papai, muito pelo contrário." Catarine protestou, a voz mais firme agora. "Ele nos ajuda a proteger a vila contra a alcateia de Demétrio em todas as noites de lua cheia." "Basta!" Johann explodiu, a raiva pulsando em suas palavras. "Você vai ao festival com Wenzel e vai esquecer aquele lobo! Eu não vou permitir que minha filha se envolva com criaturas tão desprezíveis como os lobisomens!" A indignação de Catarine crescia, mas antes que ela pudesse responder, Johann levantou a mão, um gesto ameaçador que a fez recuar. "E não me venha com desculpas, Catarine! Você pode ter esquecido o que esses monstros fizeram com sua mãe, mas eu nunca esquecerei! Se eu vir você com aquele lobo, eu juro que coloco uma bala de prata no peito dele!" O silêncio que seguiu foi sufocante, a ameaça pairando no ar como uma nuvem pesada. O coração de Catarine batia forte, dividida entre o amor por Christian e o medo da ira de seu pai.
Catarine correu para fora da forja, o rosto ardendo de indignação e o coração esmagado pela brutalidade das palavras de seu pai. Cada passo parecia mais pesado, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor. Ela subiu as escadas da casa com rapidez, sentindo um nó na garganta que a impedia de respirar direito. Ao entrar em seu quarto, ela fechou a porta com força, encostando-se contra ela como se isso fosse o bastante para bloquear a tempestade que se formava em sua mente. Ela se jogou na cama, o corpo tremendo enquanto lágrimas quentes começaram a escorrer pelo rosto. O som de seus soluços enchia o quarto, abafando os pensamentos caóticos que rodopiavam em sua mente. A pressão de agradar seu pai, o peso das expectativas e o desejo por uma vida própria a sufocavam. Mas, no fundo de tudo, havia algo mais sombrio — uma ideia que crescia cada vez mais: a proposta de Eros. No começo, ela havia rejeitado com convicção, certa de que jamais se curvaria àquela tentação. Mas agora... a oferta de poder e liberdade parecia mais atraente a cada dia que passava. Se ela aceitasse, teria controle sobre seu próprio destino, algo que sempre lhe fora negado. Lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto os olhos se fixavam no teto, sem realmente vê-lo. Ela sabia que escolher o caminho de Eros significaria renunciar à humanidade que ainda restava em seu coração, mas, com o coração dilacerado e a alma cansada de lutar contra a maré das expectativas, essa alternativa parecia a única que lhe daria verdadeira liberdade. “Será que ele estava certo?” pensou ela, a voz quebrada em um sussurro, referindo-se a Eros. As promessas dele ecoavam em sua mente. "Poder. Independência. Ninguém jamais a controlaria novamente." Mas, enquanto as lágrimas continuavam a cair, uma sombra de culpa a envolvia. Christian. Seu amor por ele era a única âncora que ainda a mantinha presa à realidade, mas quanto mais ela pensava na proposta de Eros, mais essa âncora parecia se enfraquecer.
Os dias se arrastavam, e a insistência de Johann em forçar Catarine a passar mais tempo com Wenzel tornava-se cada vez mais exasperante. Com o festival de outono se aproximando, a promessa de uma dança pairava no ar, mas Catarine não conseguia imaginar como seria essa dança sem a liberdade de escolher quem a acompanharia. Christian a fazia sentir que era mais do que uma mera propriedade, e esse sentimento, intenso e inegável, tornava-se cada vez mais difícil de ignorar, mesmo diante das possíveis consequências. Determinada, ela decidiu que não desistiria. Mesmo que seu pai tentasse impedi-la, encontraria uma maneira de fazer valer suas escolhas. Dentro dela, uma chama de coragem começava a arder, uma luz que ninguém poderia apagar. Wenzel, por outro lado, tornava-se uma presença constante em sua vida, visitando sua casa com uma frequência cada vez maior. Sempre com um sorriso simpático e um presente nas mãos, ele trazia flores do campo, frutas frescas e pequenos trinkets que coletava em suas viagens pelo mar. Embora sua gentileza fosse inegável, Catarine sentia apenas desconforto ao estar perto dele. Johann a forçava a passar tempo com Wenzel, levando-os a passear pela cidade em um esforço para estreitar os laços entre eles. A cada encontro, a pressão sobre seus ombros aumentava, mas a determinação de Catarine em não se deixar levar pelo que seu pai desejava crescia a cada dia. Ela via Wenzel como um bom rapaz, mas o que sentia por ele era apenas amizade e uma obrigação filial — nada mais.
