Christian caminhava com uma agilidade impressionante, carregando Catarine nos braços como se ela não pesasse nada. A vegetação densa da floresta passava por eles em borrões, enquanto seus passos não faziam praticamente nenhum som. Seus olhos alternavam de negro profundo para um vermelho intenso, algo que não passou despercebido por Catarine. Mesmo em meio à dor, ela apertava a adaga de prata com força, seu olhar fixo nos olhos dele, observando cada mudança. "Você está perdendo sua forma humana," ela comentou, o tom cheio de desconfiança, embora também contivesse uma curiosidade genuína. Christian soltou um suspiro profundo, sem diminuir o ritmo de sua corrida fluida pela floresta. "Sim, eu sei," ele respondeu, a voz grave, quase como se estivesse se lamentando. "É a força da lua cheia... quando chegar meia-noite, não vou conseguir segurar minha forma humana por muito mais tempo." Catarine lançou um olhar desconfiado para ele, ainda tensa nos braços do lobo. "Você come humanos?" perguntou abruptamente, sua voz firme, embora o medo estivesse à espreita. Christian, sem alterar sua expressão, manteve o foco no caminho à frente. "Não, claro que não. Me desfiz desse mau hábito há muito tempo."
"Humpf," Catarine bufou, visivelmente incrédula. "Você quer mesmo que eu acredite que é um lobisomem bonzinho?" Ele deu um sorriso quase imperceptível, sem desviar o olhar da floresta. "Não precisa acreditar em mim," ele respondeu calmamente. "Eu só estou tentando ajudar você a voltar para casa." O silêncio caiu entre os dois, o som dos passos ágeis de Christian e da respiração pesada de Catarine preenchendo o espaço. Havia uma tensão no ar, e apesar da jovem ter baixado a guarda apenas o suficiente para ser carregada, a desconfiança ainda estava clara em seus olhos. "Quantos anos você tem?" ele perguntou, quebrando o silêncio de forma abrupta. "Eu faço oito semana que vem," Catarine respondeu, sua voz tensa, mas com uma leve hesitação. Mesmo desconfiada, era ainda uma criança, e a pergunta parecia deslocada naquele cenário. Christian arqueou as sobrancelhas, surpreso, mas não de um jeito rude. "Oito anos? E já é tão desconfiada e durona desse jeito?" Ela apertou os lábios, o olhar sombrio e carregado de mágoa. "Eu tive que crescer rápido. Sua matilha fez isso comigo. Destruiu minha vida." Christian sentiu o peso das palavras dela como um golpe, embora não deixasse isso transparecer em sua expressão. Ele sabia que a dor dela não era algo que pudesse ser resolvido com palavras, e qualquer desculpa ou justificativa soaria vazia. "Sinto muito," ele murmurou baixinho, com uma sinceridade que ele mesmo não esperava que surgisse.
Catarine, ainda apertando a adaga como um reflexo de autoproteção, desviou o olhar para as árvores à medida que as sombras se tornavam mais longas e escuras. Mesmo carregada pela criatura que mais odiava, havia algo na forma como Christian a carregava, sem pressa, sem malícia, que fazia com que ela questionasse se ele realmente era tão diferente de Demétrio. Mas no fundo, a dor e o trauma ainda ardiam, e para uma menina tão jovem, as cicatrizes de sua alma pareciam ainda maiores do que as físicas que carregava no corpo. Christian se aproximava rapidamente do vilarejo, seus ouvidos sensíveis captando o som dos sinos que ecoavam pela noite, misturados aos gritos desesperados dos aldeões. O caos da aldeia era inconfundível: a alcateia de Demétrio estava em pleno ataque. Ele rosnou, frustrado com a situação, sabendo que o tempo estava contra ele. "Merda," ele resmungou entre dentes enquanto seus olhos vermelhos examinavam os arredores. Sem outra escolha, ele parou e colocou Catarine gentilmente no chão, olhando para sua perna ferida. Ele sabia que ela ainda estava fraca, mas não havia tempo para cuidar dela como deveria.
"Vou ter que deixar você aqui, menina. Espero que seja o bastante para você voltar em segurança." Sua voz era grave, com um toque de urgência. "Preciso parar Demétrio." Christian começou a se afastar, mas não antes de lançar um último olhar para a garotinha. Seus olhos, agora mais vermelhos do que nunca, brilhavam à luz da lua. Ele respirou fundo, sabendo que aquela era sua única opção. "Se cuida," disse ele, sua voz gutural e carregada de uma seriedade que ela não havia ouvido antes. Catarine, ainda em choque com tudo o que havia acontecido, apenas acenou, incapaz de dizer qualquer coisa. E então, como um relâmpago, Christian desapareceu na floresta, sua forma lupina voltando ao seu estado bestial. Ela ouviu o som de seus passos pesados e o rosnado distante enquanto ele se dirigia ao confronto inevitável com Demétrio. Sozinha novamente, Catarine suspirou profundamente, incrédula de que um lobisomem havia realmente a ajudado a voltar para casa. Ela mal podia acreditar, mas ali estava, ainda viva, salva por aquele que, até então, ela considerava um monstro. Mesmo com a perna latejando de dor, ela começou a mancar em direção ao vilarejo.
