Cuidar da tia foi um aprendizado constante, mas, com
amor e dedicação, conseguimos superar as inseguranças.
Verônica, sempre atenciosa, cuidava da mãe com um
carinho inigualável. Pouco tempo depois, finalmente fui
para São José dos Campos para a tão esperada primeira
entrada no nosso apartamento. Ao cruzar a porta, nossos
olhos brilhavam de emoção e gratidão. O espaço era
perfeito para nós três, e a expectativa de mudar para lá só
aumentava. Poucos dias antes de ir para a Bahia,
planejava me casar no civil, em 26 de junho. Em 2 de
julho, viajaríamos para comemorar os 70 anos da minha
avó, que há três anos anunciara uma grande festa de
aniversário, desejando a presença de toda a família. Já
estávamos em junho, mês do nosso casamento civil.
Havíamos começado a transformar o apartamento em um
lar que refletia nossa essência. Recebemos presentes
generosos dos nossos futuros padrinhos de casamento.
Além disso, a mãe do Júlio nos presenteou com uma
geladeira, e o pai dele com um sofá, compramos uma
cama para o Arthur. E dormiríamos na cama que o Júlio
já possuía, os móveis planejados que o apartamento
continha facilitaria nossa vida. A proximidade do
casamento civil trouxe uma mistura de emoções.
Preparava-me para partir, deixando Verônica e Oscar,
pessoas tão queridas para mim. Eles me apoiaram de
forma indescritível quando engravidei, aos meus 22
anos. Lembro-me vividamente de contar à Verônica
sobre a gravidez. Ela estava no sofá quando entreguei o
exame que confirmava os cinco meses de gestação.
Inicialmente incrédula, por não ter percebido antes, ela
arregalou os olhos de surpresa, mas logo me envolveu
em um abraço cheio de amor. Confesso que o Arthur
veio para nossas vidas para nos dar alegrias, e ver o
brilho nos olhos da Verônica toda vez que ela olha para o
Arthur enche meu coração de uma forma que jamais
poderei explicar. Afinal, tudo o que fizeram e fazem por
nós não tem preço. Eles se tornaram especiais para nós.
Não é à toa que os considero meus segundos pais. E a
despedida para São José foi difícil. Claro, além do mais,
não estava apenas partindo, mas também levando Arthur,
que era tão apegado a eles. Após um discurso
emocionado, prometemos à Verônica que visitaríamos
todos os meses, promessa que mantemos até os dias de
hoje. Entre abraços e lágrimas, partimos com Júlio,
deixando Verônica e Oscar na porta, com olhos
marejados. Enquanto o carro se afastava, as últimas
palavras de Verônica ecoavam em meus ouvidos: “Leva
a chave, aqui sempre será o lar de vocês”. Ao chegarmos
em casa, Júlio preparou um jantar especial, que, de certa
forma, acalentou nossos corações. A semana passou
rapidamente, e logo estava morando com ele. Enquanto
jantávamos, admirava o Júlio, que comentava, com
orgulho de si mesmo: — Finalmente consegui te trazer.
Você não imagina o quanto sonhei com isso. Após dar
um sorriso de “não acredito que ele está todo orgulhoso
com isso”, respondi: — Parabéns, agora meu sorriso tem
morada no mesmo teto que o seu. — Repete — disse,
com os olhos cheios de brilho, que revelavam a alegria
em segundos de vislumbre. — Você tem muita sorte,
quis dizer — disse, sorrindo. — Concordo com você,
meu amor — disse, dando um sorriso bobo. A rotina que
começamos a criar era tranquila, e eu me encantava cada
vez mais com o cuidado e carinho que o Júlio
demonstrava. O dia 26 chegou, e acordei empolgada com
o dia lindo que seria nosso casamento civil. Verônica e
Oscar seriam padrinhos, mas, devido à rotina com a tia,
não puderam comparecer. A esperança de tê-los no
casamento religioso me consolava. Daniel, amigo da
família, e Jéssica, irmã do Júlio, assinariam como
padrinhos. Planejamos um almoço na casa dos pais do
Júlio, Helena e Israel, e à noite jantaríamos em um
restaurante famoso por pratos deliciosos de camarão.
Após o café da manhã, vesti um lindo vestido branco e
chamei Júlio para entrar no quarto. Seus olhos brilhavam
de contentamento. — Parece que gostou do que viu —
disse, sorrindo timidamente. — Você está incrível, amor.
Que linda! — repetia, encantado. — Vamos nos casar
mesmo? — perguntou, sorrindo. — Somos duas pessoas
apaixonadas que vão se casar em menos de um ano, você
tem noção? Embora pareça que nos conhecemos há
muito tempo, faz apenas alguns meses. E o melhor, sinto
que Deus separou você para mim, assim como me
separou para você, como se tudo que vivemos antes
fizesse parte do caminho até te encontrar. Sou tão
pequena, mas me sinto cheia do amor e da graça de
Deus. Fui boba se duvidei um dia — disse,
profundamente grata por tudo. Nos abraçamos por um
momento e silenciosamente agradecemos por
absolutamente tudo, todas as pequenas coisas que nos
levaram até um ao outro. Dirigimos para o cartório,
nervosos e eufóricos. Enquanto esperávamos, tiramos
fotos para registrar o momento, capturadas por Jéssica. A
cerimônia foi rápida, e em minutos trocamos alianças,
tornando-nos oficialmente casados. Que momento lindo!