Em um dos dias ensolarados que antecediam o festival, Wenzel convidou Catarine para conhecer seu navio, um belo barco que balançava suavemente nas águas do porto. Ele parecia radiante com a ideia, e, apesar de sua relutância, Catarine sabia que não poderia recusar. “Venha, Catarine! Você vai adorar ver como o navio é rápido!” ele exclamou, puxando-a pelo braço com uma energia contagiante. Ao subir a bordo, ela foi imediatamente envolvida pelo aroma salgado do mar e pelo movimento suave das ondas. Wenzel estava claramente em seu elemento, e Catarine o observou enquanto ele se movia com confiança pelo convés, dando ordens à tripulação com a mesma autoridade com que falava com ela. A cena era cativante, mas, mesmo rodeada pela beleza do momento, a inquietação permanecia em seu coração. O que deveria ser uma experiência emocionante se tornava uma lembrança dolorosa do que ela realmente desejava — a liberdade de escolher seu próprio destino e dançar com quem realmente amava.
“Vocês! Ajustem as velas!” Wenzel ordenou com uma confiança natural, e os homens se apressaram a obedecer. Depois, virou-se para Catarine, seu sorriso despreocupado iluminando o convés. “O que você acha? Não é incrível?” Ela forçou um sorriso, admirando a beleza do navio, mas uma estranheza a envolvia. “É bonito,” ela respondeu, desviando o olhar dos olhos entusiasmados dele. À medida que Wenzel mostrava as partes do barco, ela se movia de forma desconfortável, consciente da diferença de idade entre eles. Ele era dez anos mais velho, e essa disparidade parecia criar um abismo que a tornava ainda mais distante dele. Wenzel falava animadamente sobre suas aventuras no mar, as tempestades que havia enfrentado e os portos que visitara, mas Catarine não conseguia se entusiasmar com suas histórias. “E então, quando você estiver no mar, pode gritar como um capitão!” ele exclamou, rindo e imitando sua própria voz de autoridade, tentando quebrar o gelo. Catarine soltou uma risada tímida, mas logo ela se dissipou, deixando um silêncio desconfortável no ar. Percebendo sua hesitação, Wenzel, em um gesto gentil, tocou sua mão. “Você não precisa ficar nervosa. Eu só quero te conhecer melhor.” Ela olhou para suas mãos unidas e rapidamente se afastou, sentindo o calor subir em suas bochechas. “Eu… é só que… não sou muito boa em socializar,” murmurou, lutando para encontrar as palavras certas. “Você não precisa se preocupar com isso,” ele disse, a suavidade de sua voz tentando acalmá-la. “Estou aqui para te ajudar a se sentir confortável. Quero que você se sinta em casa neste navio.” Mas mesmo com sua gentileza, havia algo em Wenzel que a fazia querer recuar. Ele era educado e fazia o possível para conquistá-la, mas seu coração ainda pertencia a outro — a um lobo que vagava pela floresta, alguém que a fazia sentir-se verdadeiramente viva. Enquanto Wenzel continuava a falar sobre o mar e as aventuras que planejara, Catarine se perdeu em pensamentos, sonhando com danças sob a luz da lua e a liberdade que sentia ao lado de Christian, mesmo sabendo que essa liberdade se tornava uma possibilidade cada vez mais distante. O resto do passeio foi marcado por uma sucessão de conversas sem emoção, com Wenzel tentando manter o espírito leve enquanto Catarine lutava contra a pressão crescente em seu peito. O festival de outono se aproximava, trazendo consigo as expectativas de todos e a incerteza que a envolvia como uma tempestade no mar.
