Mansão Salles, 15:30 do dia seguinte
A mansão era exatamente o que Bianca esperava. Uma ostentação aparentemente calculada e disfarçada de sofisticação. Tinha arte cara selecionada por decoradores, não por gosto pessoal. Móveis de design que pareciam nunca ter sido realmente usados, mera exibição estilo novo rico. O tipo de casa que existia para impressionar, não para viver.
A recepção para doadores estava em pleno andamento nos jardins. Cristina Salles, impecável em um vestido azul-claro, circulava entre convidados com a graça ensaiada de alguém que passou a vida em eventos sociais. Eduardo Salles, no centro de um grupo de homens de terno, gesticulava animadamente enquanto explanava alguma visão grandiosa.
Bianca, no seu papel de Beatriz Mendonça, circulava discretamente, notebook na mão, fingindo tomar notas para seu artigo. Na realidade, estava mapeando o layout da casa. Identificando câmeras de segurança. Observando padrões de movimento dos seguranças.
Seu telefone vibrou. Mensagem de Carla: “Análise de risco completa. 78% probabilidade de armadilha. Recomendação: abortar.”
Bianca hesitou. A avaliação de Carla era baseada em dados concretos, algoritmos sofisticados, análise de padrões. Era a resposta racional. Um resposta segura.
Mas algo no olhar de Cristina Salles na noite anterior, aquela mistura de desespero e determinação, martelava na mente de Bianca. Reconhecia aquele olhar. Era o mesmo que via no espelho todos os dias desde que sua vida foi destruída.
“Prosseguindo conforme planejado, minha decisão. Minha responsabilidade”.
Guardou o telefone e continuou circulando, aproximando-se gradualmente da entrada da casa. Esperou o momento perfeito, pacientemente. Assim que um garçom derrubou uma bandeja, criando distração momentânea, deslizou para dentro.
O interior da mansão era silencioso comparado ao burburinho dos jardins. Bianca moveu-se rapidamente, seguindo o mapa mental que havia construído. Escada principal. Terceiro andar. Corredor à direita.
Cada passo era calculado. Cada movimento, preciso. Anos de jornalismo investigativo em zonas de conflito e territórios controlados por cartéis haviam lhe ensinado a arte do movimento invisível. A habilidade de estar presente sem ser notada.
O escritório de Cristina era exatamente onde ela havia indicado. Uma porta simples no final do corredor. Sem câmeras visíveis. Sem sensores aparentes.
Bianca testou a maçaneta. Destrancada, como prometido.
O escritório era surpreendentemente modesto comparado ao resto da casa. Prático. Funcional. Livros reais nas estantes, não apenas decorativos. Uma mesa de trabalho com marcas de uso. Fotografias emolduradas de uma Cristina mais jovem, sorrindo de verdade. Cristina com uma menina adolescente, provavelmente a filha.
O computador estava no centro da mesa. Bianca sentou-se, ligou-o, esperou a tela de login aparecer.
“Prometheus1984”
Hesitou antes de digitar. Se fosse uma armadilha, este seria o momento da ativação. O momento em que selaria seu destino.
Respirou fundo. Digitou a senha.
O sistema aceitou. A tela inicial apareceu. Nenhum alarme. Nenhuma explosão de segurança.
Bianca trabalhou rapidamente, metodicamente. Conectou o dispositivo de transferência que Carla havia preparado. Começou a copiar arquivos. E-mails. Documentos financeiros. Fotografias. Vídeos.
Enquanto o dispositivo trabalhava, Bianca passou os olhos rapidamente sobre o conteúdo. O que viu fez seu coração acelerar. Não eram apenas meras evidências circunstanciais. Eram provas concretas. Comunicações claras entre Salles e seus cúmplices. Transferências financeiras para João Elias. Relatórios detalhados do Dr. Campos sobre o progresso psicológico das vítimas. Ou seria melhor dizer, a degradação das pacientes?
E mais. Muito mais do que podia imaginar. Planos para expansão do projeto, listas de alvos futuros. Estratégias para neutralizar potenciais investigações.
Pensou, tinha encontrado o tesouro completo. Tudo o que precisavam para desmantelar toda a operação.
O dispositivo emitiu um sinal discreto. Transferência completa. Bianca o desconectou, desligou o computador, deixando tudo exatamente como havia encontrado.
