Sem me dar tempo para mudar de ideia sobre o que estou fazendo, começo a encher um copo com uma bebida verde, quando ouço uma voz me chamando. Levo tempo para identificar de onde está vindo, e então localizo Theodore se aproximando de mim na mesa.
— Elizabeth! Que bom que veio! — Exclama, próximo o suficiente para que eu consiga sentir seu hálito de menta e o perfume masculino. Ele fala como se fôssemos velhos amigos, mas por alguma razão, não soa tão estranho. Quase me faz sentir como se, de fato, nos conhecêssemos há muito tempo.
— Odeio esse nome. Me chame de Liz. — Peço, soando meio mal humorada demais para quem está em uma festa.
— Qual o problema com "Elizabeth"? — Pergunta.
Dou de ombros.
— Me faz parecer velha. Além disso, ninguém me chama assim.
Ele sorri. Se eu tivesse que apostar, diria que esse deve ser o sorriso que ele usa para conquistar garotas. Charmoso, com uma pitada de cafajeste.
— Bom, talvez seja por isso que eu te chame assim. Como vai se lembrar de mim se eu não me destacar?
Bebo um gole do copo em minhas mãos, levanto os olhos para ele e curvo a cabeça para o lado.
— E por que te interessa tanto que eu me lembre de você?
Ele dá de ombros, inclinando-se levemente em minha direção. Quando começa a se aproximar mais do que deveria, desvia os olhos e estica o braço para alcançar uma garrafa de água na mesa atrás de mim.
— É bom ser lembrado de forma diferente, não acha?
Não respondo. Não estou totalmente interessada em ficar de conversa furada com o irmão mais velho de Noah, porque sinceramente, não sei exatamente sobre o que falar. A ideia prévia que tenho a seu respeito também não contribui muito para que eu queira conversar com ele, já que não ouvi as melhores coisas a seu respeito.
— Posso te chamar de Liz se me chamar de Theo. Theodore também me faz parecer velho. — Ele fala, por fim.
— Feito. — Respondo, dando de ombros e virando mais um gole da bebida em meu copo.
— É melhor pegar leve com isso. — Theo comenta, observando o líquido em meu copo, e enchendo seu próprio copo com água.
Franzo o cenho, assistindo seus movimentos.
— Você não bebe? — Questiono, surpresa.
— Não. Bom, não mais.
Estreito os olhos.
— Por quê não?
Ele dá de ombros.
— Digamos apenas que isso não traz à tona as características mais lisonjeiras em mim.
Por alguma razão, suas palavras me atingem como um cutucão na costela. Encaro a frase como um desafio. Olho no fundo de seus olhos, com as sobrancelhas arqueadas como se ele tivesse acabado de despertar o pior em mim, e viro toda a bebida de uma só vez, sem pausas, sem parar para respirar, ignorando meu desejo de simplesmente parar de beber tão rápido porque isso queima – queima muito.
Quando termino de beber cada gota e abaixo o copo, ele me olha intrigado, como se eu não fosse quem ele esperava, ou como se tentasse descobrir o que está acontecendo por trás disso tudo. Não me preocupo. Ele não faz ideia do acúmulo de coisas que tenho carregado, e talvez nem eu mesma tenha noção da proporção disso tudo. Viver escondendo sentimentos tão pesados dentro de mim talvez seja a razão pela qual pequenas coisas parecem me fazer querer explodir.
— Você não parece muito bem. — Ele observa, me analisando atentamente.
Estreito os olhos, pensando que essa é a pior coisa para se dizer a uma mulher irritada.
— Estou ótima. — Respondo rispidamente, mas não soa como verdade nem mesmo para mim. Viro-me para a mesa, onde procuro uma garrafa de qualquer outra coisa para encher meu copo novamente.
— Liz, é sério. Melhor parar com isso. — Ele fala, com a voz séria. Quase consigo ver uma pontinha de preocupação em sua expressão enquanto ele tenta me convencer de que já bebi o suficiente.
— Qual é? — Reclamo quando ele tira o copo da minha mão. — Eu achei que isso aqui era uma festa. Vim aqui para me divertir!
Ele inclina o rosto e sorri de lado. Tem uma droga de sorriso bonito e parece saber muito bem disso.
— Vou te contar um segredo. — Diz, se aproximando seu rosto do meu para que eu possa ouvi-lo melhor em meio a toda a falação ao nosso redor. — Sabe qual é uma das primeiras coisas que um cara aprende na faculdade?
Faço cara de pensativa, mas no fundo não estou realmente interessada em saber.
— Eu sei lá. — Dou de ombros. — Como arrumar a cama? Como lavar as próprias roupas? Essas coisas simples que garotas aprendem muito mais cedo, e que vocês só descobrem que também são capazes de fazê-las quando não lhes resta outra opção?
Ele ri, como se essa não fosse a resposta que estivesse esperando, mas não deixa de acenar em concordância.
