Na manhã seguinte, os primeiros raios de sol filtravam-se pelas janelas da cabana, iluminando suavemente o interior com uma luz dourada. O cheiro do café fresco preenchia o ar, misturando-se ao perfume da tinta que Catarine havia espalhado em sua mesa de trabalho. O espaço estava repleto de telas e pincéis, um refúgio criativo que ela havia montado ao longo dos anos, um lugar onde suas emoções podiam fluir livremente em cores e formas. Catarine estava absorta em seu trabalho, concentrando-se em cada traço que fazia no papel. Ela havia decidido criar um retrato da sua família, uma imagem que capturasse a essência deles, os momentos que haviam compartilhado e o amor que ainda os unia. Com cada pincelada, ela sentia um misto de esperança e dor, lembrando-se do quanto as coisas haviam mudado, mas também do quanto ainda podiam se recuperar. O primeiro a ser retratado foi Christian, seu rosto forte e decidido, mas agora com uma suavidade que só ela conseguia ver. Ela pintou os olhos dele, que eram um reflexo de tantas emoções — amor, preocupação, dor e esperança. Ele era a âncora da família, sempre tentando guiá-los para a luz, mesmo quando as sombras pareciam ameaçadoras.
Ao lado dele, Catarine começou a esboçar Caleb, seu pequeno garoto, com seu sorriso inocente e olhos curiosos. Ele era a centelha de alegria em suas vidas, e ela se lembrou de como suas risadas eram como música em meio ao caos. Com cada movimento de seu pincel, ela tentou capturar a essência da infância, a inocência que ainda habitava seu coração. Finalmente, ela virou sua atenção para Derik, o recém-nascido, e seus traços delicados. Catarine se esforçou para retratar a paz que ele trazia, a esperança de um futuro mais luminoso. Ao desenhar cada pequeno detalhe de seu rostinho, ela sentiu uma onda de amor e proteção, desejando que a vida dele fosse repleta de alegrias e não das lutas que ela enfrentara. Enquanto trabalhava, uma lágrima escorregou pelo rosto de Catarine, misturando-se com a tinta que havia na sua mão. Era uma lágrima de dor, mas também de libertação. Ela não podia mudar o que havia acontecido, mas poderia criar um futuro diferente, um futuro que ela esperava que os quatro pudessem compartilhar juntos. Quando terminou, ela recuou para admirar sua obra. O retrato era mais do que uma simples representação de sua família; era uma declaração de amor, uma promessa de que, apesar das dificuldades, eles ainda eram uma unidade, uma força. A luz suave do sol fazia com que as cores vibrassem, trazendo vida à tela, assim como o amor trazia vida a sua casa. Catarine sorriu para o retrato, sentindo-se renovada. Era hora de se reunir com Christian e os meninos, para mostrar a ele o que havia criado. Naquele momento, ela sentiu que, apesar de todas as tempestades que haviam enfrentado, havia uma nova esperança florescendo dentro dela, e ela estava pronta para abraçar essa nova fase de suas vidas.
Catarine encontrou Christian na sala, onde ele estava sentado em uma cadeira de madeira, olhando pela janela. A luz suave da manhã iluminava seu rosto, e, por um momento, ela sentiu seu coração se aquecer ao vê-lo ali, absorto em seus pensamentos. Ela segurava a pequena tela com as duas mãos, nervosa, mas esperançosa. Aproximou-se dele, sua respiração acelerada, enquanto a emoção crescia dentro dela. "Christian," ela começou, sua voz suave como o sussurro da brisa, "eu gostaria de te mostrar algo." Ele se virou, um olhar curioso surgindo em seus olhos. "O que é, Cate?" Com um sorriso tímido, Catarine ergueu a tela na altura dos olhos dele. "É... é um retrato da nossa família," disse ela, a ansiedade tingindo suas palavras. "Eu pintei hoje de manhã." Christian olhou para a tela, seus olhos se arregalando à medida que a imagem começava a se revelar. A expressão em seu rosto foi de surpresa, seguida por uma mistura de emoção e amor. A pintura capturava não apenas a aparência de cada um deles, mas também a essência de sua conexão. “É lindo,” ele murmurou, a voz embargada. “Catarine, você realmente capturou… tudo isso.” Ela observou enquanto ele se aproximava, estudando cada detalhe da pintura. A forma como ele olhou para o retrato — com admiração e um leve toque de nostalgia — fez seu coração se encher de esperança. A cena mostrava Christian, forte e protetor, ao lado dela, com seu olhar caloroso e carinhoso. Caleb estava ao lado, um sorriso radiante no rosto, enquanto Derik, envolto em um cobertor, trazia uma nova luz à composição, como se estivesse sempre ali.
"Você fez isso enquanto estava… longe de mim?" Christian perguntou, a voz quase um sussurro. Havia um brilho de dor em seus olhos, mas também um cintilar de algo mais — uma pequena chama de esperança. "Sim," Catarine respondeu, seu coração acelerando. “Eu precisava lembrar o que éramos, o que ainda podemos ser. Este retrato… é uma promessa de que, mesmo com todas as dificuldades, nossa família ainda é tudo. E sempre será.” Christian não tirava os olhos da pintura. Depois de alguns momentos, ele se virou para ela, e a intensidade de seu olhar fez com que a respiração de Catarine parasse por um breve instante. “Cate, eu…” Antes que ele pudesse completar a frase, Catarine deu um passo à frente, o nervosismo a dominando novamente. "Eu sei que temos muito a discutir, que muitas coisas mudaram. Mas eu quero que você veja isso como uma nova oportunidade. Uma chance para reconstruir o que tínhamos." Christian soltou uma respiração profunda, claramente tocado. Ele inclinou-se para a frente, tocando a tela com a ponta dos dedos, como se quisesse sentir cada emoção que havia ali. “Você realmente acredita que podemos fazer isso?” “Sim,” ela afirmou, sentindo a força de suas próprias palavras. “Eu quero acreditar. E quero que você também acredite.” Ele se levantou, os olhos nunca deixando a pintura, e então, lentamente, se voltou para ela. “Então, vamos fazer isso juntos. Eu não quero mais viver na sombra do que já aconteceu. Estou pronto para lutar por nós e por nossos filhos.” O coração de Catarine se encheu de alegria ao ouvir aquelas palavras. Ele deu um passo em direção a ela, e a tensão que havia permeado suas vidas começou a dissipar-se, substituída por uma sensação de renovação. “Vamos começar de novo,” Christian disse, sua voz firme, enquanto ela assentia com um sorriso. Catarine se aproximou, e juntos, observaram a pintura — um símbolo do que era, do que poderia ser e do amor que ainda permanecia entre eles. Naquele momento, a tela não era apenas uma obra de arte, mas um novo começo, um sinal de que a esperança ainda tinha um lugar em suas vidas.