Estava prestes a sair quando notou uma pasta física na lateral da mesa. Etiquetada simplesmente: “Seguro”.
Abriu-a rapidamente. Dentro, documentos impressos. Cópias físicas de evidências digitais. Backups analógicos em um mundo digital.
“Inteligente, muito inteligente, Dona Cristina”. — pensou, admirando o achado.
E algo mais. Um pendrive pequeno, preso à contracapa da pasta com fita adesiva. Uma nota manuscrita ao lado: “Último recurso. Código de acesso: Sofia2007”.
Bianca hesitou apenas por um segundo antes de pegar o pendrive. Qualquer evidência adicional poderia ser crucial.
Fechou a pasta, colocou-a exatamente onde estava, e moveu-se em direção à porta.
Foi quando ouviu vozes no corredor. Se aproximando.
— ...apenas verificar alguns documentos no meu escritório, — dizia Cristina.
— Claro, querida, — respondeu Eduardo Salles. — Vou com você. Quero mostrar ao senador aquelas fotos da viagem à Grécia.
Bianca congelou. Não havia tempo para fugir. Não havia onde se esconder em um escritório tão funcional, sem armários grandes ou cortinas volumosas.
Exceto...
Moveu-se rapidamente para debaixo da mesa. Uma solução desesperada, quase infantil em sua simplicidade. Mas a mesa tinha um painel frontal que descia até quase o chão. Se ficasse completamente imóvel, se conseguisse controlar até sua respiração...
A porta abriu. Passos adentrando o escritório.
— Não vai demorar um minuto, Eduardo. As fotos estão... onde eu coloquei mesmo?
Bianca podia ver apenas pés. Saltos elegantes de Cristina. Sapatos italianos caros de Eduardo. E um terceiro par – oxfords pretos bem polidos. O senador, presumivelmente.
— Talvez no seu computador, querida?
— Não, não. Lembro bem. Imprimi especificamente para mostrar em ocasiões como esta, respondeu Cristina. Sua voz soava perfeitamente natural. Nenhum indício de que sabia que Bianca estava ali. Nenhuma sugestão de que toda esta situação poderia ser encenada.
Cristina moveu-se pelo escritório, abrindo gavetas, verificando pastas. Seus pés passaram a centímetros de onde Bianca estava escondida.
— Ah, aqui estão! Sabia que estavam por aqui em algum lugar.
— Maravilhoso, Cris. — Senador, espere até ver isto. O Parthenon ao pôr do sol é simplesmente espetacular.
Os pés começaram a se mover em direção à porta. Bianca permitiu-se respirar novamente.
Então, no último momento, Cristina disse:
— Vocês vão na frente. Esqueci meu celular aqui em algum lugar.
Os homens saíram. A porta fechou. Silêncio.
— Eles foram embora, — disse Cristina suavemente. — Pode sair agora.
Bianca hesitou por segundos, então emergiu lentamente de seu esconderijo improvisado.
As duas mulheres se encararam em silêncio por um longo momento.
— Encontrou o que precisava, “Bianca”?
— Sim, Cristina, encontrei. Muito obrigada.
— Não me agradeça ainda, pode acreditar, isso é apenas o começo. E vai ficar muito, muito pior antes de melhorar.
— Por que está fazendo isso? Por que trair seu próprio marido?
Cristina sorriu tristemente.
— Porque ele traiu tudo o que um dia representou. Porque tenho uma filha de 18 anos que merece um mundo melhor que este. E porque... — Ela hesitou. — Porque eu também fui vítima uma vez. Muito antes de conhecer Eduardo. Muito antes dos deepfakes existirem. Mas o padrão era o mesmo. Humilhação. Descrédito. Silenciamento.
Bianca concordou com um olhar condescendente, compreendendo.
— O pendrive... meu seguro pessoal, — confirmou Cristina. — Coisas que nem mesmo Eduardo sabe que eu sei. Use com sabedoria. Apenas quando tudo mais falhar.
— E agora?
— Agora você vai sair exatamente como entrou. Discreta. Invisível. E eu voltarei para meu papel de esposa troféu por mais alguns dias.
— E depois?
