Depois de darmos cerca de dez voltas na quadra, Sarah, Cassie e eu fomos dispensadas da aula de educação física quinze minutos mais cedo do que o normal. Para ser honesta, sempre odiei educação física, e definitivamente não queria colocar a aula na minha grade horária, mas Sarah, que não queria fazer a aula sozinha, tentou convencer todas nós de que deveríamos escolhê-la justamente porque seríamos liberadas mais cedo pelo menos uma vez por semana. Segundo ela, isso acontece porque nosso professor de educação física e a professora de artes se encontram no almoxarifado para dar uns amassos às terças e quintas. Se isso é verdade? Não sabemos. Muito do que ela fala não passa de boatos. Mas sendo verdade ou não, o fato é que pelo menos uma vez na semana, somos liberadas mais cedo da aula, e esse foi o único motivo para Cassie e eu termos cedido à insistência de Sarah. Daisy, por outro lado, preferiu se juntar ao clube de jornalismo, por isso, mesmo quando saímos mais cedo, ainda temos que esperar por ela.
Enquanto as outras garotas saem da escola em direção a seus carros, prontas para irem embora, nós atravessamos o corredor vazio em direção à porta de entrada e nos sentamos nos degraus da escada, ainda respirando com dificuldade após a corrida. Minha mente voa para longe enquanto presto atenção no céu azul, apesar do ar gelado. Fica claro que os dias de outono chegaram antes que nos déssemos conta, e para falar a verdade, sinto falta dos dias de verão, quando o ar era quente e nossos problemas eram menores. Meus dedos começam a ficar gelados e consigo sentir meu nariz e minhas bochechas congelando lentamente. Encolho-me em meus próprios braços, tentando amenizar o frio que começo a sentir conforme o entardecer se aproxima.
— Não acredito que Daisy realmente vai nos deixar na mão quando voltarmos àquela floresta. — Cassie reclama enquanto prende seus cachos em um coque com uma agilidade impressionante.
— Para ser honesta, até que consigo entendê-la. — Admito, virando um longo gole de água da garrafa de melhores amigas que Sarah me deu no meu aniversário de treze anos. Ela diz que enterrou a sua, porque foi um presente vergonhoso, mas sei que ela ainda mantém a sua bem guardada e a utiliza escondida em casa. Ela me julga por ainda usar a minha em público, e eu digo que tenho mais coisas para me importar do que o julgamento das pessoas sobre minha garrafa de água.
Ela e Cassie me lançam um olhar julgador diante do comentário. Sinto vontade de engolir minhas palavras de volta enquanto minhas bochechas coram.
— Bom, independente de quais sejam seus motivos, estamos nessa juntas. Deveríamos estar lidando com esses problemas juntas até conseguirmos nos livrar deles. — Sarah retruca.
Franzo a testa, tentando imaginar como isso poderia ser possível. O problema no qual estamos envolvidas não me parece ser do tipo que se pode "se livrar". Não há solução. Sempre estaremos fugindo em círculos, esperando não ser pegas nessa trajetória, mas que é que pode nos garantir que isso não acontecerá eventualmente? No fundo, sei que não há nada que possamos fazer para garantir isso.
Antes que eu possa começar a interrogá-la sobre como ela pode acreditar que um dia seria possível "nos livrarmos dessa" de uma forma tão simples quanto ela faz parecer, Cassie, cumprindo seu papel de aliviar a tensão quando nossas conversas parecem estar partindo para uma possível discussão, muda de assunto rapidamente. Ela faz isso com uma frequência um tanto razoável. Sempre começa a falar sobre outro assunto totalmente aleatório antes que possamos iniciar uma briga, e até funciona, porque até entendermos por que é que ela está falando sobre aquilo, já não vale mais a pena voltar no assunto anterior. Dessa vez, ela simplesmente começa a divagar sobre o suposto centro de universo não passar de um círculo superestimado no chão de Tulsa, em Oklahoma. Sarah faz uma careta enquanto tenta entender por que Cassie mudou o rumo da conversa tão repentinamente, mas não a interrompe em momento algum, meio intrigada. Ficamos tão imersas na falação de Cassie, que estremeço quando a voz do diretor ressoa atrás de nós.
