Ao chegar em casa, ainda radiante com o pedido de
noivado, meu celular vibrou com uma mensagem de
Júlio que dizia: “Obrigado por ser essa pessoa incrível ao
meu lado. Espero ser alguém incrível para você
também”. Além disso, ele havia postado uma foto minha
e de Arthur, acompanhada de uma legenda tocante: “Um
dia me perguntaram se eu sabia o significado da palavra
AMOR... Naquela ocasião, não soube responder, até que
um dia encontrei vocês. Hoje posso dizer que conheço o
verdadeiro significado... Com vocês, aprendi a amar e a
ser amado”. Essas palavras tocaram profundamente meu
coração, reforçando a certeza de que Júlio era a pessoa
certa para mim. Lágrimas de emoção escorriam enquanto
eu lia aquelas expressões de amor. Curiosa, perguntei:
“O que é o amor para você?”. Após um tempo digitando,
ele respondeu: “Ali, não expliquei o significado da
palavra amor, mas quero que saiba... Amor é estar
disposto a cuidar de alguém como se fosse seu bem mais
precioso. Amor é cuidar, respeitar, valorizar e se
entregar em todos os momentos. Dizem que o amor é
inexplicável, talvez seja, mas quero que saiba que HOJE,
tendo vocês, posso dizer que sinto um amor verdadeiro”.
As palavras de Júlio fluíam como uma melodia, e ele
tinha uma habilidade incrível de tornar tudo claro e
profundo. Eu sorria, sentindo-me como a protagonista de
um filme romântico e clichê que sempre desprezei, mas
que agora vivia intensamente. A felicidade dentro de
mim crescia a cada demonstração de afeto de Júlio. Eu
havia encontrado o amor? A dúvida já não existia, e
meus pensamentos se voltavam para nosso casamento,
que começávamos a planejar junto com nossa família.
Em um final de semana na casa de Júlio, enquanto
conversávamos, ele me interrompeu, dizendo: — AAA
ESSE SORRISO... — falou, acariciando meu rosto. —
Vamos nos casar amanhã? Não suporto mais te ver só
nos finais de semana — disse ele, com um olhar
carinhoso. — Não, precisamos planejar — mencionei,
rindo. — Vamos escolher uma data? — insistiu. —
Vamos! — respondi, animada. — Quando serão suas
férias? — perguntei. Ele comentou: — Setembro. Mas
está longe, amor. Vamos nos casar amanhã — brincou,
arrancando risadas. — Por mim, não fazemos festa. O
que acha? — perguntei. — Eu quero festa, te ver
entrando na igreja, meu sonho se realizará — disse,
empolgado, gesticulando. — Então nos casamos no civil
antes? O que acha? — sugeriu, sorrindo. Concordei: —
Pode ser, se já tivermos nos mudado para o apartamento
até lá. — Em julho, vou para a Bahia para o aniversário
da minha avó. Vamos? —perguntei. — Vou ver na
empresa — Júlio concluiu. Após essa conversa,
começamos a pesquisar fornecedores e dar vida aos
nossos sonhos. Júlio ficou de verificar com a empresa se
poderia dividir as férias, metade em julho, para ir
comigo ao aniversário da minha avó e conhecer meu pai,
e metade em setembro, para passarmos um tempo juntos
após o casamento. A data já estava marcada: 7 de
setembro foi o dia escolhido por nós para ser o nosso
grande dia. Estávamos a sete meses de distância e já
orquestrávamos tudo com entusiasmo e amor. Nossos
dias eram uma mistura vibrante de alegria e correria,
enquanto buscávamos incansavelmente fornecedores que
pudessem atender aos nossos objetivos. Cada dia nos
aproximava mais do tão aguardado 7 de setembro.
Apesar das semanas parecerem intermináveis e os finais
de semana passarem num piscar de olhos, mantínhamos
o entusiasmo. Meu noivado era uma fonte constante de
felicidade; Júlio me presenteava com flores, viajávamos
bastante e aproveitávamos intensamente a companhia um
do outro. Quando abril chegou, trouxe consigo a
celebração do meu aniversário. Decidimos, como os
aventureiros que somos, embarcar em nossa primeira
experiência de acampamento juntos. Júlio veio me
buscar no sábado pela manhã, e partimos cedo, cheios de
entusiasmo por essa nova aventura. Eu tinha acampado
algumas vezes na infância, enquanto Júlio tinha o hábito
frequente de acampar quase todo final de semana antes
de nos conhecermos. Nosso amor pela natureza era um
dos laços que nos unia profundamente. Assim que
chegamos ao destino, escolhemos um local perfeito à
beira de um lago azul cintilante. Júlio e Arthur, em
perfeita harmonia, montaram nossa barraca,
transformando rapidamente o espaço em nosso lar
temporário. Com o sol ainda no horizonte, preparamos
uma fogueira, e o aroma de marshmallows assados logo
permeou o ar. Quando a noite caiu, trouxe consigo a
inevitável presença dos pernilongos, que, apesar de
incômodos, não conseguiram diminuir a magia do
momento. Comparados às ricas memórias que estávamos
criando junto a Arthur, pequenas picadas de inseto eram
insignificantes. O Arthur foi, sem dúvida, quem mais
aproveitou aquela experiência. Observá-lo radiante
dentro da barraca, enquanto ouvíamos histórias sob o céu
estrelado, aqueceu nossos corações naquela noite fria.