Catarine entrou no quarto, o cansaço estampado em seu rosto, mas ao mesmo tempo, uma sensação de alívio a envolvia. Os sons suaves da respiração de Caleb e Derik ecoavam de longe, criando uma atmosfera tranquila que contrastava com a agitação dos últimos meses. Christian estava deitado na cama, as luzes suaves lançando um brilho cálido sobre seu corpo, e seus olhos se encontraram instantaneamente. "Oi," ela disse, um sorriso leve iluminando seu rosto ao vê-lo. “Eles dormiram.” Christian retribuiu o sorriso, mas havia uma intensidade em seu olhar que a fez hesitar. Enquanto ela se despia da túnica, ele a observava com uma mistura de admiração e desejo. As memórias dos momentos difíceis que haviam enfrentado começaram a se dissipar, dando espaço a algo mais doce e esperançoso. “O que foi?” Catarine perguntou, a curiosidade transparecendo em sua voz. Ela se deitou ao seu lado, o espaço entre eles parecendo carregado de promessas não ditas. “Nada,” Christian respondeu, mas sua hesitação dizia o contrário. Ele desviou o olhar por um instante, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Finalmente, ele respirou fundo e disse: “Eu só acho que deveríamos fazer amor hoje. Já faz... um tempo.” As palavras pairaram no ar, e Catarine sentiu um frio na barriga. Ela tinha desejado esse momento, sonhado com a conexão que perderam, mas a proposta de Christian trouxe à tona tanto anseio quanto receio. “Você acha que estamos prontos para isso?” Ela perguntou, a voz suave, mas firme.
“Eu quero que estejamos,” ele respondeu, seu olhar fixo no dela, como se estivesse esperando por sua resposta. “Sinto que precisamos disso, para nós, para nossa família. Para recomeçar.” Catarine olhou em seus olhos, onde encontrou não apenas desejo, mas também vulnerabilidade e sinceridade. A ideia de se reconectar com ele, de compartilhar um momento íntimo, fez seu coração disparar. Ela sentia que esse ato seria mais do que apenas uma forma de prazer; seria um passo em direção à cura e à renovação do amor que sempre existira entre eles. “Eu quero isso também,” ela disse, um leve sorriso surgindo em seus lábios. “Vamos nos permitir essa chance.” Christian se aproximou, seu toque delicado acariciando seu braço, enquanto o espaço entre eles se tornava cada vez menor. O mundo exterior parecia desaparecer, e tudo o que importava naquele momento era a presença um do outro. “Então, vamos aproveitar esse momento,” ele disse, com um brilho em seus olhos que a fez sentir-se amada e desejada. Ela se deixou levar por aquela sensação, permitindo que o desejo e a paixão fluíssem entre eles, enquanto a noite envolvia o quarto em um manto de intimidade e conexão renovada.
Christian aproximou-se de Catarine, seus olhos fixos nos dela, como se buscasse confirmação. Quando seus lábios finalmente se tocaram, foi como se o mundo ao redor deles desaparecesse, deixando apenas a intensidade daquele momento. O beijo começou suave, hesitante, mas rapidamente se transformou em algo mais profundo, mais urgente. Catarine sentiu o calor de seu corpo contra o dela, e a lembrança dos desafios que enfrentaram nos últimos meses começou a se dissipar, dando lugar a um desejo avassalador. As mãos de Christian deslizaram pela sua pele, explorando cada curva, cada centímetro, como se redescobrisse a mulher que sempre amou. Ela retribuiu o toque, seus dedos perdendo-se nos cabelos dele, puxando-o mais perto, aprofundando o beijo. O quarto, iluminado apenas pela luz suave da lua que entrava pela janela, tornou-se um santuário, um espaço onde podiam se perder um no outro sem as sombras do passado os assombrando. Christian se moveu com delicadeza, como se temesse quebrar algo precioso, enquanto a tocava. Cada toque, cada suspiro, era uma forma de expressar tudo o que palavras não podiam. Catarine sentiu-se segura em seus braços, a tensão que antes os separava se transformando em uma conexão visceral. As roupas foram despidas, caindo ao chão como barreiras que finalmente se desfaziam. O calor dos corpos se misturou, e cada movimento se tornava mais confiante, mais apaixonado. Christian a puxou para mais perto, como se quisesse fundir suas almas em uma única entidade.
O ritmo de seus corpos se ajustou, e Catarine se deixou levar pela onda de prazer que a envolvia. Os gemidos e sussurros se entrelaçavam, criando uma melodia única que falava de amor, de dor, de superação. A presença dele a fazia sentir-se completa, como se finalmente encontrasse seu lugar no mundo. Com cada toque, cada movimento, a conexão entre eles se aprofundava. Eles se tornaram um só, um organismo pulsante que compartilhava não apenas prazer, mas um profundo entendimento e aceitação. Christian a olhou nos olhos, e ela viu a determinação e o amor refletidos nele. Isso não era apenas sobre o corpo; era sobre suas almas se reencontrando, curando feridas que pareciam intermináveis. À medida que a intensidade aumentava, Catarine sentiu uma onda de emoção invadir seu ser. Era como se todo o peso que carregavam juntos, todas as brigas e desentendimentos, fossem substituídos por uma nova esperança. Eles eram mais fortes juntos, e aquele momento era a prova disso. O clímax chegou como uma tempestade, levando-os a um lugar onde tudo fazia sentido. Os corpos se contorceram em um abraço apertado, enquanto a onda de prazer os envolvia. E naquele instante, todos os medos, todas as incertezas, se dissiparam, deixando apenas o amor pulsante que os unia. Christian e Catarine permaneceram ali, entrelaçados, o silêncio do quarto preenchido apenas pelos ecos de suas respirações. O passado ainda estava lá, mas agora, ao lado um do outro, estavam prontos para enfrentar o que quer que viesse. Eles tinham se reencontrado, e isso era tudo o que importava.
