Os dias iam se passando, e eu me encontrava um pouco
pensativa sobre meu futuro. Sentia o desejo no meu
coração de orar por ele. Recentemente, havia publicado
um livro de poemas cujo tema era “Pequenos Detalhes”.
Decidi fazer uma campanha de oração sozinha, pensando
comigo mesma: todas as noites, durante 30 dias, às 22
horas, irei orar. Esse horário era perfeito, pois minha aula
já teria acabado e meu filho já estaria dormindo. Sem
explicação, eu sabia que os melhores dias da minha vida
estavam bem perto, e estava me preparando para
recebê-los. Sabe quando você sente que algo vai
acontecer? Eu não sei explicar; alguns chamam de
pressentimento, sexto sentido, sei lá. Eu sentia
fortemente dentro de mim, e aquilo já era o suficiente.
Mas eu seguia minha vida: estudava, fazia exercícios
físicos e mantinha minhas orações em um futuro
promissor. Mal sabia que minhas orações já estavam
sendo atendidas. Logo chegou o dia de viajar para a
cidade onde minha mãe morava. Eu era apaixonada por
aquela cidade desde a primeira visita. Havia muitas
árvores, e a conexão com a natureza que existia naquele
lugar me trazia conforto, remetendo-me à paz e
tranquilidade que tínhamos quando eu era criança. Bem
cedo, ao acordar, senti uma paz e uma sensação forte de
que algo estava para acontecer. Ou melhor, eu estava
prestes a dar o sorriso mais apaixonante da minha vida,
fato que até então não era do meu conhecimento.
Naquele dia, cheguei à casa da minha mãe por volta das
21h00, cansada. Afinal, viajar com criança cansa,
mesmo em viagens curtas como aquela, de
aproximadamente 3 horas. Tinha pegado um carro de
aplicativo até a rodoviária, o que levou uns 50 minutos, e
esperei cerca de meia hora pelo ônibus. Depois, fiquei 1
hora e uns 20 minutos no ônibus. Quando cheguei, mal
cum primentei minha mãe, pois já tinha passado do
horário do meu filho dormir. Deitei ao lado dele para
fazê-lo dormir e acabei dormindo também. Era
justamente o último dia para completar a sequência de
30 dias de oração, e esqueci completamente de orar.
Acordei cedinho e já me deparei com o entusiasmo da
minha mãe, que estava animada com a festividade do
dia. — Bom dia! Hoje tem churrasco na casa de uma
irmã da igreja — disse ela, contente. — Bença, Mainha.
Que legal! Eu amo carne, a senhora sabe, né? —
respondi com um sorriso. — Deus te abençoe — ela
disse. Curiosa, perguntei: — Quem vai? — O pessoal da
igreja — ela respondeu, enquanto engolia o café e
concluía: — Lá tem piscina e vai acontecer batismo de
alguns irmãos. Fui contagiada pela empolgação dela. Eu
amava carne e estava ansiosa para conhecer os irmãos da
igreja que deixavam minha mãe tão feliz. Enquanto
tomava meu café, pensamentos intrusos tomaram minha
mente. Pensei comigo: será que vou encontrar o amor da
minha vida na igreja da minha mãe? Será possível? Se
sim, ela deve ter o conhecido primeiro que eu. Fiquei um
tempo meditando. — Que aleatória, Letícia — refleti. A
igreja dela está começando agora, acho que nem deve ter
jovens. Embora, no fundo, eu considerasse a
possibilidade de encontrar alguém especial naquele final
de semana. O ponteiro do relógio estava prestes a marcar
09h00, quando minha mãe perguntou: — Não vai se
arrumar, Letícia? — Vou, mas não está cedo? —
indaguei. Ela respondeu: — A gente vai às 11 horas. —
Ah, sim! — respondi. — Já vou me arrumar e arrumar o
Arthur. Quando deu 11h00, saímos de casa e entramos
no carro. O churrasco aconteceria na rua de cima, mas
Daniel, amigo íntimo da família e irmão da igreja,
passou lá para nos buscar. Chegando lá, observei
atentamente a casa e as pessoas que já estavam
presentes. Após observar rapidamente o local, sentei-me
numa mesa junto com minha mãe. Após um tempinho,
perguntei para minha mãe: — Cadê o pastor? Minha
mãe, num tom de brincadeira, disse: — Ainda não
chegou, ele sempre atrasa. Estava curiosa para conhecer
o pastor que iria abrir a igreja com minha mãe. Pouco
tempo depois, houve um movimento na entrada da casa.
Ainda estava sentada à mesa, quando o pastor chegou,
acompanhado de sua esposa e de um jovem alto com
semblante sério. Assim que o rapaz entrou no local,
meus olhos foram diretamente para ele. Observei-o
brevemente e logo desviei o olhar, pensava comigo
mesma: “Humm”, enquanto um sorriso bobo surgiu no
meu rosto. Será que é “ele”, o motivo das minhas
orações todos esses dias? Não acredito! Ponderei em
silêncio, lembrando que na noite anterior, justamente o
último dia da minha sequência de orações, acabei
dormindo sem orar. “Perdoa-me, Deus”, pensei comigo.
Segundos depois, minha mãe me cutucou, dizendo: —
Olha, Letícia, chegou o pastor e a família da sua esposa.