O cenário na aldeia era terrível. As ruas estavam cheias de caos — guerreiros corriam de um lado para o outro, tentando defender o vilarejo dos lobos ferozes. O cheiro de sangue e o som de gritos enchiam o ar, fazendo com que a jovem sentisse um nó no estômago. Tentando se manter firme, Catarine caminhou com dificuldade entre os destroços e a confusão, até que, de repente, trombou com alguém. Seu coração quase parou de susto, mas logo reconheceu o rosto familiar. "Catarine!" Johann, seu pai, a abraçou com força, sua voz cheia de alívio e desespero. "Por todos os Deuses... eu pensei que tinha perdido você." Ainda atordoada, Catarine se afundou nos braços de seu pai. "Eu estou bem, papai," ela murmurou, sua voz um pouco rouca, sentindo o calor do abraço dele. Johann se afastou um pouco para olhá-la, mas seus olhos estavam fixos na perna ferida da filha. "Você está machucada... o que aconteceu?" Catarine hesitou por um instante, as imagens de Christian e Demétrio ainda tão vivas em sua mente, mas ela não sabia o que dizer. "É uma longa história, papai. Mas agora... temos que proteger o vilarejo."
Johann franziu a testa, preocupado, mas ele sabia que não havia tempo para mais perguntas. O som de uivos ecoava ao longe, cada vez mais próximos, e o caos nas ruas só aumentava. Ele segurou Catarine pelos ombros, olhando-a nos olhos com firmeza. "Você está certa," ele disse, com um olhar grave. "Agora não é hora de histórias. Vamos te levar para um lugar seguro." Catarine, apesar da dor em sua perna, sacudiu a cabeça em negativa. "Eu posso ajudar," ela insistiu. "Posso lutar." "Não," Johann retrucou, mais firme. "Você está ferida, e já fez mais do que o suficiente. Deixe isso comigo e os outros guerreiros." Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, um som ensurdecedor de madeira se partindo fez ambos se virarem. Um grupo de lobos enormes, com pelagens escuras e olhos flamejantes, arrebentava a entrada da aldeia. Os guerreiros lutavam com todas as forças, mas estavam em desvantagem. As criaturas eram rápidas, brutais e implacáveis. Johann puxou Catarine para o lado, tentando levá-la para uma das casas mais afastadas, mas um lobo de pelagem cinzenta os avistou. Com um rosnado gutural, ele avançou contra eles. O coração de Catarine disparou, e ela instintivamente puxou sua adaga de prata. Mesmo machucada, ela se colocou entre o lobo e seu pai. "Catarine, não!" Johann tentou impedir, mas era tarde demais. O lobo cinzento saltou em sua direção, as presas à mostra.
Mas antes que ele pudesse atingir a menina, um vulto branco atravessou o ar, colidindo com o lobo e o derrubando no chão. Era Christian. Sua forma lupina estava totalmente transformada, os músculos tensos e os olhos vermelhos brilhando com a força da lua cheia. Ele rosnava ferozmente, dominando o lobo cinzento com facilidade. Catarine, ofegante, segurou a adaga com mais força, sem saber o que fazer. Ela estava atordoada pelo fato de Christian estar ali, lutando ao lado deles, contra a própria alcateia.
"Vai embora!" Christian gritou entre rosnados, sua voz gutural e cheia de raiva. "Leve ela para um lugar seguro, agora!" Johann, sem questionar, puxou Catarine novamente, desta vez com mais determinação. Eles correram pelas ruas cheias de destroços, os gritos e o cheiro de queimado ao redor deles tornando a fuga ainda mais desesperada. Atrás, o som da batalha entre lobisomens crescia. O barulho de ossos quebrando e rosnados selvagens reverberava na aldeia. Eles chegaram até uma pequena capela no fim da vila, onde outros aldeões se refugiavam. Johann fechou a porta com força, prendendo uma barra de ferro para segurá-la. "O que está acontecendo, papai?" Catarine perguntou, a voz trêmula. "Por que eles estão atacando de novo? Eles nunca vieram assim antes..." Johann se ajoelhou ao lado da filha, passando a mão pela testa suada dela. "Eu não sei, minha pequena... mas algo está diferente dessa vez. Esses malditos nunca foram tão ousados." Catarine olhou pela pequena janela da capela, ainda tentando processar tudo o que havia acontecido. As perguntas sobre Christian, sua luta interna entre confiar nele ou temê-lo, e o próprio Demétrio — tudo estava girando em sua cabeça. Ela se lembrou do lobo negro, de seu olhar cruel e o desejo de matá-la. "Ele... ele vai voltar, não vai?" ela murmurou, quase sem querer perguntar.
Johann não respondeu de imediato. Ele segurou a mão dela, como se tentasse encontrar palavras que não fossem alarmantes. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, o som de um estrondo do lado de fora os fez congelar. A porta da capela balançou com força, seguida por rosnados baixos. Johann levantou-se rapidamente, empunhando sua espada com as mãos trêmulas. "Fique atrás de mim," ele ordenou, enquanto o barulho aumentava. Um uivo profundo ecoou do lado de fora, e logo em seguida, a porta foi arrancada dos gonzos. Um lobo gigantesco, com a pelagem negra como a noite, entrou na capela, os olhos brilhando com fúria — Demétrio. Catarine sentiu o coração parar por um momento. Era ele, o lobo que quase a matou na floresta. Ele estava ali, diante deles, com seu tamanho descomunal e uma aura ameaçadora. "Finalmente te encontrei," Demétrio rosnou, a voz grave e distorcida. "Você achou que poderia escapar de mim, garota?" Johann se colocou entre a filha e o lobo, sua espada apontada diretamente para Demétrio. "Você não vai encostar nela," ele disse, sua voz firme, mas o medo evidente em seus olhos.
