Assim que
a porta da cela foi aberta, inesperadamente a comunicação é novamente
restabelecida e o soldado ouve claramente:
— Nave
intergaláctica Artus 3, aqui é a estação Taurus, de Artúrio. Chegaremos à Terra
em duas horas para resgatá-los.
— O que é
isso? – perguntou o soldado. – Mais sortilégios? Merecem mesmo morrer e serão
os primeiros. É necessário acabar com o mal urgentemente.
Enquanto
falava, bateu na mão de AST8, que estava com o rádio, e este caiu no chão.
Nossos
amigos foram sendo amarrados a postes impregnados de ceras e materiais de fácil
combustão.
AST8
tentou pegar o rádio, mas foi ferozmente chutado pelo soldado.
— Nave
intergaláctica Artus3, aqui é a estação Taurus, de Artúrio. Estão nos ouvindo?
— Nave
intergaláctica Artus3, responda, câmbio.
— Cristãos
às feras! Cristãos às feras!
Gritos e
aplausos delirantes...
— Nave
intergaláctica Artus3, responda, câmbio... O que está acontecendo? Estamos
ouvindo muitos gritos.
O
espetáculo começou e o povo entrou em delírio. As tochas acesas tocaram os
postes do martírio, onde nossos amigos estavam amarrados, e em poucos minutos
as labaredas atingiam grande altura.
XPZ4 e os
outros amigos cristãos de Artúrio não mais ouviram o chamado de seu planeta.
Uma onda de torpor os envolveu, como se houvessem tomado uma dose de anestesia.
Os cânticos embalavam seus Espíritos e os elevavam às regiões espirituais da
felicidade. Suaves pareceram as patadas e dentadas, e depois o fogo. Era a
carícia do amor que os envolvia num abraço quente, profundo e libertador.
XPZ4
sentiu-se mais leve. Agradeceu ao Senhor a oportunidade do testemunho. Agora
via luzes nunca antes imaginadas.
Nossos amigos não cristãos também chegaram à
arena, envolvidos em grande desespero.
Gritavam insistentemente que não eram cristãos.
—
Soltem-nos! Estão cometendo um grande engano. Não somos cristãos!
— Se não
sois cristãos, deveis jurar fidelidade eterna a Júpiter.
— Nós
juraremos, senhor – disse RMT12. – Ofereceremos sacrifícios, faremos o que nos
for pedido.
E, diante
de uma estátua de Júpiter, juraram fidelidade eterna ao maior dos deuses, e
foram soltos, mas sentiram a dor de perderem XPZ4 e outros amigos de seu
planeta, apesar de acharem que os amigos deveriam ter feito o mesmo que eles
fizeram, para que pudessem ser soltos e retornarem a Artúrio.
Ficou
estabelecido que oferecessem um sacrifício a Júpiter naquela mesma semana,
porém, nada fizeram.
Nossos
amigos não contavam que estivessem sendo observados. Suas atitudes eram
acompanhadas à distância.
A notícia
da morte de XPZ4 e dos companheiros da Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré
chegou a Artúrio graças à comunicação restabelecida. Não entendiam como pessoas
tão tecnologicamente avançadas pudessem se entregar à morte por causa de um
carpinteiro nazareno que não tinha se salvado nem a si próprio e havia morrido
de forma tão trágica, num planeta atrasado como a Terra.
Estabeleceu-se
então que uma nave viria novamente buscá-los, pois a anterior havia retornado
por não terem obtido resposta.
Nossos
amigos, agora sentindo-se mais livres sem a presença de XPZ4 e suas
admoestações em favor da corrigenda de conduta, entregaram-se aos prazeres de
Roma. Eram assíduos frequentadores de certos tipos de casas, onde se
embriagavam e se divertiam. Belas mulheres se acercavam deles, oferecendo todo
tipo de divertimento, acompanhado por canecas de saboroso vinho. E a oferenda a
Júpiter foi esquecida.
Passada
uma semana, receberam a comunicação de que a nave que os levaria de volta a
Artúrio chegaria em dois dias, mas a nave não chegou. Procurando saber a causa,
foram informados de que foi abatida por MSTJ, e era necessário que esperassem
outra nave.
O tempo
foi passando e a nave não chegava, mas nossos amigos já não se preocupavam
tanto com o retorno ao planeta. Conseguiram trabalho após algumas semanas e já
estavam cercados por pessoas importantes do Império.
Artúrio,
que havia conseguido restabelecer as comunicações, agora estava passando por
novas dificuldades. MSTJ ameaçava de novo invadir o planeta, e as autoridades
estavam empenhadas na defesa, esquecendo-se dos astronautas, que também haviam
se esquecido de seus conterrâneos. MSTJ queria vingança. Chegando às
proximidades de Artúrio, encontrou uma defesa que não esperava e teve a maioria
de suas naves destruída. Ele não contava com isso, e ficou mais furioso.
Em segunda
tentativa, por erro de navegação sua nave aterrissou num deserto. Tempestades
de poeira não permitiam que voasse, e os outros, sem comando, retornaram ao
planeta.