— Bem, sim, talvez. — Admite, sem graça. — Mas estava falando especificamente da habilidade que adquirimos de saber quando uma garota está bem ou não. Normalmente, por interesse próprio. — Faço uma careta, e ele dá de ombros, como se soubesse que é desagradável, mas não deixa de ser uma verdade. — Sabemos quando uma garota está bebendo apenas porque está se divertindo ou quando está escondendo seus problemas com atitudes que normalmente não teriam. Como encher a cara. Então, por que não me conta qual foi o trágico acontecimento que obrigou uma garota como você a partir para o mundo do alcoolismo?
Não sei exatamente o que "uma garota como você" quer dizer, mas não gosto muito de como soa. Tento alcançar meu copo em sua mão, mas ele se esquiva rapidamente, parecendo estar se divertindo um pouco com a situação. Encaro-o irritada, enquanto decido se vale a pena respondê-lo.
— Não é nada demais. — Minto, mas ele não acredita. Theo continua me encarando com seus olhos acinzentados, esperando que em algum momento eu decida falar a verdade.
Ainda relutante, viro-me em direção à porta de vidro e volto a observar Noah e Adélia do lado de fora. É impossível adivinhar sobre o que estão conversando, mas isso não impede minha mente de tentar deduzir.
Theo solta um riso.
— Ah, saquei. — Fala, rindo como se já estivesse juntando as peças, e então percebo que seus olhos haviam acompanhado os meus, e que isso havia sido o suficiente para responder sua pergunta.
— Não tem graça. — Fico brava por ele estar rindo.
— Ah, tem um pouquinho, sim. Nunca imaginei que você teria ciúmes do Noah com outra garota, já que ele nunca teve olhos para ninguém além de você. Achei que isso já estava claro a essa altura.
— Não estou com ciúmes. — Rebato imediatamente, tentando soar verdadeira.
Ele ri.
— Você mente muito mal. — Declara. — Mas não devia se preocupar com isso. É um cenário improvável. Os dois cresceram juntos, são como irmãos. Seria praticamente incesto. — Diz, cheio de certeza. É quase aliviador, mas assisti-la de longe acariciando seu braço diminui qualquer esperança que eu pudesse alimentar em relação a afirmação de Theo.
Reviro os olhos e suspiro.
— Será que podemos não falar mais sobre isso? — Sinto as ondas de irritação me atingindo novamente. — Por que não me conta sobre como você acabou aqui? — Tento mudar de assunto.
— É uma história longa. Não gostaria de tomar o seu tempo com isso. — Ele fala, apoiando-se na borda da mesa atrás de nós.
— Bom, se não me disser nada sobre você, como vou formar uma opinião a seu respeito? — Falo, tentando convencê-lo, apesar de saber que na verdade, já tenho uma opinião formada sobre ele, e até agora, não é das melhores.
Theo me lança um riso irônico.
— Não precisa da minha ajuda para isso. Algo me diz que você já tem uma opinião formada sobre mim.
Touché. Não imaginei que ele concluiria isso tão facilmente.
Dou de ombros, como se isso não fosse tão importante.
— Tudo bem, é verdade. Ouvi algumas coisas, mas não o suficiente. Talvez seja por isso que eu queira ouvir sua versão da história.
Ele estreita os olhos e me olha com desconfiança, analisando se sou digna ou não de ouvir seu lado da história, que parece ser pessoal demais para ser compartilhado com qualquer um.
Sinto que ele está quase prestes a começar a falar quando um tumulto na porta de entrada chama a nossa atenção. Uma multidão forma um semicírculo diante da entrada, assistindo dois garotos trocando socos do lado de fora, por razões desconhecidas. Nos aproximamos da porta, nos espremendo entre as pessoas que parecem chocadas com a cena acontecendo diante de seus olhos, mas não fazem nada para ajudar.
— Droga, Rowan! — Theo resmunga quando percebe que um dos garotos é Rowan, o garoto bêbado que estava na entrada quando chegamos. Já estava alcoolizado o suficiente quando chegamos aqui, mas agora mal consegue se manter de pé. Ele cambaleia de um lado para o outro enquanto desfere socos no ar, em uma tentativa inútil de acertar o rosto de seu oponente.
O garoto com quem Rowan troca golpes é um tanto maior que ele, e visivelmente mais agressivo. Não parece estar tão bêbado, o que torna esta luta totalmente injusta. Ele acerta múltiplos socos na costela de Rowan, que se curva de dor, sem condição alguma de se defender. Por fim, ele desfere dois socos em seu rosto, e Rowan desmorona sobre o chão. É uma cena perturbadora. "Chad, já chega!", as pessoas gritam, receosas, mas não parece ser o suficiente para ele. Quando fica claro que Chad não tem intenção alguma de parar, Theo me entrega seu copo com nada além de água e cruza a porta, tão determinado a encerrar a briga que nem tenho tempo de tentar impedi-lo.
Ele caminha até Chad com uma determinação admirável, e me lembro de que essa com certeza não é a primeira vez que Theo se envolve em brigas. Apesar de nunca tê-lo visto de fato brigando, sua calma diante do cenário serve apenas para confirmar minhas suspeitas.