— Depois, — disse Cristina, com um brilho determinado nos olhos, — verei meu marido e seus amigos enfrentarem as consequências. As verdadeiras consequências. O preço que eles merecem pagar por tudo que têm feito.
Bianca saiu da mansão Salles exatamente como havia entrado. Invisível, discreta, um fantasma deslizando entre as sombras da opulência. O dispositivo de transferência pesava em seu bolso como um talismã, carregado de poder e perigo em igual medida.
Quando finalmente alcançou a segurança relativa de um táxi anônimo, permitiu-se respirar profundamente pela primeira vez em horas. Suas mãos tremiam levemente, não de medo, mas da pura adrenalina de ter estado tão próxima do abismo.
— Para onde? — Perguntou o motorista, olhando pelo retrovisor.
Bianca deu um endereço aleatório, a dez quarteirões do verdadeiro destino. Precauções básicas. Paranoia saudável.
Enquanto o táxi navegava pelo tráfego da tarde, Bianca enviou uma mensagem codificada para Carla:
“Pacote adquirido. Conteúdo excede expectativas. Bônus inesperado incluso”.
A resposta veio quase imediatamente:
“Confirmado. Ponto de encontro Charlie em 90 minutos”.
Bianca guardou o telefone e olhou pela janela, observando a cidade passar. São Paulo em toda sua contradição caótica. Arranha-céus espelhados refletindo favelas distantes. Riqueza e pobreza coexistindo em equilíbrio precário. Poder e vulnerabilidade andando lado a lado desde sempre, desde que Sampa é Sampa.
Como era possível que algumas poucas pessoas tivessem tanto poder sobre tantas vidas? Como sistemas inteiros podiam ser corrompidos para servir a interesses tão estreitos, tão mesquinhos?
E mais importante: como ela, mais Carla, o Amaral e um punhado de aliados improváveis poderiam realmente esperar desmantelar algo tão profundamente enraizado nas estruturas de poder?
O táxi parou em um sinal vermelho. Na calçada, um grupo de adolescentes passava, rindo e filmando-se com smartphones. Vidas digitais misturadas com existências físicas, sem fronteiras claras entre os dois mundos, expostos aos tubarões em um mar de imundícies. Vulneráveis de formas que nem imaginavam.
Bianca sentiu o peso da responsabilidade como algo físico. Não era apenas sobre justiça pessoal agora. Era sobre proteger incontáveis vidas futuras de um sistema projetado para controlar através do medo, da humilhação, da destruição sistemática.
O sinal abriu. O táxi avançou. E Bianca Oliveira, jornalista desacreditada transformada em guerreira relutante, seguiu em direção à batalha que definiria não apenas seu futuro, mas o futuro de uma sociedade inteira.
Apartamento de João Elias, 18:45
João não havia dormido. Não havia comido. Havia apenas oscilado entre estados de pânico paralisante e clareza febril nas últimas 24 horas.
O ultimato estava quase expirando. Doze horas para decidir. Cooperar ou ser destruído.
Seu apartamento, normalmente imaculado, refletia seu estado mental fragmentado. Papéis espalhados pelo chão. Garrafas vazias de energético acumuladas. Roupas descartadas em pilhas aleatórias.
Na mesa da cozinha, seu laptop, não o principal, comprometido, mas um backup emergencial, mostrava uma tela dividida. De um lado, passagens aéreas para destinos sem tratados de extradição. Do outro, um documento em branco, esperando para receber uma confissão completa.
Fuga ou rendição. As únicas opções restantes.
Seu telefone vibrou. Mensagem de Salles:
“Reunião de emergência. Hoje, 20h. Presença obrigatória. Não vacila”.
João sentiu o estômago contrair. Salles nunca convocava reuniões de emergência. Nunca usava canais não seguros para comunicações sensíveis. Algo estava errado. Muito errado.
Eles sabiam? Haviam descoberto a invasão? Estavam planejando eliminá-lo como um risco de segurança?
Ou era apenas paranoia? O colapso mental de um homem que havia passado anos projetando sistemas para destruir psicologicamente outras pessoas, agora experimentando o mesmo destino?
A ironia não lhe saia da cabeça. O arquiteto de sofrimento, sofrendo. O designer de colapsos mentais, colapsando.
