Após uma semana revigorante na Bahia, voltei para São
Paulo com o coração cheio de energia e gratidão. Os dias
de reencontro com a família e a conexão com a natureza
me deram a força necessária para enfrentar os meses
agitados que se aproximavam. Um dia após minha
chegada, já estava prestes a iniciar meu último estágio,
uma etapa crucial no meu último ano de faculdade. Esse
estágio seria em uma casa de repouso, e eu trabalharia
até dois dias antes do casamento religioso, o que
significava que teria muitas responsabilidades e
preparativos para gerenciar nos dois meses seguintes. O
casamento religioso estava planejado para acontecer em
uma chácara deslumbrante, próxima à casa do Júlio.
Visitamos o local alguns meses antes e nos apaixonamos
imediatamente, tornando-o nossa única escolha. O pastor
que celebraria nosso casamento era uma pessoa especial
e querida, o que tornava o evento ainda mais
significativo. Já havíamos encomendado o bolo e os
doces, e todos os fornecedores estavam contratados:
buffet, DJ, cerimonialista, decoradora e maquiadora.
Tudo estava cuidadosamente planejado para garantir que
o dia fosse perfeito. Enquanto eu estava na Bahia, Júlio
aproveitou para escolher seu terno com a mãe e também
escreveu seus votos. Ao chegar em casa, fui recebida
com flores, um gesto carinhoso que aqueceu meu
coração. Compartilhei com Júlio as maravilhas da minha
viagem, e, após uma conversa animada, decidimos
visitar Verônica no final de semana seguinte. Meu
primeiro dia de estágio foi uma experiência única. Ver os
idosos na casa de repouso, embora bem amparados,
longe de suas famílias, me fez refletir sobre a vida e
despertou em mim o desejo de oferecer amor e carinho
àqueles senhores. Pouco tempo depois, fomos à casa de
Verônica, que nos aguardava ansiosa. Ao entrar no
quarto da tia, fiquei aliviada ao vê-la estável, o que
reacendeu minha esperança de ter Verônica e Oscar
presentes no meu casamento. Cheguei a considerar a
possibilidade de levá-la conosco, pois a chácara era
acessível e ela poderia participar da cerimônia em uma
cadeira de rodas. No entanto, percebi que, dadas as
nossas limitações e a necessidade de priorizar o
bem-estar dela, seria inviável. Os dias passaram voando,
e a alegria de viver aquele momento especial coloria
nossa rotina. Quinze dias antes do tão esperado 7 de
setembro, Júlio e eu fomos surpreendidos com um chá de
cozinha, cuidadosamente planejado pela amiga da minha
mãe e minha irmã Patrícia. Cercados de brincadeiras e
risadas, abrimos os presentes, e aquele instante acendeu
minha alma. Minhas tias animaram as atividades, e
celebramos o amor que nos envolvia. Encerramos o dia
felizes com os presentes e envoltos em harmonia,
ansiosos pelo grande dia que se aproximava a cada
instante. E com apenas sete dias para o casamento, a
ansiedade fervilhava dentro de mim. Naquela manhã,
acordei cedo, incapaz de conter a alegria, que me fez
pular da cama antes das sete. A felicidade transbordava,
e eu precisava expressá-la de alguma forma. Com Arthur
e Júlio ainda dormindo, decidi ler minhas cartas do
passado, na esperança de acalmar a ansiedade. Peguei
uma folha de caderno e comecei a escrever uma carta
para meu eu do passado: “Olá, eu do passado! Trago
boas novas do futuro! Estou aqui, às 06:42 da manhã,
debruçada sobre a mesa, incapaz de dormir mais um
pouco devido à ansiedade de te contar... Sim, deu certo!
Há menos de um ano, você encontrou o amor! Ele é
gentil e loucamente apaixonado por você. Arthur o
chama de pai. Hoje, você sente vontade de chorar, mas é
de felicidade. Você está no seu lindo apartamento.
Embora não more mais com a Vê, visita-a todos os
meses. Sua faculdade está quase no fim, e você está no
último estágio. Quero te dizer que valeu a pena manter
aquele fio de esperança. Tudo se ajeitou rapidamente!
Deus foi bondoso, e estamos a sete dias do nosso
casamento, realizando um sonho de infância. Estou tão
feliz que não consegui ficar na cama e vim escrever para
você. Casámos-nos no civil em junho, e tudo tem corrido
maravilhosamente bem. É uma felicidade imensa contar
que tudo deu certo no fim, que o amor existe e ser
verdadeiramente amada é maravilhoso. Graças a você,
estamos a sete dias de um sonho, graças à sua fé em dias
melhores. Encerro aqui, com a mesma fé em novas
conquistas”. Terminei a carta imersa em lágrimas de
felicidade. Logo depois, Arthur e Júlio acordaram, e
assim começamos nosso dia. Entramos na última semana
antes do casamento, e os convidados de outros estados
começaram a chegar aos poucos, com tia Gilda e minha
avó seriam as últimas, previstas para chegar no dia 6,
véspera do casamento. Carregava dentro de mim a
inquietação e a expectativa até o dia 7, questionando se
tudo daria certo. Até ali, tudo havia se encaixado
rapidamente, provando que não existe tempo certo para o
amor. O amor simplesmente acontece, e havia
transformado nossas vidas. Na mesma data do ano
anterior, eu ainda não conhecia Júlio, mas agora estava
prestes a realizar um sonho de menina, construindo um
lar e uma vida. Na semana do casamento, Júlio e eu
escrevemos cartas para nossos padrinhos e pais.