Catarine acordou com o frio da madrugada, a escuridão preenchendo o quarto como um manto pesado. Ao olhar para Christian, que dormia tranquilamente ao seu lado, seu coração se encheu de um misto de amor e culpa. Ele parecia tão pacífico, tão inocente, e isso a deixava ainda mais angustiada. Ela se levantou devagar, para não acordá-lo, e vestiu-se, seus pensamentos se agitando como as ondas do mar. "Christian... eu sinto muito," murmurou para si mesma, sua voz quase um sussurro. "Só mais uma noite... uma única noite... e eu juro que paro, pra sempre." Aquelas palavras pareciam uma promessa e uma maldição ao mesmo tempo. A luta dentro dela era intensa; o desejo primal a chamava, sussurrando que ainda havia uma última oportunidade, uma última chance de ceder à escuridão que se escondia em seu interior. Ela sabia que estava errada, mas o apelo da bestialidade era forte, e suas resoluções se desfaziam como areia ao vento. Caminhando silenciosamente até o quarto das crianças, o coração de Catarine batia acelerado. Ela se inclinou sobre Caleb e Derik, dando um beijo suave na testa de cada um. O toque de seus lábios na pele deles era um lembrete do que realmente importava, do que estava em risco. Mas a sombra da escuridão ainda a puxava, quase como se soubesse que ela estava prestes a falhar novamente. Os rostos inocentes de seus filhos a observaram enquanto ela se afastava, uma mistura de amor e dor preenchendo seu peito. "Desculpem-me," ela murmurou, a consciência pesada enquanto se movia para fora da casa. As estrelas brilhavam acima, mas a escuridão dentro dela parecia consumir tudo ao seu redor.
A floresta a chamava, e a conexão com sua natureza primitiva era inegável. Ela não podia ignorar o que era. E mesmo com o amor que sentia por Christian e os filhos, havia algo dentro dela que ansiava por se soltar, por explorar os limites da sua própria escuridão. Com passos silenciosos, Catarine desapareceu na noite, deixando para trás o lar que tanto amava, a promessa que havia feito a si mesma se esvaindo como fumaça. A escuridão era implacável, e ela estava prestes a ceder a mais uma noite de atrocidades. A noite estava carregada de um silêncio profundo, mas em seu interior, Catarine sentia a agitação crescente da besta que habitava seu ser. A lua iluminava seu caminho enquanto ela se movia pela floresta, a forma lupina tomando conta de seu corpo. O cheiro estava no ar, intoxicante e irresistível. Era o aroma doce e inocente das crianças, e ela se viu irresistivelmente atraída por ele, seus instintos primitivos guiando seus passos até a igreja católica da vila.
Ao se aproximar da estrutura gótica, as vozes do padre e das crianças ressoavam em meio ao ar frio da noite. Um sentimento de euforia misturado com anseio invadiu suas veias. Catarine estava além de qualquer controle, mergulhada em um estado de frenesi enquanto a porta da igreja se abriu. Ela não tinha intenção de ser discreta; sua forma lupina emitiu um brilho sobrenatural sob a luz da lua. Dentro, o padre celebrava a missa de meia-noite, cercado por oito crianças órfãs, todas sentadas em bancos, com os olhos brilhando de inocência e curiosidade. O ambiente era iluminado por velas tremeluzentes, que lançavam sombras dançantes nas paredes. Catarine entrou como um espectro, uma presença que transformaria a paz em caos. Os olhos do padre se arregalaram de terror ao avistar a criatura. Ele mal teve tempo de gritar antes de Catarine avançar, suas garras afiadas reluzindo. A primeira criança, assustada, não teve tempo de reagir. O lobo a pegou com um movimento rápido, o cheiro de sangue fresco invadindo o ar. O horror se espalhou pelo pequeno grupo como fogo em palha seca. Um grito se seguiu, depois outro, mas Catarine estava perdida em um frenesi incontrolável.
Um a um, os inocentes foram consumidos pela fome da besta, o altar que antes simbolizava esperança se tornando um campo de atrocidade. O padre, em um último ato de bravura, tentou proteger as crianças, mas seu esforço foi em vão. Catarine o derrubou com facilidade, suas garras cravando-se em sua carne, silenciando sua voz de fé. O sangue escorreu pelo chão, e o eco do horror reverberou nas paredes da igreja. Mas antes que ela pudesse mergulhar ainda mais na escuridão, uma figura surgiu à porta: um guarda, que havia estado de plantão e agora estava horrorizado com a cena diante de seus olhos. Ele gritou, mas sua voz foi engolida pelo som da carnificina. Em um ato de desespero, o guarda puxou sua lança de prata e lançou-a na direção da besta. O impacto foi brutal. A lança cravou-se no flanco de Catarine, e um grito agudo escapuliu de seus lábios enquanto a dor da prata queimava como fogo. Ela se contorceu, a forma lupina começando a se desfazer, a besta sendo forçada de volta ao seu interior. A magia da prata a dominava, e ela se viu devolvida à sua forma humana, caída no chão da igreja, nua e vulnerável, com o olhar aterrorizado do guarda fixo sobre ela.
Ele recuou, horrorizado com a transformação, e em um impulso de sobrevivência, saiu correndo, gritando por socorro, chamando os clérigos da vila para que vissem a abominação que estava à espreita. Catarine, agora desacordada, foi deixada ali, cercada por sangue e destruição. Quando despertou, foi em um ambiente frio e escuro, as paredes de pedra da masmorra da igreja a rodeando. Ela se lembrou vagamente dos rostos das crianças e do padre, o terror de seus olhares ainda fresco em sua memória. Mas a dor da prata ainda ardia em seu corpo, e a confusão tomou conta de sua mente. Um comitê religioso se reuniu acima dela, debatendo em vozes sussurradas e nervosas sobre o que fazer com a criatura que havia trazido tamanha devastação à sua vila. Enquanto a escuridão a envolvia novamente, Catarine se perguntou se alguma vez seria capaz de escapar do ciclo interminável de dor e arrependimento que a escuridão havia desencadeado.
