Na manhã seguinte, o sol lançava seus primeiros raios sobre a alcateia, aquecendo a atmosfera com uma luz suave e acolhedora. Catarine estava na varanda, observando Christian e Caleb brincando no gramado. O riso de Caleb ecoava pelo ar, puro e contagiante, enquanto Christian, com um sorriso radiante, acompanhava cada movimento do filho. Ele parecia completamente alheio às preocupações que atormentavam Catarine, imerso na alegria da paternidade. Catarine permaneceu em silêncio, o coração apertado. O peso de suas mentiras e segredos a acompanhava, uma sombra constante que a seguia dia após dia. Aquela manhã parecia perfeita, mas em sua mente, a batalha era incessante. Cada risada de Caleb lembrava-a do que estava em jogo. Às vezes, ela se perguntava como seria a vida deles se a verdade fosse revelada, se Christian soubesse a extensão de seus segredos sombrios. A imagem de sua pelagem escurecendo cada vez mais em preparação para a próxima lua cheia invadia seus pensamentos, e um arrepio de medo a percorria.
Ela sabia que, quando a lua cheia surgisse novamente, Christian perceberia a mudança em sua pelagem. A cor cinza profundo, quase negra, era um reflexo de sua luta interna, e ela temia que, ao vê-la, ele não visse apenas a transformação física, mas a própria essência da escuridão que estava tomando conta dela. O pensamento a consumia, e um suspiro profundo escapou de seus lábios. “Ele não merece isso,” pensou, os olhos fixos na cena à sua frente. Cada riso de Caleb, cada gesto amoroso de Christian, apenas intensificava a dor de suas escolhas. Enquanto observava, o coração dela se dividia entre o amor profundo que sentia por eles e o terror de que tudo isso pudesse desmoronar em um instante. "Como posso proteger a felicidade deles, se a escuridão está se apossando de mim?" A luz do sol parecia brilhar ainda mais intensamente, mas, para Catarine, nada era capaz de dissipar a escuridão que se enraizava em seu ser. Ela respirou fundo, tentando afastar o peso que a envolvia, mas a verdade permanecia inescapável. A cada momento que passava, a distância entre o que ela era e o que se tornara crescia, e ela se perguntava se conseguiria, de alguma forma, reconciliar essas duas partes de sua vida antes que fosse tarde demais.
Sempre que Christian saía com Caleb para explorar as montanhas ou ensinar o filho a caçar, Catarine se encontrava presa em um labirinto de sentimentos conflitantes. Enquanto eles se afastavam, preenchendo o ar com risadas e aventuras, ela se afundava em um mundo completamente diferente. Na segurança de seu quarto, cercada por velhos livros e pergaminhos empoeirados, a realidade parecia mais distante. Catarine se dedicava a estudos antigos, explorando tomos de feitiços proibidos e manuscritos que sussurravam segredos de poderes esquecidos. Ela percorria as páginas amareladas, buscando desesperadamente uma pista, uma esperança, uma saída daquela escuridão que a aprisionava. As palavras dançavam diante de seus olhos, algumas com encantamentos poderosos que prometiam cura, enquanto outras revelavam os perigos que acompanhavam tais práticas. Com um olhar determinado, ela catalogava suas descobertas em seu diário, uma coleção de anotações que misturava esperança e desespero. "Se ao menos eu pudesse encontrar um feitiço que revertesse a maldição," escrevia, suas mãos tremendo ao relatar cada novo conhecimento. "Um caminho para curar minha alma, para escapar das garras de Eros e do que ele me forçou a me tornar." Cada página se tornava um reflexo de sua luta interna, uma manifestação física de seu desejo de liberdade. Ela anotava os rituais que estudava, os ingredientes necessários e os riscos envolvidos, tentando manter sua mente focada na esperança de um futuro sem sombras. Mas a cada nova descoberta, o peso da realidade se tornava mais pesado; a escuridão parecia se aproximar, como um predador à espreita.
As horas passavam rapidamente enquanto ela estudava, mergulhando em feitiços que prometiam purificação e proteção. Entretanto, a cada vez que ouvia o riso distante de Christian e Caleb ecoando pelas montanhas, um novo tipo de dor a consumia. O amor que sentia por eles era inegável, mas a distância que criava entre si mesma e a família tornava-se cada vez mais angustiante. Em meio a essa busca por cura, Catarine se questionava se conseguiria se livrar da maldição da licantropia, se o que ela buscava era realmente possível. Ao escrever, sentia um misto de determinação e pavor. As palavras em seu diário tornavam-se seu refúgio, um local onde podia expressar suas angústias e esperanças sem medo de ser julgada. Mas, ao mesmo tempo, a consciência de que o tempo estava passando e que a próxima lua cheia se aproximava a deixava inquieta. Com cada nova entrada, Catarine lutava contra a escuridão, determinada a descobrir um caminho para a luz. Se houvesse um feitiço que pudesse mudar seu destino, ela estava disposta a encontrá-lo, mesmo que isso significasse explorar os limites mais sombrios da magia. A cada dia que passava, sua busca se tornava não apenas uma tentativa de libertação, mas também um caminho para redescobrir quem ela realmente era, longe das amarras que Eros havia imposto.
