O inverno romano chegava suavemente, pintando os telhados de cinza e silenciando as fontes da cidade. Isabella caminhava pelas ruas estreitas do bairro Monti, com o códice de Pompeia oculto sob o casaco e a mente cheia de inquietações. A rosa negra — símbolo frequente no manuscrito — parecia mais que um emblema; era um presságio.
Ela entrou numa pequena livraria especializada em textos raros. O proprietário, um senhor de olhos pequenos e mãos manchadas de tinta, reconheceu-a de imediato.
— Você busca o que não está à venda — disse ele, sem levantar os olhos.
— Procuro o que foi esquecido.
Ele entregou a Isabella um envelope com um carimbo antigo. Dentro, havia uma fotografia em preto e branco de uma escultura de mármore — uma rosa negra esculpida no pedestal de uma estátua de Santa Cecília, localizada numa igreja abandonada no Trastevere.
Naquela noite, Isabella visitou a igreja. O local estava em ruínas, com vitrais partidos e bancos cobertos de poeira. A estátua de Santa Cecília permanecia intacta, mas a rosa negra na sua base parecia recente — como se tivesse sido restaurada por mãos discretas e silenciosas. Isabella aproximou-se, tocando levemente o mármore frio. Ao fazê-lo, sentiu uma vibração sutil — como se a pedra guardasse um segredo ancestral, pulsando sob a superfície.
Atrás da estátua, uma inscrição em latim parcialmente apagada revelava uma frase: “In tenebris floret” — “Floresce na escuridão”. Aquilo não era apenas simbólico; era uma pista.
De volta ao apartamento, Isabella decifrou os trechos do códice que mencionavam a rosa negra. Descobriu que ela era usada como marca por uma sociedade secreta que atuava desde o século XVII, dedicada a preservar conhecimentos proibidos e proteger artefatos que jamais deveriam cair em mãos erradas.
A cada página traduzida, o mistério se aprofundava. A rosa negra não era apenas um símbolo — era um mapa. Um percurso oculto entre cidades, igrejas e bibliotecas esquecidas. E Isabella, sem saber, já havia iniciado a sua jornada.