Catarine estava deitada em uma cela fria e úmida, o ar ao seu redor carregado com o fedor do mofo e do sangue que ainda manchava o chão. As paredes de pedra a encarceravam, e o eco de vozes sussurrantes chegava até ela como um lamento distante. O medo a envolvia, mas algo mais profundo a mantinha em silêncio: uma resistência instintiva a admitir o que havia se tornado. Logo, a porta da masmorra se abriu, e um grupo de clérigos, com olhares severos e faces marcadas pela determinação, entrou na sala. Eles a rodearam, e a atmosfera se tornava cada vez mais opressiva. Um dos guardas, um homem de feições rugosas e olhos penetrantes, avançou e a encarou com desdém. "Você é uma bruxa, não é?" Ele perguntou, a voz carregada de desprezo. "Você se entregou à escuridão e se deixou consumir pela bestialidade. Responda!" Catarine olhou em volta, absorvendo a cena. O ódio e o medo pareciam dançar em torno dela, mas ela permaneceu em silêncio. Não estava pronta para falar, não estava pronta para se render. A dor da noite anterior ainda a assombrava, e ela se recusava a deixar que eles a quebrassem. O guarda deu um passo à frente, sua expressão se transformando em raiva. "Se você não responder, suas consequências serão severas." Ele gesticulou para que dois outros guardas a segurassem, enquanto ele retirava um objeto grotesco do bolso: uma pera de tortura. Feita de lâminas afiadas, o dispositivo era projetado para ser inserido e expandido, causando dor intensa e lacerações. "Por favor, não!" Uma parte de Catarine gritou, mas ela se manteve calada. O guarda se aproximou, um sorriso maligno se formando em seus lábios enquanto ele segurava a pera. "Vamos ver como sua resistência se mantém diante da dor."
Com um movimento brusco, ele inseriu o objeto em sua cavidade, e Catarine soltou um grito estridente. A dor foi instantânea e aguda, como se mil lâminas estivessem cortando sua pele. Ela se contorceu, tentando escapar do tormento, mas os guardas a seguraram com firmeza. "Responda, demônio!" O guarda exigiu novamente, a satisfação em sua voz clara como o dia. "Você é uma bruxa?" Catarine, entre lágrimas e dor, balançou a cabeça. "Não... por favor... eu não sou!" Sua voz estava trêmula, mas a dor apenas aumentava. Ele pressionou mais, e a sensação de ser dilacerada foi quase insuportável. "Você não vai escapar da verdade," ele continuou, enquanto aumentava a pressão da pera, e Catarine sentiu que estava prestes a desmaiar, cada vez mais perto do limite. "Fale, ou eu farei isso mais uma vez. Você é uma bruxa, Catarine, e você deve pagar por seus pecados!" A dor a invadia, mas mesmo assim, a resistência dela não desapareceu. Em sua mente, uma batalha feroz acontecia entre a vontade de se render e a necessidade de lutar. Mas à medida que a dor se tornava insuportável, suas defesas começaram a desmoronar.
"Eu... eu não sou uma bruxa!" ela gritou, mas as palavras saíram com uma súplica, e o guarda apenas sorriu, percebendo que estava se aproximando do seu objetivo. Ele girou a pera mais uma vez, e Catarine soube que, se não falasse, a dor a consumiria completamente. Catarine se encontrava em um pesadelo que parecia interminável. O frio das pedras sob seu corpo era um contraste cruel com o calor ardente da dor que a consumia. Ela havia sido uma mulher forte, uma mãe dedicada, e agora se via cercada por homens que se diziam enviados de Deus, mas que não eram nada além de monstros. Os gritos e as risadas cruéis dos torturadores ecoavam nas paredes da masmorra enquanto eles aumentavam as ameaças. Cada um deles tinha suas próprias justificativas, cada um acreditava que estavam fazendo o trabalho sagrado de limpar o mundo da maldade. As ameaças eram constantes, uma cascata de palavras venenosas que prometiam um sofrimento ainda maior se ela não falasse. “Você está tão longe da salvação, bruxa,” um deles disse, com um sorriso doentio. “A única maneira de escapar do seu destino é nos contar tudo. Se não, você verá o que significa realmente sofrer.”
Catarine fechou os olhos, tentando se concentrar em outra coisa, em qualquer coisa que não fosse a dor. Mas isso só trouxe um novo tipo de tortura. Ela lembrou-se de seus filhos, do olhar inocente de Caleb, do recém-nascido Derik, e a dor em seu coração era quase tão intensa quanto a que seu corpo sofria. Então, os métodos de tortura começaram. Primeiramente, eles a forçaram a ficar de pé em um dispositivo macabro, os estribos, que esticavam seus membros a cada movimento. O som de seus ossos rangendo sob a pressão fez com que ela quisesse gritar, mas se obrigou a permanecer em silêncio, determinada a não dar satisfação àqueles monstros. Mas a dor era insuportável. Em seguida, começaram a queimá-la. Chamas dançantes eram pressionadas contra sua pele, e ela poderia sentir a carne se desfazendo sob o calor. Os gritos que ecoavam por toda a masmorra não eram apenas os seus, mas também os de sua própria mente, implorando para que isso acabasse. Ela se viu lutando entre a resistência e a dor avassaladora que parecia se multiplicar a cada segundo. “Fale!” um dos homens gritou, segurando um pano sujo, e antes que pudesse reagir, ele a afundou em uma bacia de água. O líquido gelado a cercou, e ela lutou para respirar, o pânico crescendo à medida que a escuridão a engolia. Quando finalmente foi puxada para fora, ofegante e aterrorizada, os rostos dos torturadores eram os de demônios. “Você deve entender que não há saída, bruxa. A verdade virá à tona,” outro deles disse, enquanto segurava uma tocha, a luz da chama refletindo uma intenção cruel em seus olhos.
A tortura se intensificava a cada momento, cada novo ato de violência se tornava uma nova camada de dor. O desgaste emocional começou a afetá-la. Por dentro, a força que uma vez a sustentou começou a fraquejar. Ela tentava lembrar de seu lar, de seu amor, mas os gritos e os métodos cruéis a cercavam como um manto sufocante. E então, em meio a tudo isso, a resistência de Catarine começou a quebrar. Cada nova queimadura, cada novo afogamento, cada estiramento cruel em seus membros a levava a um ponto de ruptura. “Por favor... pare!” ela implorou em um momento de fraqueza, uma súplica desesperada que ela nunca pensou que faria. Mas eles não pararam. As torturas continuaram até o amanhecer, e quando a luz começou a entrar na cela, Catarine estava exausta, mal conseguindo manter os olhos abertos. A esperança de escapar estava se dissipando, e a necessidade de sobreviver, de proteger seus filhos, começou a se transformar em uma aceitação trágica.
