Quando o
planeta já estava dominado, MSTJ procurou expulsar Hermenegildo, aliando-se a
outros conquistadores, como Taurus, da constelação do Touro, e Equinus, da
nebulosa Cabeça de Cavalo. Porém, não contava com a resistência maciça de
Hermenegildo, agora aliado a Zéfirus, da nebulosa da Tarântula, a mesma de
MSTJ, porém seu arqui-inimigo. MSTJ e Zéfirus, antes grandes amigos, tinham
sido criados juntos. Foram companheiros de infância. Viajavam com suas
mininaves por entre as pequenas estrelas brincando de esconde-esconde por entre
a poeira estelar. Um dia, quando já adulto e noivo de uma das irmãs de Zéfirus,
MSTJ a espancou no dia do casamento perante as maiores autoridades, durante uma
crise de ciúmes vendo presente à cerimônia um antigo namorado seu e que sabia
ainda apaixonado por ela, levando-a ao suicídio. Dessa forma, Zéfirus jamais o
perdoou e jurou vingança implacável contra MSTJ.
Ali
estavam grandes e poderosas forças disputando um planeta totalmente destruído
pela ambição de todos. A resolução da disputa foi parar num tribunal
intergaláctico, presidido por Ulisses, habitante de Ursa Maior. Ulisses já
havia sido magistrado em seu planeta e conhecia bem as dificuldades emocionais
e psicológicas de todos os conquistadores espaciais em questão. Espírito nobre,
procurava apaziguar os ânimos e julgar com justiça. Era conhecedor dos
princípios da doutrina espírita, que em seu planeta era aceita e praticada pela
maioria dos habitantes. Acreditava na reencarnação, na comunicabilidade dos
Espíritos com os encarnados e em tudo o que Allan Kardec nos legou através de
sua codificação. Seu planeta havia tido uma forma de evolução diferente daquela
da Terra, e a doutrina que aqui chamamos de espiritismo havia sido trazida por
nobilíssimo Espírito da esfera de nosso amado Jesus. Este Espírito não havia
tido a necessidade de encarnar-se para trazer as leis de Deus ao conhecimento
daquela humanidade e nem passar pelos sofrimentos pelos quais passou Jesus. A
tarefa de julgar sobre o planeta devastado de XPZ4 e AST8 não era fácil, pois
os envolvidos eram conquistadores espaciais ambiciosos e inimigos.
Ulisses
iniciou a conversação com ambas as partes, no intuito de resolver sem grandes
debates. Era como se estivesse conversando com Espíritos perseguidores numa
sessão de desobsessão. Apelou para os melhores sentimentos de ambas as partes,
para que se desligassem da ideia de subjugar os habitantes de Artúrio e os
deixassem livres para reconstruírem suas vidas. Falava do exemplo da Fraternidade
Irmão Jesus de Nazaré, agora sobrecarregada de doentes e praticamente
transformada num hospital, pois os hospitais haviam sido parcialmente
destruídos e não tinham condições de funcionamento. Foram vários dias de
conversação, mas ambos estavam irredutíveis.
— Meus
amigos – dizia Ulisses –, todos nós temos nossas dificuldades. O povo de
Artúrio precisa reconstruir sua vida. Deus nos deu o livre-arbítrio e nenhum de
nós tem o direito de tirá-lo.
— Eles nos
prejudicaram e cada um de nós tem o direito de vingança. Estamos aqui para
decidir quem vai ficar com o planeta e não para conversas improdutivas – disse
Zéfirus.
— Sempre
quis anexar Artúrio às minhas propriedades – disse MSTJ. – Nunca gostei de
AST8. Ele causou-me muitos prejuízos.
— Amigos,
nossa vida, nossas decisões estão subordinadas às divinas leis. Nada acontece
sem que o Pai Celestial permita. Deixem que o povo reconstrua suas vidas,
exerça seu livre-arbítrio e goze de sua liberdade. A lei de Deus é uma lei de
causa e efeito e a cada um de nós é dado conforme nossas obras. Portanto, peço
a ambos que relevem as atitudes de AST8 contrárias aos seus interesses, porque
ele, como governante do planeta e como Espírito em evolução, haverá de errar
muitas vezes, como acontece com ambos neste momento, querendo exercer uma
vingança desnecessária, e Deus, em sua misericórdia infinita, dá sempre uma
oportunidade ao filho pródigo, como narrado na parábola que Jesus deixou aos
terráqueos.
— Ora –
disse Zéfirus –, não me fale deste Jesus que não se salvou nem a si mesmo. A
notícia da morte deste tal de Jesus correu toda a galáxia, e homens de fibra
como eu ficaram indignados de ver a tamanha fraqueza desse Homem que se arvorou
em ser o salvador da humanidade da Terra.
— Não
entendo como XPZ4 e outros homens de Artúrio se encantam por uma doutrina de
homens fracos como o cristianismo – disse MSTJ.
— Os
amigos estão enganados. Para ser forte não é necessário combater, nem mostrar
força ou armas modernas. Muitas vezes é necessário mais coragem para calar do
que para brigar.
— Chega de
conversa – disse Zéfirus –, quero soluções. Para quando está marcada a decisão
final?
— Dentro
de uma semana, com a participação dos dirigentes de vários planetas de galáxias
vizinhas e o juiz da CGU, mas, se fizéssemos jus ao nosso desenvolvimento
tecnológico e procurássemos crescer moralmente, não haveria necessidade de
tribunais para resolver problemas fáceis, porque o que se quer resolver no
tribunal é uma questão de liberdade de outros povos, que deveria ser
reconhecida por ambos.
— Ora, não
me faça perder o equilíbrio aqui mesmo neste momento e dar-lhe uma boa lição –
disse Zéfirus.
Passada
uma semana, todos reunidos e a sessão começou. Houve acusação e defesa de ambas
as partes, e depois a decisão final. Os participantes, para surpresa de Zéfirus
e MSTJ, deram a sentença favorável à libertação de Artúrio e liberdade de sua
população. Decidida a questão, não tinha mais apelação, e o caso foi encerrado.