Catarine estava sentada na varanda, seu olhar fixo na lua crescente que se erguia majestosa no céu, quase cheia. As estrelas brilhavam como diamantes em um vasto manto de veludo negro, criando um cenário que deveria ser pacífico, mas que, para ela, era um lembrete constante da tensão que se aproximava. A expectativa da próxima lua cheia fazia seu coração acelerar, e cada batida ecoava as dúvidas que a consumiam. "Como posso explicar isso a Christian?" Ela se perguntava, sentindo o peso da incerteza em seu peito. A mudança da cor de sua pelagem se tornaria evidente na próxima transformação, e as desculpas que ensaiava em sua mente pareciam insuficientes. A verdade poderia despedaçar tudo o que haviam construído juntos, mas a ideia de carregar aquele fardo sozinha a deixava ainda mais angustiada. Com um suspiro, ela olhou para baixo, perdendo-se em pensamentos, quando Christian se aproximou silenciosamente, quebrando o silêncio da noite. Ele a observou por um momento antes de se agachar ao seu lado, um sorriso caloroso iluminando seu rosto. "Nosso pequeno lobo já está dormindo," ele disse, sua voz suave como a brisa que passava por eles. O convite em seu olhar era claro; era hora de se reconectar, de se perder um no outro, como sempre faziam quando Caleb estava dormindo.
Catarine forçou um sorriso, mas a dor em seus olhos não passou despercebida por Christian. Ele se inclinou e a beijou suavemente nos lábios, um gesto que sempre a fazia sentir-se segura e amada. Mas, naquele momento, a conexão que costumava trazer alegria se tornava um lembrete sombrio do que estava oculto entre eles. Nos últimos meses, cada encontro íntimo se tornara uma armadilha emocional. Catarine usara a paixão para acalmá-lo, para fazer com que ele adormecesse, permitindo que ela saísse na calada da noite em busca de suas vítimas. Aqueles momentos de entrega que deveriam ser sagrados estavam agora carregados de culpa e desespero, transformando-se em peças de um quebra-cabeça macabro que ela tentava montar.
“Eu te amo, Sas…” Ela murmurou, a voz tremendo enquanto as palavras saíam de seus lábios. O amor que sentia por ele era profundo, genuíno, mas agora se entrelaçava com segredos sombrios que a consumiam. A expressão de Christian suavizou-se, mas a preocupação se fez presente em seus olhos. Ele não sabia, não tinha ideia do quão longe ela se afastava, do quanto sua vida se tornava uma encenação repleta de mentiras. Ela se forçou a se lembrar de como se sentia quando estavam juntos, quando cada toque e cada olhar eram puros e livres de malícia. Mas agora, cada momento parecia tingido pela sombra de suas ações. Enquanto as estrelas brilhavam acima, Catarine sabia que uma decisão precisava ser tomada. Ela precisava enfrentar a verdade, mas o medo de perder tudo a mantinha cativa. Com um profundo suspiro, ela olhou para a lua, um farol de esperança e desespero. A cada noite que passava, a contagem regressiva para a transformação se tornava mais intensa, e o peso de seus segredos a esmagava. Se ela pudesse apenas encontrar um caminho para se libertar de Eros e de suas garras, talvez pudesse finalmente ser a esposa que Christian merecia. Mas, no fundo, o terror de que tudo pudesse desmoronar se tornava cada vez mais palpável.
Mesmo com toda a dor que pulsava em seu coração, Catarine se forçou a esboçar um sorriso. Era um gesto que ela sabia que precisava fazer, uma máscara que usava para proteger o que ainda restava de sua felicidade. Com um movimento suave, ela puxou Christian para dentro da cabana, o calor do corpo dele a envolveu como um cobertor, trazendo uma sensação de segurança que ela desejava desesperadamente. O interior da cabana estava suavemente iluminado pela luz da lua que filtrava pelas janelas, criando um ambiente acolhedor e íntimo. Catarine sentia o cheiro familiar dele, uma mistura reconfortante que a fazia sentir que, apesar de suas preocupações, ali era seu lar. Ela respirou fundo, tentando deixar as trevas de lado, focando apenas naquele momento. “Vamos aproveitar a noite,” disse Christian, sua voz suave e cheia de amor, enquanto ele a olhava com aqueles olhos que sempre a faziam sentir-se especial. Ele se inclinou, tocando seu rosto com delicadeza, como se estivesse se certificando de que ela estava realmente ali, com ele.
Catarine deixou que a tensão que a oprimia escorregasse para longe, mesmo que temporariamente. Ela o atraiu para mais perto, seus lábios se encontrando em um beijo que era ao mesmo tempo suave e apaixonado. Cada toque era um lembrete do amor que compartilhavam, um amor que ela queria proteger a todo custo. A intensidade do momento a envolvia, afastando os pensamentos sombrios, mesmo que por um breve instante. Enquanto a conexão entre eles se aprofundava, Catarine permitiu-se mergulhar naquele calor, naquele abraço que prometia segurança. Era fácil esquecer, mesmo que por algumas horas, a escuridão que a perseguia. Cada suspiro, cada toque, tornava-se um escape da realidade, uma oportunidade de se perder em Christian e na vida que haviam construído juntos. Mas, no fundo de sua mente, uma voz sussurrava a verdade que ela não podia ignorar. Era uma dança delicada entre a alegria e a culpa, e enquanto se entregava a ele, a pressão de seus segredos pairava como uma sombra. Ela precisava fazer isso, precisava manter a aparência de normalidade, mesmo que soubesse que cada momento de intimidade a levava mais fundo em um abismo que parecia impossível de escapar.