— Theodore James Thompson. — O diretor fala pausadamente, atraindo a nossa atenção.
Thompson? Como Noah Thompson?
Viramos nossos rostos confusos e curiosos para a cena, e assistimos o diretor ficar cara a cara com o garoto. Observo-o discretamente. Até então, não havia tido a oportunidade de conhecer o irmão de Noah pessoalmente ou sequer vê-lo em alguma foto, e nas poucas ocasiões onde Noah o mencionava, eu dificilmente dedicava muito do meu tempo em tentar imaginar como ele seria. Mas agora, analisando-o daqui, concluo que jamais poderia adivinhar que o garoto diante de nós teria qualquer tipo de parentesco com Noah, já que os dois não possuem praticamente nenhum aspecto físico em comum, exceto pela altura. Diferentemente do irmão, o cabelo de Theodore é liso e escuro. Seus olhos são de um tom cinza claro, que de alguma forma, me faz pensar no inverno. Ele é totalmente o oposto de Noah, de cabelos claros e cacheados e olhos azuis claros que me remetem diretamente aos dias de verão.
A expressão séria e inflexível no rosto do garoto denuncia sua infelicidade de estar ali. Me pergunto há quanto tempo ele já estava ali antes de notarmos sua presença e se ouviu partes comprometedoras de nossa conversa.
— É bom te ver, eu acho. — Há um tom curiosamente hostil na voz do diretor, o que torna a coisa toda mais interessante de assistir. De onde estamos sentadas, nos degraus mais baixos da escada, não tenho certeza se eles podem nos ver os encarando como um bando de enxeridas, mas isso não parece fazer diferença alguma, de qualquer forma.
Theodore acena com a cabeça. Tenta formar um sorriso de educação, mas falha miseravelmente. A hostilidade parece ser mútua, e parece ser a única coisa na qual eles concordam.
— Igualmente. — Não é segredo que ele está mentindo, mas isso não parece incomodar o diretor, que cruza os braços em torno do corpo rechonchudo, segurando um grande envelope pardo em uma das mãos, e encarando o garoto quase com certo fascínio.
— Sabe, estava mesmo curioso para saber o que o tempo teria feito com você, afinal. — Diz. A frase poderia significar qualquer coisa para qualquer uma de nós, mas Theodore parece saber bem o que isso significa para ele.
Os olhos do garoto analisam o diretor de cima a baixo rapidamente. Ele trava a mandíbula, como ponderasse seus pensamentos antes de colocá-los para fora. Por fim, apenas dá de ombros e diz:
— É, o tempo pode ser cruel para alguns de nós. — Fala, e fixa os olhos acinzentados no envelope pardo, quase como se desejasse apenas arrancá-lo das mãos do diretor e ir embora.
— Mas parece ter feito bem a você.
— Eu não estava falando de mim. — Theodore rebate com prontidão, quase como se estivesse contando com a resposta do diretor para usá-la ao seu favor.
Arregalo os olhos com a insinuação audaciosa do garoto. Ao meu lado, Sarah solta um grunhido, lutando para conter uma risada. Dou um leve tapinha em seu braço.
O diretor fica meio sem graça, e, embora permaneça estóico, Theodore parece ficar satisfeito com isso, o que me parece um pouco maldoso.
— É melhor aproveitar. Não se pode ser jovem para sempre. — Ele responde, meio resignado. Mas logo sua expressão muda. — Aliás, ouvi dizer que se formou no ensino médio. Isso é verdade? — De repente há um tom provocador na voz do diretor, como se ser irônico com Theodore fosse lhe causar a maior satisfação de sua vida, por alguma razão.
Theodore parece morder a parte interna da boca, parecendo lutar com afinco para se manter na linha.
— Tenho vinte anos, é claro que eu me formei no ensino médio. Mas não graças a você. — Ele rebate, sério.
Um sorriso irônico se forma no rosto do diretor, como se gostasse de saber disso.
