Ldanzim, aos nove anos, foi residir
na bela capital natalina, morava na Vila da Inês, rodeada de mangueiras de
mangas saborosas. Já falava normalmente e tinha aprendido a andar, mas a
correria continuava. Gostava de futebol, subir nas mangueiras, correr na vila e
ruas próximas, mas nunca ganhou uma bicicleta e nem velocípede. Certa vez,
conseguiu uma de um amigo, tipo “monareta”, para dar uma voltinha. Mas foi
alertado para passear por perto, pois ainda não tinha habilidade de um
ciclista.
- Poxa, que maravilha, essa bike. Vou
aproveitar e ir até o centro. Uma hora no máximo estou de volta, o colega nem
vai saber. Na verdade, foi uma troca. Ldanzim, tinha bastante notas de
“Hilton”, que eram de alto valor, e uma lata de castanha, e pagou para ficar
uma hora na bicicleta.
Saiu da vila, desceu pela Avenida
Nove, depois a ladeira do balde, uma maravilha, todo arrumado, com a calça “Us-Top”,
tênis “conga”. Camisa “volta ao mundo”, brilhantina no cabelo, tudo da moda, se
sentindo o galã naquela bike. Já imaginou aparecer alguma musinha para botar na
garupa? Quem tinha uma “monareta ou caloi”, era garantido aparecer uma pedindo
carona. Mas sem dúvida, a motoquinha, tipo “lambretinha”, era o chique da moda.
Subiu a ladeira do balde, agora era
só pegar a esquerda e retornar para o Alecrim. Mas antes, avistou um pipoqueiro
e pensou:
- Caramba, este pipoqueiro apareceu
na hora, vou comprar logo dois saquinhos e quem sabe aparece uma gatinha dando
sopa. E colocou cada saquinho recheado de pipocas, temperadas com sal e
manteiga, nos guidões da bicicleta. Uma de cada lado dos freios.
Pedalando bem devagar, olhando de um
lado a outro, em busca de aparecer uma futura paquera. Ora tirava pipoca de um
lado, ora de um outro, já próximo da ladeira do cemitério. Quando se deu conta,
a geringonça foi descendo, descendo e pegando velocidade, assustou-se.
- Eita piula, me lasquei, e agora,
vou frear, caramba, não consigo por conta dos sacos de pipocas, nem rasgando
vai.
A velocidade aumentava de ladeira
abaixo. Carros em volta, buzinando. Pipocas voando dos sacos. Até algumas
‘alminhas' ficaram felizes pelo alimento inesperado. Tentou soltar uma das
mãos, era pior, só um ciclista profissional conseguia equilibrar. Alguns
tentaram segurar a bike, mas sem êxito. O desastre podia ser pior e gritou por
socorro.
- Me ajudem, socorro, vou me
arrebentar lá embaixo.
Além da descida, ela subia a ladeira, aí voltava
de ré, o baque era na certa. Além de se arrebentar na queda, ainda tinha a
preocupação de pagar uma nova para o amigo. De repente, um milagroso gritou:
“use os congas”, de imediato, ele colocou os pés no asfalto quente, com muito
cuidado para não virar a bicicleta, a borracha dos “congas” foi freando e
deixando um cheiro forte de queimado. “Ufa”, conseguiu. Aplausos recebeu por
esta façanha. Após o susto, retornou, sem tênis, pois toda a sola foi queimada
por conta do atrito com o asfalto, e os pés cheios de calos. Pelo menos a
bicicleta foi salva. E depois disso aprendeu que nunca mais come pipocas
enquanto pedala, principalmente em ladeira.