Nos tempos antigos de dor e faísca, quando a luz e a treva dançavam arisca, houve um rachar entre céu e chão.
O Grande Expurgo, a desolação.
Primordiais, que moldaram o mundo, foram ao vento, em silêncio profundo. Alguns ficaram, outros partiram, e os laços antigos... pouco a pouco se partiram.
Nawa, de olhos de alvorada, e Ashur, guardião da alvorada calada, descem à Terra por livre vontade, num tempo de sombras e ambiguidade.
Entre os mortais, ocultos viveram, em corpos humanos, paixões conheceram. Por conveniência, fingiam amor, mas o que era morno virou desamor.
Ashur, tocado por chama diversa, viu numa humana sua sina reversa. Beatriz era riso, era vento e maré, e por ela, o antigo deixou de ser quem é.
Para esquecer, selou a memória, rasgando páginas da sua história. Nawa ficou com o peito em ruínas, ecoando em silêncio suas próprias sinas.
Sentindo o peso da rejeição, caiu num abismo de solidão. Tentou calar o sopro da vida, no gesto final de dor não contida.
Mas um humano de alma ferida, a encontrou entre as ondas da vida. Curou-lhe o peito, deu-lhe um lar, e Nawa voltou, aprendeu a amar.
Porém o passado nunca se cala, mesmo entre flores, a sombra embala. E assim se escreve a canção esquecida de dois Primordiais... de alma partida.
Umzingeli - O caçador de almas perdidas