De imediato, não fui com a cara do pastor. Sua esposa
parecia legal, mas ele me passou uma impressão
negativa. No entanto, logo me distraí com as coisas
acontecendo ao meu redor e perdi o contato visual com o
rapaz que havia chamado minha atenção. Ele se sentou
numa mesa atrás de mim. Naquela manhã de primavera,
o dia estava lindo. Joguei bola com algumas crianças e
com meu filho. Tudo já estava se encaminhando para o
fim, quando a família do pastor veio se despedir. Apenas
acenei e dei um sorriso em forma de cumprimento. Mal
sabia eu que, naquele instante, aquele sorriso
despretensioso seria o ponto chave da nossa história. Tão
pouco imaginava que, em menos de um ano, estaria no
altar ouvindo do amor da minha vida as palavras mais
bonitas que alguém já escreveu para mim. E olha que
não foi de maneira nenhuma intencional, mas, naquele
exato momento, ele se apaixonou de forma genuína e
inexplicável pelo meu despojado sorriso, algo que só
descobriria mais tarde naquele dia. Eu ainda não tinha
chegado em casa, quando uma notificação apareceu no
meu celular. Alguém havia me seguido no Instagram e
respondido a um stories. “Não! Será que é ele?”, pensei
comigo. Ao abrir o aplicativo para ver de quem se
tratava, deparei-me com a mensagem dele. Na
mensagem, ele dizia: “Além de linda, cristã, tem um
sorriso lindo... ainda é escritora”, e terminou com um
emoji de coração nos olhos. Ele continuou: “Desse jeito,
tu me ganha facinho hehe. Brincadeiras à parte, mas é
verdade”. Fiquei um breve momento sorrindo, incrédula.
“Que rápido! Não é possível.” Ver aquelas mensagens
me causou borboletas no estômago. Sorri boba e demorei
alguns minutos para responder. Fiquei sem palavras,
afinal, fui pega de surpresa, pois não tinha trocado
nenhuma palavra com ele no churrasco. Mas logo digitei
para ele, com receio: “Obrigada rsrs, fiquei até sem graça
com tantos elogios”. Logo em seguida, ele digitou: “E
isso é porque eu não te conheço direito. Tenho certeza
que tem muito mais qualidades”, terminou com um
emoji sorrindo. “Claro que não me conhece,” pensei
comigo. “A gente tinha se visto literalmente pela
primeira vez e não tínhamos trocado uma única palavra
até então.» Tentando prolongar a conversa, perguntei:
“Vai para o culto hoje?”. “Vou sim”, ele respondeu e
perguntou em seguida: “Você vai?”. “Vou sim”, disse em
resposta, e ele completou: “Então nos vemos daqui a
pouco kkk”. Escrevi: “Sim rsrs,” terminando aquela
conversa. Ainda perplexa e estranhamente contente,
mostrei a foto dele que tinha na grade do seu Instagram
para minha mãe, e perguntei: — Quem é? Ela deu uma
risada e respondeu: — É o Júlio, ele é irmão da mulher
do pastor, o pastor que está abrindo a igreja comigo.
Perguntei entre sorrisos: — Júlio sabe que sou filha da
pastora dele? — Acredito que não — mainha enfatizou.
— Ele parece ser boa pessoa. Depois de ouvir as
palavras da minha mãe, caminhei até o quarto onde meu
filho dormia e fiquei refletindo. Não me sentia 100%
segura para iniciar um novo relacionamento, e aquele
episódio mais cedo claramente se desenhava para que
isso acontecesse. Estava disposta a dar uma chance ao
amor, finalmente? Mesmo sentindo que, de alguma
forma, ele era a pessoa certa, me questionava se esse era
o momento certo. O sol já estava se pondo quando
comecei a me arrumar. Já tinha preparado meu filho, que
brincava na sala de estar da minha mãe. Meu coração, de
repente, começou a disparar de ansiedade, algo incomum
para mim. Estava ansiosa para chegar ao culto e vê-lo
pessoalmente. Tinha apenas vislumbrado ele antes e
queria conversar de perto. Por volta das 19 horas,
cheguei à igreja. Meus olhos o procuravam, mas sem
sucesso. Sentei-me em uma cadeira numa fileira
localizada no meio da igreja, torcendo para que ele
chegasse logo. Pouco tempo depois, notei que ele havia
chegado e se sentado um pouco mais atrás. Olhei para
ele e sorri gentilmente; ele sorriu de volta, meio
envergonhado. Durante o culto, fui apresentada como
visitante e filha da pastora. Assim que o culto acabou,
cumprimentei alguns irmãos da igreja e fui em direção a
ele. Ele também estava vindo em minha direção.
Comecei a suar frio de nervoso, mas notei que ele
parecia ainda mais nervoso. Após apertarmos as mãos
em cumprimento, ele perguntou: — Então você não é
daqui? — Não — respondi, fazendo sinal com a cabeça.
— Mas tenho planos de vir morar aqui no ano que vem.
Ele claramente ficou contente com a ideia de eu me
mudar para a mesma cidade que a dele. Enquanto ele
falava que morava perto da igreja, mantive meus olhos
fixos nele, gostando da nossa primeira e curta conversa
cara a cara. No entanto, no meio da conversa, fui
surpreendida por alguém me chamando. Assim que virei
de volta e o procurei, meus olhos não o encontraram; ele
tinha ido embora sem ao menos se despedir. Poxa, pensei
comigo, o que eu falei para ele ter saído correndo?
Enquanto caminhava em direção ao carro para ir para a
casa da minha mãe, me questionei: — Será que você é
como aqueles doramas com finais felizes? Nossa história
tinha começado de forma tão inusitada quanto um desses
enredos, repletos de clichês, momentos fofos e até um
pouco constrangedores. Embora eu não gostasse de
clichês na vida real, fiquei intrigada até onde aquilo me
levaria.
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