— Ei! Já chega! Ele já está no chão! — Ele exclama, usando toda sua força para tirar Chad de cima de Rowan. Chad se debate feito uma criança tentando escapar dos braços de Theo, acertando golpes aleatórios em seu rosto. Impressionantemente, não parece surtir efeito nenhum sobre ele. Theo o empurra com tanta força que pela primeira vez, vejo o garoto cambalear para trás. Os dois se encaram com raiva por alguns longos segundos, prontos para contra-atacar a qualquer movimento brusco, mas por fim, Chad decide que não vale mais a pena brigar. Dá as costas para os dois, marchando de volta para dentro da festa como um guerreiro que acabou de vencer uma batalha. O que ele não sabe é que ninguém está aqui para aplaudir sua atitude.
As pessoas abrem caminho para ele passar, e quando todo o entretenimento parece ter acabado, se dispersam novamente, deixando a porta de entrada completamente vazia. Corro para ajudar Theo a carregar Rowan, completamente apagado, para dentro da casa. Ele levanta o garoto do chão e passa um de seus braços ao redor de seus ombros. Faço o mesmo, tentando ajudá-lo a dividir o peso, mas fica claro que enfrentaremos problemas de diferenças de altura, já que ele é muito mais alto do que eu, e até mesmo Rowan. Seus pés ficam praticamente flutuando do lado em que Theo o carrega. De qualquer forma, parece melhor do que nada.
Periodicamente parando para dar risada da situação, Theo e eu conseguimos carregá-lo de volta para dentro da casa.
— Acha que conseguimos levá-lo até o andar de cima? — Ele pergunta, parando diante de uma escada. Suponho que os quartos ficam no andar de cima.
— Bom, acho que não temos outra opção... — falo, mas minha voz soa baixa. Estou exausta de carregar o peso Rowan nos ombros.
Como Theo parece conhecer o lugar melhor do que eu, deixo ele ir na frente. Subimos as escadas cambaleando de um lado para o outro, tanto pelo peso do garoto quanto porque a essa altura, a bebida já está começando a fazer efeito em meu corpo. Ele indica com a cabeça o quarto no fim do corredor, e assim que entramos deixamos o corpo apagado de Rowan cair sobre a cama, respirando aliviados. Por um segundo, penso em como deve ser incrível ir a uma festa sem sentir medo de ficar bêbado e acabar em um quarto se sentindo desprotegido.
Theo faz uma careta.
— Esse cara levou uma bela surra. Vai ficar irreconhecível por uma semana.
Concordo, em silêncio, analisando o rosto de Rowan, agora cheio de hematomas e até um pouco de sangue.
Nos sentamos no chão do quarto escuro, iluminado apenas pela luz do corredor vazio. O cansaço é visível em nossos rostos. A música parece distante, e tenho a impressão de que as coisas ao meu redor estão começando a girar lentamente. Provavelmente ainda vou me ferrar por isso.
Do chão, ele desvia seu olhar da cama onde Rowan está deitado para olhar para mim. Consigo sentir sua respiração em meu rosto, e levo isso como um sinal de que ele está perto demais. Não sei dizer se está fazendo isso de propósito. Não consigo imaginar as coisas que se passam em sua cabeça, talvez por não conhecê-lo o suficiente ou porque é realmente difícil ler suas expressões monótonas. Seus olhos acinzentados parecem esconder muitas coisas.
— Seu nariz está sangrando. — Digo a ele, quando vira o rosto para mim e passa mais segundos do que deveria me observando. Então ele se afasta, e se levanta em direção ao banheiro.
Fico o observando de longe por alguns segundos. Ele usa uma camisa cinza de manga longa, sem muitos detalhes além de alguns botões perto da gola. Mas lhe cai bem. Tenho a impressão de que ele sabe muito bem disso. Theo parece ser o tipo de garoto que exala confiança por onde passa, e sabe usar isso a seu favor, o que me faz ficar constantemente em estado de alerta.
— Por que nunca te vi antes? — Questiono de repente, finalmente sucumbindo à minha curiosidade.
Parado na porta do banheiro, ele me olha em silêncio, analisando se deve mesmo me responder. Imediatamente sinto vontade de engolir minhas palavras.
— Sou três anos mais velho. Sempre estivemos em blocos diferentes. E eu já estava no ensino médio quando você e Noah ainda estavam terminando o fundamental. São escolas diferentes. — Ele responde, enquanto termina de limpar o sangue de seu nariz.
Assinto, embora ainda não pareça ser o suficiente para que tudo faça sentido, o que ele provavelmente percebe em meu rosto ao sair do banheiro e se sentar novamente ao meu lado no chão.
— Além disso, — continua — eu fui expulso quando estava no segundo ano do ensino médio.
O quê?
Não consigo esconder o espanto em meu rosto diante da revelação, o que lhe arranca um riso.