Wenzel se aproximou, os olhos brilhando com uma determinação que misturava carinho e possessividade. Ele estendeu os braços, tentando envolvê-la em um abraço que prometia proteção e afeto. Mas, ao sentir sua presença se aproximando, Catarine recuou instintivamente, o coração acelerando. “Catarine, não se afaste de mim,” ele implorou, a voz carregada de uma urgência que ela não conseguia ignorar. “Em breve, você será minha esposa.” As palavras dele ecoaram em sua mente, provocando um misto de confusão e pânico. O poder do aperto dele era inegável, mas a ideia de se comprometer a uma vida que não escolhera a fez resistir ainda mais. A imagem de Christian dançando sob a luz da lua invadiu seus pensamentos, um lembrete vívido da liberdade que ela desejava. “Wenzel, eu…” ela começou, sua voz hesitante enquanto a distância entre eles se tornava um abismo. “Eu não sei se posso…” “Não pense nisso, apenas me deixe te abraçar,” ele insistiu, a determinação em seu olhar se transformando em desespero. Mas, mesmo que sua força fosse poderosa, ela se sentia mais forte na sua decisão de se afastar. Ela virou o rosto, evitando o calor que emanava dele, e deu um passo atrás. O espaço entre eles se tornou um campo de batalha, onde seu desejo de liberdade se chocava contra a expectativa que ele impunha. Wenzel franziu a testa, a expressão de confusão se misturando à frustração. “Catarine, eu só quero cuidar de você. Não precisa ter medo de mim.” “Não é medo,” ela respondeu, a voz firme apesar da tempestade que se agigantava em seu interior. “É apenas… eu preciso de tempo. De espaço.” As palavras dela ficaram penduradas no ar, e, ao ver a dor nos olhos dele, uma parte dela se despedaçou. Mas a outra parte sabia que não poderia ceder. Não enquanto a liberdade ainda estivesse ao seu alcance, mesmo que parecesse tão distante.
"Quando você for minha esposa," Wenzel a encarou com um olhar firme, a voz cheia de convicção. "Não vai precisar agir feito um macho, lutando com espadas, forjando armas. Você é linda, Catarine. Quero que seja a mãe dos meus filhos. A única coisa com que terá que se preocupar será cuidar da casa." As palavras dele a atingiram como um balde de água fria, e ela revirou os olhos, sentindo um peso crescente em seu peito. A visão de um futuro ao lado de Wenzel, repleto de expectativas sufocantes e uma vida de submissão, passou por sua mente como um pesadelo. Ser a esposa perfeita, limitada ao papel de cuidar da casa e dos filhos, era uma existência medíocre e vazia. Aquilo estava tão distante dos seus sonhos quanto o horizonte do mar à sua frente. Ela se lembrou da própria mãe, uma mulher forte e destemida que havia sido reduzida a uma sombra de si mesma pelas mãos violentas de seu pai. Catarine jamais esqueceria os gritos abafados, as noites intermináveis em que a mãe chorava em silêncio, escondendo os hematomas. Ela havia crescido vendo o que uma vida de submissão forçada podia fazer com uma mulher. E naquele momento, ao respirar fundo e sentir o vento do mar em seu rosto, prometeu a si mesma que jamais, sob nenhuma circunstância, se submeteria a um destino tão vil.
Após o longo e desconfortável passeio pelo mar, o navio finalmente retornou ao porto. Wenzel a ajudou a descer do barco com um gesto que ele imaginava ser cavalheiresco, mas que para Catarine era apenas mais um reflexo de sua posse sobre ela. Ele lançou um sorriso dominador, os olhos brilhando de aprovação. "Até amanhã à noite, Catarine," ele disse, com uma voz que soava como uma ordem velada. "Vista-se como uma mulher de verdade. Estarei ansioso para ver você sem essa túnica masculina." Catarine acenou em despedida, mas permaneceu em silêncio. Por dentro, um sentimento de desprezo fervia lentamente, crescendo a cada passo que ela dava. A expectativa de ser moldada pela tradição, de se encaixar em um papel que não era o seu, despertava um fogo nela que Wenzel e Johann jamais seriam capazes de apagar. Ela não disse nada, mas sabia que seu destino não seria controlado por ninguém além dela.
"Ele cheira a peixe e água do mar," brincou Catarine, com um brilho travesso nos olhos enquanto olhava para Christian. O lobo, agora em sua forma humana, soltou uma risadinha tímida, tentando disfarçar o desconforto que a afirmação lhe causava. O odor do mar, uma constante lembrança das viagens de Wenzel, pairava entre eles, trazendo à tona um desconforto que ambos tentavam ignorar. "Então o destino da grande ferreira e guerreira Catarine é se tornar um acessório do capitão, hein?" Christian provocou, mas sua voz soou mais amarga do que ele pretendia. "Não tem graça, Christian!" Catarine retrucou com um leve murro no braço dele, o que o fez rir brevemente enquanto esfregava o local atingido. O riso dela, leve e sincero, era como música para seus ouvidos, mas a alegria momentânea rapidamente se dissipou quando a dura realidade voltou a se impor entre eles. "Meu pai está decidido," ela continuou, a frustração pesando em sua voz. "Ele quer que esse homem seja meu marido." Christian desviou o olhar, sentindo um incômodo crescente. Ele não queria admitir, mas a ideia de Catarine ao lado de Wenzel – um homem que cheirava a peixe e a via como um prêmio – despertava nele uma onda de ciúmes que não podia ignorar. "Você não precisa fazer o que ele quer," ele disse, tentando manter a voz firme, apesar da tensão em seu peito. "Você é mais do que uma simples esposa, Catarine. Você é uma guerreira, uma ferreira. Ninguém pode obrigá-la a viver uma vida que você não deseja."