Ainda naquele mês, fizemos uma viagem memorável ao
Rio com Patrícia e Rafael. No meio do caminho em
direção ao Rio, ia conversando animadamente com
Patrícia. — Não vejo a hora de reencontrar a tia e as
meninas — disse, enquanto apreciava a paisagem
durante a viagem. Fazia seis anos desde a última vez que
havia visto minha tia, e a saudade era grande. Minhas
primas tinham sido parte essencial da nossa infância,
sempre presentes e especiais. — Parece que foi ontem
que éramos pequenas, e agora estamos visitando-as em
outro estado — comentou minha irmã Patrícia, com um
sorriso nostálgico no rosto. — Nunca imaginei que nos
mudaríamos para tão longe. Apesar de tudo,
continuamos unidas — acrescentei, virando-me para
olhar Patrícia, que estava sentada no banco de trás do
carro. A viagem foi tranquila; ouvimos músicas,
conversamos bastante e só fizemos uma parada para
tomar café e usar o banheiro. Poucas horas depois,
chegamos em Rio das Ostras, na casa da nossa prima.
Fomos calorosamente acolhidos por ela e nossa tia, que
já nos aguardavam. Foi um fim de semana maravilhoso,
repleto de risadas e boas lembranças na companhia
delas. Já era final de abril quando, numa tarde específica,
estava no meu quarto planejando uma visita à cidade do
Júlio no final de semana. Ele, eufórico, me contou que
havia finalmente pegado a chave do nosso apartamento e
queria que eu estivesse presente na nossa primeira
entrada. Enquanto eu sonhava acordada com os planos,
fui interrompida pela Vê, que entrou no quarto com um
semblante triste, informando que a tia não estava bem e
precisava ser levada ao médico. Após uma breve
conversa, ela se dirigiu ao hospital, enquanto eu fiquei
em casa, ansiosa por notícias. Na manhã seguinte, desci
do meu quarto na esperança de encontrá-las dormindo,
mas sem sucesso. Mandei uma mensagem para Verônica,
que, com voz preocupada, me informou que a tia não
estava bem, recusava-se a comer e estava em
observação, realizando exames. Aquela notícia foi como
um balde de água fria logo cedo. Meus pensamentos se
voltaram para Deus, pedindo que tudo ficasse bem. Tia
era a irmã mais velha do meu pai, ela sofria de
Alzheimer e estava acamada há mais de cinco anos.
Lembro-me do início da sua doença, quando eu já
morava com ela e fazia de tudo para vê-la sorrir,
tentando alegrar seus dias. Recordo também que suas
últimas palavras foram meu nome, que ela repetia
baixinho até parar de falar de vez. Enquanto tomava meu
café da manhã, memórias de um dia específico
inundaram minha mente. Recordo-me de como me sentia
naquele dia, quando a tristeza me envolvia. Eu havia
acabado de chegar a São Paulo e a saudade da Bahia era
intensa, e, ao entrar na sala onde ela assistia à sua novela
favorita, tive uma ideia brilhante: me fantasiei de
velhinha, com um cabo de vassoura velho e um pano na
cabeça, e entrei na sala contando histórias engraçadas
com uma voz arrastada. Ao vê-la rir, senti minha alma
aquecida. Aqueles minutos de descontração não só a
alegravam, mas também me acalmava por dentro. Talvez
ela nunca soubesse o quanto me fazia bem vê-la rir, ou
talvez soubesse, pois sempre foi esperta. Tia Creuza era
uma mulher forte, mas vê-la recusar comida me causava
preocupação. Após o café, imersa em pensamentos e
lembranças, comuniquei ao Júlio, e decidimos adiar
minha viagem para São José dos Campos, adiando
também nossa primeira entrada no novo apartamento. No
dia seguinte, fui ao hospital ficar com minha tia,
enquanto Verônica voltava para casa para descansar e
pegar algumas roupas. O hospital estava um caos devido
a um surto de dengue, e tia seria transferida para um
quarto para tratamento de uma infecção urinária. Ao
chegar, encontrei-a deitada, e, após cumprimentá-la,
apertei sua mão e recitei o Pai Nosso. Passei o dia lendo
meu livro de poemas para ela, e, à noite, voltei para casa,
pois o filho mais velho dela passaria a noite com ela.