— O que raios você fez para ser expulso? — Pergunto, intrigada, já que a expulsão sempre me pareceu uma solução extrema para situações extremas.
Seu sorriso se desfaz lentamente enquanto pondera se deve ou não me dizer a verdade.
— Eu... vendia medicamentos para os alunos mais velhos. — Admite. Algo em sua voz me faz perceber que não parece ser o tipo de coisa da qual ele se orgulha.
Franzo o cenho.
— Como um traficante? — Questiono, assustada.
Seu rosto se contorce.
— O quê? Não! Eu não era traficante, está bem? Só era... rebelde. — Retruca.
— E como conseguia os medicamentos?
— Essa é a parte fácil. Eram meus. — Revela. — Ansiedade, transtorno de atenção... nada muito exagerado, mas todos precisavam de receita médica, o que esses alunos obviamente não tinham.
Eu o observo em silêncio por alguns segundos.
— Não me encare com esses olhinhos julgadores. Eu sei que isso foi errado, está bem? — Ele fala, recostando a cabeça na cama atrás de nós.
Solto um riso. Mesmo se quisesse julgá-lo por isso, não poderia. Reconheço que não estou em posição de criticar as péssimas escolhas de pessoa alguma, já que eu e minhas amigas viemos até aqui para voltar ao local onde enterramos um corpo.
— Transtorno de atenção, é? — Provoco.
— O que foi? Bad boys não podem ter dificuldade de concentração em tarefas cotidianas? — Theo retruca, e de repente estamos rindo porque soa como algo ridículo.
— Desculpe. Só é a última coisa que eu imaginaria sobre você. — Falo, e ele sorri.
— Bom, isso é porque eu tomo os meus remédios hoje em dia, ao invés de vendê-los. — Responde, zombando de si mesmo. — Eu odiava precisar deles quando era mais novo.
— E por isso decidiu vendê-los?
— Claro. Eu achava que precisava do dinheiro, e dos remédios, não. Mas isso não foi uma boa ideia, obviamente. — Fala, observando o teto acima de nós. Pela primeira vez, noto adesivos de estrelas brilhando no teto sobre nossas cabeças. — Isso me fez ser expulso. E foi assim que eu vim parar em Rosefield, se quer saber. Fui matriculado em um colégio interno que eu odiava mais do que tudo... mas me ajudou a entrar na linha, o que deve ter sido um alívio para os meus pais.
Assinto, balançando meus pés de um lado para o outro. Minhas botas se chocam contra a outra enquanto crio coragem para perguntar o que quero.
— E quanto ao Noah?
Theo comprime os lábios, como se eu tivesse acabado de tocar em um assunto delicado. Seus olhos parecem escurecer.
— O que tem ele? — Pergunta, como se não soubesse exatamente do que estou falando.
Mexo nervosamente os anéis em meus dedos, hesitante em entrar nesse tópico. Mas agora já parece tarde demais para voltar atrás.
— Ouvi dizer que não se davam muito bem.
Theo dá de ombros.
— E então? — Ele indaga, indiferente. Eu o observo de lado enquanto ele fala, encarando fixamente a porta semi aberta diante de nós. A única iluminação do quarto vem do corredor, mas consigo ver a pequena ruga que se forma entre suas sobrancelhas mesmo no escuro.
— Por quê não? — Insisto, mesmo já estando claro que o assunto parece ser delicado para ele.
Ele solta um riso, encarando o teto.
— Olha só, Liz, se está querendo ouvir minha versão da história para tentar consertar as coisas entre meu irmão e eu, está perdendo seu tempo. — Avisa, voltando-se para mim.
Dou de ombros.
— Não estou tentando consertar nada.
— Então o que você quer, afinal? — Pergunta, sério, fixando o olhar gelado sobre mim.
— Eu... — começo a falar, e então percebo que não sei exatamente o que quero com isso. — eu não sei. — Admito. — Acho que eu só quero saber se a ideia que tenho de você está mesmo certa, porque acredito na possibilidade de estar enganada. — Falo, afastando uma mecha de cabelo dos meus olhos e colocando-a atrás da orelha. Theo me encara com desconfiança, como se eu tivesse dito algo inacreditável para ele. Me ocorre então que talvez ninguém nunca lhe tenha oferecido o benefício da dúvida.
— E se não estiver? — Ele pergunta, e de repente percebo que não sei como respondê-lo. Talvez eu só tenha me preparado para a possibilidade de estar, sim, enganada a seu respeito.
Ele franze o cenho diante da minha ausência de resposta e então torna a encarar o teto. Parece estar ponderando se deve mesmo falar disso comigo, mas já não consigo entender bem o que suas expressões significam. Após alguns segundos avaliando, ele suspira e começa:
— Soando o risco de soar totalmente infantil, Noah sempre foi o filho favorito. O garoto de ouro. — Ele fala, e arqueio as sobrancelhas. De fato, soa infantil. — Ninguém nunca esperou muito de mim, Liz. Eu era um pirralho irritado, e ninguém sabia lidar muito bem com isso. E isso só me deixava ainda mais irritado porque, no fundo, eu era uma criança desesperada por ajuda, e todos me faziam sentir como se eu fosse uma causa perdida. E Noah era o filho amado com um grande potencial pela frente. — Revela.