Ela o encarou, e seus olhos cor de mel brilharam com a determinação que sempre encantava Christian. "Eu sei disso, mas meu pai não enxerga as coisas dessa forma. Para ele, é tudo sobre segurança e status. Wenzel tem um navio, um futuro. Eu sou apenas a filha que precisa se casar." Christian sentiu uma mistura amarga de frustração e ciúmes. A ideia de Catarine se casando com Wenzel o deixava inquieto, mas ele sabia que não podia oferecer a ela o tipo de futuro que a sociedade esperava. Ainda assim, a sensação de impotência só o deixava mais furioso. "Seu pai está errado," ele respondeu, cruzando os braços enquanto tentava controlar a raiva que borbulhava dentro dele. "Você não é ‘apenas uma filha que precisa se casar’. Você é a mulher mais resiliente e corajosa que conheço, uma lutadora que pode construir seu próprio futuro com as próprias mãos. Não deixe que ele decida por você." Catarine suspirou, frustrada. "Não é tão simples assim, Christian. Vivo numa sociedade onde as mulheres não têm valor algum... Tudo o que importa são os homens poderosos que elas servem." Ela suspirou novamente, a dor em suas palavras evidente. "Para meu pai... para Wenzel... eu sou apenas um objeto." Christian se aproximou, seu olhar intenso fixando-se nos olhos dela, enquanto a determinação silenciosa em seu rosto não deixava dúvidas sobre o que ele pensava. Ele podia ver a luta interna de Catarine, suas palavras de frustração e autocomiseração escapando como um eco de todas as pressões que a envolviam. Seu coração batia forte no peito, impulsionado pela urgência de confortá-la, de ser o porto seguro que ela precisava.
"Você nunca será um acessório para mim," Christian murmurou suavemente, sua voz carregada de sinceridade e uma emoção que ele não conseguia mais esconder. "Você é a mulher mais destemida e forte que conheço." Ele estendeu a mão e, com delicadeza, acariciou o rosto de Catarine. O toque era suave, quase reverente, como se ele estivesse tentando transmitir toda a confiança que ela precisava para se rebelar contra o destino que a sociedade tentava impor. A proximidade entre eles aumentou o calor que se formava no ar, e, por um breve momento, a tensão e o peso das obrigações desapareceram, deixando apenas a promessa silenciosa de que ela poderia, e deveria, lutar por sua própria felicidade. O mundo ao redor deles parecia desvanecer à medida que a tensão crescia, como se o próprio universo tivesse se contraído, deixando apenas Christian e Catarine em seu centro. O toque gentil da mão dele acariciando o rosto dela criou uma corrente invisível de energia entre os dois, acelerando os corações em um ritmo sincronizado e íntimo, uma melodia que apenas eles podiam ouvir.
"Christian... você realmente acha que eu poderia escolher um caminho diferente?" A voz de Catarine saiu como um sussurro suave, quase engolido pela atmosfera carregada de sentimentos. "Eu sei que você pode," ele respondeu, com uma convicção profunda, sua proximidade quase palpável, sentindo a energia vibrante que os envolvia. O calor que emanava das mãos dele transmitia uma segurança que fazia o coração de Catarine disparar ainda mais. "Tudo o que você precisa é acreditar em si mesma. E, talvez... pensar no que realmente quer." O silêncio que se seguiu era eletricamente carregado, cada movimento mínimo parecia amplificado. Catarine fitou os olhos de Christian, seus pensamentos borbulhando com uma confusão de sentimentos, enquanto seu coração pulsava tão forte que ela achava que ele poderia ouvir. "E se o que eu quero... for estar com você?" A confissão escapou de seus lábios de forma hesitante, quase sem querer, carregada de uma vulnerabilidade que a fez corar instantaneamente. Aquelas palavras pairaram no ar como uma promessa secreta, deixando o ambiente ainda mais eletrificado.
