Antigamente, a gurizada se
divertia das formas mais naturais possíveis. Na Vila da Inês, onde Ldanzim
morava, havia várias mangueiras. Além de fazerem uma boa vitamina de manga (que
agora ele tomava sem medo), também serviam para as crianças brincarem em seus
galhos. Uma das brincadeiras favoritas da gurizada era imitar o “rei da selva”.
“Tarzan”, também as “Janes” participavam.
Ldanzim certa noite estava lá,
pulando de galho em galho, na ânsia de chamar a atenção de alguma Jane, e a
cada pulo de galho era um grito: “OOOOOOOH”. Bem alto, para chamar atenção. E,
já no final do percurso, no último galho, na última árvore, o cipó quebrou e
ele deu o grito: “ÔOOOoooooo”. "Puf", foi direto para o chão. De
repente, ficou zonzo e viu várias estrelinhas, bem douradinhas, em volta da
cabeça, e ainda escutava o tilintar delas: “tlim, tlim, tlim”. Iguais àquelas
que são ilustradas nas revistas em quadrinhos, quando alguém leva uma porrada
na cabeça. O braço doía muito e, levado ao médico, constatou-se que tinha
quebrado.
Por conta disso, recebeu muita
gozação, de que não apareceu nenhuma Jane para pular com ele de galho em galho
na mangueira, mas sim várias estrelinhas, que foram chamadas de “as estrelinhas
do rei da mangueira”.
Anos depois, já adulto, Ldan
perguntou a um amigo craque de bola e adepto do budismo se esse negócio de ver
estrelinhas quando fica zonzo era mito ou verdade? E citou seu caso quando criança foi imitar o
“rei da selva”, caiu e viu várias estrelinhas em volta da cabeça. O budista
disse:
— Rapaz, pode sim, já aconteceu comigo também!
Mas não fique triste não, da Jane, não ter aparecido, pelo menos ela enviou um
monte de estrelinhas. Já eu me lasquei! Fui tentar fazer um gol de bicicleta lá
no campinho da nossa associação, levei uma queda feia, que nem a bola vi, só
estrelinhas.