Após
alguns meses de espera, a nave de retorno a Netuno lhes dá a triste notícia de
que a peça não mais existia no mercado para compra, porque não era mais usada.
— Nosso
fim será aqui no meio desses índios ignorantes, XPZ4. Se eu ainda acreditava em
Deus, a partir deste momento não acredito mais, porque não é possível que seja
da vontade Dele que morramos no meio da floresta, comidos por uma onça, sem
nenhuma esperança, e cercados por índios sem nenhuma cultura. É um fim muito
triste para pessoas pertencentes a uma civilização milhares de anos à frente –
disse AST8.
— Ainda
acredito que Deus é justo e que não faz nada que não seja útil. Penso que
devemos analisar qual a finalidade desta nossa permanência no meio dos índios,
porque o Criador deve nos estar mandando algum recado – respondeu XPZ4.
— Então
que fale claramente – respondeu AST8.
XPZ4 orou
a Jesus pedindo inspiração sobre o que fazer para saírem dali e sobre o
objetivo daquela permanência prolongada na selva. Sonhou que estava ministrando
aulas em uma escola de seu planeta, mas não ensinava técnicas de navegação
espacial nem de conquistas espaciais, e sim as primeiras letras, e seus alunos
eram crianças e não alunos adultos matriculados em uma escola para astronautas.
Sobre sua mesa, havia o Evangelho de Mateus aberto, ao invés de algum livro com
lições infantis, mas o Evangelho de Mateus estava impresso como se fosse um
livro de histórias infantis, cheio de gravuras e desenhos de Jesus e seus
Apóstolos.
No dia
seguinte, acordou impressionado. Nunca tinha pensado em ensinar as primeiras
letras para crianças. Em escolas onde foi professor, ensinava a mecânica das
naves e técnicas de navegação espacial. Não conseguia desvendar o mistério e
pensava se o sonho tinha alguma coisa com sua oração na noite anterior, antes de
dormir. Passados alguns dias raciocinando e sem chegar a nenhuma conclusão,
conta seu sonho a CNL6, e ela, sob a inspiração do Irmão Fábio, lhe diz:
— Creio
que a resposta de Jesus nos diz que devemos ensinar aos índios o que nos for
possível ensinar. Não somente as primeiras letras, mas também o Seu Evangelho.
O Senhor quer aproveitar nossos conhecimentos para impulsionar o progresso dos
índios.
— Meu
Deus! Deve ser isso mesmo. Devemos ajudar quem sabe menos do que nós.
— Sim,
como na parábola dos talentos. Devemos aproveitar o talento que temos, que é o
nosso conhecimento, e ajudar no progresso espiritual de quem ainda está na
retaguarda. É isso o que Jesus espera que façamos. O Irmão Fábio diz que
futuramente, quando descobrirem as Américas, haverá aqui um grupo de pessoas
que ensinará aos índios o Evangelho de Jesus, e diz que, quando chegar a época,
poderemos nós, numa encarnação missionária na Terra, ensinar Seu Evangelho aos
índios, fazendo parte deste grupo de pessoas. Seria uma experiência maravilhosa!
Se o Senhor designar-me para esta encarnação missionária, estarei pronta a
servi-lo.
— Mas por
que o Evangelho aparecia no sonho impresso com gravuras e desenhos?
— Porque
os índios, apesar de adultos, ainda têm a mente infantil e compreenderão melhor
os ensinamentos se forem ensinados com gravuras e desenhos. Acho que deveríamos
fazer desenhos com Jesus nos montes e nas praças ensinando o povo. Acho que até
poderemos montar teatrinhos, mas para isso precisaremos da participação de
outros integrantes de nosso grupo – disse CNL6.
— Então,
mãos à obra – disse XPZ4. – Servir o Mestre é tudo o que mais quero. Vamos
expor a ideia àqueles que trabalham na Fraternidade Irmão Jesus de Nazaré e
perguntar se alguns deles gostariam de participar deste projeto.