Christian ficou em silêncio por um momento que pareceu uma eternidade. Seus olhos, profundos e intensos, refletiam a tempestade de emoções que tomava conta dele. O desejo e a dúvida se enfrentavam em seu coração, cada uma lutando pelo controle. Ele desejava ser o homem que ela merecia, mas o peso de suas próprias inseguranças quase o impedia de agir. Com um movimento suave, ele inclinou-se um pouco mais perto, suas mãos ainda acariciando o rosto dela. A conexão entre eles cresceu, como se uma força invisível os aproximasse ainda mais. Os olhos de Catarine brilhavam com um anseio que fez o coração de Christian quase transbordar de emoção. O calor entre eles se intensificava, fazendo o rosto de ambos corar. A respiração dela se tornou mais irregular, como se estar tão próximos fosse ao mesmo tempo uma dádiva e uma prova de resistência. "Catarine..." Sua voz saiu baixa, suave, carregada de uma sinceridade que ela nunca ouvira antes. "Eu também quero isso. Quero ficar com você. Mas..." Ele hesitou, suas palavras agora carregadas com um peso profundo. "Eu sou um lobisomem, Catarine..." Ele pronunciou essas palavras como se fossem uma barreira, como se revelassem algo que pudesse afastá-la. Porém, o olhar dela permaneceu firme, sem hesitar. "Eu sei disso," ela respondeu, sua voz era um sussurro, mas cheia de uma confiança inabalável. Eles estavam tão próximos que só ele poderia ouvir.
Os olhos de Catarine brilhavam com determinação, um reflexo da guerreira destemida que ele sempre admirou. Cada segundo que passavam juntos parecia intensificar a ligação entre eles, como se estivessem destinados a se encontrar naquele exato momento. "Eu também sei que você tem 1.244 anos," ela continuou, um sorriso suave brincando em seus lábios. "Que ama cerejas... e que gosta de usar prata e preto." As palavras dela, ditas com tanta simplicidade, fizeram o coração de Christian disparar ainda mais. Havia algo no jeito como ela o conhecia, não apenas o lobisomem, mas o homem por trás da criatura. E, naquele instante, ele soube, com toda a certeza, que ela via algo além da maldição que ele carregava. Ela via o verdadeiro Christian. A forma como ela conhecia aquelas coisas tão íntimas sobre ele — detalhes que poucos sabiam — o fazia desejá-la ainda mais. Christian olhou para Catarine com um misto de insegurança e preocupação, o medo de que suas próximas ações pudessem alterar tudo entre eles pesava em seu coração. "E se... isso complicar tudo?" As palavras saíram vacilantes, mas carregadas de uma sinceridade inegável.
Ela enxergou a batalha interna dele, uma luta espelhada no seu próprio coração, uma inquietação sobre o futuro que parecia ao mesmo tempo distante e iminente. Sem hesitar, Catarine encostou sua testa na dele, sentindo a conexão entre eles intensificar a cada segundo que passava. "Complicado ou não," ela sussurrou, "não posso ignorar o que sinto." Naquele instante, a linha tênue entre amizade e amor se dissolveu completamente. Christian fechou os olhos, tomando uma respiração profunda, e o cheiro de Catarine o envolveu de uma maneira que palavras não poderiam descrever. Era um momento de pura descoberta, onde cada toque, cada olhar, falava mais do que qualquer diálogo poderia. Ele foi tomado por uma onda de emoções conflitantes — desejo, ternura, e um medo profundo de machucar tanto a ela quanto a si mesmo. "E se eu te machucar...?" A preocupação em sua voz era evidente, quase desesperada. A ideia de feri-la, mesmo sem intenção, o atormentava. Ele lutava contra o desejo de afastá-la, acreditando que assim poderia protegê-la da escuridão que o envolvia. Catarine balançou a cabeça levemente, seus olhos presos aos dele, desafiando-o com uma mistura de carinho e firmeza. "Você não vai, Christian. Eu confio em você." As palavras dela eram uma âncora, e a força por trás delas começou a apaziguar a tempestade que rugia dentro dele. Ela se aproximou ainda mais, eliminando qualquer vestígio de distância entre eles. "Você não precisa me proteger de quem você é," disse ela, seu olhar atravessando as barreiras que ele erguia desesperadamente. "Eu não te vejo como um monstro. Você é muito mais do que isso para mim." A resposta dela o deixou momentaneamente atordoado. Christian sentiu seu coração pulsar com uma intensidade renovada, cada batida confirmando a verdade que ele temia admitir: o que sentia por ela era mais forte do que qualquer controle que pudesse tentar exercer. A tensão entre eles evoluiu para algo diferente — uma promessa silenciosa de que, juntos, enfrentariam qualquer desafio que surgisse. "Eu quero estar com você," ele sussurrou finalmente, sua voz carregada de uma vulnerabilidade que não apenas a convidava a se aproximar, mas que também lhe permitia aceitar o que nascia entre eles. Era um reconhecimento de que, apesar dos medos, o sentimento entre eles era verdadeiro, profundo e impossível de negar. Catarine recuou um pouco, mas seus olhos não desviaram de Christian. O brilho no olhar dela estava carregado de emoção, mas também de determinação. “Meu pai quer nos separar,” ela confessou, com um tom de desafio evidente. "Ele acha que você não é bom para mim, que vai me machucar, mas ele não entende."
