Enquanto isso, MSTJ, conhecendo a situação de XPZ4, não se sentiu ameaçado e resolveu fazer uma invasão de modo mais ameno. Não era necessária a guerra, pois XPZ4 não viria e ele poderia usar a persuasão para ter os terráqueos a seu favor antes de anunciar a invasão. Apenas algumas pessoas de seu planeta misturaram-se ao povo. Deixaria para invadir depois que tivesse convencido os fariseus a seu favor e destruído Paulo de Tarso. Pensava em pedir uma entrevista ao imperador romano, para também tê-lo a seu favor. “Vamos com calma”, pensava. “XPZ4 está preso e não é ameaça”. MSTJ conhecia a dedicação de Paulo de Tarso ao Senhor, seus sacrifícios e todos os sofrimentos pelos quais havia passado, mas introduziu junto aos fariseus de Icônio pessoas de seu planeta para perturbar ainda mais o nobre divulgador do Evangelho. Procurou alvoroçar as mentes, envenenar os ânimos, de modo a desarticular as pregações e a fundação de novas igrejas.
A confusão estava formada. Paulo foi levado ao apedrejamento. Porém, Jesus é maior que toda e qualquer maldade, e mais uma semente estava lançada.
Em sua cela, XPZ4 pensava em tudo o que tinha feito durante sua vida, e de muitas coisas sentia-se arrependido. Houvera subjugado povos, imposto o poder e a força de seu planeta, e agora, à luz dos ensinamentos de Jesus, percebia que deveria ajudá-los em seu progresso material e espiritual, e não tirar deles uma liberdade dada pela Natureza. Somos irmãos para ajudar-nos reciprocamente, para elevarmo-nos a Deus, e ele os tinha massacrado. Quão culpado se sentia... Orava a Jesus e pedia forças. Percebia que seu testemunho estava ali naquela cela em forma de fé e perseverança. Foi espancado e tudo sofreu com resignação, lembrando-se dos testemunhos de Paulo de Tarso.
Passados alguns dias, AST8 o mandou chamar.
— Você teve sorte. MSTJ não conseguiu invadir a Terra e instalar seu governo. Resolveu usar a persuasão com os fariseus, adiando a invasão, mas nas proximidades do planeta encontrou um de seus maiores inimigos, de Andrômeda, que dizimou suas naves e matou quase todos os seus soldados astronautas. Por isso vou mandar soltá-lo, mas não quero saber de indisciplinas. Enquanto estabelecemos novas estratégias, você ficará encarregado de ministrar aulas aos novos astronautas sobre guerras espaciais.
XPZ4 então teve a oportunidade de participar do nascimento de seu filho e continuar suas pregações do Evangelho. Porém, pela saúde frágil da criança, muitas vezes faltava às aulas para dar assistência à esposa. Outras vezes ajudava as pessoas que o procuravam na Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré, sua casa assistencial. Sua mudança de conduta e de espiritualidade era visível. As pessoas o procuravam para conselhos, para receber sua oração e para conhecer aquele Jesus, de quem agora ele falava com tanto amor. Começou então a pensar em deixar a carreira de astronauta e dedicar-se ao trabalho de engenheiro, já que tinha esta formação acadêmica, e assim ficar mais livre para o trabalho junto aos irmãos necessitados. Não poderia continuar com aquele sentimento de culpa, e a forma de autoperdoar-se seria dedicando-se ao semelhante, trabalhando pelos que sofrem, doando seu amor. Depois de algumas semanas de reflexão, compareceu à base espacial.
— Senhor, venho aqui pedir a minha demissão da carreira militar e de astronauta.
— Quê? Você é doido, XPZ4? Está destacado para participar da próxima invasão à Terra. Pedido negado.
— Senhor, tenho o direito de fazer escolhas, e minha escolha é essa.
— Se formos vitoriosos na invasão à Terra, estava pensando em colocá-lo como o supremo governante daquele planeta. Você o governará da forma que quiser. Até permitirei que continue com esta sua maluquice de seguir este tal de Jesus.
— Tenho meus compromissos aqui, senhor, com minha esposa e filho e com minha casa de caridade. Não posso deixá-los para ir morar em outro planeta.