— Bom, fico feliz que tenha encontrado um jeito de seguir em frente depois de tudo. — Fala, por fim, estendendo-lhe o envelope pardo, o qual Theodore agarra com força, quase como se temesse que o diretor pudesse puxá-lo de volta e obrigá-lo a ter outra conversa esquisita antes de finalmente permitir que o envelope voltasse para suas mãos. — Bem-vindo de volta a Redgrove, Theodore.
Ele força um pequeno sorriso, mas não responde.
— Ah! E mantenha-se na linha, sr. Thompson. — O diretor se detém a caminho do prédio para dizer suas últimas palavras a Theodore, que novamente, não esboça grandes reações, apenas assiste o homem lhe dar as costas e voltar para dentro da escola.
Quando o diretor finalmente some de sua vista, consigo ver os músculos do garoto relaxarem.
Viro-me de costas para ele, voltando a observar o estacionamento diante de nós quando fica claro que o show acabou. Nos colocamos de pé nos degraus conforme o horário de saída dos demais alunos se aproxima, para reduzir as chances de sermos pisoteadas.
— Espere, então ele é o irmão do Noah? — Cassie indaga, incapaz de esconder seu espanto enquanto ela e Sarah continuam o analisando indiscretamente, em busca de qualquer sinal de semelhança entre os dois.
Dou de ombros, prestes a dizer que não sei bem, mas provavelmente sim, quando a voz do garoto se adianta em responder:
— É, sou, sim. — Confirma, soando meio impaciente, como se precisasse afirmar isso o tempo todo para as pessoas e já estivesse cansado disso.
Arregalo os olhos quando noto que ele nos escutou, e vejo o rosto de Cassie enrubescer. Ainda assim, ela mantém os olhos fixos nele conforme se aproxima de nós, enquanto eu preciso reunir coragem para voltar a encará-lo depois disso. Surpreendentemente, Sarah se mantém quieta o tempo todo, apenas observando-o com o que parece ser desconfiança.
— Vocês o conhecem? — Ele pergunta, parando a um degrau de distância.
— Ela o conhece melhor do que o resto de nós. — Cassie responde, me indicando com a cabeça. Congelo por um segundo diante da constatação, me sentindo meio exposta. Os olhos do garoto param sobre mim, intrigados.
— Qual o seu nome? — Pergunta.
Hesito por um momento.
— Elizabeth. — Respondo, ignorando o cutucão de Cassie em minha costela, como uma mãe que tenta impedir que você fale demais para um estranho. — Ou Liz, na maior parte do tempo. — Completo.
Ele abre um sorriso indecifrável, exibindo uma covinha na bochecha esquerda.
— Liz, é claro! — Exclama, estendendo a mão para me cumprimentar enquanto seus olhos parecem fixos em meu rosto, como se analisasse cada traço meu. Sinto meu rosto corar. Agora sei como ele se sentiu sob nossos olhares. É mesmo uma sensação terrível. — É um prazer finalmente conhecê-la. Noah sempre falou muito de você. Ele sempre teve muitas pretendentes, mas nunca se interessou muito por nenhuma delas. Agora eu entendo o porquê.
Arqueio as sobrancelhas. "Muitas pretendentes"? Quer dizer, sempre soube que Noah chamava a atenção das garotas por onde passava, mas ouvir que ele, de fato, sempre teve muitas pretendentes parece me atingir de uma forma completamente nova, me causando certo incômodo. Troco olhares rápidos com Sarah, que balança a cabeça em um movimento sutil, como se dissesse para eu não me preocupar com o que ouvi.
Estendo a mão para cumprimentá-lo de volta.
— É um prazer finalmente conhecê-lo também...
— Theodore. — Ele complementa, aproveitando a oportunidade para se apresentar para nós, e embora já soubéssemos, assentimos como se fosse novidade para nós. Acho que ele não se sentiria muito confortável em saber que ouvimos toda a conversa esquisita entre ele e o diretor, apesar de provavelmente poder imaginar, afinal, se ele pôde nos ouvir, nós também podíamos ouvi-los. Mas acho desnecessário mencionar.