Ao olhar para Júlio, tinha certeza de que queria passar o
resto dos meus dias ao seu lado. De volta a casa, antes do
almoço, minha mãe fez um discurso emocionado,
seguido pelos pais do Júlio, que reafirmaram ter ganhado
uma filha. Momentos de felicidade e sorrisos
compartilhados à mesa. Estava casada com meu amor,
menos de um ano após conhecê-lo, e já havia uma
aliança dourada no meu dedo. Durante o almoço,
falamos sobre o casamento religioso, ansiosos pelo
grande dia. À noite, Arthur ficou com Helena, e Júlio e
eu fomos jantar. No restaurante, relembramos nosso
primeiro encontro e a trajetória até aquele dia. Júlio
comentou: — De todos os dias, o dia que te conheci foi
especial. — O sol brilhou naquele lindo dia azul, é
incrível como tudo pode mudar de repente — respondi,
sorrindo. — Seu sorriso brilhou ainda mais — disse, “e
percebi que estava apenas a um passo de alcançar o seu
sorriso”. — Isso vai estar nos votos? Meu sorriso? —
perguntei. — Não sei — respondeu, desviando o olhar.
— Já começou a fazer? — insisti. — Ainda não. Quando
você estiver na Bahia, faço, para não correr o risco de
você ver — concluiu. — Queria que você fosse comigo,
conheceria minha família de uma vez só — disse. —
Imagina todos te olhando numa vez só — Brinquei. —
Vou ficar com saudades, acabamos de casar — ele disse,
segurando minha mão. — Vai passar rápido. Quando eu
voltar, o casamento religioso já estará próximo —
respondi. Júlio não conseguiu dividir as férias, mas em
setembro teríamos bastante tempo juntos. A noite foi
agradável, como sempre com Júlio. No dia seguinte, fui
ver meu vestido de noiva, acompanhada por minha mãe
e irmã Patrícia. Ao experimentar o segundo vestido, me
apaixonei. Era ele! Dividir aquele momento com elas
aumentou minha felicidade. O dia de viajar para a Bahia
finalmente chegou. Estava triste por deixar Júlio, mas a
viagem estava planejada bem antes de conhecê-lo.
Embarquei com Arthur, Patrícia, minha mãe, três primas,
um primo, uma tia e um tio. Praticamente lotamos o
ônibus. A viagem foi tranquila e agradável, cheia de
momentos inesquecíveis. Em um trecho, enquanto todos
dormiam, Patrícia e eu conversamos sobre meu livro
“Pequenos Detalhes”, que ela lia durante a viagem. Ela
elogiou minha habilidade de escrever, dom herdado da
minha mãe. — Escrever é bom, esvazia o coração,
acalma a alma e traz clareza à mente — disse, sorrindo.
Refletindo sobre a vida e como tudo mudou
rapidamente, digitei para Júlio: — Saudades de você.
Tinha esquecido como é chato ficarmos longe.
Conversamos durante todo o trajeto. Chegamos na
sexta-feira à Bahia e fomos direto para a roça da minha
avó, onde todos estavam reunidos. Se há uma família
que fala mais alto que a minha, desconheço. Todos
estavam felizes pelo reencontro. No dia seguinte,
amanheceu chuvoso, mas isso não nos impediu de nos
divertirmos. Começamos uma guerra de lama, e todos,
inclusive as crianças, acabaram sujos. Após aquele final
de semana inesquecível celebrando a vida da minha avó
materna, seguimos para a fazenda do meu pai, que ficava
ali perto. Já estava ciente de que ele não conseguiria
comparecer ao meu casamento, pois seria em outro
estado. Meu pai nunca havia saído da Bahia, e, embora
eu já tivesse me conformado com a ideia, naquele dia
tentei convencê-lo do contrário. Já era de tarde, a brisa
corria tranquila e suave, painho estava sentado na sala,
quando me aproximei dele com uma expressão de
tristeza. — O senhor não vai mesmo ao meu casamento?
— perguntei, tentando persuadi-lo. Ele, com seu jeito
rápido, respondeu: — Não vai dar, Lelê. — Meu pai
justificou que precisava cuidar da horta, que demandava
sua atenção constante. Ele mencionou que já havia
separado o dinheiro para o meu vestido de noiva, que
tinha um custo considerável. Tudo relacionado ao
casamento parecia estranhamente caro. Desejou-me
felicidade e, como Júlio ainda não o conhecia
pessoalmente, prometi que o apresentaria formalmente
no próximo ano. Também informei que entraria na igreja
com Oscar, e ele pareceu genuinamente contente com a
notícia. Após a conversa, fiquei refletindo sobre o fato
de ele não ver sua filha favorita se casar. “Como ele
consegue?” — pensei. Será que já não sou mais a
favorita? Lembrei-me de uma vez em que minha mãe
comentou que eu era a filha preferida dele, após
questioná-la sobre por que meu pai sempre me chamava
para ajudá-lo com mais frequência. Quando eu era
pequena, nas sextas-feiras, costumávamos colher
verduras e deixá-las em uma bancada. De madrugada,
meu pai acordava um dos filhos para ajudá-lo a organizar
tudo em uma lona para levar à feira. Percebia que ele me
chamava mais frequentemente do que meus irmãos, e, na
maioria das vezes, íamos ajudar emburrados, desejando
continuar dormindo. Se soubesse, na época, que ele me
chamava mais vezes por ser sua filha favorita, teria ido
de bom grado. Fiquei imersa em pensamentos do
passado por um bom tempo, até ser trazida de volta ao
presente pela voz do meu pai, que me chamava com um
sorriso e uma vara de colher de coco na mão. Ele
convidou todos para tomar água de coco, e aquele
momento simples trouxe uma sensação de conforto e
nostalgia.
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