Catarine não podia deixar que seus medos a separassem de Christian. Assim, ela mergulhou de cabeça naquela noite de entrega, decidida a aproveitar cada instante, mesmo que a escuridão estivesse prestes a reivindicar seu lugar na próxima lua cheia. Ela se entregou a ele, coração acelerado, esperando que o amor que compartilhavam fosse suficiente para superar as sombras que a cercavam. Os corpos de Catarine e Christian se encontraram na penumbra da cabana, a luz da lua criando um manto suave ao redor deles. Ele a puxou para mais perto, as mãos explorando sua pele com ternura, enquanto ela tentava se perder naquele momento, deixar suas preocupações de lado. Contudo, mesmo enquanto os lábios se uniam e as carícias se tornavam mais intensas, uma parte dela permanecia distante, absorta em pensamentos sombrios.
Christian notou a ausência em seus olhos, uma névoa que parecia obscurecer a conexão que costumava ser tão vívida. Ele a queria ali, completamente presente, mas havia algo em sua expressão que sugeria que sua mente vagava em outro lugar. Ele hesitou por um momento, preocupado com a falta de brilho no olhar dela, mas logo decidiu que o calor de seus corpos poderia trazê-la de volta. Com cada movimento, ele tentava reacender a paixão que sempre os uniu. Suas mãos se moviam com suavidade, deslizando pelas curvas dela, mas mesmo quando ele a puxava para mais perto, a resistência em seu corpo não passava despercebida. Ela estava ali, mas não estava realmente com ele. "Catarine," ele murmurou, sua voz carregada de amor e preocupação. "Está tudo bem?" Ela sorriu, mas foi um sorriso que não alcançou os olhos. “Claro, amor,” respondeu ela, mas a insegurança em sua voz não passou despercebida. Ela se esforçou para se entregar, tentando se concentrar na sensação dele, nos toques, na intimidade que compartilhavam. Mas, enquanto ele a preenchia, ela sentia como se uma parede invisível os separasse.
Christian a observava atentamente, percebendo cada pequena mudança em seu corpo e em sua expressão. Ele a conhecia melhor do que ninguém, e sentia que algo estava errado. Mesmo em meio à paixão e ao calor, ela parecia distante, perdida em suas próprias tempestades. Ele continuou, buscando resgatar a chama que sempre iluminou seu amor, mas a frustração começou a se misturar à sua preocupação. “Amor, por favor, olhe para mim,” ele pediu, sua mão envolvendo o queixo dela, forçando-a a encontrar seus olhos. “Eu preciso de você aqui, comigo. O que está te incomodando?” Por um breve momento, Catarine hesitou, os olhos dela se enchendo de emoções conflitantes. Mas, ao mesmo tempo que desejava abrir seu coração, o medo e a culpa a mantinham presa. Em vez de se entregar completamente àquele amor, ela se viu lutando contra a verdade que a consumia. “Desculpe, Christian,” ela sussurrou, a dor refletida em sua voz. “Eu só… preciso de um momento.”
Ele a abraçou com força, esperando que aquele gesto simples pudesse trazê-la de volta à realidade. “Não tem pressa. Estamos juntos, sempre.” Ele falou suavemente, como se quisesse arrancar dela qualquer sombra que a oprimisse. “Fique comigo. Vamos encontrar o caminho de volta, juntos.” Enquanto continuavam, Christian fez o possível para ancorá-la àquele momento. Ele não queria que as sombras da noite ou os segredos que ela guardava interferissem no que tinham. Ele queria que ela estivesse presente, que ela se permitisse sentir a intensidade do amor que ele tinha por ela, mesmo que sua mente parecesse estar em outro lugar. Mas, a cada toque, a cada sussurro, Catarine lutava contra o turbilhão de emoções que a atormentava. Mesmo enquanto se esforçava para sentir a conexão, a escuridão que a cercava ameaçava consumi-la. E, apesar do amor que ambos compartilhavam, ela não podia evitar o medo do que estava por vir, fazendo com que a distância entre eles parecesse cada vez mais insuperável.
Os corpos de Catarine e Christian se moviam em um ritmo íntimo, mas, apesar da proximidade física, a conexão emocional entre eles parecia se desvanecer a cada instante. A frustração de Christian crescia, e ele não conseguia ignorar a forma como os olhos dela vagavam, como se estivesse distante de tudo, menos dele. “Cate, fale comigo,” ele pediu, a voz quase um sussurro entre os suspiros. “Você não está sentindo prazer?” Ela hesitou, uma onda de culpa inundando-a. “Eu... estou.” “Mentira,” ele retrucou, a irritação transparecendo em seu tom. “Eu conheço você, não minta para mim.” “É... mais complicado do que isso,” ela começou, a dificuldade de colocar em palavras o que sentia a deixando em um beco sem saída. “Mas… não é você... sou eu.” “Complicado? O que está acontecendo? Você não me ama mais?” Christian perguntou, sua voz carregada de preocupação. “Não seja ridículo, Christian,” ela disse, quase ofegante, a dor em seus olhos se intensificando. “Eu te amo mais que minha própria vida.”