Felizmente, o sinal logo toca do lado de dentro, e voltamos nossa atenção para a multidão que preenche o corredor através das portas de vidro. Alguns saem apressados da escola, prontos para ir embora, mas, ironicamente, a grande maioria ainda prefere se demorar diante dos armários, conversando em grupos e criando obstáculos humanos para as pessoas que realmente estão interessadas em sair dali o mais rápido possível. Noah e Daisy não demoram muito para sair. Se encontram no meio do caminho, enquanto tentam se desviar das pessoas paradas no corredor. Algo lhes arranca uma risada, e parte de mim fica curiosa para saber o que foi. Os dois caminham em direção à porta, e, no instante em que nos vê, a expressão de Daisy muda completamente. Ela nos observa como se quisesse dizer algo, relutante, mas parte em silêncio na direção oposta, nos deixando confusas.
— Então agora vai ser assim? Ela nem vai falar com a gente? Quer dizer, só ficamos aqui até agora porque estávamos esperando por ela! — Sarah bufa, irritada com a nova atitude de Daisy.
Cutuco a costela de Sarah, que não parece ter notado o quanto o acontecimento parece ter abalado Cassie, que continua assistindo enquanto Daisy caminha para longe sem ao menos olhar para trás. Sarah suspira, me observando como quem sabe que não pode fazer nada para mudar a situação, mas engole sua frustração em silêncio, o que já ajuda um pouco.
Enquanto isso, Noah franze a testa e desce as escadas lentamente em nossa direção, parecendo receoso, como se estivesse adentrando um campo minado.
— O que está fazendo aqui? — Pergunta ao irmão, a um degrau de distância.
Theodore levanta o envelope em uma das mãos.
— Precisava buscar alguns documentos.
Noah desce o último degrau e para ao meu lado, de frente para o irmão. Sua expressão continua dura. Não parece muito feliz com a presença de Theodore, e também não faz muito esforço para esconder isso.
— Eu poderia ter levado para você. Não precisava se incomodar em vir até aqui. — Noah fala, nervoso e hesitante. Seu desconforto é quase palpável, apesar dos motivos serem uma incógnita.
Theodore estreita os olhos, percebendo o incômodo do irmão.
— Sempre tão prestativo. — Responde, mas soa meio sarcástico. — Mas até parece que o diretor iria perder a oportunidade de ver seu ex-aluno preferido, não é?
Eu e minhas amigas trocamos olhares intrigados. Nenhuma de nós sabe do que se trata toda a tensão que presenciamos hoje, tanto entre o diretor e Theodore quanto entre Noah e o irmão. Nenhuma de nós tem total entendimento de nada que está acontecendo ao nosso redor desde que saímos da última aula, e a sensação é perturbadora. É como se não tivéssemos recebido o roteiro de nossas próprias vidas, e estivéssemos apenas atuando conforme as coisas acontecem, nos pegando de surpresa o tempo todo.
Noah revira os olhos.
— Qual é, Theo. Precisa deixar isso para lá. — Resmunga, parecendo cansado.
— Só tivemos uma rápida conversa agora há pouco. — Ele esqueceu de mencionar a estranheza da conversa, mas Noah parece já imaginar. — Não se preocupe, eu me comportei.
"Mais ou menos", penso.
— Eu nem furei os pneus do carro dele!
A exclamação arranca um riso de todos nós, o que parece ser um tanto satisfatório para ele. Rapidamente concluo que Theodore parece ser o tipo de garoto que está acostumado a chamar a atenção das pessoas ao seu redor. Noah, no entanto, mal esboça uma reação.
— Bom, isso... parece mesmo algum tipo de progresso. — Comenta, enfiando as mãos rígidas nos bolsos. Ainda consigo ver a tensão espalhada por todo o seu rosto, tornando suas expressões quase robóticas.
