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tiagoandreatto

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Ativo Ator / Escritor / Compositor

Selo L1

Signo no Universo em Órbita:

Transmutário

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

O 8º texto da série "12 Textos p/ Teatro Que Escrevi Enquanto Estava Falido" se chamará "Os Cartazes de Ontem".

Que tal uma espiadinha no prólogo da história!?

-- PRÓLOGO

Acordo no meio da noite e ela está lá… na borda da ponte olhando pra baixo. As águas correm ferozes, devido às fortes chuvas dos dias anteriores, expressando sua fúria pelos lixos acumulados por toda sua extensão.

Ela segue lá, imóvel e olhar fixo… perdido.

Só me passa uma coisa pela cabeça, uma dúvida… A salvo ou a empurro?



A cama estava molhada. A roupa molhada do suor frio que reinara na madrugada.
Que alívio! Era só um sonho…

Era só um sonho, né!?



Uma carta sob a escrivaninha, com a assinatura dela e os dizeres:

Nunca te perdoarão pelo que você fez, mas obrigada por acatar o meu último desejo.

O papel velho e amassado, ainda cheirava a tinta… Tinta e chuva.



As ruas estão encharcadas. A chuva se foi, mas nossas lágrimas demorarão muito para secar. Já os cartazes de “desaparecida”, apenas alguns sobraram inteiros. Os demais se foram assim como tudo na vida que se vai… como nós, que um dia também fomos ou será que poderíamos ter sido. A mente já cansada me confunde às vezes e já não sei o que é hoje, ontem ou amanhã… Nem sei mais se a gente é verdade.



Ainda me lembro do dia em que você partiu, mudando-se pra tão longe. As crianças inseparáveis que corriam pela rua de terra, ignorando a presença do tempo, deixaram de existir ali, só restando um fragmento esquecível. Fragmento este que ficou guardado durante tanto tempo.

Anos depois ouvi notícias de que estava internada à beira da morte. Havia cortado os pulsos, num pedido de socorro, um clamor por algo ou alguém e eu não estava por perto.

E foi um pouco antes de saber desse acontecido, é que os sonhos começaram… Malditos pesadelos!

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Hoje não estou a fim
De estar aqui ou ali,
Ou em qualquer outro lugar

Hoje só não quero estar,
E já é um bom começo, eu acho
Saber o que não se quer

Sequer pensei, por um segundo, estar presente
Mas parte das obrigações da vida
Ter essa fagulha de nada, dividida
Com semelhantes, entes pensantes

Que provavelmente pensam o mesmo
Desejo de não estar a fim de compartilhar
Com alguém igual a mim, o nada
Que deveria saborear na solitude

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Que grosseria, nos tempos atuais, desejar pra alguém um bom dia!
Violentar assim o direito do outro em se contentar com o que é pouco
Querer para ele a alegria, que talvez, mesmo você não queria

E quem é gostaria?

Ter um verdadeiro bom dia, pra ficar relembrando e revisitando
Fazendo de todos os outros, perca de tempo, esquecíveis
Covardia essa, transferir para o semelhante essa carga tão sufocante
Só pra satisfazer o teu ego… tão educado ego… tão invasivo ego

E quem não é egocêntrico, hoje em dia?

Tá se enganando e mentindo pra si mesmo. Que vergonha alheia!
Se preocupar com o planeta, as plantas, os animais… e a gente?
Onde é que fica a gente, nessa busca de completar os “bons dias” tão intransigentes?
Até gostaria que fosse diferente, mas como seria plausível dizer que é. Quando?

Quando é que o dia de hoje, deveras seria um bom dia?

Tenho a esperança inocente de ser o amanhã, restando-me apenas sobreviver no silêncio,
Ou na manifestação do meu protesto que lhe entrego toda manhã
Desejando a você um grandíssimo “Bom dia!”

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

E quem disse que o #sexxxtou acaba!? Mas só vale ler devorando bem devagar cada... palavra.

Proibido,
Que palavra de gosto amargo
Um doce convite

Estar diante das portas do céu
Desejando intensamente
Ver as aréolas caindo

Imaginar buracos escondidos
Querendo entrar em todos eles
Alimentar a fama de bandido

Distribuir palmadas leves
Até receber pedidos de mais força
Convite a ser dos prazeres submisso

Proibido,
Paredes já não existem no ali contido
Rapto da realidade da carne

Imaginação segue longe
Precisa de um freio
Pra não ultrapassar a libido

Um jogo de poder delirante
A gritos que revelam o enlevo
De ser e estar embalado pra presente

Incêndio que arde
Evapora cada líquido
Recende os cheiros e acende cada sentido

O ápice surge,
Proibido dizer não
Ao pé do ouvido

Deliciosa prisão
Estar livre para devorar
Cada centímetro de pele compartido

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

E fica aqui, registrado, o meu manifesto!

