Dizem que Aenora nasceu onde os véus entre os mundos dançavam como fumaça, na orla esquecida do noroeste de Gaia, onde Ekhaya sussurra à Terra em noites de neblina e encantamento. Desde pequena, ela ouvia o chamado das Brechas como outros ouvem o vento nas folhas.
Antes desses portais existirem, ela tornou-se aprendiz de Nehaleen, a Primordial do Mistério e da Travessia, e logo ultrapassou os limites esperados para os da sua linhagem. Criou um baralho de runas vivas, capaz de traduzir a essência de uma alma em palavras e símbolos e com isso, passou a guiar os Andarilhos dos Sonhos, lendo-lhes o coração antes mesmo que eles compreendessem quem eram.
Por eras, seu nome era sussurrado com reverência, até que, como tantos que tocam a centelha do impossível, Aenora amou.
Seu nome era Elden, e ao tocá-lo, ela esqueceu o Norte. Abandonou sua missão, como quem larga a bússola ao confiar no próprio coração. Juntos, desapareceram entre os domínios das Brechas, vivendo dias que pareciam eternos... até que o horror se fez carne: Elden fora tragado por um Kabu e corrompido pelo Devorador dos Sonhos.
Aenora o procurou com fúria e esperança, mas o reencontro foi brutal, o olhar de Elden já não a reconhecia, agora, ele servia à sombra que tudo consome. Ferida, emboscada e traída, Aenora tombou entre mundos. E ali, entre o último suspiro e a escuridão, chamou por Nammu.
E a criadora de Ekhaya, em sua compaixão primordial, não a salvou, a transformou.
Com o coração selado para sempre, Aenora ascendeu aos céus de Ekhaya como uma constelação viva. E assim, ela retornou à sua missão, não em carne e osso, mas em brilho e eternidade. Desde então, cada Andarilho que desperta carrega no antebraço o traço luminoso de Aenora, uma tatuagem viva, que pulsa à medida que o espírito se fortalece. Ela os guia em silêncio, como quem diz:
"Siga, mas nunca perca de vista o que te move."
Caelira - Sacerdotisa juramentada de Aenora