PRÓLOGO
São Paulo, 3:47 da manhã
O código piscava na tela como um coração digital moribundo. Verde fosforescente contra o fundo negro, linhas de programação que dançavam em padrões hipnóticos. Para olhos não treinados, seria apenas jargão tecnológico. Para quem entendia, era uma arma de destruição em massa.
O programador, que preferia o pseudônimo Architect, sorriu ao executar o script pela milésima vez. Cada iteração aperfeiçoava o algoritmo, o tornava mais letal, mais preciso, mais cruel. Não era apenas tecnologia; era arte. A arte da aniquilação digital.
Na pasta ao lado do teclado, quarenta e sete perfis esperavam sua sentença. Mulheres cuidadosamente selecionadas, estudadas, dissecadas psicologicamente. Cada uma com suas vulnerabilidades mapeadas, seus pontos de ruptura identificados, suas redes de apoio analisadas.
O telefone vibrou. Uma mensagem criptografada:
“Júlia Sampaio primeiro. Máxima prioridade.”
Architect abriu o perfil. Influenciadora digital, 27 anos, meio milhão de seguidores. Feminista vocal. Denunciava fraudes corporativas. Incomodava pessoas poderosas. Perfeita.
Seus dedos voaram sobre o teclado. Em minutos, o algoritmo tinha consumido milhares de fotos de Júlia, aprendido seus trejeitos, mapeado suas expressões, reconstruído sua essência digital. Em horas, nasceria um vídeo tão perfeito que nem a perícia forense conseguiria distinguir do real.
Mas Architect sabia algo que seus clientes não sabiam: ele não estava apenas destruindo mulheres individuais. Estava criando uma nova forma de guerra. Uma guerra onde a realidade era maleável, onde a verdade era coisa do passado, onde a própria identidade podia ser vaporizada contra seu dono.
E esta guerra estava apenas começando.