Demétrio soltou uma risada gutural, avançando um passo à frente. "E quem vai me impedir, você, humano?" Antes que a situação pudesse piorar, um vulto branco atravessou a porta destruída. Christian, ainda em sua forma lupina, entrou como um raio, colocando-se entre Johann e Demétrio. Ele rosnou profundamente, seus olhos vermelhos queimando de fúria. "Eu avisei para você parar, Demétrio," disse Christian, os pelos eriçados enquanto encarava o alfa negro. Demétrio sorriu, um sorriso distorcido e perverso. "Ah, Christian... sempre tentando ser o herói. Vamos ver até onde você consegue segurar sua humanidade." A batalha entre Christian e Demétrio irrompeu com uma intensidade brutal. Christian, em sua forma lupina, rosnava ferozmente enquanto desferia garras afiadas em direção ao lobo negro, evitando a qualquer custo que Demétrio se aproximasse de Johann e Catarine. As presas de Demétrio brilhavam sob a luz da lua, enquanto ele atacava com um furor incontrolável, suas intenções sombrias visíveis em cada movimento. Os aldeões estavam confusos e apavorados, assistindo à luta entre as duas feras. "Por que eles estão lutando entre si?" murmurou um dos guerreiros, segurando firme sua espada de prata. Outro homem, ofegante, respondeu: "Eu não sei, mas devemos aproveitar essa distração! A alcateia está recuando!"
Enquanto isso, a luta continuava, com Christian se movendo com agilidade impressionante para desviar dos ataques brutais de Demétrio. Ele estava determinado a proteger Catarine e seu pai a qualquer custo. A adrenalina pulsava em suas veias, e cada golpe que trocava com Demétrio parecia reverberar na capela. Os guerreiros, armados com suas espadas de prata, finalmente conseguiram afastar alguns dos lobos que atacavam a aldeia, mas os uivos de Demétrio ainda ecoavam, encorajando sua alcateia a continuar a luta. O caos dominava, enquanto a batalha entre os lobos ganhava mais intensidade. Christian sentiu a exaustão começando a tomar conta de seu corpo. Cada golpe que trocava com Demétrio parecia mais difícil, mas sua determinação era mais forte. Ele não poderia deixar Demétrio machucar os humanos, especialmente Catarine. A garotinha estava bem atrás dele, seu olhar confuso e apavorado, mas ela confiava que Christian a protegeria. O sol começou a se erguer lentamente no horizonte, e Christian percebeu que o amanhecer estava próximo. Com um uivo desolador, Demétrio olhou para sua alcateia e gritou: "Recue! Todos, recuem!" A alcateia, percebendo a mudança na energia da batalha, começou a se afastar, enquanto os guerreiros da aldeia continuavam a atacar. Christian, ferido e exausto, virou-se para Catarine. Ele a observou, seu olhar revelando alívio e preocupação. "Você está bem?" ele perguntou, embora soubesse que estava longe de estar completamente fora de perigo. Demétrio já havia desaparecido na floresta, mas a batalha deixara seus rastros.
"Estou," ela respondeu, seus olhos brilhando com uma mistura de medo e gratidão. "Você... você lutou para me proteger." Christian acenou, um sorriso fraco cruzando seu rosto. "É o que faço." Com a luz do sol finalmente iluminando a aldeia, os guerreiros começaram a se reunir, avaliando os danos e celebrando a vitória. Christian, ainda ofegante, se afastou em direção à floresta, sua mente em conflito. Ele tinha ajudado a salvar o vilarejo, mas a batalha o deixara em estado crítico, e ele precisava de um lugar seguro para se recuperar. Ele finalmente correu em direção a floresta. Mais tarde, em uma sala iluminada por tochas, os homens mais importantes da aldeia se reuniram para discutir os ataques. Johann estava entre eles, sua expressão séria enquanto eles avaliavam a situação. "Precisamos de um plano," Johann afirmou, sua voz firme. "Os lobos não hesitarão em atacar novamente, e precisamos estar preparados." Um dos guerreiros, um homem mais velho e experiente, concordou. "Devemos aumentar as patrulhas nas florestas. E precisamos de mais armas de prata. Não podemos deixar que eles nos surpreendam novamente." Os murmúrios de concordância se espalharam pela sala, e Johann observou cada um dos rostos ao seu redor, reconhecendo a determinação e a preocupação.
Enquanto isso, em casa, Catarine estava na sala de estar, tentando cuidar de sua ferida. Ela trocava o curativo, sua mente ainda atordoada com os eventos da noite anterior. As lembranças de Christian voltaram à sua mente. O lobo branco que a protegera, que lutara para salvá-la. "Ele estava bem ferido..." ela murmurou para si mesma, sentindo uma onda de gratidão misturada com preocupação. Catarine olhou pela janela, pensando em Christian e se perguntando se ele estava seguro. "Por que ele teve que lutar contra Demétrio?" seus pensamentos giravam, cheia de questões sem respostas. Mas uma coisa era certa: Christian não era um monstro. Ele havia sido seu salvador, e ela sentia que, de alguma forma, deveria retribuir essa ajuda.