— E se eu não tivesse vindo, — Theodore continua, incansável — não teria finalmente conhecido a adorável Liz. — Fala, olhando para Noah, e então para mim. Pelo sorriso que surge em seu rosto, trata-se de uma óbvia provocação. Com isso, consigo ver a paciência de Noah se esgotando, o que é novidade para mim. Nunca o vi perder a calma, mas Theodore parece estar disposto a empurrá-lo até o seu limite, por alguma razão.
— Sim, ela é mesmo incrível. — Noah concorda, sem ao menos desviar a atenção para mim. Ele encara o irmão como se quisesse destruí-lo apenas com o olhar, mas Theodore não parece se importar. Na verdade, parece estar quase se alimentando da irritação de Noah, como se isso lhe causasse ondas de prazer, o que me traz dezenas de questionamentos sobre a relação dos dois.
Observo Sarah e Cassie com o canto dos olhos, praticamente imóveis, vidradas em cada segundo dos acontecimentos diante de nós.
— Aliás, você as convidou para a festa de sexta? — Theodore pergunta de repente, deixando de lado as suas provocações por um minuto.
Franzo o cenho. Festa de sexta? A confusão em meu rosto deixa claro que não recebemos convite algum, e a falta de vontade no rosto de Noah é o suficiente para explicar o porquê: aparentemente, nem mesmo Noah gostaria de ter aceitado o convite para a tal festa.
Noah inclina a cabeça para trás.
— Ah, qual é, Theo. Não estou a fim de passar minha noite de sexta-feira em uma festa com seus amigos da faculdade. Para que precisam de mim lá, afinal? — Ele reclama.
A expressão de Theodore, antes sarcástica e desdenhosa, se torna mais rígida de repente. Agora ele realmente parece ser o irmão mais velho, com uma expressão de reprovação diante do comportamento de Noah se espalhando por todo o seu rosto, o que parece causar um intenso nervosismo em Noah, porque o vejo engolir em seco, quase como se estivesse se preparando para se defender. Por alguma razão, meu coração dispara, e não consigo evitar de sentir um certo receio também, apesar de não saber o motivo.
— Você é o fotógrafo, Noah. Assumiu um compromisso e agora precisa cumprí-lo. — Responde com firmeza.
— Tenho certeza de que eles conseguem arranjar outro fotógrafo. — Noah argumenta.
Theodore balança a cabeça.
— Agora é tarde demais. Precisa estar em Rosefield na sexta, entendeu? — Ele praticamente ordena, deixando claro que Noah não tem opções. Não há como fugir.
Noah assente, desanimado.
— Mas, como eu disse, pode levar suas amigas. Acho que vão se divertir. Estão todas convidadas. Vai ser demais. — Repete o convite.
Noah solta um riso sarcástico.
— Não acredito muito em nada que você defina como "demais".
Theodore ignora o comentário, e fixa o olhar entusiasmado sobre nós, enquanto espera por uma resposta positiva da nossa parte.
Apesar de não sermos do tipo que costuma rejeitar convites de festas, acredito que há um consenso silencioso de que isso poderia ser estranho, já que mal o conhecemos, e nem mesmo Noah parece achar que aceitar o convite pode ser uma boa ideia.
Sorrio da forma mais gentil que consigo, prestes a agradecer e recusar o convite, mas antes que eu possa sequer abrir a boca, Cassie o faz.
— Legal! Estaremos lá. — Ela afirma, sorrindo com a maior certeza do mundo.
Todos os olhares se voltam para ela, perguntando o que diabos ela estava fazendo, o que não parece abalá-la nem um pouco.
Theodore sorri.
— Ótimo! Espero vocês lá! — Fala, soando animado com a ideia da nossa presença. — Incluindo você. — Reforça, para Noah, que já parece cansado só de pensar no assunto.
— Bom, acho que não me resta muita escolha. — Ele responde, esforçando-se para formar um sorriso.
Noah e eu trocamos olhares por um segundo, e consigo enxergar o quanto a ideia lhe parece péssima. Olho para Cassie, sorridente, e me pergunto o que ela estava pensando.
Noah suspira.