— O quê? — Indago, desacreditada. — Theo, isso é ridículo! — Exclamo.
Ele revira os olhos, como se já esperasse por isso.
— Olha, eu sei que isso é ruim o suficiente para parecer mentira, mas é a verdade, Liz. As pessoas não costumam admitir esse tipo de coisa, porque não pega bem. Mas não quer dizer que não aconteça de verdade.
Balanço a cabeça, tentando absorver a informação.
— Então... por isso você era agressivo com o Noah? — Pergunto. É uma pergunta arriscada, mas preciso perguntar.
Ele dá de ombros, pensativo.
— Bom... sim. — Admite, e parece uma lógica simples para ele.
— E você... já se arrependeu? — Pergunto, de repente. A pergunta parece pegá-lo de surpresa, mas para mim, é decisiva. Se Theo se arrepende da forma como tratou Noah durante esses anos, então saberei que ele mudou. Saberei que ele é capaz de entender e aprender quando está errado, e isso já diz muito sobre uma pessoa.
Ele franze o cenho.
— O quê? — Indaga, como se fosse uma pergunta boba.
— Se arrepende do modo como agiu com Noah? Já desejou que as coisas tivessem sido diferentes entre vocês? — Repito, séria.
Ele me encara em silêncio por alguns segundos antes de responder. Não consigo decifrar o que está se passando em sua mente, mas ele não parece muito feliz com a pergunta.
— Não. — Responde por fim, o que faz seu crédito comigo despencar.
Fico o encarando por alguns segundos, perplexa. Quero muito dizer alguma coisa, mas um nó parece ter se formado em minha garganta e nenhuma das palavras que quero dirigir a ele saem para fora, e talvez seja melhor assim.
— Como pode não se arrepender? — Questiono, pasma.
Ele parece prestes a dizer alguma coisa, mas no fim, apenas balança a cabeça, como se eu fosse incapaz de entender. Isso tudo é decepcionante. Fico quieta, quase me esquecendo de qualquer qualidade positiva que eu achei ter visto nele.
Theo suspira, percebendo o meu silêncio.
— Eu avisei que estaria perdendo o seu tempo tentando consertar isso. — Recorda.
Ele tem razão, eu fui avisada. Para ser sincera, nem mesmo eu sabia que a conversa tomaria esse rumo e que no final, eu acabaria esperando que ele se redimisse de alguma forma pelo que fez com Noah. De certa forma, parece até injusto esperar por isso, já que ele nunca me ofereceu expectativas em relação a essa possibilidade. Mas por alguma razão, não consigo evitar a decepção que toma conta de mim agora que já está mais do que claro que Theo não se arrepende.
— Tem razão. — Falo, quase tão baixo quanto um sussurro. — Você me avisou, mesmo.
A frustração transparece na minha voz. Nos encaramos em silêncio por alguns segundos que parecem mais longos na minha cabeça, ambos parecendo igualmente descontentes com o rumo final da conversa. Percebo que, talvez ele estivesse receoso em ter essa conversa porque sabia que enquanto não havia revelado seus pensamentos verdadeiros para mim, eu já estava mudando de opinião a seu respeito. Agora, estamos de volta ao ponto inicial, porque não se pode mudar as pessoas e quem elas são só porque quer que elas mudem.
Finalmente, sua voz quebra a barreira do silêncio crescente entre nós:
— Quer saber, Liz? — Noto a tensão em seu maxilar conforme ele solta as palavras, quase como se parte dele não quisesse dizê-las. — Está claro que você me acha um babaca e quer que eu diga algo que a convença de que não sou. Você não quer realmente ouvir o que tenho a dizer para me conhecer, ou porque está disposta a aceitar que posso ter defeitos com os quais você não sabe lidar. Só quer que eu diga algo que te convença de que não sou essa pessoa terrível que você acha que eu sou. Quer que eu diga algo que torne mais fácil para você gostar de mim sem que isso interfira na sua moral.
Arregalo os olhos por uma fração de segundos. Minha mente agora parece estar ainda mais entorpecida pela bebida, e as paredes do quarto parecem estar girando enquanto tento me esforçar para processar tudo o que acabei de ouvir.
— O quê? Não, eu... não é exatamente assim... — Tento dizer, mas de repente já é tarde demais. Não há como tornar as coisas melhores agora. Theo continua a falar, sem dar muita atenção.
— É, é, sim. — Ele afirma, me interrompendo. — Você só não quer admitir porque isso te causa uma imagem ruim, e de repente, num piscar de olhos, nós seremos iguais. Igualmente ruins.
Apenas fico ali, parada diante dele, boquiaberta enquanto tento digerir suas palavras, sobretudo porque elas fazem sentido.