Afastada da aldeia de Greifswald, uma clareira mágica se erguia em meio à floresta densa, onde a luz do sol filtrava-se pelas copas das árvores, criando um espetáculo de sombras dançantes. A aldeia dos lobisomens, conhecida como Silver Moon, era um lugar encantado, com construções rústicas feitas de madeira escura e pedra, cada uma adornada com símbolos antigos que reverberavam energia mística. O ar estava impregnado de um aroma de terra úmida e folhas secas, enquanto o som suave do vento soprava entre as árvores, trazendo consigo sussurros de um passado ancestral. No centro da aldeia, uma grande fogueira crepitava, iluminando os rostos dos lobisomens que se reuniam em volta dela, conversando em murmúrios enquanto compartilhavam histórias e tradições. As casas, cobertas por musgo e flores silvestres, estavam dispostas de forma circular, como se quisessem proteger o coração da aldeia. Os habitantes, de pelagens variadas, exibiam um orgulho feroz por suas raízes e tradições, e a atmosfera era uma mistura de camaradagem e respeito mútuo.
Naquele momento, Demétrio Rodrigues, o alfa da alcateia Silver Moon, estava em pé em uma plataforma improvisada, a armadura de prata brilhando sob a luz da fogueira. Seu cabelo curto e liso, com uma franja bagunçada que caía sobre a testa, contrastava com os profundos olhos azuis que brilhavam com uma arrogância natural. A presença dele era imponente, seus ombros largos e postura ereta transmitindo uma força inabalável. Ele olhava para seu general, Caspian Taylor, que estava ali, inquieto, com os braços cruzados. "Por que proteger humanos?" rosnou Caspian, seu tom desafiador ecoando na clareira. Seu cabelo prateado caía em uma franja despojada, e seus olhos cinza refletiam a indignação. Ele era jovem, mas seu corpo atlético e a maneira como se movia mostravam que ele era um lutador hábil. Vestia uma túnica marrom e agasalhos de couro de inverno, prontos para o combate. Demétrio rosnou em resposta, sua irritação evidente. "Qual o problema dele?" Ele estava claramente frustrado com a resistência de Christian, e sua fúria transparecia em cada palavra. "Esse comportamento é vergonhoso. Christian deveria saber que os humanos são nossos inimigos!" "Vai saber... Christian sempre teve essa resistência em se entregar para a bestialidade," Caspian retorquiu, balançando a cabeça com desdém. A tensão entre eles era palpável, e os lobisomens ao redor começavam a perceber a gravidade da discussão.
"Ele não é mais um membro da nossa alcateia! Não pode deixar os sentimentos o dominarem! A fraqueza não tem lugar aqui," Demétrio respondeu, seu olhar se tornando cada vez mais sério. "Se não colocarmos nossa alcateia em primeiro lugar, não teremos futuro." Caspian assentiu, ainda balançando a cabeça em desaprovação. "Não podemos esquecer que a mudança está sempre a caminho. A proteção dos humanos pode ser uma nova maneira de nos adaptarmos. Mas parece que a lealdade de Christian está além da compreensão de muitos." Demétrio grunhiu, claramente em desacordo. "Os humanos são apenas um empecilho! Precisamos agir, e rápido. Se Christian continuar com essa traição, faremos o que for preciso para restaurar a ordem e a honra da Silver Moon."
A tensão na clareira era palpável, enquanto os lobisomens escutavam em silêncio, sabendo que o futuro da alcateia estava em jogo. Demétrio estava determinado a manter a força e a superioridade de sua linhagem, enquanto Caspian, embora leal, começava a questionar se o caminho da violência e da confrontação era realmente o único caminho a seguir. Assim, sob a luz do sol, a aldeia de Silver Moon se preparava para um futuro incerto, onde o conflito entre os laços familiares e a ferocidade da natureza estavam prestes a colidir em um duelo de destino.
Um pouco afastado da clareira, entre as árvores altas e sombrias da floresta, Christian se escondia, sua forma humana ainda se mantendo, mas marcada pelas feridas do recente confronto com Demétrio. A dor pulsava em seu corpo, especialmente nas áreas onde a armadura de seu alfa o ferira. Ele se encostou em um tronco de árvore, respirando fundo, tentando controlar o ritmo acelerado de seu coração. Christian sabia que Demétrio era poderoso, um verdadeiro líder que não hesitava em usar toda sua força para proteger a alcateia. Enfrentar o alfa não era apenas um desafio físico; era uma luta contra uma força que parecia emanar do próprio sangue que corria em suas veias. Enquanto observava a clareira ao longe, onde a discussão se intensificava, ele sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Demétrio não era apenas seu líder, mas também um velho amigo, e isso tornava tudo ainda mais complicado. Ele se lembrava dos dias em que caçavam juntos, compartilhando risadas e histórias ao redor da fogueira. Mas agora, aquele laço estava sendo testado de maneira brutal. A recusa de Christian em se juntar aos ataques a humanos era vista como traição, e o que antes era camaradagem agora parecia uma linha tênue entre a lealdade e a deslealdade. "Por que não podem entender?" Christian murmurou para si mesmo, a frustração transparecendo em sua voz. "Os humanos também têm o direito de viver." Ele sabia que sua visão estava sendo cada vez mais isolada dentro da alcateia, mas seu coração pulsava com a esperança de que houvesse uma forma de reconectar os dois mundos — o dos lobisomens e o dos humanos.