Seu olhar vagou para a gaveta da cozinha onde guardava uma arma. Comprada anos antes, logo quando começou a trabalhar com pessoas perigosas. Nunca fora usada. Nunca nem mesmo praticada em um estande de tiro. Apenas um símbolo de segurança ilusória.
Agora representava uma terceira opção. Final. Irreversível.
O telefone vibrou novamente. Não era Salles desta vez. Era o número desconhecido. A voz distorcida digitalmente.
— Tempo esgotado, João. Qual é sua decisão?
João encarou a mensagem por longos minutos. Cada escolha levava a um tipo diferente de destruição. Cada caminho terminava em ruína.
Mas apenas um oferecia a possibilidade, por mais tênue que fosse, de redenção.
— Vou cooperar. O que preciso fazer”?
A resposta veio quase imediatamente:
— Reunião com Salles esta noite. Vá. Aja normalmente. Grave tudo. Dispositivo será entregue em 30 minutos”.
— Como sei que não serei morto assim que entrar lá?
— Não sabe, assim como dezenas de mulheres não sabiam que suas vidas seriam destruídas quando acordaram naquelas manhãs. Incerteza é desconfortável, não é?
João não respondeu. Não havia resposta possível.
Trinta minutos depois, exatamente como prometido, uma entrega chegou. Pacote simples, sem identificação. Dentro, um dispositivo de gravação disfarçado como um carregador portátil de celular. Tecnologia sofisticada. Indetectável por scanners padrão.
Junto, uma nota manuscrita: “Sua única chance”.
João segurou o dispositivo, sentindo seu peso. Literal e metafórico. A ferramenta de sua possível salvação. Ou de sua destruição final.
Tomou banho. Barbeou-se. Vestiu roupas limpas. Tentou recompor a fachada de competência profissional que havia cultivado por anos. A máscara do Architect. O gênio tecnológico sem emoções, sem empatia, sem vulnerabilidades humanas.
Mas a máscara não se encaixava mais. Estava rachada. Irreparavelmente danificada.
Às 19:45, saiu de seu apartamento. O dispositivo de gravação no bolso. A arma nunca usada no coldre improvisado sob o casaco.
Duas formas de seguro. Duas apostas desesperadas.
Enquanto dirigia para o escritório de Salles, João Elias, o homem que havia projetado algoritmos para destruir vidas sistematicamente, enfrentava a possibilidade de que sua própria criação seria seu algoz.
Ponto de encontro Charlie, 20:30
O “Ponto de encontro Charlie” não era um lugar, mas um protocolo. Uma sequência de movimentos projetada para garantir que ninguém estava sendo seguido. Uma série de locais transitórios, tempos precisos, confirmações visuais.
Bianca seguiu o protocolo meticulosamente. Táxi até o Shopping Ibirapuera. A pé até a estação de metrô. Três estações em uma direção. Retorno. Duas estações em outra direção. Saída. Ônibus. Caminhada.
Finalmente, o destino real: um hotel de beira de estrada nos limites da cidade. Anônimo. Genérico. O tipo de lugar que não fazia perguntas e não mantinha registros detalhados.
Quarto 237. Três batidas rápidas, duas lentas.
A porta abriu. Carla, olheiras profundas evidenciando noites sem sono, mas olhos alertas, focados.
— Limpa?
— Até onde sei, limpa.
Carla confiou, fechando a porta atrás dela. O quarto era espartano. Duas camas de solteiro. Uma mesa improvisada com equipamentos de alta tecnologia contrastando com o ambiente desgastado.
Amaral estava sentado em uma das camas, revisando documentos. Clara Reis na outra, laptop aberto à sua frente. Ambos olharam quando Bianca entrou.
— Conseguiu, — disse Amaral. Não era uma pergunta.
Bianca confirmou, removendo o dispositivo de transferência e o pendrive de seu bolso.
— Tudo. E mais um pouco. Ou bastante, melhor dizendo.
Carla pegou os dispositivos quase reverentemente, conectando-os a um sistema isolado – um computador sem conexão com a internet, protegido contra qualquer forma de rastreamento ou invasão.
— Vamos ver o que temos, — murmurou, dedos voando sobre o teclado.
Os arquivos começaram a aparecer na tela. Documentos. Planilhas. E-mails. Vídeos.