“Então, por que parece que estou transando sozinho?” Ele se afastou um pouco, olhando para ela com um misto de desespero e confusão, como se estivesse tentando encontrar alguma resposta em seu rosto. Catarine sentiu o peso das palavras dele, uma lâmina afiada que cortava a ilusão que tentava manter. O que era para ser um momento de amor e conexão agora estava cheio de barreiras invisíveis e segredos. “Eu não sei,” ela finalmente admitiu, a vulnerabilidade em sua voz fazendo-a se sentir exposta. “Há tantas coisas que eu não consigo lidar, e eu não quero que você sofra por causa disso.” “Mas eu estou sofrendo, Cate. Não assim,” ele a confrontou, a frustração misturada com a dor de vê-la distante. “Me diga o que está acontecendo. Eu preciso saber.” Ela sentiu as lágrimas ameaçando brotar, mas se forçou a manter a compostura. “Eu não posso te dizer. Não agora,” ela respondeu, sua voz um sussurro trêmulo. “Então, o que posso fazer para te ajudar? O que precisa mudar?” Christian questionou, a desesperança começando a se infiltrar em suas palavras.
A angústia de Catarine era palpável. “Às vezes, eu só… eu só quero me livrar disso tudo,” ela confessou, sua mente flutuando de volta às noites sombrias e aos segredos que a consumiam. “Às vezes, eu me pergunto se você conseguiria me amar se soubesse quem eu realmente sou.” Ele a olhou, o amor em seu coração fervendo com a necessidade de entender. “Não existe ‘quem você realmente é’ que eu não consiga amar. Apenas me deixe entrar. Por favor.” Catarine se forçou a sorrir, mas o gesto não carregava a alegria que costumava. “Eu prometo que vou tentar, Christian. Eu só… preciso de um pouco mais de tempo.” O silêncio se instalou entre eles, e Christian a puxou para mais perto, buscando na proximidade um sinal de que ainda havia esperança. “Então vamos passar por isso juntos. Não se afaste de mim. Estou aqui, sempre estarei.” Ela sabia que precisava abrir seu coração, mas o medo da escuridão que a ameaçava a mantinha presa. A luta interna entre o amor que sentia e os segredos que guardava a deixava em um estado de tensão, e, enquanto eles continuavam, a dúvida permanecia: como poderiam encontrar a luz quando a escuridão ameaçava engolir tudo?
Christian parou, sua frustração crescendo a cada segundo. A conexão que deveria ser uma ponte entre eles estava se transformando em um abismo, e, ao sentir Catarine distante, ele não conseguiu continuar. Com um movimento brusco, ele se retirou de dentro dela, a expressão de dor em seu rosto se tornando quase insuportável. “Eu não vou continuar fazendo isso,” ele declarou, a voz tensa e firme. “Eu não vou transar sozinho.” Catarine sentiu o vazio se expandir à sua volta enquanto ele se levantava da cama, frustrado e confuso. Ele começou a se afastar, como se estivesse tentando respirar um pouco de ar puro, longe do peso da situação. O olhar dele, antes cheio de amor e desejo, agora estava coberto de decepção. Ela ficou ali, deitada na cama, a solidão envolvendo-a como um cobertor pesado. Seus dedos correram por suas têmporas, tentando esfriar a ardência que crescia dentro dela. “Por favor… não desmorone… não deixe a escuridão vencer,” ela murmurou, a voz embargada pela urgência de suas palavras. Christian parou por um momento, os ombros caindo sob o peso da tensão. Ele olhou para ela, a expressão em seu rosto refletindo a batalha interna que travava. “Cate, eu não sei como lutar contra isso se você não me deixa entrar,” ele respondeu, sua voz carregada de desespero.
Ela fechou os olhos, o peso da culpa esmagando-a. “Eu sei, eu sei… mas eu não quero que você se machuque. Se você soubesse…” “Se eu soubesse o quê?” Ele interrompeu, a frustração quase palpável. “O que você está escondendo de mim? O que mais você pode estar carregando que eu não saiba?” O silêncio se instalou novamente, e a distância entre eles parecia intransponível. Catarine se sentiu presa em uma rede de segredos e medos, a sombra da escuridão de Eros pairando sobre ela. “Eu só… eu só preciso de tempo para entender o que está acontecendo comigo,” ela confessou, os olhos cheios de lágrimas. Christian respirou fundo, tentando encontrar um caminho através da frustração que o envolvia. “Então, tudo que posso fazer é esperar? Enquanto você se afunda na escuridão?” Ela assentiu, a dor em seu coração quase insuportável. “Eu prometo que estou tentando. Por você. Por nós.” Mas Christian virou-se, incapaz de suportar a ideia de que a mulher que amava estava se perdendo em uma luta tão solitária. “Eu não posso ficar aqui e ver isso acontecer,” ele disse, sua voz baixa. “Se você não pode ser verdadeira comigo, talvez seja melhor que eu me afaste por um tempo.” E com isso, ele saiu da cabana, deixando Catarine sozinha, envolta em seus pensamentos, e pela primeira vez, o silêncio parecia ensurdecedor. Ela sentiu o peso da escuridão se aproximando, e a luta contra ela se tornava cada vez mais difícil. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela sussurrou para si mesma: “Eu não vou deixar isso me vencer.”