Em um último ato de resistência, ela se disse que não falaria. “Não sou uma bruxa,” ela murmurou, mas sua voz estava tão fraca que mal podia ser ouvida. Mas enquanto as sombras se alongavam e a luz do dia começava a penetrar na masmorra, Catarine percebeu que, se quisesse ver seus filhos novamente, poderia ser obrigada a fazer o impensável. A dúvida a consumia, e a escuridão que a envolvia parecia se fechar cada vez mais. Christian acordou com uma sensação de vazio que parecia engolir sua alma. O sol já estava alto no céu, e a clareira estava silenciosa, mas ele sentia que algo estava terrivelmente errado. Ele se virou na cama e estendeu a mão, esperando encontrar o calor familiar de Catarine ao seu lado, mas a cama estava fria e vazia. O coração dele disparou, e uma onda de pânico começou a invadir sua mente. Levantou-se rapidamente, vestindo-se em um movimento automático enquanto chamava pelo nome de sua amada. “Catarine! Onde você está?” Sua voz ecoou pela alcateia, mas não obteve resposta. Christian correu para fora da cabana, sentindo a adrenalina percorrendo suas veias. Ele começou a perguntar aos outros lobos, um a um, se alguém a tinha visto.
“Catarine, você a viu?” ele questionou um a um, e a negação nos olhares dos outros o deixou cada vez mais inquieto. A cada resposta negativa, um sentimento de desespero começava a se formar dentro dele. Era comum que ela se afastasse por algumas horas, mas a sensação de que ela não estava apenas desaparecida, mas sim fugindo de algo terrível, começou a tomar conta de seus pensamentos. A lembrança das últimas noites, do olhar distante de Catarine e de suas atitudes cada vez mais estranhas, fez com que o pânico se transformasse em algo mais profundo. Ele não queria acreditar, mas uma ideia horrenda começou a se formar em sua mente: e se ela tivesse escapado novamente? E se a escuridão a tivesse levado para fazer atrocidades? O coração dele acelerou ainda mais, e ele decidiu que precisava agir. Sem pensar duas vezes, Christian partiu em direção à vila mais próxima, determinado a encontrar qualquer vestígio que pudesse indicar onde sua mulher estava. O dia foi se desenrolando lentamente, cada hora se arrastando enquanto ele percorria as ruas, perguntando a quem encontrava se tinha visto Catarine. Ele procurou em cada canto, em cada sombra, em cada rosto que passava. Os habitantes da vila olhavam para ele com uma mistura de curiosidade e medo, e muitos desviavam o olhar. Ele podia sentir que o clima na vila estava pesado, carregado de um temor que ele não compreendia. “Você a viu? Uma mulher de cabelos castanhos, olhos cor de mel?” ele insistia, a voz tremendo de angústia. Mas as respostas eram sempre as mesmas: nenhuma pista, nenhum sinal de que ela estava por ali.
Conforme o sol começava a se pôr, a luz do dia desaparecendo em um crepúsculo inquietante, Christian sentia a escuridão se aproximar, não apenas do céu, mas de seu coração. O pensamento de que Catarine pudesse ter cometido atos terríveis o atormentava, e a possibilidade de que ela estivesse machucando outras crianças o deixava em estado de choque. Mal sabia ele que, enquanto ele vagava em busca de sua amada, Catarine estava presa em um porão escuro e úmido, sendo torturada, forçada a confessar seus pecados em um lugar onde a compaixão e a compreensão não existiam. As vozes de seus torturadores ecoavam em sua mente, misturadas com a dor e a humilhação que ela enfrentava, enquanto Christian a procurava desesperadamente, sem saber que a verdadeira batalha dela estava sendo travada na escuridão daquela igreja.
Christian voltou para a alcateia com o coração pesado e uma mente turvada de desespero. A busca por Catarine havia se mostrado infrutífera, e cada hora que passava sem notícias dela apenas aumentava sua angústia. Ele se sentia como se estivesse preso em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Ao chegar, ele se encontrou com Demétrio e Caspian, ambos com expressões preocupadas. “Demétrio, Caspian, preciso de ajuda. Ela não está em lugar nenhum, e eu não sei o que fazer!” As palavras saíram em um fluxo descontrolado, repletas de emoção e desespero. “Calma, Christian,” disse Demétrio, colocando uma mão firme no ombro dele. “Vamos procurar juntos. Não vamos desistir dela.” Caspian assentiu, o olhar determinado. Os três partiram, vasculhando cada vila e cidade ao redor da alcateia de Silver Moon. Enquanto isso, outros membros da alcateia se revezavam para cuidar de Derik e Caleb, que dormiam inocentemente, alheios ao caos que se desenrolava.
A busca parecia interminável. Christian estava prestes a perder a esperança quando, em uma esquina da cidade, ouviu um murmúrio entre duas mulheres que estavam em uma taverna. Ele parou, o coração acelerando. “Soube o que aconteceu ontem na igreja?” uma delas disse, sua voz baixa e tensa. “Sim, eu fiquei sabendo que o próprio demônio surgiu e matou o padre junto com as pobres crianças da vila,” respondeu a outra, com um tom de assombro. A respiração de Christian estancou. “O que...?” ele murmurou para si mesmo, mal conseguindo processar a gravidade das palavras. “Dizem que capturaram o demônio,” a primeira mulher continuou. “A história é que ela se transformou em uma mulher após ser perfurada com prata.” “Bruxaria,” a segunda mulher comentou, com um misto de medo e repulsa. “Ainda bem que a cidade se livrou dela. Não podemos permitir que esse tipo de coisa ande solta entre nós.” Christian sentiu uma onda de raiva e tristeza. O que aconteceu com Catarine? Ela não era um demônio; era sua mulher, a mãe de seus filhos. Mas a verdade do que ela havia feito agora estava clara, e o que a escuridão dentro dela havia desencadeado parecia irreversível. Ele não podia ficar ali parado. Com um novo sentido de urgência, Christian se virou para Demétrio e Caspian, que haviam escutado a conversa também. “Precisamos ir até a igreja. Ela está presa lá. Precisamos resgatá-la antes que seja tarde demais.” “Estamos com você,” respondeu Demétrio, sua determinação fervente. Juntos, os três partiram em direção à igreja, o peso da responsabilidade em seus ombros. Christian sabia que a batalha que aguardava não era apenas para salvar sua esposa, mas para resgatar a mulher que uma vez foi, antes que a escuridão a consumisse por completo. A esperança ainda queimava dentro dele, mas ele também sabia que a verdade poderia ser mais aterrorizante do que ele imaginava.
