Chegaram à
Europa após oito horas de voo, o que para eles era uma eternidade, já que
estavam acostumados a velocidade muito maior do que aquela na qual tinham
voado. Todavia, todos estavam felizes por terem saído da selva. Aterrissaram em
Roma, e logo acionaram o botão da invisibilidade, para que não fosse vista. E
agora, aonde ir? Onde dormir? Onde se alimentar? A ideia era procurar alguma
reunião de cristãos e pedir ajuda. Desta forma, foram a uma reunião nas
catacumbas, já que era projeto da viagem à Terra participar de uma destas
reuniões. A princípio foram recebidos com certa desconfiança, mas era
necessário ganhá-la e, após a apresentação do tema da noite, XPZ4 pediu a
palavra e discorreu sobre uma das parábolas do Evangelho de Jesus. Todos
ficaram maravilhados e acercaram-se, perguntando de qual cidade eram os
visitantes. Responderam que eram de Jerusalém e que conheciam Pedro, Paulo e
vários dos Apóstolos do Mestre. Foram recebidos na casa do pregador da noite.
Disseram que não possuíam dinheiro e que precisavam arranjar um trabalho.
Alguns dos homens da expedição de Artúrio conseguiram trabalhos simples e duas
mulheres foram admitidas na casa de dois patrícios, para serviços de babá e de
governança. A língua era a maior dificuldade, não obstante já haverem tido
algum contato com o latim e o hebraico ainda em Artúrio, antes da viagem, mas
rapidamente se familiarizaram graças a um dos patrícios cristãos, que se
prontificou a ajudá-los.
Não podiam
mostrar os conhecimentos dos quais eram detentores, mas tentaram sutilmente
ensinar algumas inovações. A governanta da casa de um dos patrícios introduziu
novas formas de preparo de alimentos e deu uma nova decoração à casa, que ficou
mais confortável e bela. Um dos homens trabalhando na confecção de móveis introduziu
novos formatos, mais confortáveis e com assentos mais macios.
RMT12
estava felicíssimo por ter saído da selva, mas XPZ4 sentia-se responsável por
não ter avisado os índios sobre sua fuga. Aquilo não era uma atitude cristã, a
seu ver.
Agora a
próxima etapa era entrar em contato com Artúrio e pedir ajuda, mas as
tentativas continuavam sem resposta.
Em
Artúrio, descobertos os desvios de verbas, o novo governador foi destituído do
cargo e assumiu uma comissão composta de cinco membros da CGU. Contudo, a falta
de dinheiro para a reconstrução das centrais de comunicação, dos edifícios
públicos, hospitais, estradas e pontes era gritante. Difícil escolher
prioridades, pois tudo era prioritário. A nave de Netuno mencionada
anteriormente passou por Artúrio e deu a notícia de que os ocupantes da nave
intergaláctica Artus3 estavam perdidos na selva e tentavam comunicar-se para
pedir ajuda.
— Como
estarão nossos amigos? – perguntava um dos dirigentes.
— Nossas
indústrias estão paradas há vários meses – dizia outro. – Procurei a peça à
qual se referiram os amigos de Netuno, mas não a encontrei em nenhuma loja
espacial, em nenhum almoxarifado de nenhum planeta em nossa nebulosa, e nem
naquelas onde a tecnologia é semelhante à nossa. Ninguém mais a fabrica.
Sabemos que, com nossa tecnologia avançada, as peças e as máquinas ficam
obsoletas em questão de poucos meses. E não temos meios de nos comunicar com
eles.
— Isso
significa que só poderemos socorrer nossos amigos quando tivermos reconstruído
o planeta arrasado por MSTJ e seus aliados – dizia outro ainda.
O povo,
porém, não aceitava a presença desses representantes da CGU no governo de
Artúrio e queria eleições livres. E assim surgiu o nome de VCN16, astuto
político dado à prática de falcatruas e desvios de verbas. VCN16 começou a
promover reuniões secretas contra o governo provisório instalado pela CGU. A
Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré, agora com algum poder graças ao socorro
prestado durante a invasão de MSTJ e seus aliados, colocou-se a favor dos
representantes da CGU. Seu novo diretor, MBV14, entendia que deveria tomar
posição, mas nem todos concordavam com seu ponto de vista. Muitos achavam que a
finalidade da casa era o socorro aos necessitados e não a política, e lembravam
a passagem do Evangelho onde Jesus mandou dar a César o que é de César e a Deus
o que é de Deus. Lembravam ainda que a finalidade era servir a Deus e não às
riquezas e nem às facilidades.
VCN16
passou a promover encontros em praça pública para acender os ânimos contra os
representantes da CGU, e a maioria amante da desordem começou a depredar os
meios de transporte que haviam sido comprados com os poucos recursos. A polícia
reagiu e muitos foram presos. A CGU então convocou novas eleições, vencidas por
VCN16, que logo tomou posse.
Instalado o
governo, começaram os desvios de verbas. A reconstrução da cidade de novo
estava ameaçada. Antes, o governo da CGU realizava obras, ainda que de forma
lenta, mas agora as obras começaram a ser paralisadas. Insumos que haviam sido
comprados pela CGU começaram a perder os prazos de validade, máquinas
abandonadas entraram em processo de decomposição e o caos tomou conta do
planeta.
Houve
novos protestos pelo atraso das obras, até que VCN16 teve que deixar o governo
e em seu lugar assumiu a comissão da CGU outra vez. Os trabalhos de
reconstrução foram reiniciados, agora de forma mais lenta, ainda pela falta de
verbas. Os meios de comunicação quase não funcionavam, as redes de TV não
possuíam condições de transmissão e o velho e bom jornal Diário de Artúrio voltou
a circular depois de ter sido considerado uma forma obsoleta de comunicação,
séculos antes.