Christian estava em uma espécie de transe, absorvendo a dor que o percorria e pensando nas consequências de suas ações. Ele estava imerso em seus próprios pensamentos, tentando encontrar uma maneira de unir dois mundos que pareciam destinados a se separar. Quando de repente, um som de passos quebrando os galhos secos fez seu coração acelerar. Instintivamente, ele levantou a guarda, suas garras afiadas prontas para atacar qualquer ameaça que se aproximasse. Mas, em meio à folhagem, apareceu Catarine, a garotinha humana que ele havia ajudado a escapar do ataque de Demétrio. Ele relaxou ao ver o rosto familiar, aliviado por perceber que não era um inimigo. "Catarine..." ele exclamou, seu tom de voz se suavizando. A preocupação em seu olhar desapareceu, substituída por um leve sorriso. "Oi, Christian." A garota se aproximou dele com determinação, ainda mancando levemente pela ferida recente. Em suas mãos, ela segurava um kit de primeiros socorros, um gesto que a tornava ainda mais admirável aos olhos de Christian. "O que está fazendo aqui?" Ele perguntou, confuso, observando-a com interesse. Por um momento, tudo o que ele desejava era um pouco de paz em meio à tempestade de conflitos ao seu redor.
"Meu pai me ensinou a nunca ficar devendo favores para ninguém," Catarine respondeu, com um brilho de determinação em seus olhos. "Você me ajudou, então estou aqui para retribuir o favor." Ela se ajoelhou ao lado dele, sua pequena mão começando a trabalhar nas feridas expostas de Christian. Com um cuidado que superava sua idade, ela começou a limpar os cortes e arranhões, e ele ficou surpreso com a firmeza de seus gestos. Enquanto ela tratava suas feridas, Christian se perdeu em seus pensamentos. Aquela garotinha, com suas cicatrizes e força, era um símbolo de esperança para ele. "Você realmente não deveria estar aqui, Catarine. Isso é perigoso," ele disse, sua voz grave ainda carregando um tom de preocupação. "Eu não me importo," ela respondeu, sem hesitação. "Se não fosse por você, eu não estaria aqui agora. E eu não posso deixar um amigo para trás." As palavras dela o tocaram profundamente. Naquele momento, a conexão entre os dois se solidificou, e Christian percebeu que havia algo mais significativo em sua relação do que ele havia imaginado. "Você é muito corajosa," Christian disse, enquanto ela continuava a trabalhar. Ele sentiu a dor diminuir um pouco, não apenas devido ao tratamento, mas também pela presença dela ao seu lado. "E isso não é algo que eu esperava encontrar em uma garotinha." Catarine sorriu, suas bochechas um pouco vermelhas. "Não sou tão pequena assim," ela respondeu com um sorriso tímido, embora o orgulho estivesse evidente em sua voz. "E não importa o que seja, eu vou ajudar você. Você fez isso por mim, e agora é minha vez."
Enquanto ela terminava de cuidar de suas feridas, Christian sentiu uma onda de gratidão e proteção por ela. "Você sabe que Demétrio não vai parar até que eu seja encontrado, certo?" ele disse, a preocupação voltando a tomar conta de seus pensamentos. "Eu sei," respondeu Catarine, levantando a cabeça e olhando nos olhos dele. "Mas você não está sozinho. Você tem a mim e a todos os que você salvou. Você é mais forte do que pensa." Christian ficou em silêncio, absorvendo as palavras dela. Para uma criança de apenas oito anos, ela tinha uma sabedoria impressionante. Ele se deu conta de que, mesmo em meio ao caos, havia um pequeno raio de esperança. E esse raio era Catarine. "Obrigado," ele disse sinceramente. "Você me deu mais força do que pode imaginar." Com isso, ele se levantou, sentindo-se um pouco melhor, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente. "Vamos voltar para a vila juntos. É perigoso aqui, e você deve estar segura." Catarine assentiu, sua determinação inabalável. "Estou pronta." E, juntos, eles se moveram, prontos para enfrentar o que viesse pela frente.