Catarine estava em um estado deplorável, sua mente se perdendo nas trevas que a cercavam. O frio da masmorra a envolvia, mas era a dor que a consumia. Cada golpe que recebia, cada prego e espinho que a torturavam, a levava a um abismo de desespero, sufocando qualquer vestígio de resistência que ainda pudesse restar. Os homens que a cercavam eram monstros disfarçados de soldados, com rostos endurecidos pela fanática crença em sua missão sagrada. A cada interrogatório, eles se tornavam mais cruéis. As lâminas afiadas que penetravam sua pele e os paus que a batiam, não eram apenas instrumentos de dor, mas símbolos de um sistema que se alimentava do medo e do sofrimento. Amarrada a uma roda, Catarine já não tinha forças para gritar. Sua voz havia se transformado em um sussurro, quase inaudível, enquanto os homens continuavam a lhe fazer perguntas, cada uma mais insuportável que a anterior. “Responda, demônio. Você é uma bruxa?” Um deles berrou, enquanto os outros a mantinham presa, seus olhos brilhando com a expectativa de sua confissão. Finalmente, em um momento de desespero absoluto, ela cedeu. “Sim, eu sou uma bruxa, por favor, parem…” As palavras saíram de seus lábios em um sussurro quebrado, uma rendição que parecia ressoar no silêncio da masmorra. Mas, em vez de alívio, a confissão trouxe apenas mais dor. O grupo de torturadores trocou olhares de triunfo e, ao invés de parar, intensificaram as torturas. O cheiro de sangue e suor se misturava ao ar, e os gritos de Catarine se tornaram uma sinfonia de desespero.
“Existem mais de vocês?” um dos homens rosnou, enquanto segurava um prego afiado em suas mãos. “Onde vocês se escondem?” As perguntas se tornaram mais frequentes, cada uma uma facada em sua sanidade já frágil. Catarine, agora dominada pelo medo e pela dor, balançava a cabeça, sem conseguir articular palavras. Ela não queria que mais ninguém sofresse como ela, não queria que seus filhos fossem alvo de tamanha crueldade. A tortura se prolongou até o amanhecer, os homens se revezando em sua brutalidade, como se estivessem realizando um ritual sagrado de purificação, cada golpe dado com a esperança de arrancar a verdade de sua alma. O sol se ergueu, mas para Catarine, a luz não era um sinal de esperança, mas um lembrete de que a escuridão dentro dela ainda a consumia. A luta entre sua natureza e a monstruosidade de sua situação se tornava cada vez mais difícil de suportar. Ela se permitiu um pensamento: talvez a escuridão fosse a única saída.
Christian, Caspian e Demétrio perambulavam pelas ruas escuras da vila, o peso da preocupação gravado em seus rostos. A noite caía lentamente, e cada igreja que visitavam parecia mais um labirinto de mentiras. As portas se fechavam para eles, os rostos dos clérigos endurecidos pelo medo e pela desconfiança. “Aqui não temos ninguém que corresponda à descrição”, disse o padre de uma pequena capela, sua voz firme, mas com um tremor subjacente. Christian sentia seu coração afundar a cada negativa. Ele se virou para Caspian, que cruzava os braços, claramente frustrado. “Eles não vão falar a verdade”, disse Caspian, seu olhar varrendo a sala com desdém. A impotência do momento estava se tornando insuportável. “Malditos humanos idiotas…” resmungou Demétrio, seus olhos reluzindo com uma fúria contida. A dor de ver sua amiga em perigo, somada à sensação de que estavam cercados por covardes, o deixou em ebulição. Christian não conseguia se mover, a ideia de que Catarine poderia estar sofrendo em algum lugar escuro e frio dominava sua mente. “Eu não posso desistir, é minha mulher…” Ele falava quase para si mesmo, suas palavras eram um sussurro de desespero.
Demétrio, percebendo a crescente angústia de Christian, decidiu que era hora de agir de outra forma. “Eu vou pedir ajuda a Eros”, declarou, sua voz firme. “Ele é um vampiro poderoso, pode ter informações que nós não conseguimos obter. Ele pode nos ajudar a encontrar Catarine.” Christian assentiu, embora a incerteza pesasse em seu coração. “Faça isso, por favor. Se alguém puder descobrir o que aconteceu, é ele.” Com um olhar determinado, Demétrio se afastou rapidamente, desaparecendo nas sombras da noite, enquanto Christian e Caspian continuavam sua busca. Eles percorreram mais igrejas, o eco de suas perguntas reverberando nas paredes frias, mas sempre recebiam as mesmas respostas evasivas. A desolação se instalava no peito de Christian a cada passo que davam. “Temos que tentar mais uma vez”, disse Caspian, mantendo-se ao lado de Christian, tentando dar-lhe alguma esperança. “Podemos visitar a capela dos órfãos. Pode haver alguém que saiba de algo.” Christian concordou, mas a sensação de desespero só aumentava. A cada esquina, o medo de que Catarine estivesse em perigo se tornava mais real, como uma sombra que se agarrava a ele. Ele precisava encontrar sua esposa, e a ideia de não saber onde ela estava se tornava um fardo insuportável. “Vamos”, disse Christian, sua voz trêmula, mas firme. “Não vamos desistir.” Eles se dirigiram à capela, o último lugar onde a esperança poderia brilhar na escuridão que os envolvia.
Demétrio caminhava apressadamente em direção ao castelo abandonado de Eros, sua mente fervilhando com a urgência de encontrar respostas. As sombras da noite dançavam ao seu redor, e o vento uivava como um presságio do desespero que sentia. Ele não podia deixar que a situação de Catarine se deteriorasse ainda mais; precisava de ajuda, e Eros era a única esperança que tinha. Ao chegar à entrada do castelo, ele hesitou por um instante, sentindo a frieza do ambiente ao seu redor. As torres altas, cobertas de trepadeiras e musgo, pareciam uma advertência do que acontecera ali. No entanto, não havia tempo para hesitar. Ele empurrou a porta de madeira, que rangeu como se estivesse se queixando após anos de abandono. “Eros!” gritou, sua voz ecoando pelas paredes vazias. A escuridão parecia engolir suas palavras, e um silêncio profundo tomou conta do lugar. Demétrio avançou, seus passos ecoando no chão de pedra. Ele procurou por qualquer sinal de Eros, mas o castelo estava deserto. “Maldito desgraçado,” ele resmungou, sua frustração crescendo. “Justo quando eu preciso de você... onde você se enfiou?” O eco de suas palavras reverberou como uma lembrança dolorosa, e a angústia em seu peito se transformou em raiva.
