Do amor se fez
o desespero.
Da promessa,
a hesitação.
E, assim, a poesia
tornou-se um grito
que me calava,
tão silencioso
e intenso.
Um sussurro
que me sufocava,
tão vago e
necessário.
Palavras soltas,
acorrentadas à alma.
Um grito que deixava
a garganta seca,
os olhos molhados.
Hoje escrevo meus últimos versos.
Meu peito já não suporta mais.
Meu corpo padece,
consumido pela poesia.
Tantas coisas ficaram nas entrelinhas…
Que me julguem, que me condenem,
que me odeiem…
ou apenas me amem.
Preencham os vazios como quiserem.
Mas, por favor… não me culpem.
Eu nunca disse o que pensam.
E o que disse…
ninguém me ouviu.
Se fosse hoje… te daria um beijo:
único, inesquecível… eterno.
Mas amanhã…
estarei sóbrio.
E o tempo já não espera por mim.
Que alguém mantenha a loucura.
Que alguém se permita amar.
Estes são meus últimos versos.
E se algum deles ousar nascer de novo…
se algum amor, ainda assim, tentar resistir…
que Deus os proteja…
que Deus… me perdoe.
Uns buscam a fama,
outros, o sucesso.
Eu só quero o esquecimento.
Ser fotografia que desbota
na moldura do tempo…
como o ponteiro das horas
que ninguém vê passar.
Quero ser ausência.
Que até os olhos mais gentis
me confundam com poeira,
que os amigos
passem por mim como um vulto.
Desejo meu nome
apagado dos livros da vida,
que até minha sombra
desaprenda o meu jeito de andar
E, por fim, quero apenas
uma caneta e um papel…
para escrever, em silêncio absoluto,
o primeiro verso
de um eu ainda sem nome.
Depois de tudo, o vazio.
Sem vento, sem velas,
sem direção.
Sem ondas, sem barco,
sem retorno.
Sem peixes, sem promessas,
sem nada.
Só silêncio, imensidão
e o tempo.
Amava tanto
e, de tanto amar,
fez da ausência esperança
da solidão ofício,
e do silêncio promessa.
Amava tanto
e de, tanto amar,
fez da culpa certeza,
do medo coragem,
e da mentira oração.
Amava tanto
e, de tanto amar,
fez de mim poeta.
Foram horas,
minutos,
segundos…
Poderia ter sido uma vida.
Não importa.
Naquele momento,
o tempo parou…
e se fez infinito.
E, por um instante,
não havia mais medo,
ou culpa,
nem dor,
ou castigo.
Muito menos pecado.
Era só eu e você,
e toda a poesia que há no mundo.
Todos os amores
deveriam acontecer:
perto ou longe,
em algum tempo,
a qualquer lugar.
Todos os amores
deveriam ser possíveis,
até os impossíveis.
Ainda mais os impossíveis.
Amar à distância é tarefa fácil;
difícil é amar de perto,
quando se está cansado,
quando o corpo não quer.
Amores de verdade
não precisam ser eternos;
precisam durar a semana toda,
do desânimo das segundas
às ilusões das sextas-feiras.
Amores de verdade
superam todos os obstáculos:
da pia molhada
à toalha sobre a cama.
O amor não está em vinhos caros
nem em jantares românticos;
ele está num café requentado,
tomado às pressas, antes de ir trabalhar.
Te prometi um poema,
que nos resumisse,
que explicasse cada gesto,
cada olhar,
que colocasse no papel
todo sentimento,
que nos traduzisse
em palavras.
Um poema sobre nós,
sobre o que fomos
e o que deixamos de ser,
que contasse uma história:
a nossa história.
Mas talvez um poema assim
não exista.
Talvez seja sempre
uma folha em branco,
um universo de possibilidades,
ou um imenso silêncio.
Por favor, não me acompanhe,
não solte minha mão.
Vou lhe fazer chorar, vou lhe fazer sorrir.
Sou seu erro e sua salvação,
sou seu herói e sua maldição.
Nosso amor não se mede em horas,
mas em segundos.
Segundos tão intensos
que até o relógio hesita em continuar.
promessas tão vívidas
que já deixam saudade no ar
antes mesmo de se cumprirem.
Nosso amor não nasce da presença,
mas da ausência…
Ausência tão repleta de nós
que transborda o que fomos.
Por favor, não venha comigo,
não tire seus olhos dos meus.
Vou lhe fazer mal, vou lhe fazer bem.
Sou seu segredo e sua confissão,
sou seu vício e sua redenção.
Nosso amor não cabe em lugar nenhum,
mas ainda cabe.
Dentro do que sobrou de nós.
Você cabe nos meus braços,
na minha vida,
é a medida exata,
o que me faltava,
e o que me completa.
Você é o amor
que transborda em mim