Enquanto caminhavam pela floresta, o silêncio entre Christian e Catarine era quebrado apenas pelo som de folhas secas sob seus pés e o suave farfalhar das árvores. O sol ainda estava alta, iluminando o caminho por onde passavam, enquanto eles seguiam juntos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. "Como você virou um lobisomem?" Catarine perguntou, curiosidade e receio misturados em sua voz. Christian olhou para a garota ao seu lado, suas memórias antigas surgindo à tona. Ele hesitou por um momento, antes de responder com calma. "Foi Demétrio... ele me transformou mais de mil anos atrás. Eu era humano, como você." Catarine arregalou os olhos. "Mil anos? Quanto tempo você tem?" Christian riu baixinho, quase se divertindo com a surpresa dela. "Tenho 1239 anos, embora pareça que tenho 18." Catarine ficou boquiaberta. "Isso significa que você é imortal?" "Mais ou menos," Christian respondeu, olhando para o sol através das copas das árvores. "Eu envelheço bem mais devagar que os humanos. A força lupina que me mantém vivo por tanto tempo... é como uma espécie de maldição da eternidade." Ele suspirou, o peso de suas palavras refletindo a longa vida que havia vivido. "Mas isso também traz solidão e perdas que se acumulam com o tempo." Catarine observava em silêncio, começando a compreender que o lobo branco ao seu lado carregava muito mais do que apenas força. Ele carregava a eternidade.
"Solidão?" Catarine perguntou curiosa. "Sim, eu...costumava ter dois melhores amigos. Eros e Demétrio... Eros, tornou-se um vampiro, e eu raramente o vejo, e Demétrio, bem, estou me afastando dele e da minha alcateia a cada década que passa...ele tem sede de poder, e ele sabe que quanto mais sangue inocente ele devorar, de mulheres e crianças, mais sua pelagem vai escurecer, e mais seu poder vai aumentar. Nós chamamos isso de...maldição do lobo negro." "Maldição do lobo negro?" Perguntou Catarine confusa. "Sim, a maldição do lobo negro é quando o lado maligno do lobisomem assume. Quanto mais maligna é nossa alma, mais escura é nossa pelagem." Catarine sorriu, sabendo que a pelagem de Christian era branca como a neve. "Isso significa que você tem um coração bom, Chris?" Christian parou por um momento ao ouvir a pergunta de Catarine, seus olhos negros suavizando um pouco enquanto ele olhava para o chão coberto de folhas. O silêncio da floresta ao redor deles parecia amplificar a intensidade do momento. "Eu... não sei," ele respondeu honestamente, a voz grave e distante. "Ter uma pelagem branca não significa que minha alma esteja totalmente livre da escuridão." Ele suspirou e continuou caminhando, mas mais devagar agora, como se estivesse refletindo sobre algo que carregava dentro de si há muito tempo. "Já fiz coisas que não me orgulho. Às vezes, quando você vive por tanto tempo, acaba cometendo erros... machucando pessoas... nem sempre você consegue evitar o lado sombrio."
Catarine olhou para ele, ainda sorrindo levemente. "Mas você não é como Demétrio. Você me ajudou, salvou minha vida, quando podia ter simplesmente me deixado para trás." Christian deu um pequeno sorriso amargo. "Talvez seja só porque estou cansado de tanto sangue e morte. Talvez eu esteja tentando compensar os erros do passado." Ele olhou para ela, os olhos vermelhos faiscando por um breve momento antes de voltarem à cor normal. "A maldição do lobo negro... ela pode dominar qualquer um de nós se nos rendermos ao ódio, ao desejo de poder e à violência. Demétrio está cada vez mais perto de se tornar uma fera completamente consumida pela escuridão." Catarine pensou por um momento, ainda intrigada. "Então, por que você não se deixa ser consumido? Se viver tanto tempo traz tanta dor, por que você não se rende?" Christian soltou uma risada breve, amarga. "Talvez porque eu ainda acredite que haja algo mais... algo além da maldição. Algo que valha a pena lutar. Mesmo que eu nunca tenha certeza do que é." Catarine, apesar de sua juventude, parecia entender a dor que Christian carregava. Ela tocou seu braço de leve, o olhar dela suave, mas firme. "Você salvou minha vida, Chris. Pra mim, isso já significa que você é diferente." O lobo branco a observou por um momento, sentindo uma pequena faísca de algo que há muito tempo não sentia: esperança. Mesmo que fosse mínima, ela estava ali, acesa pela pequena garota humana que agora caminhava ao seu lado.
Christian caminhava ao lado de Catarine enquanto a acompanhava até sua casa, seus passos silenciosos contrastando com os da garota, que ainda mancava levemente. A luz quente do sol brilhava no céu, banhando a floresta com uma luz pálida, enquanto o som distante de pássaros e o farfalhar das folhas preenchiam o ar noturno. "Então, você mora na loja de forja?" perguntou Christian, a curiosidade suave em sua voz. Catarine assentiu, envergonhada, seus olhos cor de mel evitando os dele. "Sim... costumava ter uma casa, mas... bem, a alcateia destruiu tudo. Juntamente com a vida da minha mãe." Sua voz tremeu um pouco ao mencionar isso, mas havia uma força ali, uma resiliência que Christian admirava. Ele suspirou profundamente, olhando para a menina com uma expressão de empatia genuína. "Eu sinto muito, garota..." disse ele, a dor em sua voz ecoando não só pelas palavras, mas pela culpa silenciosa que carregava pelo que sua alcateia havia feito.