— Se você não aceitar, posso destruir tudo. Aqui não usamos desta tal misericórdia apregoada por este seu Jesus. Nossa lei aqui é dura e você sabe disso.
— Sim, senhor, mas mantenho meu pedido de demissão. Tenho minha profissão e posso sobreviver dela, e tenho convicção da minha decisão e de suas consequências. Confio em Jesus e Sua misericórdia.
— Muito bem. Pedido concedido. Talvez seja melhor mesmo que você saia em definitivo antes de contaminar os outros astronautas com suas maluquices. Providenciarei eu mesmo as aulas e as darei aos alunos.
XPZ4 saiu da base espacial felicíssimo. Finalmente poderia viver sua vida sem comandante nenhum a mandar em suas vontades.
No dia seguinte, começou sua procura por trabalho nas grandes empresas de engenharia. A notícia de que tinha pedido demissão para dedicar-se à sua casa de caridade espalhou-se rapidamente. Os jornais e a televisão noticiaram, pediram entrevistas. Queriam saber do motivo real da demissão. Achavam que MSTJ havia oferecido um salário bilionário a ele, para que se transformasse em inimigo de seu próprio planeta. Porém, em sua atual forma de pensar, em seu atual estado emocional e psicológico, era muito natural sua decisão. Simplesmente queria dedicar-se aos necessitados – e o que isso tinha de estranho?
Uma famosa emissora de TV o convidou a participar de um programa de altíssima audiência:
— Senhor XPZ4, sabemos que o senhor pediu o desligamento dos serviços de astronauta. Qual o real motivo desta sua decisão?
— Decidi dedicar-me aos necessitados, ter uma vida voltada à caridade e ao meu próprio melhoramento interior.
— Isso não lhe acarretará problemas financeiros?
— Tenho minha profissão e posso sobreviver dela.
— Nas suas recentes viagens à Terra, o senhor tomou contato com alguma seita, com pessoas seguidoras de seitas que desconhecemos?
— Conheci pessoalmente um Homem nazareno que prega sua doutrina de amor e misericórdia. Conheci também vários seguidores Seus, que se entregam ao serviço assistencial aos necessitados e à divulgação de Sua doutrina.
— Pelo que ficamos sabendo, esta doutrina é contrária aos nossos costumes. O que o senhor tem a dizer?
— Creio que nossos costumes é que são contrários à sua doutrina de amor e fraternidade. Ele prega o amor ao próximo como a nós mesmos, prega a benevolência, a caridade, o perdão, o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Ensina-nos que todos somos irmãos. Todos esses ensinamentos me parecem normais. A falta deles em nossa sociedade é que me parece anormal e que tem gerado a miséria.
— O senhor acha que conseguirá manter sua casa de caridade e pregar estes ensinamentos em nosso planeta?
— A nossa Constituição concede-me este direito.
— Se fizermos um apanhado de sua vida atual e de sua vida como astronauta antes de conhecer este nazareno, como o senhor classificaria sua vida? Melhor ou pior?
— Não tenho sombra de dúvida de que, depois que conheci Jesus de Nazaré, sou outro homem. Mais sensível, mais piedoso e mais justo. Minha vida interior tornou-se iluminada pelas claridades do Evangelho. Consigo entender que todos nós somos iguais perante o Criador e temos os mesmos direitos.
— O senhor é feliz?
— Certamente. Jesus é a luz do meu caminho.
— Muito obrigado pela sua entrevista.
Um dia, após ter enviado seu curriculum a uma empresa de telecomunicações, foi chamado para uma entrevista.
— Vejo aqui em seu curriculum uma carreira realmente brilhante. Sei que era astronauta e que deixou a carreira para dedicar-se aos necessitados. Correto?
— Sim, senhor. Após algumas viagens e experiências vividas no planeta Terra, após ter conhecido novos ensinamentos em matéria religiosa, decidi abraçar novos caminhos.
— E por quê?
— Porque estes novos ensinamentos deram-me uma visão diferente sobre as pessoas.
— E estes ensinamentos estão escritos em algum lugar, algum livro?