— Não preciso provar que sua opinião negativa sobre mim está errada. — Ele continua. — Não preciso implorar para que goste de mim, ou me justificar para você, porque não preciso da sua aprovação. E, acima de tudo, não preciso te convencer de que mereço sua benevolência como prêmio por não ser um babaca.
Sinto meu ego sendo despedaçado, e dói. Meu rosto parece estar queimando em uma mistura de raiva e vergonha. Suas palavras me atingem como um balde de água fria, e me sinto a maior idiota da face da Terra, não apenas porque são palavras duras de ouvir, mas porque ele está certo. Theodore não precisa me provar coisa alguma a seu respeito, e agir como se ele precisasse foi o meu grande e irreparável erro. Agora é tarde demais. Um enorme muro de estranheza já se ergueu entre nós, e não parece que será derrubado tão facilmente.
Permaneço em silêncio por um tempo, sem saber direito o que dizer. Gostaria de poder refutá-lo. Gostaria de dizer que ele está completamente errado, e que está apenas sendo um grande idiota. Mas não posso.
Comprimo os lábios e respiro fundo, tentando não deixar transparecer o peso que suas palavras tiveram sobre mim.
— Você tem razão. — Admito. — Eu sinto muito.
Ele engole em seco, como se não estivesse acostumado a ouvir um pedido de desculpas. Digere minhas palavras por um tempo, saboreando-as, e por fim assente. Theodore me observa como se estivesse chateado por nossa conversa se encerrar dessa forma, mas como se reconhecesse que não havia outra forma para isso terminar. Sinto que talvez já esteja dando a hora de partir e fingir que os últimos minutos que passamos juntos nunca aconteceram.
De repente a conversa parece ter se encerrado, porque passamos os minutos seguintes apenas ouvindo o burburinho das conversas e a música no andar de baixo. Por alguma razão, a frase de T. S. Elliot me vem a mente. "É assim que o mundo termina, não com um estrondo, mas com uma choradeira". A choradeira é o silêncio que cresce entre nós, nos reduzindo a dois desconhecidos novamente, sentados lado a lado no escuro. E é assim que termina.
Pego o celular para olhar as horas, e só então vejo as nove mensagens que Cassie me enviou, dizendo que estão me esperando na frente da casa para voltarmos à floresta. Por um momento, me esqueci completamente de que essa era razão para estarmos aqui hoje. Um arrepio percorre minha espinha ao ler suas mensagens. Percebo que a ideia é assustadora e macabra, e o quanto não quero voltar àquele lugar.
Guardo o celular e me levanto lentamente, me apoiando na borda da cama atrás de nós enquanto o mundo ao meu redor gira. Rowan, o garoto que levou uma surra, ainda está estirado e completamente apagado sobre a cama, mas consigo ver o movimento de seu peito com sua respiração silenciosa, então ele deve estar bem. Theodore acompanha meus movimentos com os olhos. Saio do quarto sem dizer coisa alguma. Não acho que qualquer coisa que eu dissesse agora soaria mais verdadeira do que meu silêncio, de qualquer forma.
Cambaleio pelo corredor até chegar à escada, onde agarro os corrimões com força. Volto minha atenção para os degraus a minha frente, descendo cada um deles com o máximo de cuidado possível. Infelizmente, as pessoas não têm o mesmo cuidado, porque não se importam se estou bêbada ou não — elas também estão —, por isso esbarram em mim como se eu não estivesse ali, e tenho de lutar para manter o equilíbrio entre um empurrão e outro.
Com mais esforço do que normalmente seria necessário, finalmente alcanço a porta e desço apressadamente as escadas da varanda, indo de encontro às minhas amigas na rua.
— Onde você estava? — Cassie pergunta, furiosa. — Estamos te esperando há um século!
Ela e Sarah estão com os braços cruzados de frio, e então me dou conta de que, apesar do ar estar gelado, não sinto nada.
— Acabei de receber sua mensagem. O sinal daqui é uma droga.
Ela suspira, impaciente, mas decide deixar isso para lá.
— Tanto faz. É melhor irmos andando, antes que fique muito tarde. Não é muito longe daqui...
— Por que temos que ir? — Questiono, soando como uma criança. — Eu... eu não quero voltar lá.
Cassie e Sarah viram seus rostos para mim com um olhar fuzilante.
— Liz, você está de brincadeira? — Sarah esbraveja, aproximando-se de mim. — Isso é basicamente a razão pela qual estamos aqui.
Cruzo os braços, encolhendo-me em meu próprio corpo, e desvio o olhar porque não consigo olhar Sarah nos olhos em seus momentos de fúria, a menos que eu esteja furiosa também, mas não é o caso.
— Você está bêbada? — Ela pergunta, por fim. Parte de mim estava torcendo para que ela não percebesse, mas está próxima o suficiente de mim para conseguir sentir o cheiro de álcool em meu hálito. Decido que é inútil tentar provar o contrário.
— Não. Só bebi um pouco. — Admito, e Cassie revira os olhos.