Catarine sorriu levemente, com uma maturidade que parecia além de seus anos. "Não é culpa sua. Eu vejo em seus olhos que você quer consertar tudo que está quebrado na sua alcateia." Christian olhou para ela, surpreso com a percepção da garota. Poucas pessoas conseguiam enxergar além de sua aparência lupina, e muito menos entendiam o fardo que ele carregava. Ele deu um pequeno sorriso, embora melancólico. "Sim... é o meu maior desejo. Ver vampiros, humanos e lobisomens vivendo em paz. Um sonho que parece impossível." Catarine parou por um momento e olhou para ele, seu rosto sério. "Quem sabe eu não consiga te ajudar nisso." Christian ergueu uma sobrancelha, claramente cético, mas havia uma leve diversão em sua expressão. "Você, uma garotinha humana?" Ele riu brevemente, mas logo parou, percebendo que Catarine não estava brincando.
Ela o encarou com determinação. "Você me subestima por ser jovem, mas eu já enfrentei lobos, sobrevivi, e conheço essa vila melhor do que qualquer um. Se há algo que eu aprendi, é que os humanos têm que se adaptar para sobreviver. Eu sou boa nisso. E talvez você precise de alguém com uma perspectiva diferente." Christian ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre o que ela disse. Havia algo de surpreendente naquela menina. Uma força que ia além da simples sobrevivência. Ele não sabia como, mas algo lhe dizia que talvez ela fosse a peça que faltava em sua luta contra Demétrio e a maldição da alcateia. "Talvez você tenha razão, garota. Talvez." Christian disse, mais para si mesmo do que para ela. Christian parou ao ouvir a voz de Catarine, prestes a desaparecer entre as sombras da floresta. Ele se virou lentamente, um sorriso suave e quase intrigado no rosto enquanto olhava para a garota. "Você... pretende me visitar mais vezes? Somos amigos, certo?" perguntou ela, sorrindo de um jeito que misturava timidez e ousadia. Christian riu baixinho, cruzando os braços enquanto a observava. "Isso pode ser o início de uma boa amizade," disse ele, bagunçando os cabelos dela de maneira brincalhona. Catarine corou instantaneamente, franzindo a testa em uma tentativa de parecer séria. "Ei, não mexe no meu cabelo, lobo. Você e eu ainda somos de espécies inimigas," resmungou ela, embora o tom de voz não carregasse nenhuma verdadeira hostilidade. Christian ergueu as mãos em um gesto de rendição, rindo. "Claro, claro. Não vou mais bagunçar seu cabelo." Ele deu um passo para trás, pronto para retornar à floresta, mas algo em seu peito o fez hesitar. "Ei," ela o chamou de novo, agora com um toque de incerteza em sua voz. "O que foi?" ele respondeu, inclinando a cabeça de leve, curioso. Catarine pareceu hesitar por um segundo, mas então, sorrindo com uma confiança recém-descoberta, ela perguntou: "Você não me respondeu, você... pretende me visitar mais vezes?"
Christian a observou por um momento, pensando na estranha conexão que já se formava entre eles. Havia algo naquela garota que o fazia sentir uma certa paz, algo que ele não tinha há muito tempo. "Sim," ele disse finalmente, seus olhos se suavizando. "Somos amigos." Catarine assentiu, o sorriso dela ampliando-se. "Isso mesmo. Amigos." Christian deu um último olhar para ela antes de finalmente se afastar, desaparecendo entre as árvores, sabendo que ele voltaria. Afinal, mesmo em mundos diferentes, algumas amizades valiam a pena. Johann Schmied entrou em casa, exausto e com o semblante carregado, após a reunião com os outros líderes da vila. O cheiro da forja ainda pairava no ar, misturado com o de metal e carvão queimado, enquanto ele pendurava o casaco no canto da sala. Catarine estava sentada em uma cadeira, ajustando o curativo em sua perna, mas quando viu o pai, levantou-se rapidamente.
"Como foi a reunião, papai?" ela perguntou, sua voz carregada de curiosidade, embora já soubesse qual seria o tom da resposta. Johann suspirou, passando a mão pelos cabelos grisalhos enquanto se aproximava dela. "Foi o que esperávamos, Catarine. Todos concordaram que precisamos continuar vigilantes e eliminar todos os lobos que encontrarmos na floresta. Não podemos permitir que mais famílias sejam destruídas por essas... criaturas." Catarine engoliu em seco, sentindo o peso daquelas palavras. Ela sabia o quanto seu pai odiava os lobisomens, especialmente após a morte de sua mãe, mas não conseguia deixar de lembrar de Christian e da forma como ele a havia ajudado. A hesitação a fez falar mais do que deveria. "Nem todos os lobos são ruins, papai." Johann parou, virando-se lentamente para ela, seu olhar se tornando rígido e severo. "O que disse?"