— Bom, hora de ir, Theo. — Ele finalmente diz, tentando transmitir o máximo de normalidade possível diante da situação.
Theodore, que parece já ter se divertido o suficiente por hoje, sorri satisfeito e assente.
— Certo. Vamos nessa.
— Eu te ligo mais tarde, está bem? — Noah fala, beijando a minha testa e partindo logo em seguida, parecendo meio mal-humorado.
Quando me dou conta, estamos todas assistindo tanto Theodore quanto Noah indo embora. Provavelmente não sou a única com milhares de questões borbulhando em minha mente.
— Se me permitem aconselhá-las... — o diretor fala, surgindo sorrateiramente atrás de nós. — é melhor não se envolverem com esse garoto. Theodore Thompson não é nada além de problemas. Não deveriam se aproximar dele. — Ele finaliza, antes de voltar para dentro da escola e gritar com um grupo de garotos reunidos em volta do bebedouro.
Sarah respira fundo enquanto procura pelas chaves do carro em sua bolsa.
— Bom, não teríamos que fazer isso se Cassie não tivesse aceitado aquele estúpido convite! — Ela provavelmente esteve guardando isso por muito tempo dentro dela, contando os minutos para poder jogar isso na cara de Cassie. — No que estava pensando? Devia ter nos consultado!
Cassie revira os olhos.
— Pode se acalmar? — Fala, no mesmo tom que Sarah. — Eu achei que poderíamos usar a festa do garoto como pretexto para voltarmos até Rosefield, já que teríamos que voltar à floresta de qualquer jeito para analisar o local de onde a foto pode ter sido tirada e ver se encontramos algo que possa nos ajudar. Agora, pelo menos, teremos uma desculpa melhor para ir até lá. Um álibi, se preferir outro termo.
— Mas e quanto ao Noah? Ele não vai gostar de saber que essa é a verdadeira razão pela qual estamos indo até lá, mesmo depois dele dizer que não acha uma boa ideia.
— Ele não precisa saber disso. Lizzie, essa é a nossa melhor chance. Pode manter isso em segredo, ao menos por enquanto? — Cassie pergunta, fixando seus olhos verdes sobre mim.
Suspiro fundo. Me sinto mal de mentir para Noah, e esse definitivamente não parece o jeito certo de começar uma relação.
— Tudo bem. — Falo, por fim, não muito animada com a ideia, mas disposta a ceder.
— Ótimo. Talvez assim Daisy concorde em ir também. — Ela comenta, esperançosa.
Sarah revira os olhos e solta um ruído.
— Cassie, cai na real! Daisy não estará lá. Nós a perdemos. — Interrompe, dividindo seus sentimentos entre a irritação e a aceitação.
Posso ver a chateação estampada no rosto de Cassie. Ela e Daisy sempre foram muito próximas uma da outra, mesmo dentro do grupo. Conhecemos Daisy e Cassie na sétima série, quando as duas entraram na escola e passaram a ser as novatas. Elas chamaram a atenção de Sarah, que me convenceu de que seria interessante se tentássemos fazer amizade com elas. Nunca fui boa em fazer novos amigos e sempre soube disso, mas, felizmente, acabou dando certo. No começo eu não falava muito, assim como Daisy. Sarah e Cassie tagarelavam sem parar. Com o passar do tempo, fui me sentindo mais à vontade para conversar também. Daisy, no entanto, sempre foi quieta. Houve um tempo em que Sarah colocou na cabeça que Daisy nos odiava, mas Cassie explicou que ela sempre foi assim: nunca falou muito mais do que o necessário, mas sempre teve um coração enorme, e sua maior qualidade era ser uma boa amiga. Apesar de seu silêncio, ela sempre estava por perto quando Cassie precisava. E então entendemos que assim como Sarah e eu tínhamos uma a outra, Daisy e Cassie também se tinham.
— Talvez sua ausência seja temporária. — Falo, tentando animar Cassie enquanto caminhamos pelo estacionamento em direção ao carro de Sarah. — Sabemos como ela é. Provavelmente só está assustada com tudo isso, mas quando realmente precisarmos dela, ela estará lá. — No fundo, até eu mesma duvido de minhas palavras, por isso, é ainda mais improvável que Cassie acredite.