Christian franziu o cenho, a tensão em seu corpo aumentando. “E o que você vai fazer sobre isso?” ele perguntou, a preocupação e a dúvida se infiltrando em sua voz. Ela respirou fundo, a determinação pulsando ainda mais forte. "Wenzel acredita que vai dançar comigo no festival amanhã. Ele acha que pode me forçar a fazer o que ele quer, que pode me controlar como meu pai faz, mas..." Catarine deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre os dois. "Eu não vou permitir." Christian segurou o olhar dela, seus dedos formigando com a necessidade de tocá-la, mas seu autocontrole ainda o mantinha hesitante. "O que você pretende fazer?" Ele perguntou, a voz baixa e rouca com a mistura de desejo e apreensão. Ela se aproximou mais, seus corpos agora quase se tocando, e sussurrou: “Apenas me encontre no festival amanhã. Eu vou dançar com você, nem que minha vida dependa disso.” O ar ao redor deles parecia ferver com a intensidade do momento. Os corações batiam em sintonia, acelerados, enquanto a proximidade entre os dois se tornava quase insuportável. O calor que emanava dos corpos, o toque sutil das mãos deles, fazia tudo parecer uma combustão prestes a acontecer. Os olhos de Catarine brilharam com uma promessa que Christian sabia que ela estava disposta a cumprir.
Ele não resistiu mais e deixou sua mão deslizar suavemente pelo braço dela, sentindo a pele quente e macia. Ela fechou os olhos por um instante, o toque dele a fazendo arrepiar. Eles estavam perdidos naquele momento, a intimidade entre eles crescendo de forma explosiva. O mundo ao redor parecia ter desaparecido completamente, deixando apenas os dois envoltos naquela energia avassaladora. A respiração deles se misturava, e Christian inclinou-se lentamente, seus lábios quase roçando os dela. O desejo de se entregarem um ao outro era palpável, tão real que eles podiam senti-lo pulsar entre eles. Mas, no exato instante em que estavam prestes a se beijar novamente, algo os impediu. Uma voz cortou a noite como uma lâmina: "Catarine! Onde você se enfiou, garota?" Catarine congelou por um segundo, sua respiração entrecortada. Ela suspirou, os olhos ainda fixos nos de Christian, sabendo que o momento entre eles havia sido interrompido. “É meu pai,” ela murmurou com um misto de frustração e resignação. Christian também suspirou, lutando contra o desejo de não desaparecer naquele momento. “Até amanhã,” ela disse, com um sorriso triste mas determinado. Ele assentiu silenciosamente e, antes que Johann pudesse se aproximar demais, desapareceu na escuridão da floresta. O som suave de suas passadas logo foi engolido pela noite, enquanto Catarine olhava na direção de onde ele havia partido, sentindo o peso do que estava por vir no dia seguinte. Johann se aproximava de Catarine com passos pesados, o som de sua tosse áspera cortando o silêncio da noite. Ele parecia doente, os ombros caídos e o rosto marcado pelo cansaço e pela amargura de uma vida dura. Catarine se encolheu ligeiramente ao vê-lo, mas manteve a postura, apesar do medo que crescia em seu peito. "O que está fazendo aqui, sua vadiazinha?" A voz de Johann estava carregada de desprezo, os olhos faiscando com raiva. Ele se aproximou mais, oscilando entre um homem doente e um pai implacável. "Não estava se encontrando com aquele lobo de novo, estava?" Antes que ela pudesse responder, Johann agarrou seus cabelos com força, puxando-a violentamente. Catarine soltou um gemido baixo de dor, as mãos instintivamente subindo para tentar proteger os fios enquanto ele a arrastava para casa. “Papai... por favor...” ela tentou falar, a voz vacilante, quase inaudível. “Cale a boca, Catarine!” Johann gritou, os olhos cheios de fúria. “Ou eu meto a mão na sua cara! Estou farto de você sempre correr para a floresta como uma vadiazinha presunçosa.” Ele puxava ainda mais forte, a dor escalando pelo couro cabeludo dela. Catarine lutava para se manter em pé, tentando evitar os solavancos e o abuso.