"Nem todos os lobos são ruins," ela repetiu, desta vez mais firme, embora sentisse o peso da desaprovação do pai. "Há alguns que... não são como Demétrio e sua matilha. Eu vi isso com meus próprios olhos." Os olhos de Johann se estreitaram, e ele cruzou os braços, olhando para ela com incredulidade e frustração. "Ficou louca, garota? Claro que são! São todos criaturas terríveis que querem devorar pessoas! Foi um lobo que levou sua mãe! Um lobo que destruiu nosso lar! Você está esquecendo isso?" A voz dele subiu, ecoando pelo ambiente. Catarine mordeu o lábio, o coração apertado com a intensidade da reação de Johann. "Eu sei o que aconteceu com a mamãe, mas nem todos são iguais. Eu sei disso... porque um deles me salvou." O rosto de Johann ficou pálido por um segundo, os olhos arregalados. "O quê?" Ele deu um passo à frente, segurando os ombros da filha com força. "Você se encontrou com um lobisomem?" Catarine ficou em silêncio por um momento, o olhar firme, mas vulnerável. "Sim, mas ele não me machucou. Pelo contrário... ele me trouxe de volta para casa, em segurança." Johann soltou os ombros dela, dando alguns passos para trás, perplexo. "Isso... isso não faz sentido. Não há lobos bons, Catarine. Eles são monstros, sempre serão." "Talvez seja verdade para a maioria," ela respondeu suavemente. "Mas esse lobo... ele é diferente, papai. Eu acho que ele quer a paz tanto quanto nós." Johann balançou a cabeça, sua mente inundada por confusão e raiva. "Você está sendo ingênua, filha. Não podemos confiar neles. Não podemos arriscar mais vidas por um momento de fraqueza." Catarine abaixou a cabeça, sabendo que não poderia convencê-lo agora, mas também sentindo no fundo do coração que Christian não era como os outros. "Só... pense nisso," ela sussurrou. Johann ficou em silêncio, observando a filha antes de dar as costas e sair da sala, deixando a tensão entre eles pairar no ar.
Christian caminhava pela floresta densa, o som de suas botas pisando nas folhas secas abafado pela brisa noturna. Ele olhava para o curativo improvisado em seu braço, feito com um pano que Catarine havia usado para cobrir seus ferimentos. Uma sensação estranha, quase calorosa, passou por ele. "Aquela garota...," ele murmurou, sorrindo de leve, enquanto o pensamento da pequena humana ajudando-o o fazia refletir sobre as possibilidades de paz. Não demorou muito para que ele sentisse o cheiro familiar de Caspian se aproximando. Christian parou e olhou para frente, o jovem lobo emergindo das sombras das árvores, seu olhar severo e carregado de desdém. "Então, é verdade," Caspian começou, sua voz gélida. "Você realmente está se misturando com os humanos agora?" Christian bufou, já esperando o confronto. "Eles não são como você pensa, Caspian. Não todos." Caspian deu um passo à frente, suas garras já se mostrando, os músculos do pescoço tensionados. "Você está esquecendo quem você é, Christian. Nós somos lobos. É nossa natureza caçar, é nossa natureza dominar. Humanos não são aliados, são presas."
"Eu não sou como você," respondeu Christian, firme. "Há uma escolha. Não precisamos ser monstros." Caspian rosnou baixo, seu olhar feral fixo em Christian. "Você está traindo sua própria espécie! Proteger humanos, recusando-se a lutar... Demétrio não vai tolerar isso." "Talvez Demétrio precise aprender que esse caminho só vai levar à destruição de todos nós," retrucou Christian, a calma em sua voz escondendo a raiva crescente. "Se continuarmos assim, vai chegar um dia em que não restará nada para caçar. Nem mesmo entre nós." "Você sempre foi fraco," provocou Caspian. "Sempre lutando contra o que você realmente é. Um lobo que tem medo da própria natureza." Antes que Christian pudesse responder, uma presença esmagadora envolveu o ambiente. Demétrio apareceu, sua armadura prateada brilhando, o olhar azul profundo e severo, fixo em Christian. "Christian," a voz de Demétrio era baixa, mas cada palavra parecia um trovão. "Você continua se afastando de nós. Se recusando a aceitar o destino da nossa espécie." Christian se virou lentamente, enfrentando seu alfa. "Eu não posso seguir esse caminho, Demétrio. Matar humanos... não é a resposta." Demétrio deu alguns passos adiante, sua postura imponente e seu olhar penetrante fazendo Caspian se afastar levemente, respeitoso. "Se você continuar com essa tolice, recusando-se a caçar, protegendo aqueles fracos... então não será mais um de nós."
Christian respirou fundo, sentindo o peso da decisão que precisava tomar. "E o que você sugere, Demétrio?" Demétrio sorriu de forma sinistra, seus dentes levemente expostos, enquanto sua voz ficava mais ameaçadora. "Se você se negar a matar humanos, se negar a seguir nossas ordens, você se tornará um inimigo oficial da Silver Moon." Caspian, ao lado de Demétrio, mostrou um sorriso satisfeito, como se já estivesse ansioso para ver Christian cair em desgraça. "Então, o que vai ser, Christian? Vai aceitar seu lugar entre nós ou escolher morrer ao lado dos humanos?" Christian olhou para ambos, seus olhos alternando entre o vermelho intenso e o negro. Ele sabia que aquela decisão mudaria tudo. "Se esse é o preço por seguir o que eu acredito," ele disse calmamente, "então que seja. Mas eu não vou trair minha própria alma." Demétrio estreitou os olhos, sua postura ficando ainda mais rígida. "Você acabou de assinar sua sentença, Christian." Sem mais palavras, Demétrio deu um último olhar, virando-se e caminhando de volta para a clareira, seguido de Caspian, que lançou um olhar de desprezo antes de desaparecer nas sombras. Christian ficou sozinho por um momento, sentindo o peso da sua escolha, mas ao olhar novamente para o curativo no braço, sentiu que havia tomado a decisão certa. Mesmo que isso significasse ser um lobo solitário.