— Meu Deus, — sussurrou Clara, aproximando-se da tela. — É tudo verdade. Tudo.
Os documentos contavam uma história completa. O nascimento do Projeto Cassandra. Sua evolução. Sua implementação meticulosa. Cada vítima cuidadosamente selecionada. Cada ataque precisamente calibrado para máximo impacto psicológico.
E os nomes. Todos os nomes. Não apenas Salles, João Elias e Dr. Campos. Mas juízes, promotores, políticos – maioria do mesmo espectro ideológico, empresários. Uma rede de poder e influência unida por uma visão comum: controle social através do medo digital.
— Isso é... — Amaral hesitou, procurando a palavra adequada. — No mínimo, monstruoso. MONS TRU O SO!
— É calculado, meu caro — corrigiu Carla. — Meticuloso. Científico. O que o torna ainda pior que monstruoso.
Bianca observava em silêncio, uma tempestade de emoções contraditórias lutando dentro dela. Talvez vingança, talvez reparação, ou simplesmente alívio momentâneo. Finalmente, tinha prova irrefutável de que não estava louca, de que havia sido vítima de uma conspiração elaborada. Muita Raiva, pela destruição sistemática de tantas vidas, incluindo a sua. E algo mais complexo, uma espécie de admiração relutante pela engenhosidade perversa do sistema que haviam criado.
— E o pendrive?
Carla conectou-o, digitando o código que Cristina havia fornecido: “Sofia2007”.
Novos arquivos apareceram. Diferentes dos anteriores. Mais pessoais. Mais íntimos.
Vídeos de Eduardo Salles em situações comprometedoras. Não deepfakes, mas gravações reais. Conversas explícitas sobre eliminar problemas. Referências diretas a pessoas que haviam desaparecido após ameaçar expor aspectos do projeto.
— Isso vai além de deepfakes e destruição psicológica, — disse Amaral lentamente. — Isso é assassinato, minha gente.
— Cristina estava coletando evidências há anos, — balbuciou Bianca. — Construindo seu próprio caso contra o marido.
— Por que não usou antes, só agora? — perguntou Clara.
— Porque sozinha seria sua palavra contra a dele, — respondeu Bianca. — Uma esposa despeitada acusando o marido poderoso. Sabemos como essas histórias terminam.
— Mas agora, combinado com tudo o mais que temos... — completou Amaral.
— É imbatível, acredito. — completou Carla. — Evidência corroborativa de múltiplas fontes independentes. Mesmo com suas conexões, eles não conseguiriam suprimir tudo isso.
Um silêncio caiu sobre o grupo enquanto absorviam a magnitude do que tinham em mãos. O poder. A responsabilidade.
— O que fazemos agora? — perguntou Clara finalmente.
— João Elias está na reunião com Salles neste momento, — respondeu Carla, verificando seu telefone. — Se o dispositivo de gravação funcionar, teremos ainda mais evidências diretas.
— E então?
— Então, — disse Bianca, com uma determinação feroz em sua voz, — nós destruímos o sistema deles. Completamente. Irreparavelmente.
— Como vamos fazer isso, sabe nos dizer? — perguntou Amaral. — Os canais oficiais estão comprometidos. A mídia tradicional está nas mãos deles. As plataformas digitais podem ser manipuladas.
— Usamos as mesmas ferramentas que eles usaram contra nós, — respondeu Bianca. — Mas para expor a verdade, não para criar mentiras.
— Distribuição massiva, claro! — concordou Carla. — Todas as plataformas simultaneamente. Canais internacionais. Jornalistas confiáveis em múltiplos países. ONGs de direitos digitais. Ativistas. Todos recebendo o pacote completo ao mesmo tempo.
— Um tsunami de verdade, — murmurou Clara. — Grande demais para ser contido.
— Exatamente, — confirmou Bianca. — E nós, as vítimas, na linha de frente. Rostos reais. Histórias reais. Verdade inegável.
O telefone de Carla vibrou. Mensagem de texto. Seu rosto empalideceu ao ler.
— O quê? — Perguntou Amaral, imediatamente alerta.
— João Elias, — respondeu Carla, a voz tensa. — Mensagem de emergência. “Armadilha. Eles sabem. Fuja”.