Enquanto caminhava pelos corredores empoeirados, Demétrio tentou se lembrar das últimas vezes em que vira o vampiro. Eros sempre era enigmático e evasivo, mas agora, mais do que nunca, sua presença era necessária. O que estava acontecendo na vila e na vida de Catarine não poderia esperar. Ele chegou a uma sala que parecia ser o antigo salão de banquetes. As mesas, ainda cobertas de pó, eram testemunhas silenciosas de festins esquecidos. Demétrio parou, tentando acalmar sua mente. “Eros, onde você está? Você precisa saber do que aconteceu. Precisamos de você agora mais do que nunca.” A frustração o consumia. Ele começou a se perguntar se o vampiro estava mesmo disposto a ajudá-lo ou se estava apenas se escondendo, como sempre fizera. As paredes do castelo pareciam rir dele, cada canto envolto em mistério e desespero. Cansado e sem respostas, Demétrio finalmente se virou e decidiu voltar para a alcateia. Havia outras maneiras de encontrar informações, e ele não podia se dar ao luxo de esperar. Catarine precisava dele, e ele não podia deixar que a noite caísse sobre ela sem lutar por sua liberdade. “Eu não vou desistir”, sussurrou para si mesmo enquanto deixava o castelo. A determinação crescia dentro dele. Havia mais igrejas para visitar, mais perguntas a serem feitas. E, acima de tudo, não iria parar até que Catarine estivesse a salvo novamente.
Catarine estava perdida em um mar de dor e desespero, seu corpo reduzido a um estado de sofrimento indescritível. A luz fraca da sala onde a mantinham presa iluminava cicatrizes e marcas de tortura, deixando sua pele manchada de sangue e a transformação de seu corpo em uma máscara de dor. Os homens ao seu redor, com rostos obscuros e ameaçadores, não mostravam nenhum sinal de compaixão. Cada pergunta era acompanhada de novos tormentos, suas vozes graves reverberando em sua mente como um eco infernal.
“Onde vocês vivem?” a voz do interrogador soou, cortante e implacável, enquanto ele pressionava uma lâmina fria contra sua pele, fazendo-a estremecer. Cansada, fraca e quase irreconhecível, Catarine se viu numa encruzilhada. A ideia de que as torturas poderiam finalmente cessar se ela apenas dissesse o que eles queriam ouvir começou a tomar forma em sua mente. Com um suspiro trêmulo, ela balançou a cabeça, tentando afastar o sofrimento. “Vivemos na floresta.” “Onde?” O tom da pergunta não tinha nenhuma pitada de gentileza, apenas uma expectativa cruel. “Ao norte daqui, uma clareira... uma alcateia de lobisomens.” As palavras saíram de seus lábios com dificuldade, cada sílaba um peso imenso. Sentiu como se um peso saísse de seus ombros, mesmo que apenas por um momento. Os homens trocaram olhares satisfeitos, como se tivessem alcançado um pequeno triunfo, mas a brutalidade não parou. “Demônios, quantos vocês são?” continuou um deles, enquanto outro preparava um instrumento de tortura ainda mais cruel, uma lâmina serrilhada que brilhava à luz fraca. “Somos vinte...” ela murmurou, sentindo o sangue escorrer pelo seu corpo, misturando-se com suas lágrimas. Sabia que estava traindo os que amava, mas a dor era insuportável. A expectativa de um alívio fugaz a empurrou a confessar, mesmo que essa confissão significasse colocar em risco a vida de seus companheiros. “Vinte!” ela repetiu, agora um pouco mais alta, mas com um fio de desespero. O sorriso de satisfação dos homens se alargou, mas em vez de parar, eles intensificaram suas torturas, cada golpe que recebia se tornando uma confirmação de sua própria ruína.
Ela não sabia quanto tempo havia passado desde que fora capturada, mas cada momento se arrastava, como se o tempo fosse uma entidade própria, rindo da sua miséria. A escuridão a envolvia, e a esperança parecia um sonho distante, coberto por uma névoa de dor e traição. A última centelha de resistência que ainda restava em seu coração começava a se apagar, e o eco de suas próprias palavras a assombrava enquanto se perguntava se algum dia veria seus filhos novamente. Enquanto os homens riam de sua fraqueza, uma sensação de impotência a consumia. Eles não eram apenas monstros; eram criaturas feitas de sombras e crueldade, e em sua fraqueza, ela começava a se tornar uma delas. Um dos guardas, ofegante e suado, atravessou o corredor escuro e frio da igreja, sua mente ainda presa nas cenas de tortura que deixara para trás. O eco de seus passos soava como um sino de alerta, e sua expressão estava carregada de um propósito sombrio. Ao entrar na sala dos clérigos, ele se encontrou cercado por rostos sérios e preocupados, que se voltaram para ele, aguardando suas notícias. “Senhor!” ele chamou, reverberando a urgência em sua voz. “Temos um problema grave.” Ele respirou fundo, tentando conter a ansiedade que pulsava em seu peito. “Vinte demônios vivem próximos de nós, senhor. Eles conseguem tomar a forma do próprio cão do inferno, a aparência de lobos.”
Os clérigos trocaram olhares alarmados, a tensão na sala se intensificando. O líder dos clérigos, um homem de cabelos grisalhos e expressão austera, franziu a testa. “Lobisomens, em?” ele murmurou, e a palavra ecoou entre os outros, como se ressoasse com um peso terrível. “Temos que eliminá-los.” “Junte os homens!” O líder se levantou, sua voz firme e autoritária. “Pegue toda a prata que puder. Vamos livrar o mundo desses demônios.” A determinação nos olhos dos clérigos era palpável, como uma tempestade prestes a eclodir. O guarda assentiu, a adrenalina começando a pulsar em suas veias. Ele virou-se rapidamente e saiu da sala, seu coração batendo em um ritmo frenético enquanto ele reunia os outros homens da igreja. As ordens eram claras: eles iriam caçar os lobisomens, a ameaça que se escondia nas sombras, e a ideia de que podiam extirpar essa malignidade os enchia de fervor. A prata, considerada uma proteção contra as criaturas da noite, seria sua principal arma. Enquanto o guarda corria pelos corredores da igreja, sentia a energia se acumulando ao seu redor, como se a própria igreja estivesse vibrando com a promessa de um novo e terrível confronto.