Revezávamos as visitas, até que ela foi transferida para o
quarto, e minha prima Verônica ficou com ela. Em casa,
eu ficava aflita; os exames mostraram alterações, e a tia
continuava a recusar-se a comer, o que levou os médicos
a recorrerem à alimentação por sonda nasoenteral.
Aqueles dias eram sombrios. Conversando com Júlio por
telefone, decidimos que ele viria na semana seguinte,
pois eu precisava de sua presença. Foram dias de
angústia, meu coração despedaçado a cada visita ao
hospital. Ver tia tão frágil me destruía, e o sofrimento da
Vê, sua filha, corroía-me ainda mais. Não conseguíamos
falar sobre o estado da tia sem derramar lágrimas.
Temíamos que ela nos deixasse a qualquer momento, e
isso nos consumia lentamente. Certa noite, eu planejava
dormir no hospital no dia seguinte, pois Verônica
precisava voltar ao trabalho. Lembro-me bem daquela
triste noite, quando Verônica, chorosa, comentou que
temia o pior. A pressão da tia estava baixa, e ela só
dormia serenamente. No outro dia, iria cedo para o
hospital e passaria o dia e, possivelmente, a noite lá.
Tentei dormir cedo, pois precisava acordar às 5, já que
meu primo, que acompanhava minha tia naquela noite,
precisava sair cedo para ir ao trabalho. Ao chegar no
hospital, lembro-me de ter subido as escadas até o
décimo primeiro andar, pois não gosto de elevadores. Ao
entrar no quarto, tia estava deitada, sonolenta, recebendo
alimento por sonda. Um pouco mais afastada, havia uma
senhora internada com sua adorável filha. Aproximei-me
de tia, acariciei seus cabelos grisalhos e falei: – Oi tia! É
a Letícia –Ela abriu os olhos lentamente, o que me
deixou contente, mas logo adormeceu novamente.
Conversei um pouco com a filha da senhora ao lado, que
era alegre e espontânea. Estava acomodada na poltrona
ao lado do leito da tia, quando dois médicos de plantão
passaram. — Oi, dona Maria Creusa — disseram. Com
semblantes sérios, voltaram-se para mim. Perguntaram o
que eu era da tia, e, após informá-los que era sua
sobrinha e que poderiam passar qualquer informação, um
deles, que parecia ser o chefe, disse: — Precisamos da
filha dela aqui. Franzi a testa, sem entender a situação.
Minha prima estava no trabalho e já havia ficado
bastante tempo afastada. Com um tom sério, perguntei:
— Está tudo bem? — Os exames que fizemos mostraram
alterações, e os rins estão prestes a parar de funcionar.
Precisamos da sua prima aqui ainda hoje — insistiu.
Quando aquelas palavras chegaram aos meus ouvidos,
senti meus pés perderem o chão. Eu estava em choque,
chorando como uma criança na frente dos médicos, que
tentavam me acalmar. Tremia, imaginando o pior. A
acompanhante da senhora ao lado me ofereceu um suco
de laranja, que recusei, percebendo que minha pressão
havia caído. Em seguida, ela me ofereceu água, que logo
tomei, sentindo o gosto salgado das lágrimas que
escorriam no meu rosto. Após me estabilizar um pouco,
os médicos explicaram calmamente: — Você sabe que
sua tia tem Alzheimer, e essa doença progride. Hoje, sua
tia desceu mais um degrau. Pode ser que ela melhore,
mas isso é muito difícil, devido à idade e ao estágio da
doença. Os rins dela estão parando, mas ela não está
sentindo dor. Veja, ela está serena. Meus olhos se
voltaram para o rosto da tia, e ela realmente estava
dormindo serenamente. O médico tocou levemente os
pés da tia, fazendo carinho, enquanto continuava
explicando: — Precisamos da filha dela, porque, se ela
regredir ainda mais e precisar ser entubada ou fazer
hemodiálise, vale a pena para a idade dela? Se caso ela
piorar e precisar reanimar, temos autorização? Cada
palavra era como um soco no estômago, aumentando o
nó na garganta. Após ouvi-los atentamente, informei-os
que chamaria minha prima, enquanto as lágrimas ainda
escorriam pelo meu rosto. Eles avisaram que tia estava
partindo, porém não podiam prever o dia, poderia ser em
poucas horas ou dias. informaram também que
mudariam o horário de visita para que ela pudesse ser
visitada a qualquer momento. Após um leve toque no
meu ombro em sinal de empatia, os médicos me
deixaram no quarto com a responsabilidade de contar
para minha prima. O que eu faria? A moça ao lado me
abraçou e pediu calma. Eu não poderia contar para
Verônica naquele momento, eu claramente não estava
preparada para falar. Na verdade, nunca estaria. Como
contar para minha prima que a mãe dela estava partindo?