— Sim, mas ainda de uma forma precária. A Terra não tem ainda nossas formas de impressão de livros, e este trabalho ainda é feito manualmente. As pessoas copiam os escritos e aos poucos a nova doutrina vai se espalhando. Há também pessoas que se dedicam a divulgá-la e que viajam de cidade em cidade pregando-a.
— Então deve ser uma coisa muito interessante, para fazer as pessoas saírem pregando. Quem trouxe ou inventou estes ensinamentos aos quais você se refere?
— O Homem que os trouxe chama-se Jesus. É um Homem nazareno, filho de um carpinteiro e de uma tecelã.
— Ainda existem estas profissões na Terra?
— Sim, é um planeta primitivo ainda.
— Esse nazareno tem alguma cultura? Defendeu alguma tese de doutorado, fez MBA, enfim, o que Ele ensina é confiável?
— Não, senhor, ele não cursou nenhuma faculdade, mas seus ensinamentos são dignos de uma tese de doutorado. São simples, mas difíceis de seguir, pois exigem muito sacrifício e luta de quem se decide a segui-los.
— Como exigem sacrifício e luta? Ele deve ensinar como ficar rico, como ganhar muito dinheiro, como ter várias mulheres, e não creio que isso exija tanto de alguém.
— Ele ensina como ficar rico, mas das bênçãos de Deus. Ele ensina a caridade, o amor ao próximo e o perdão das ofensas. Ele ensina a sermos cada dia melhores, a termos o coração limpo de quaisquer sentimentos negativos.
— Ele não ensina como ficar rico, aumentar nosso capital e nossas propriedades?
— Do dinheiro material não. Ele ensina a ficar rico de boas obras e de luz espiritual, e diz que não se pode servir a Deus e a Mamom, ou seja, servir a Deus e às riquezas.
— Então foi por isso que você abriu sua casa de caridade?
— Sim, através dos ensinos do Seu Evangelho, eu aprendi que todos nós somos irmãos e nos devemos amar uns aos outros.
— Compreendo... Bem, XPZ4, no momento não temos vagas para engenheiros. Assim que aparecer, nós entraremos em contato com você.
— Muito obrigado.
XPZ4 era tido como louco por deixar sua carreira de astronauta e dedicar-se aos mais pobres. As viagens tinham mexido com sua razão e as doenças da Terra tinham afetado sua capacidade de raciocínio. A ignorância daquele planeta atrasado havia destrambelhado sua capacidade intelectual e ele tinha se tornado um pobre de espírito, um homem sem vontades, um vaso oco. Quando saía, já não usava mais seus carros luxuosos, e muitas vezes andava a pé pelas ruas. As pessoas sentiam pena dele, mas seu coração estava agora pleno de novos sentimentos e de uma felicidade que somente a sentem aqueles que se dedicam aos labores do Divino Mestre, aqueles que tomam sua cruz e O seguem.
Pela sua nova conduta, as empresas tinham medo de dar-lhe emprego. Nunca tinha oportunidade para ele. No início tudo bem, pois era possuidor de grandes bens, mas com o tempo começou a sentir dificuldades financeiras. Os pedidos de ajuda não paravam de chegar, e XPZ4 teve que colocar à venda seus carros luxuosos para manter a casa de caridade. Conseguiu ajuda financeira de alguns poucos milionários que tinham aderido à nova ideia do Evangelho trazida por ele. Algumas pessoas se ofereceram em trabalho voluntário, diminuindo a folha de pagamento, e assim conseguia manter a casa de crianças, que depois cresceu e passou a ter uma ala para idosos abandonados, em nova construção no mesmo terreno. Porém, tudo aquilo era novidade num planeta onde o mal imperava, onde não existia a moral pregada pelo Cristo. Impostos cada vez mais caros, perseguições, dificuldades sem conta chegavam a todo momento, e nosso astronauta, fiel ao compromisso e aos seus novos ideais, ia pedindo ajuda de Jesus.
Como ninguém lhe dava emprego, resolveu montar um escritório em sua casa, para fazer projetos de engenharia e assim ganhar algum dinheiro, e, graças à sua habilidade em projetos, o escritório passou a compensar-lhe o esforço.