Na manhã seguinte, o sol entrou pela janela da cabana, lançando feixes de luz que dançavam sobre as paredes. A atmosfera, no entanto, estava longe de ser acolhedora. Christian e Catarine se moviam na cozinha como dois estranhos, cada um imerso em seus próprios pensamentos, a distância entre eles palpável. Catarine tentava se concentrar em preparar o café da manhã para Caleb, suas mãos tremendo levemente enquanto ela cortava o pão. Ela sabia que precisava agir normalmente, mas a tensão no ar a deixava inquieta. O cheiro do café fresco se misturava ao ar, mas, em vez de ser um conforto, apenas amplificava a ansiedade que a envolvia. Christian estava sentado à mesa, a expressão fechada, com o olhar fixo em qualquer lugar que não fosse ela. Seus movimentos eram bruscos e tensos; ele pegou um pedaço de pão de forma tão agressiva que quase o esfarelou. Catarine lançou um olhar furtivo em sua direção, seu coração apertando ao notar a raiva nos olhos dele. Ele não disse nada, mas a irritação que transparecia em cada gesto falava volumes.
“Caleb, você gostaria de passar o dia fora hoje?” ela perguntou, tentando desviar a atenção do clima pesado que a cercava. O menino assentiu, alegre como sempre, mas isso não fez nada para suavizar a tensão entre os adultos. Enquanto Catarine servia o café na caneca de Christian, ela não pôde deixar de notar como ele segurava a xícara com força, os dedos brancos de tensão.”Está com muito açúcar,” Christian comentou, a voz cortante, enquanto olhava para o café como se fosse uma ofensa. “Desculpe, eu só pensei que você gostaria assim,” ela murmurou, tentando manter a calma, mas a frustração crescia dentro dela. Ele não olhou para ela, apenas deu um gole no café, o rosto contorcido em uma expressão de desagrado. Caleb, alheio ao clima pesado, estava concentrado em sua comida, mas a atmosfera ao redor dele estava longe de ser tranquila. Catarine suspirou, a culpa a consumindo. Ela queria contar a Christian sobre a escuridão que a cercava, mas as palavras pareciam empacadas em sua garganta, como se uma força invisível a impedisse.
Enquanto ela tentava forçar um sorriso para Caleb, as mãos de Christian tremiam levemente enquanto ele pegava o pão novamente. O estalo do alimento sendo quebrado ecoou no silêncio, e a tensão ficou quase insuportável. Cada movimento dele era uma lembrança da noite anterior e da conexão que havia se perdido. “Você vai ficar bem?” Catarine perguntou, a preocupação transparecendo em sua voz. Ele a encarou, e por um instante, seus olhos se encontraram. Havia dor e frustração ali, mas também uma profunda desilusão. “Você precisa me dizer o que está acontecendo,” ele respondeu, a voz baixa, mas firme. Catarine engoliu em seco, o peso da verdade quase esmagador. Ela queria gritar, queria que ele soubesse, mas ao mesmo tempo, o medo a paralisava. “Christian, eu—” “Você o quê?” ele interrompeu, a raiva transparecendo mais uma vez. “Está escondendo algo de mim, e isso está me destruindo.”
E com isso, o silêncio se instalou novamente, pesado e opressivo. A única coisa que se ouvia era o leve tilintar das colheres e o som do café sendo servido. Ambos estavam mais distantes do que nunca, e, enquanto o sol brilhava lá fora, dentro da cabana, a escuridão continuava a se espalhar. Caleb, com apenas quatro anos, olhou para os rostos tensos de seus pais, confuso com a atmosfera pesada que os cercava. Ele não entendia as palavras que trocavam ou as expressões em seus rostos, mas podia sentir que algo não estava certo. O pequeno garoto tinha um jeito inocente de enxergar o mundo, acreditando que a vida era simples e cheia de alegria.
Com um movimento brusco, Christian pegou Caleb e o colocou no colo, apertando-o contra si como se o ato pudesse afastar a nuvem de tensão que pairava no ar. “Vamos, filho,” disse ele, a voz um misto de determinação e frustração. “Vamos sair daqui. Eu não posso ficar em um ambiente onde não confiam em mim.” Caleb olhou para o pai, seus grandes olhos negros cheios de curiosidade. “Para onde vamos, papai?” perguntou ele, a voz suave, quase como se quisesse dissipar a inquietação. Christian hesitou por um momento, olhando para Catarine, que permaneceu parada à mesa, sem saber o que dizer. A dor e a raiva em seu coração o consumiam, e ele se sentia impotente, cercado por uma escuridão que não conseguia entender. Mas ao olhar para seu filho, viu a pureza em seu olhar e a confiança que tinha nele. “Vamos passear pelas montanhas,” ele decidiu, tentando transmitir segurança, mesmo que seu próprio coração estivesse em desordem. “Você sempre quis explorar aquele lugar onde os lobos brincam, não é? Vamos ver se conseguimos encontrá-los.”