Chorei bastante, acariciando a mão gelada da tia, que
dormia tranquilamente, logo depois mandei uma
mensagem para Verônica, que é professora e poderia
estar em aula. Por isso, optei por enviar uma mensagem:
— Vê, o médico disse que precisa de você aqui. Após ler
a mensagem, ela me ligou de imediato. Atendi, tentando
camuflar meu choro, que insistia em escapar. — Que
foi? — perguntou, nervosa. — O médico disse que
precisa de você aqui ainda hoje — repeti. — Pode falar,
Letícia, quero saber a verdade — insistiu. E eu, entre
choramingas, contei para ela toda a situação, repassando
as informações que os médicos haviam relatado. Após
saber, Verônica foi levada para casa pelas colegas de
trabalho para pegar suas coisas e vir ao meu encontro no
hospital. Até a chegada de Verônica, fiquei remoendo
momentos felizes ao lado da minha amada tia,
lembrando das risadas que dávamos na Bahia com a
minha avó. Quando Verônica chegou ao hospital, pediu
para descer até a sala de espera para conversarmos. Ao
chegar na sala, meus olhos transcorreram diretamente
para ela, que estava chorando. Abracei-a, e ela articulou
as seguintes palavras: — Me conta de novo o que os
médicos disseram. E eu calmamente repeti o que eles
disseram. Após ouvir, ela disse: — Estou achando que a
mãe vai nos deixar. Não sei o que fazer. Vou falar com
meus irmãos antes de tomar qualquer decisão. Ficamos
um tempo ali e logo ela entrou para ver a mãe, e eu
voltei para casa devastada e esgotada. Depois de chegar
em casa, tomei um banho e liguei para Júlio,
contando-lhe o que estava acontecendo. Ele viria me ver
no dia seguinte. Posteriormente, ao contar para nossos
familiares sobre a situação da tia, minha mãe e Patrícia
decidiram vir com Júlio para visitá-la no hospital. Assim
que Júlio chegou à minha casa e me avistou, ele logo me
abraçou. Senti um alento imediato; eu realmente
precisava daquele abraço. Antes de dormir, deitei no
peito de Júlio, onde chorei como uma criança. — Estou
com medo — disse entre soluços, enquanto ele fazia
cafuné em meus cabelos, me acalmando e me fazendo
adormecer. Acordei no dia seguinte, minha mãe já estava
de pé. Com os olhos fixos nela, perguntei: — Quero
levar Arthur para ver tia, o que a senhora acha? Verônica
havia mencionado antes que levá-lo poderia
impressioná-lo, pois ele era pequeno e tia estava com a
sonda no nariz. “Talvez ele não entendesse”, ela alegava.
— Leva ele — disse minha mãe. Assim, logo me
arrumei e arrumei o Arthur para juntos irmos visitá-la.
No caminho para o hospital, expliquei para Arthur: —
Filho, a tia está doente, vamos visitá-la. Ele logo
respondeu: — Eu sei, mamãe, vou curá-la. Fiquei
impressionada com suas palavras, mas acreditei ser
apenas a imaginação fértil de uma criança. Chegamos ao
hospital, subimos com Arthur, minha irmã, minha mãe e
Júlio. O filho mais velho da minha tia também estava lá,
e o clima era de despedida. Mas, para nossa alegria e
surpresa, tia começou a melhorar, no dia seguinte, os
exames da tia estavam melhores, algo que os médicos
não souberam explicar. Ela estava melhorando, e, em um
vídeo feito por minha prima, ela esboçava um sorriso no
seu rosto meigo. Nossos corações tristes e dias
turbulentos começaram a ganhar um pouco de esperança.
Tia estava inexplicavelmente melhorando. Dias depois,
ela finalmente recebeu alta. Embora clinicamente bem,
enfrentávamos o desafio de alimentá-la por sonda, algo
novo para nós. A alegria de tê-la de volta em casa enchia
nossos corações, mas a aflição de não ter Vê presente no
meu casamento começou a me preocupar. Tia, embora
em casa, estava debilitada e precisaria de alguém com
experiência para cuidar dela. Meu casamento seria na
cidade do Júlio, e meu pai não poderia entrar comigo na
igreja. Queria entrar com Oscar e ter Verônica como
madrinha. Eles foram meu refúgio desde que fui morar
com eles. Não os ter no meu casamento não fazia parte
dos meus planos, mas a saúde da tia era incerta, e a data
do casamento se aproximava rapidamente.
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