— Nesse caso, ela deveria estar aqui. — Sarah diz baixinho, com os dentes semicerrados e cara de quem traz más notícias. Lanço-lhe um olhar fuzilante, porque, embora esse pensamento tenha cruzado a minha mente, meu intuito principal no momento é apenas consolar Cassie.
Sarah entende o recado através do meu olhar furioso e dá de ombros.
— Mas você tem razão. Talvez isso passe logo. — Mente, entrando no carro em seguida.
Cassie é inteligente demais para realmente acreditar em qualquer coisa que nós duas estamos dizendo apenas para lhe consolar, mas por educação, concorda com a cabeça e esboça um meio sorriso. Ela salta para dentro do carro, sozinha no banco de trás, e durante todo o caminho, não dizemos mais nenhuma palavra sobre esse assunto.
— Bom, agora que conhecemos o irmão do Noah podemos dizer que ele é... — Cassie começa a dizer, mas parece incapaz de encontrar o jeito certo de terminar a frase. Mas não é necessário. Sei exatamente o que ela quer dizer.
— É, eu sei. — Digo.
— É gatinho. — Sarah fala, ao mesmo tempo.
Cassie e eu voltamos nossos olhares surpresos para ela, que não parece entender o motivo do espanto.
— O que foi?
— Esse é mesmo o primeiro adjetivo que vem à sua mente? — Pergunto.
— Eu não disse que ele não parece ser maluco, só disse que é gatinho. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — Sarah justifica, dando de ombros e ligando o carro.
Cassie solta um riso no banco de trás.
— Algum dia você vai gostar de algum garoto normal? — Indaga, incrédula com a habilidade que Sarah tem para gostar de garotos, no mínimo, problemáticos.
— Em primeiro lugar, não gosto dele, eu mal o conheço. — Sarah pontua, dirigindo para fora do estacionamento escolar. — E em segundo lugar, talvez não. Eu tenho problemas paternais.
Damos risada.
— Ah, então é por isso que você tem o dedo tão podre para garotos? — Cassie provoca.
— Sim, é claro. — Sarah assente, meio dividida entre estar sendo sarcástica e estar falando sério.
Arqueio as sobrancelhas.
— Dedo podre? Fala sério, ela é um para-raios de garotos duvidosos. — Zombo.
Sarah abre um sorrisinho de canto.
— Paguem a minha terapia, e aí nós conversamos.
— Achei que o seu pai pagava uma terapeuta para você. — Cassie aponta.
— Ah, isso já faz tempo. Ela era minha terapeuta infantil, a sra. Atticus. Eu não gostava dela. Ela me obrigava a desenhar figuras idiotas e tinha cheiro de canela.
— Isso... não parece tão ruim. — Observo.
— É ruim em gente velha. — Sarah rebate.
Dou uma gargalhada.
— Você é a maior babaca do planeta, sabia? — Informo. Não que isso seja novidade para ela, mas acho o momento apropriado para reforçar.
— O planeta é um lugar muito grande e hostil. Talvez da América do Norte. E devo estar, tipo, só no top 100 das pessoas mais babacas. Talvez concorra a algum prêmio por isso algum dia.
Do modo como as coisas estão se encaminhando no mundo, não me surpreenderia se um dia criassem uma premiação com esse tipo de concorrência.
— É, como um Grammy de babacas ou algo assim.
Sarah ri.
— Bom, o fato é que a minha terapia não está em dia há anos. Agora o meu pai só me manda dinheiro e eu uso para comprar sapatos. A coisa funciona bem para nós dois.
Cassie e eu trocamos olhares.
— É, estou vendo. — Ela zomba.
— Ah, cale a boca! — Sarah exclama, rindo.
Passamos o resto do trajeto cantando You're so vain a plenos pulmões, e durante alguns minutos que eu gostaria que durasse para sempre, tenho um vislumbre do grupo de amigas que costumávamos ser.