Caleb sorriu, sua inocência irradiando luz em meio à tensão. “Eu quero!” ele exclamou, batendo os pezinhos no colo do pai, esquecendo momentaneamente o clima pesado. Christian sorriu de volta, embora a tristeza ainda pairasse em seus olhos. Ele se levantou, segurando Caleb com firmeza, mas ao mesmo tempo, o desejo de proteger seu filho fervia dentro dele. “Catarine,” ele disse, lançando um último olhar para ela, “você não vai se juntar a nós?” Catarine hesitou, o coração apertado. A ideia de acompanhá-los parecia quase impossível, pois sabia que sua presença apenas traria mais tensão. “Não, eu... preciso de um tempo,” ela respondeu, a voz trêmula. “Cuide bem do nosso filho.” Christian a observou por um instante, um misto de decepção e preocupação se misturando em seu olhar. Mas, em vez de discutir, ele apenas assentiu. “Vamos, Caleb,” disse ele, levando o menino em direção à porta. Enquanto saíam, Catarine sentiu o peso da solidão se instalar em seu peito. Ouviu a risada de Caleb ecoar na entrada, e, por um breve momento, desejou que tudo voltasse a ser como antes, quando a alegria e a confiança reinavam em sua pequena família. Mas, com cada passo que Christian dava para longe, a realidade de sua situação se tornava mais clara: a escuridão que a cercava não poderia ser ignorada por muito mais tempo. E a verdade que escondia estava se tornando um fardo cada vez mais difícil de suportar.
Naquela noite de lua cheia, a luz prateada iluminava a clareira onde a alcateia se reunia. Catarine estava em casa, colocando Caleb na cama, seus dedos acariciando os cabelos do menino enquanto ele se aninhava sob as cobertas. O silêncio do quarto contrastava com o alvoroço que se desenrolava do lado de fora. A cada dia que passava, o medo crescia em seu coração. O que ela diria a Christian quando ele notasse a mudança em sua pelagem? Ela hesitou, pensando em como poderia explicar o que estava prestes a acontecer. Mas, ao invés de ter uma conversa franca com ele, decidiu que adiar seria o melhor. Mais um mês. Ela não deixaria que ele visse a cor negra de seu pelo, não ainda.
Enquanto isso, Christian esperava ansiosamente na clareira, cercado pelo restante da alcateia, que se preparava para a transformação. A excitação e a energia pulsante do momento o envolviam, mas a ausência de Catarine o incomodava profundamente. O que poderia estar prendendo-a em casa? “Onde diabos ela está? Por que está demorando tanto?” Ele murmurou para si mesmo, a impaciência se transformando em preocupação. Determinado a descobrir, caminhou até sua casa. Ao abrir a porta, a cena que encontrou não aliviou sua inquietação. Caleb dormia tranquilamente na cama, sua respiração suave e tranquila contrastando com a tempestade de emoções que inundava Christian. Um misto de raiva e incredulidade tomou conta dele. O que poderia ser mais importante do que participar da caçada? Ele se virou e saiu, o coração pesado enquanto sentia a necessidade de farejar a presença de sua esposa. A lua cheia atingiu seu pico no céu, e Christian deixou que a transformação ocorresse, os músculos se contorcendo e se moldando enquanto seus instintos de lobo afloravam.
Os membros da alcateia ao seu redor começaram a se transformar, suas formas humanas se desfazendo e se tornando seres majestosos de pelagem brilhante. O som de ossos se quebrando e se rearranjando preenchia a noite, enquanto o chamado da lua os guiava. Christian se concentrava, sua mente e seu corpo se preparando para a caçada, mas sua alma estava distante, inquieta. Quando finalmente se transformou completamente, a frustração de Christian se intensificou. Ele sentiu o cheiro dela no ar—o doce aroma que sempre o acalmava—mas não conseguia encontrá-la. Ele começou a farejar mais intensamente, sua fúria crescendo ao perceber que a ausência de Catarine não era apenas um capricho dela, mas um sinal de algo mais profundo e perturbador. O instinto o guiava, mas a confusão o consumia. “Catarine!” ele uivou, sua voz ressoando na noite clara, mas a resposta que esperava não veio. Apenas o eco de sua própria angústia se misturou ao uivar da alcateia, uma canção de caçadores prontos para a noite, enquanto Christian se movia ansiosamente, tentando localizar sua mulher no meio da escuridão. A frustração se transformou em desespero, e a noite se tornava cada vez mais opressiva, deixando-o ansioso por respostas que não sabia se estavam prontas para serem reveladas.
Christian se movia como uma sombra através da floresta, seus sentidos aguçados buscando cada traço, cada vestígio que pudesse levar até Catarine. A lua cheia iluminava o caminho, mas mesmo assim, a escuridão parecia engolir cada passo que dava. Ele farejou o ar, tentando captar o aroma familiar que sempre o confortou, mas a frustração só aumentava a cada instante. “Catarine!” seu uivo ecoou entre as árvores, um chamado desesperado que reverberava na noite. Ele percorreu o caminho que costumavam seguir juntos, lembrando-se das risadas, da adrenalina das caçadas compartilhadas. Mas aquela noite era diferente. O que ele sentia não era apenas a ausência dela, mas uma inquietação profunda, uma sensação de que algo estava terrivelmente errado. Enquanto isso, Catarine se movia em silêncio pela floresta, seu coração pulsando em um ritmo frenético enquanto se preparava para o que estava prestes a fazer. A transformação havia trazido consigo uma nova fome, um desejo intenso que a consumia. O medo de ser descoberta ainda a perseguia, mas, de alguma forma, a caçada se tornara uma forma de libertação. Ela havia escolhido a presa mais vulnerável: crianças. Aqueles pequenos seres inocentes que não conheciam a escuridão do mundo, que nunca poderiam imaginar que o terror poderia vir sob a forma de uma loba.