As palavras dele a atingiam como chicotadas. Ela não era estranha a esse tipo de tratamento, mas, a cada insulto, seu coração se apertava, lutando para não se quebrar. Suas pernas tropeçavam ao tentar seguir o ritmo de Johann, enquanto ele a arrastava pela trilha de volta à casa. As árvores e a escuridão da floresta pareciam observar em silêncio, testemunhas impotentes da crueldade daquele momento. “Amanhã,” ele continuou, a voz carregada de cansaço e desprezo, “espero que você se comporte como uma mulher e pare de me dar problemas. Estou ficando velho e cansado para seus joguinhos. Não tenho mais idade para isso.” Ele parou por um momento, tossindo de novo, a mão que segurava os cabelos dela tremendo. Mas o aperto não afrouxou. “Não sei por quanto tempo mais poderei proteger você... Eu preciso morrer em paz, sabendo que um homem vai cuidar de você, assim como cuidei da sua mãe.” A amargura nas palavras dele era profunda, como se a vida tivesse lhe tirado tudo, exceto a necessidade de controlar a filha. Catarine sentia os olhos queimarem, mas ela não derramou lágrimas. Não na frente dele. Não cederia à fraqueza que Johann tanto adorava apontar. Ela suportou o caminho de volta, seu corpo tenso, os lábios cerrados, mas em seu coração, o desejo de liberdade crescia, alimentado pela promessa que fizera a Christian. Amanhã, ela se rebelaria, e nada — nem mesmo Johann — a impediria.
Johann abriu a porta do quarto com brutalidade e, sem qualquer cuidado, empurrou Catarine para dentro, fazendo-a tropeçar e cair na cama. Ele a encarava de cima, os olhos flamejando com uma mistura de raiva e desprezo, enquanto sua respiração pesada cortava o silêncio da casa. "Se eu ver você se enfiando na floresta de novo..." ele começou, a voz grave e ameaçadora. "Eu juro que mato você." As palavras saíram com um ódio gelado, sem hesitação, como se a ideia de tirar a vida de sua própria filha fosse tão simples quanto um castigo comum. Catarine tentou erguer o corpo, mas a dor em seu couro cabeludo, ainda latejando dos puxões violentos, a impediu de reagir. "Você é uma mulher agora," ele continuou, cuspindo as palavras como se cada uma fosse uma acusação. "Não pode mais ficar se esgueirando em florestas durante a noite como uma criança rebelde. Precisa preservar sua inocência, sua virgindade para o seu futuro marido!" Ele frisou essas últimas palavras com um tom que beirava o nojo, como se o simples pensamento de Catarine fora de controle o enojasse.
Ela apertou os punhos, lutando para não responder, para não se entregar ao impulso de desafiá-lo. Mas dentro dela, algo estava se partindo, algo que ela havia tentado proteger por tanto tempo. Johann deu um passo para trás, ainda sem tirar os olhos dela, e saiu do quarto, fechando a porta com um estalo alto. O som de uma chave girando na fechadura foi como um golpe final. Trancada. Isolada. Sua prisão silenciosa, onde o único som era o eco da própria dor. Quando os passos dele se afastaram pelo corredor, Catarine finalmente permitiu que as lágrimas viessem. Elas escorriam quentes por seu rosto, silenciosas, mas intensas. A dor em seu couro cabeludo era um lembrete cruel de sua impotência, do papel que a sociedade e seu pai lhe forçavam a desempenhar. Ela sentia o peso esmagador de ser uma mulher naquele mundo — um objeto para ser controlado, protegido, moldado para atender às expectativas alheias. Sozinha no quarto, ela abraçou o travesseiro com força, como se aquilo pudesse trazer algum conforto, algum alívio para a dor que sentia tanto no corpo quanto na alma. As lágrimas molhavam a fronha, e a realidade de sua situação se afundava cada vez mais em seu coração. Mas mesmo na escuridão de sua prisão, uma fagulha de rebeldia ainda ardia. Amanhã, ela dançaria com Christian. Nem que sua vida dependesse disso.