Ele chamou os homens, e logo um grupo se formou, cada um deles armado com lanças e adagas de prata, o brilho metálico refletindo a luz das velas que iluminavam a sala. “Vamos acabar com essa praga!” gritou o guarda, galvanizando o ânimo de seus companheiros. Assim que se prepararam para partir, o ar estava carregado de determinação e um toque de fanatismo. A caça aos lobisomens havia começado, e nenhum deles estava disposto a recuar. A escuridão da floresta os aguardava, e com cada passo que davam, a tensão e a expectativa cresciam. Eles acreditavam firmemente que estavam a serviço de um bem maior, mas não percebiam que a linha entre a luz e a escuridão era mais tênue do que jamais poderiam imaginar. Catarine estava jogada nua no chão frio da masmorra, o seu corpo exausto e coberto de feridas, cada uma delas uma lembrança vívida das torturas que havia suportado. O ardor da prata em seu flanco impedia que ela se transformasse na sua forma lupina, uma barreira cruel entre ela e sua única esperança de liberdade. A dor física, embora ainda presente, parecia ter diminuído, como se as torturas tivessem feito uma pausa, permitindo que ela respirasse por um breve momento. Mas essa trégua era ilusória, e sua mente, atormentada e despedaçada, a castiga com muito mais intensidade.
“Por que?” pensava ela, a voz em sua cabeça ecoando como um lamento. “Por que eu tinha que ter atacado a igreja? Por que matei aquelas crianças?” O peso de suas ações esmagava seu coração como uma pedra, e cada lembrança das vidas que havia ceifado a consumia de culpa. As risadas inocentes, os rostos das crianças, agora desaparecidos em uma névoa de dor e arrependimento. Ela se via em um abismo, onde o remorso a segurava firmemente, impedindo-a de escapar. “Eu estou... pagando pelos meus pecados...” Essas palavras sussurravam em sua mente, como um mantra de autocomiseração. A ironia de sua situação não escapava a ela: uma mãe que havia sido consumida pela própria natureza, uma criatura de instinto que sucumbiu ao mais primitivo dos desejos, levando-a a cometer atrocidades. O que restava dela, agora? A imagem da mulher forte e orgulhosa que havia sido antes da escuridão a engolir. Catarine se encolheu, seu corpo dolorido se contraindo sob o peso de sua angústia. O chão duro da masmorra era um lembrete constante de sua fragilidade e da brutalidade do mundo ao seu redor. Ela se perguntava se algum dia conseguiria se perdoar, se conseguiria encontrar a paz após toda a dor que havia causado. A solidão da masmorra era opressiva, e mesmo na escuridão, sua mente vagava, buscando por respostas que pareciam eternamente fora de alcance. “O que será de mim agora?” a pergunta se repetia incessantemente. Com as mãos ensanguentadas e o espírito em frangalhos, Catarine se viu imersa em um mar de desespero, sabendo que a batalha não era apenas pela sobrevivência física, mas pela redenção de sua alma.
Christian e Caspian caminhavam apressadamente pela floresta densa, suas sombras dançando à luz da lua que filtrava através das árvores. O desespero se tornara uma constante em seus corações, cada passo carregado pelo peso do medo e da incerteza. Christian estava tenso, a respiração entrecortada, os sentidos em alerta máximo. Ele olhava ao redor, esperando que a presença de Catarine se manifestasse, mas o cheiro dela, que normalmente era reconfortante e familiar, parecia ter desaparecido, deixando um vazio insuportável. “Eu não consigo sentir o maldito cheiro dela,” admitiu Christian, sua voz trêmula, quase quebrando sob a pressão de sua dor. Ele parou por um momento, a frustração e a impotência transparecendo em seus olhos. “O que se passou? Como isso pôde acontecer?” Caspian observou seu amigo, a preocupação escrita em seu rosto. “Christian, precisamos ser racionais. Talvez Demétrio tenha conseguido alguma informação. Eu vou voltar para a alcateia e ver se ele encontrou algo,” ele sugeriu, tentando oferecer uma saída. “Você vem comigo?” Christian balançou a cabeça, determinado. “Não, eu não vou dormir ou descansar até achar Catarine!” Sua voz soava firme, mas havia uma vulnerabilidade subjacente, um abismo de desespero que ameaçava consumir sua determinação. Ele não podia suportar a ideia de sua amada em perigo, em qualquer situação, muito menos nas mãos de humanos cruéis que a viam como um monstro. “Chris, você não pode continuar assim,” Caspian insistiu, sua expressão se tornando mais séria. “Você precisa de descanso e de um plano. Nós dois sabemos que você não vai conseguir rastreá-la se estiver exausto.”
Christian apertou os punhos, seus dedos brancos de tensão. “A cada momento que passamos aqui, ela pode estar sofrendo. Eu não posso simplesmente deixá-la para trás!” Ele sentia o nó no estômago apertar ainda mais, lembrando-se do último sorriso de Catarine, da luz em seus olhos que agora poderia estar se apagando. Caspian respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. “Eu sei, amigo. Eu também quero encontrá-la. Mas se formos juntos, seremos mais eficazes. Podemos cobrir mais terreno. O que você acha?” Christian hesitou, a luta interna se desenrolando em seu coração. Por fim, ele exalou lentamente, sua voz suavizando. “Você tem razão... Vamos voltar. Mas se não encontrarmos nada, eu prometo que sairei sozinho novamente.” Caspian assentiu, um misto de alívio e preocupação cruzando seu rosto. Juntos, eles iniciaram o caminho de volta, a esperança ainda ardendo em seus corações, mesmo que as sombras da incerteza dançassem ao seu redor. A busca por Catarine era mais do que apenas encontrar uma esposa; era um chamado para resgatar a alma que tanto amavam, e eles não desistiriam até que ela estivesse a salvo.