— Liz, qual é? Não viemos aqui para nos divertir. Além disso, você nem gosta tanto assim de beber...
— Tive um imprevisto, está bem? — Rebato, começando a ficar irritada com toda essa tempestade em copo d'água.
As duas franzem o cenho, esperando explicações mais claras sobre o tal "imprevisto", mas simplesmente não quero falar sobre isso no momento. Para ser honesta, mal sei o que falar.
— Eu só acho que não deveríamos voltar até lá. Não é uma boa ideia. — Volto ao ponto principal da conversa, tentando convencê-las a não irem.
Consigo ver em seus rostos que ambas estão furiosas comigo.
— Quer saber, Liz? — Sarah começa a dizer, ajeitando a postura, e a única coisa que consigo pensar é "não". Não quero saber, para ser honesta. Nada bom nunca sai a partir dessa frase, especialmente quanto dita por ela. — Se ia mesmo se comportar assim, talvez fosse melhor se não tivesse vindo. — Termina de dizer, e dá as costas para mim, esperando que Cassie vá atrás dela, enquanto eu fico sozinha digerindo suas palavras incrivelmente dolorosas. Talvez um soco no estômago doesse menos.
Meus olhos se enchem de lágrimas contra a minha permissão, e luto para não deixar nenhuma delas escapar, porque não quero dar à Sarah a satisfação de saber que suas palavras me atingiram tanto quanto deveriam, talvez por já estar me sentindo covarde o suficiente por não querer ir.
Cassie continua parada diante de mim. Consigo vê-la sentindo pena de mim enquanto me assiste encolhida, bêbada e com os olhos cheios de lágrimas. Me sinto patética e até mesmo julgada, embora saiba que Cassie não está me julgando — não nesse momento. Ela alterna o olhar de mim para Sarah, sem saber a qual das duas seguir, e então me dou conta da falta que Daisy faz. Sei exatamente o que ela faria. Diria à Cassie para não deixar Sarah ir sozinha, e ficaria comigo. Me abraçaria enquanto eu choro e tentaria me fazer sentir menos ridícula do que me sinto no momento. Talvez até me arrancasse algumas risadas, quando o momento se tornasse mais apropriado. Mas ela não está aqui, e Cassie parece perdida. Não sabe exatamente o que fazer, e não posso culpá-la. Quando percebe que Sarah já está distante demais, sussurra "está tudo bem, Lizzie", em uma tentativa de amenizar a culpa que Sarah havia jogado em meus ombros, e decide que precisa ir.
Fico para trás, me sentindo estranhamente vazia a cada passo que elas dão na direção oposta. Sou uma covarde e estou sozinha, e tudo que eu mais quero no momento é ir embora e esquecer essa noite para sempre, bem como todas as noites que tenho tido ultimamente. Respiro fundo enquanto as assisto chegar ao fim da rua e virar a esquina, sumindo do meu campo de vista.
É quando começo a me perguntar o que estou fazendo.
O arrependimento que sinto é quase imediato. Tenho a plena consciência de que não quero voltar àquela floresta, mas também sei que não gosto da ideia de tê-las deixado ir sozinhas — não que eu não tivesse tentado convencê-las do contrário. Mas sinto que deveria estar junto delas, como naquela noite, independente do medo que esteja sentindo, porque no fundo, elas devem estar com medo também.
Respiro fundo, completamente arrependida de ter decidido vir até essa festa estúpida, e então entro na casa novamente, em busca de Noah. Para o meu azar, as luzes foram apagadas e tudo que ilumina os cômodos são luzes piscantes e coloridas, que só servem para me deixar tonta e tornam a missão de encontrá-lo muito mais difícil. Paro diante da sacada onde Noah e Adélia estavam conversando, e noto que ele não está mais ao seu lado. Agora, Adélia parece entediada segurando sua garrafa de cerveja em silêncio, vez ou outra virando um gole curto, tentando prolongar a bebida na garrafa por muito mais tempo para lhe dar algo que fazer. Não posso julgá-la, já perdi a conta de quantas vezes utilizei da mesma estratégia.
Atravesso o corredor me apoiando nas paredes, tentando chegar à cozinha, que por alguma razão, também está mal iluminada. Uma multidão cerca uma mesa enorme onde jogos são disputados, tornando o espaço quase intransitável. Tento enviar uma mensagem para Noah, mas não perco muito tempo me certificando de que ele vá mesmo recebê-la. A internet da casa é horrível — talvez pela quantidade de pessoas que a utilizam ao mesmo tempo.
Quando me dou conta de que ele obviamente não está em meio a toda a multidão de pessoas aglomeradas na cozinha, dou meia volta no corredor, tentando chegar à escada, já que o andar de cima é um dos poucos lugares onde ainda não o procurei. Embora faça o máximo para desviar de todas as pessoas em meu caminho, acabo esbarrando em um garoto alto, caminhando quase tão distraído quanto eu. O copo de plástico em sua mão se amassa no momento em que colidimos, e grande parte da bebida azul e gelada recai sobre mim, embora alguns respingos também tenham manchado sua camisa branca. Fico um segundo atônita, processando o ocorrido.