Aproveitei para escrever uma carta para ele, ao vê-lo
escrevendo para mim. Ele me entregaria no dia do
casamento. Combinamos que eu me arrumaria na
chácara, que tinha um quarto para as noivas. Fui à loja
para uma última prova do vestido e, faltando apenas
quatro dias para o casamento, troquei o vestido por um
do mesmo modelo, mas um tamanho menor, que não
precisaria de ajustes. Foi uma troca impulsiva, mas
certeira. A sexta-feira chegou, véspera do casamento, e
já havia começado agitada. Após ir fazer minha unha,
fomos à rodoviária buscar minha avó e tia Gilda.
Enquanto cumprimentava minha avó, uma tia querida,
por nome de Aniela, que havia dito que não poderia vir,
surgiu de surpresa. Ao vê-la, meus olhos se arregalaram,
e corri para abraçá-la. — Eu não acredito! Eu não
acredito! — repetia, chorando de emoção enquanto a
abraçava. Ela, também emocionada, afastou meu cabelo
molhado de lágrimas do rosto e disse: — Você acha que
eu não viria? Tia Ane, como carinhosamente a chamo,
era muito especial para mim. Morei com ela por um ano
antes de ir para São Paulo, e sua presença no meu
casamento era um presente inestimável. Eufóricas e
alegres, fomos para meu apartamento, envolvidas em
conversas sobre como orquestraram aquela surpresa.
Aquele dia foi um prelúdio perfeito para o que estava por
vir, repleto de amor e emoção. Ao chegarmos em casa e
acomodar minhas tias e minha avó, Júlio preparou um
delicioso café, logo deixávamos elas descansando. Em
seguida, nos dirigimos à casa dos pais de Júlio, onde
estavam todas as coisas que havíamos comprado para o
casamento, além dos doces e do bolo, para que, assim,
levássemos até a chácara onde aconteceria o casamento.
Naquela noite, enquanto Júlio e seu pai descarregavam o
carro, aproveitei para passar um tempo com minha mãe e
Sônia, que seria minha madrinha de casamento, ambas já
estavam na chácara. Conversamos animadamente, e elas
estavam encantadas com a beleza do local que
escolhemos para a cerimônia. Cada abraço apertado que
minha mãe me oferecia era repleto de amor e segurança,
e cada sorriso dela, ao contemplar minha felicidade,
despertava em mim uma profunda reflexão. Sua alegria
era quase tangível, uma fonte de luz que enchia o
ambiente. Seu sorriso, constante e sincero, lembrava-me
de que foi através dela que conheci o Júlio, o amor que
transformou minha vida. Minha mãe foi a responsável
por pavimentar o caminho de felicidade que eu trilho
agora, pois foi na igreja que ela erigiu com tanto cuidado
que os olhos do Júlio encontraram meu sorriso pela
primeira vez. O convite carinhoso que ela me fez meses
atrás tornou-se a chave para este momento tão especial,
em que todas as peças do destino se encaixaram
perfeitamente. Imersa em gratidão, recebi uma ligação de
Patrícia. Na casa dela, já havia convidados, e, no meio
do barulho, ouvi sua voz animada: — É amanhã! É
amanhã! — exclamou. — É amanhã! — confirmei,
pulando de felicidade. — Estamos morando na mesma
cidade, nem acredito! — disse ela, contente do outro
lado da linha. — Sim, nem acredito que conseguimos —
respondi. Logo ela informou que chegaria cedo ao sítio,
já que o casamento estava marcado para às três da tarde.
Combinamos que as mulheres da minha família se
arrumariam lá, todas no quarto ao lado do meu. — Onde
vai passar a lua de mel? — perguntou, curiosa. Informei
que passaríamos em uma cabana no interior de Minas.
Desligamos, combinando de nos ver no dia seguinte.
Logo em seguida, mandei uma mensagem para Vê: “Oi,
tudo certo para amanhã, né?”. Vê já havia confirmado
sua presença, mas não custava perguntar novamente. Ela
havia compartilhado que viria cedinho, e a cuidadora,
junto com meu primo, irmão da Vê, cuidaria da tia. A
expectativa e a emoção estavam no ar, e cada detalhe
parecia se encaixar perfeitamente para o grande dia, que
se aproximava e estava agora a algumas horas de
distância.
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