No dia
seguinte, XPZ4 foi conversar com o cacique da tribo sobre a possibilidade de
ensinar os índios. O cacique prometeu consultar a tribo e saber se gostariam de
aprender. A assembleia com os índios foi realizada.
— Os
homens voadores querem ensinar a tribo a ler e escrever. Consultei o Espírito
Cachoeira Encantada e ele disse que será bom para todos, e que o Espírito Jesus
é muito bom e poderoso e nos protege mesmo sem que se cante e dance para Ele.
Quero saber se a tribo aceita.
A resposta
foi positiva, e então os tripulantes da nave de Artúrio começaram a amadurecer
as ideias. E XPZ4, entusiasmado, disse:
—
Começaremos assim que for possível, num local fresco e com sombra. Improvisarei
um quadro-negro feito com alguma madeira disponível na floresta, que sirva para
escrever, e escreveremos com nossas canetas com tinta a laser, que se apagam
depois de alguns minutos. Conversei com os irmãos que trabalham na Fraternidade
e eles prometeram reunir-se para estudar a melhor forma de montar os
teatrinhos. Temos roupas próprias na nave e nos vestiremos de acordo.
— Você
acha que estes índios ignorantes vão aprender alguma coisa? – perguntou AST8.
— Sim,
porque o que falta a eles é quem os ensine. O conhecimento que possuem passa de
geração a geração. Não tenho motivos para pensar que não aprenderiam algo mais
além do que passam uns para os outros.
— Bem, já
que pensa assim, vá em frente. Fico admirado como você gosta de perder tempo,
mas, se quer, a escolha é sua. Prefiro dormir – disse AST8.
— E eu
prefiro olhar as belas índias – disse RMT12, também presente no grupo que veio
de Artúrio para conhecer alguma igreja fundada por Paulo de Tarso.
— Pois eu
acho que vocês deveriam preocupar-se mais com o crescimento espiritual, porque
ainda estão apegados a sensações materiais – disse XPZ4.
TJR3 ficou
responsável pelo desenvolvimento dos teatrinhos. Fez os desenhos em tábuas de
madeira, pintados com as tintas que os índios produziam para pintar o corpo, e
CNL6 escreveu os textos adaptados à compreensão dos índios. Ensaiaram durante
alguns dias às margens do Rio Madeira, até que se sentissem afiados para o
início das apresentações. A primeira aula falaria do nascimento de Jesus e ao
mesmo tempo seriam ensinadas as primeiras letras. E, pelo lado espiritual, o Irmão
Fábio inspirava CNL6 para que transmitisse as instruções a fim de que tudo se
realizasse da melhor forma possível.
Tudo
organizado, começaram as aulas. XPZ4 esmerava-se em ensinar os índios. O idioma
indígena foi revestido das letras usadas no idioma latim, falado em Roma, do
qual eles haviam tido algumas aulas em Artúrio, antes de embarcar com destino à
Terra. Podia-se sentir o carinho com o qual ia ensinando as primeiras letras
aos indígenas e a ternura com a qual falava de Jesus e ministrava o Evangelho.
O grupo de teatro entrava em cena para reforçar o que havia sido ensinado.
DPF10 ficou encarregado de representar Jesus, já que possuía barbas, e CJS2,
moça de doçura incomparável, representava Maria, mãe de Jesus. CFL11
representava Madalena, GWB13 representava o centurião, HJK18 representava o
filho pródigo, CDK14 representava a mulher adúltera que foi salva por Jesus do
apedrejamento. No caso dos vendilhões expulsos do templo, arranjaram pombos e
outros pequenos animais da floresta para fazer parte da representação. Foram
moldados bonecos com formas de animais para representarem a manjedoura, Jesus,
Maria e José, o que agradou muito os índios, que não quiseram mais desfazer-se
da cena. Os índios faziam perguntas e ele as respondia com muita atenção e
respeito, principalmente aquelas mais infantis.
O tempo
foi passando...