— Você está bem? — Pergunta, e sua voz soa estranhamente familiar. Ergo os olhos para ele, e todos os meus sentidos congelam. Estou olhando para Dylan. Sinto minha pressão despencar dentro de mim, e tenho a impressão de que todo o sangue está se esvaindo do meu rosto, o que provavelmente faz com que eu esteja absurdamente pálida. Aperto os olhos para ter certeza de que estou enxergando direito, mas é difícil dizer, com todas as luzes piscando ao nosso redor. — Eu-eu sinto muito... — ele gagueja. Provavelmente acha que estou chateada, mas só estou em choque.
Analiso atentamente cada parte do seu rosto, tentando não parecer uma maluca, embora sinta que não estou muito distante disso. Cada parte do seu rosto é idêntica ao de Dylan, de uma forma assustadora. Quando percebo que estou em silêncio há tempo demais, tento dizer algo, mas não consigo. Minha voz desapareceu. Meu coração está tão acelerado que quase consigo ouvi-lo pulsando em meus ouvidos, e sinto que estou piscando mais vezes por segundo do que deveria. Ele permanece ali, parado diante de mim, me encarando como um fantasma enquanto espera que eu diga alguma coisa. Sinto sua respiração quente em meu rosto, e meu estômago embrulha. Já não tenho certeza se estou imaginando coisas ou se estou realmente diante de Dylan, embora a ideia seja absurda. Tenho a estranha sensação de que tudo ao meu redor fica em câmera lenta e os sons abafados, como se em algum momento eu tivesse deixado meu próprio corpo e estivesse assistindo tudo acontecendo fora de mim. Ainda mais tonta do que antes, me apoio na parede com força, porque sinto que se não o fizer, irei desabar. Quando percebe que está perdendo seu tempo esperando uma resposta, ele se desvia de mim e desaparece em meio à multidão. Sinto minhas pernas lentamente perdendo a capacidade de me sustentar, e o ato de respirar de repente se tornou apenas mais uma das coisas que não consigo fazer neste momento.
Começo a cambalear pela casa, sem rumo, em busca de algo ou alguém — simplesmente qualquer coisa — capaz de me fazer sentir melhor e me trazer de volta à realidade, enquanto o mundo ao meu redor gira cada vez mais rápido, e me pergunto se estou enlouquecendo.
Sinto meu celular vibrar com uma ligação de Noah. Com as mãos trêmulas, atendo o mais rápido possível, mas não consigo dizer coisa alguma, embora queira dizer muitas. Do outro lado da chamada, ouço-o perguntar onde estou e se estou bem repetidas vezes, mas tudo que consigo fazer é lutar para sentir o ar em meus pulmões, respirando de forma pesada e acelerada. Não consigo pensar ou sentir absolutamente nada com muita clareza. O chão parece desaparecer lentamente sob meus pés a cada novo passo que dou, tentando chegar a qualquer lugar.
Abro uma porta escondida em um canto vazio, e entro em um banheiro mal iluminado e aparentemente não muito utilizado por qualquer membro desta casa enorme. Mesmo agora, sozinha, não consigo colocar meus pensamentos em ordem ou tornar minha respiração mais compassada. Apoio o corpo sobre a pia, encarando meu próprio reflexo no espelho diante de mim. Após alguns segundos, começo a enxergar duas de mim e concluo que estou à beira de um colapso. Tudo ao meu redor está distante e desfocado, mas por alguma razão parece ter o poder de me apavorar, mesmo que não tenha absolutamente nada de especial acontecendo agora. Não aguento mais sustentar meu próprio peso, por isso, entro na banheira vazia e me encolho, abraçando meus joelhos, e tento repetir para mim mesma que o que quer que eu tenha pensado ter visto, não passou de uma ilusão. Continuo ouvindo meu coração pulsando aceleradamente em meus ouvidos, e meus pulmões queimam, implorando por ar como nunca antes. Cravo as unhas em minha perna com força, como se a dor proporcionada pelo ato pudesse me trazer de volta à realidade, ou ao menos me distrair de todas as sensações horríveis que estou sentindo, mas não faz diferença alguma. Quero gritar socorro, mas sei que ninguém está por perto para me ajudar. Lágrimas brotam em meus olhos e imediatamente escorrem pelo meu rosto, então o afundo em meus joelhos enquanto sinto que estou morrendo de dentro para fora, sem ar, com medo e sozinha.
Sinto que estou sendo sugada por todo o medo e a culpa que tenho tentado ignorar durante toda a semana, como se estivesse sendo sugada por um buraco negro. Estou perdendo o controle sobre mim, e parece impossível tê-lo de volta. Encolhida na banheira como uma criança assustada, balanço o corpo para frente e para trás, batendo a cabeça com força contra a parede, esperando que em algum momento isso seja o suficiente para eu apagar, pois já não aguento mais sentir coisa alguma.