Catarine mal havia secado suas lágrimas quando uma risada suave e cruel ecoou pelo quarto. O som fez seu corpo enrijecer, cada nervo despertando com a presença familiar e indesejada. A risada vinha de todos os cantos, mas seus olhos se voltaram para o centro do quarto, onde uma névoa sombria se levantava do chão de madeira. Eros surgiu daquela escuridão como uma sombra viva, com o mesmo sorriso pérfido que sempre a deixava desconfortável. "Que existência miserável, Catarine..." ele disse com uma voz que soava quase divertida, como se o sofrimento dela fosse uma piada a ser saboreada. Ela estremeceu, seu corpo ainda dolorido pelas agressões do pai, mas sua mente se endureceu diante do vampiro. "Eros..." murmurou, incapaz de esconder o temor e o desprezo que seu nome trazia. O ar ao redor dele parecia mais frio, e a escuridão do quarto parecia se intensificar com sua presença. "Ora vamos..." Eros continuou, sua voz sedosa como veneno. "Você só precisa dizer 'aceito', e eu vou livrar você dessa vida de merda. Não precisará mais se preocupar com seu pai patético, com sua existência insignificante... comigo ao seu lado, você terá poder, liberdade. Será adorada." Catarine deu um passo para trás, seu coração batendo mais forte, mas não de desejo pela proposta, e sim de puro instinto de sobrevivência. "Afaste-se de mim, Eros," ela disse, tentando manter a voz firme, mesmo que uma parte dela tremesse por dentro. "Christian já me advertiu sobre você..."
A menção de Christian trouxe um brilho mais intenso ao olhar de Eros, e ele soltou uma gargalhada, que parecia reverberar pelas paredes. "Ah, Christian e eu somos velhos amigos. Por que ele falaria tão mal assim de um velho amigo?" As palavras de Eros escorriam com uma ironia gelada, como se ele estivesse revelando um segredo sombrio que apenas ele conhecia. "Eu e ele só temos... objetivos diferentes com nossos clãs. Ele sempre foi o sentimental, o tolo cheio de esperança. Eu... prefiro resultados." Eros deu um passo adiante, seu olhar se fixando em Catarine de uma maneira que a fez sentir-se vulnerável, como se ele estivesse enxergando diretamente em sua alma. "Você gosta dele, não gosta?" Ele perguntou com um sorriso malicioso. "Do tolo lobo, do meu amigo de infância... Christian." Catarine apertou os lábios, recusando-se a responder, mas seu silêncio apenas fez o sorriso de Eros crescer. "Ah, então é verdade," ele sussurrou, o tom de sua voz quase hipnotizante. "Você se apaixonou por ele. Que doce ironia... você, a jovem humana, caindo por um lobo amaldiçoado. Um destino trágico, diria eu. Mas você pode mudar tudo isso, Catarine. Basta aceitar a minha oferta... e eu garanto que não precisará jamais temer a perda, a dor. Terá poder além de seus sonhos mais loucos." Catarine apertou os punhos, lutando para manter o controle. "Eu nunca me aliarei a você, Eros," ela disse com determinação, mesmo que por dentro ela sentisse o peso de suas palavras. O que ele prometia era tentador, mas ela sabia que o preço seria muito maior do que ele deixava transparecer. Eros a observou por um longo momento, sua expressão divertida desaparecendo, substituída por algo mais sombrio, mais perigoso. "Muito bem," ele disse suavemente. "Mas lembre-se, Catarine... escolhas têm consequências. Vamos ver quanto tempo você vai resistir antes de perceber que a única saída deste pesadelo é comigo." E, como uma sombra que se dissipa ao amanhecer, Eros desapareceu no ar, deixando Catarine sozinha no quarto, mais abalada do que antes. Ela sentiu o frio em sua pele, o eco de suas palavras ainda pairando no ar, mas, mesmo assim, seu coração se recusava a ceder. Christian havia lhe dado forças para resistir, e por ele, ela resistiria.