Ela se esgueirou entre as árvores, os sentidos aguçados em busca do menor sinal de movimento. Em sua mente, a voz de Eros ecoava, sussurrando que esta era sua nova realidade. Matar era um meio de manter a escuridão próxima, uma forma de pagar pela liberdade que Eros havia lhe dado. E mesmo enquanto a culpa a consumia, havia uma parte dela que ansiava pela sensação de poder e controle, uma sensação que há muito tempo não experimentava. Christian continuou sua busca, cada uivo mais desesperado que o anterior, cada passo mais pesado com a dúvida. A cada momento que passava, ele sentia que a noite se tornava mais densa, a escuridão ao seu redor mais opressiva. “Onde você está, Cate?” ele murmurou para si mesmo, a ansiedade pulsando em seu peito. Ele farejou novamente, mas a presença dela parecia escorregar de suas garras. Algo estava errado, e ele não conseguia sacudir a sensação de que ela estava fazendo algo que não deveria. Finalmente, Christian parou, os sentidos em alerta máximo. Ele podia sentir a tensão no ar, a eletricidade da caçada. Uma presa estava próxima, e seu instinto de lobo se agitou. Mas, em vez de seguir a pista, algo o deteve—um cheiro familiar, um aroma que o fez parar em seco. Ele reconheceu a presença de sua esposa, misturada à do medo e à vulnerabilidade de uma criança. A raiva e a confusão cresceram dentro dele, mas o desejo de protegê-la era ainda mais forte.
Movendo-se rapidamente, ele seguiu o rastro, sabendo que a cada passo estava se aproximando não apenas da mulher que amava, mas da verdade que ele temia descobrir. A clareira estava mais próxima, e o eco de risadas infantis se misturou aos uivos da alcateia, um contraste cruel que gelou seu sangue. O que ele encontraria ao final daquele caminho? Ele temia que, ao mesmo tempo que buscava por Catarine, estava prestes a descobrir a face mais sombria da pessoa que amava.
O silêncio da floresta foi abruptamente quebrado por um grito agudo e desesperado, um som que cortou a noite como um punhal. Christian parou instantaneamente, o coração disparando em seu peito. O grito ressoou novamente, mas logo foi silenciado, engolido pela escuridão que cercava a clareira. Uma onda de pânico o invadiu, e ele não hesitou. Ele correu em direção ao som, seus instintos de lobo guiando-o, mesmo enquanto seu coração pesava com uma crescente sensação de morte. Quando ele finalmente chegou à clareira, a cena que encontrou fez seu sangue gelar. Um garoto pequeno, não mais do que quatro anos, estava estirado no chão, seu corpo frágil inerte, uma expressão de terror congelada em seu rosto. O aroma do sangue fresco pairava no ar, misturado ao cheiro doce da inocência perdida. Christian levou um passo em direção à criança, sua mente em estado de choque, incapaz de processar o que estava vendo. Mas então, sua atenção foi atraída por outra presença na clareira. Ali, em cima do corpo do menino, havia um lobo. Sua pelagem era negra como a noite, absorvendo toda a luz da lua que tentava iluminá-lo. Mas o que realmente fez o coração de Christian parar foi a cor dos olhos da criatura—um tom de mel que refletia uma sabedoria e uma dor que ele conhecia bem. O lobo levantou a cabeça, os dentes ensanguentados expostos em um semblante predatório, e os olhos que se fixaram em Christian trouxeram um turbilhão de emoções.
“Catarine?” ele sussurrou, sua voz se quebrando. Não podia acreditar no que estava vendo. Era impossível. Seu olfato estava brincando com sua mente? Ele olhou para a cena, a verdade começando a se formar em sua cabeça. Os fios de pensamento se entrelaçavam em um labirinto de confusão e horror. A mulher que ele amava, a mãe de seu filho, agora se tornara o próprio pesadelo. Christian se sentiu paralisado. A imagem do garoto, tão pequeno e indefeso, misturava-se com a figura majestosa e aterradora do lobo que se alimentava dele. Era um momento que desafiava toda a lógica e amor que ele havia sentido. Ele deu um passo hesitante, o instinto de proteger a criança lutando contra a necessidade de compreender o que estava acontecendo. “Cate, não...” a dor em sua voz era palpável, mas o lobo apenas o encarou, sem demonstrar arrependimento, sem uma faísca de humanidade em seus olhos. Ele estava vendo não apenas uma criatura, mas a representação da escuridão que havia se apoderado de sua esposa. O horror tomou conta dele, um desespero profundo que quase o fez recuar. Christian se lembrou dos momentos compartilhados, da vida que haviam construído, da inocência do seu filho dormindo em casa. E ali, diante dele, estava o resultado de algo que ele não conseguia compreender. Ele estava perdendo não apenas a mulher que amava, mas sua própria sanidade, à medida que as peças do quebra-cabeça começavam a se unir. “Catarine!” gritou, um chamado de desespero que atravessou a floresta. A criatura hesitou, um leve tremor passando por seu corpo, como se reconhecesse a voz, mas ainda assim não se afastou do corpo da criança. Christian sentiu que o mundo estava desmoronando ao seu redor. A transformação que ela havia abraçado estava levando tudo que ele amava, e a realidade brutal do que estava acontecendo era insuportável.
