“Não Conta Pra Mainha” nasceu do meu desejo profundo de homenagear a infância que vivi ao lado dos meus quatro irmãos — uma infância esculpida em risos, travessuras, cumplicidade e amor sem medida. Com as páginas deste livro, celebro não apenas a alegria dos dias de pés descalços e roupas gastas, mas também o privilégio de ter partilhado os instantes mais mágicos junto da minha avó, do meu pai, da minha mãe e de todos aqueles que, com presenças únicas, bordaram meus caminhos com afeto e lembrança.
Cada capítulo guarda minha gratidão aos familiares e às pessoas queridas que cruzaram minha jornada, ampliando o significado de lar para além das paredes e das estradas — lar que é feito de gente, de abraço, de cheiro de café e do som das vozes que ecoam, mesmo quando já partiram.
Hoje, resido no coração do interior de São Paulo, Em minha casa, ao lado do amor da minha vida, Júlio, com quem compartilho sonhos e histórias, e nosso filho Arthur, vejo brotar o mesmo sorriso inquieto e curioso que um dia foi também meu.
Na mesma cidade vivem Mainha — firme e doce, guardiã dos valores simples — e Patrícia, agora casada e à espera da pequena Alice, cujos primeiros choros logo se juntarão ao coro da família. Deise vive numa cidade próxima, crescendo ao lado do namorado e compartilhando a promessa de encontros anuais que mantêm viva a chama do pertencimento.
Maria permaneceu em Santa Luzia, terra de amizade e sol intenso, construída sobre lembranças de infância e reinventada pela chegada de suas filhas, Eloah e Heloisa, que correm pelo quintal como eu corri um dia. Estevinho, o mais sortudo, habita uma fazenda ao alcance dos olhos de painho — ainda firme, plantando raízes no mesmo solo que sustentou nossos sonhos, guardião de histórias que o vento nunca leva.
A cada ano, em meio ao cheiro de terra molhada e ao som envolvente dos cantos da infância, nos reunimos — cinco corações entrelaçados pelo mesmo tempo, marcados pela mesma saudade e unidos pelas mesmas memórias cobertas de amor e cumplicidade. Celebramos nossa história, a força da ancestralidade e a doçura das lembranças que continuam a germinar, ano após ano, nas manhãs quentes da Bahia.
E, no silêncio doce depois de cada reunião, sinto que somos, ainda e sempre, as mesmas crianças: curiosas, sonhadoras, cúmplices, inventivos, corajosos e esperançosos, guardando a certeza de que a saudade da vovó nos une para sempre, costurando nossa vida com o fio invisível da ternura. Entre o ontem e o agora, seguimos juntos, porque lar é onde a infância se eterniza e o amor nunca termina.