Ele se aproximou, cada passo pesado de determinação e de uma angústia crescente. O cheiro que envolvia a loba negra era inconfundível; ele reconheceria aquele aroma em mil quilômetros. “Cate…” sua voz ecoou na clareira, um sussurro desesperado que atravessou o espaço entre eles. Ele hesitou por um instante, suas patas tremendo contra a terra fria, a urgência de protegê-la fazendo seu coração disparar. Ele se aproximou mais, embora seu instinto o alertasse do perigo. “Cate… largue… largue essa criança.” Os olhos de Catarine, agora profundamente selvagens e distantes, se fixaram nele, e ela rosnou, um som grave e ameaçador que fez a pelagem em sua nuca se eriçar. Suas patas protegiam o pequeno corpo, como se ela fosse uma guardiã em um reino obscuro. “Sai, é minha presa,” ela declarou, sua voz carregada de uma ferocidade que ele nunca havia ouvido antes.
Christian parou, o choque da resposta dela ressoando dentro de sua mente. O que havia acontecido com sua mulher? Ele precisava que ela voltasse a ser quem era, a mulher que amava e que sempre protegia Caleb. “Cate… sou… sou eu… você… não me reconhece?” a súplica em sua voz era mais forte que qualquer instinto de batalha. “Se chegar mais perto de mim, eu vou rasgar você no meio,” ela respondeu, o rosnado profundo se intensificando. A ameaça era real, e a dor de suas palavras atravessou Christian como uma faca. Ele deu um passo atrás, mas a necessidade de salvá-la era mais forte do que o medo. “Cate, eu não quero te machucar,” ele disse, a vulnerabilidade em sua voz ecoando no ar pesado da floresta. “Eu estou aqui para te ajudar, por favor, volte para mim.”
A loba negra hesitou por um breve momento, e algo em seus olhos pareceu brilhar, um lampejo do amor que uma vez os uniu. Mas a ferocidade rapidamente tomou conta, e o rosnado retornou, uma advertência de que ela estava pronta para atacar. Christian sabia que precisava fazer algo para quebrar essa barreira, mas o que poderia ele fazer se a mulher que amava estava escondida sob a pele da besta? “Cate…” ele insistiu, o coração pesado. “Olhe para mim. Lembre-se de nós. Lembre-se do que éramos.” A conexão que uma vez tiveram, o amor que os uniu, foi um apelo à sua verdadeira natureza, uma tentativa de alcançar a parte dela que ainda poderia ouvi-lo. Mas a escuridão era forte, e a batalha interna dela estava prestes a se manifestar em uma luta feroz entre amor e instinto. Christian sentiu o frio do medo correr por sua espinha enquanto a tensão no ar aumentava, sem saber se conseguiria salvar a mulher que uma vez foi sua vida. Christian ficou paralisado, o coração apertado enquanto observava a cena diante de seus olhos. Catarine, agora um lobo de pelagem negra como a noite, se banqueteava com a carne da criança, sem um pingo de remorso. O instinto animal havia tomado conta dela, e a ferocidade de sua fome transformara a mulher que ele conhecia em uma criatura de pura brutalidade.
Cada mordida que ela dava, cada osso que quebrava sob suas poderosas mandíbulas, ecoava na mente de Christian como um tambor macabro. Ele sentiu a bile subir à garganta, um nó se formando em seu estômago. A criança, tão pequena e vulnerável, tinha a mesma idade de Caleb. Essa conexão fazia a dor que o atravessava ainda mais insuportável. Como era possível que sua amada, a mãe de seu filho, estivesse ali, cometendo um ato tão horrendo? Era uma cena que desafiava qualquer compreensão, uma visão que se cravaria em sua memória para sempre. Ele se agachou, as patas tremendo no chão frio da floresta, uma sensação de impotência invadindo-o. A raiva e a tristeza se entrelaçavam dentro dele, criando uma tempestade emocional. Ele nunca tinha visto um lobisomem abater e devorar uma presa tão jovem, tão indefesa. Aquela criança, com sua vida tão breve e cheia de promessas, estava sendo consumida na brutalidade de um instinto que parecia ter subjugado o amor de sua esposa.
Christian tentou processar o que estava vendo. Como poderia ela ter chegado a esse ponto? Ele sentiu a dor e a traição como facas afiadas, cortando-o por dentro. Ele se lembrou dos momentos felizes, das risadas de Caleb, do amor que compartilharam, e a imagem de Catarine se banqueteando com a inocência perdida se tornava uma ferida aberta. “Cate…” ele murmurou, a voz falhando em seu lamento. “O que aconteceu com você?” Mas suas palavras foram tragadas pela escuridão da noite, sem resposta, ecoando na vastidão de uma floresta imersa em sombras. O instinto dentro dele gritou para que atacasse, para que a detivesse antes que fosse tarde demais, mas algo o mantinha parado, paralisado. A única coisa que restava era a esperança de que a mulher que ele amava ainda estava lá, escondida sob a superfície dessa besta que agora a dominava. E essa esperança, por mais frágil que fosse, era tudo o que ele tinha.