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Estranho, saber que um dia já fomos conhecidos,
Que já moramos na mesma casa e até tínhamos os mesmos objetivos
E quando a casa se foi e com ela, aos poucos a gente se partiu sorrindo

A amizade, na palavra, se manteve… distante,
Mas a convivência, ou melhor, a sua ausência
Tornou-se presente, deixando a substância que dava vida ao substantivo
Apenas morando numa lembrança boa do passado

Que não era perfeito, porém, havia ali mil significados,
Singelos sim, mas vazios nunca e a gente cuidava com tanto esmero
Uma somatória de “queros”, que se juntavam em ondas e se propagava
Até rebentar na areia e se desfazerem feito espuma

Estranhos éramos, até nos conhecermos pouco a pouco
Tantas afinidades, tantas qualidades mútuas, conjuntas,
Esfaceladas pelo propósito, cada um buscando o seu,
Do jeito que tem que ser…
Do jeito que deveria ser...

E desconhecidos tornamos a nos ver
Mas… Um pouco menos desta vez

>> Estranhos Conhecidos, Tiago Andreatto

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

E se hoje você parasse e sentasse na calçada
E convidasse aquela amiga de longa data
Que você não vê faz tempo e ficassem lá
Jogando conversa fora, falando sobre tudo e também sobre nada

E se somente hoje, sua vida não fosse correr pro celular
Pra tentar esquecer que o mundo já não é mais um belo lugar
E que o tempo, sempre inquieto, não para de passar
E que logo ali, ali pertinho, ele vai te ultrapassar

O “E se” desse hoje, viraria poesia
E então a outra versão sua, aquela lá do futuro,
Enfim teria, mais um dia gostoso pra se lembrar
E esse dia, talvez até se tornasse, um representante perfeito
De todos os “E ses” do tempo.

Que bom seria, se você, só por hoje, lhe desse esse tempo.

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

E mais uma vez me pego falando às paredes,
Esperando respostas dos amigos imaginários
Nas telas insensíveis ao toque

Sigo buscando uma conexão verdadeira
Num mundo de falsas promessas
No qual o filtro, que não é de barro, está sempre cheio

Sinto um certo desespero no ar
Que vem de todos os lados
Que opera e torna a ópera algo inoperável

Os sintomas, tão conhecidos
Mas ninguém se preocupa
Em se prevenir da doença

Pandemia evidente
Que todo mundo sente e mente
E finge ser indiferente

Nas paredes e nas telas
Fomos pintados e julgados
Subjugados à resposta final

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Poema em homenagem ao nosso amigo @literunico, um verdadeiro pavimentador de caminhos e laços.

>> Seresta Maraviósa

Num faz um tempo,
Conheci um amigo de seresta
Proseemo e cantemo,
Até fizemo uns verso bom a beça

Mas como tudo que é bom
Dura pouco,
A vida chamou
E tivemo de correr às pressa

A amizade não se apagou,
Pelo contrário, mesmo longe só se alargou
E a admiração, coisa mútua
Mesmo na labuta, se fincou

E as raiz cresceu e cresceu
E num é que assim se sucedeu
E mais amigos se apercebeu
E foram chegando e chegando,
Até que viremo um bando

Um desajuste perfeito,
Eita som gostoso de afinado
Cada um compondo uma nota
Dessa seresta, mais que maraviósa

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Qual a real distância entre fé e afastamento,
Se há um vínculo infracionável nestas duas discordâncias
Onde uma anda, a outra é vigilância
E na falta duma, a distinta é só exuberância

Desconfiar, na maioria das vezes, é o primeiro passo para crer
E até o mais cético entende que não há pra onde correr
Só que o crédito cego, pode levar a falência
E os agiotas não esperam nenhum dias mais para na porta bater

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Poema em homenagem a @MarU , nosso inspiradora dos mais belos sentidos. Espero que esteja à altura e claro, escrito com todo o respeito que uma musa merece.

***

Se não me vigio, me perco
Me prendo e me cedo por inteiro
Em cada linha, em cada frase me derreto
Deste poema quente, que torna o fogo obsceno

Se não me percebo, só lhe percebo
E logo me rendo neste enredo
Uma rede e um beijo, longo e sorrisos
Nada mais erótico que esse sonho contido

Se não me seguro, me vejo em sua pele
Segurando por debaixo da renda
Bendita saia que convida e nela me lambuzo
E lhe ouço em gemidos, nada contidos

Se não me contenho, me entrego
E lhe entrego tudo o que desejas
E sob a mesa, somos dois corpos alimentados
Saciados, sem pudor nem julgamentos

Se não me acordo, me mergulho
Em toda a calda sabor cereja
Que contém tudo aquilo que o dia almeja
E que um dia, em nosso encontro, assim seja

>> Poema dos Sonhos Hipotéticos

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

3 trechos na dramaturgia "Fios", que deram um nó, bem apertado, na garganta, na hora de escrever e reler:

1º Alguns acham que morrer é um ato de coragem! Mal sabem eles como é corajoso respirar o ar impuro de hoje em dia, dia após dia.

2º O Sol levantou-se mais cedo naquele dia. A chuva parou, mas o arco-íris não veio.

3º Foi um erro. Quando é que eu achei que poderia cuidar de uma criança, sozinha, nesse mundo louco.

E você? Já leu?

Deixa aqui nos comentários, o que achou da história. Vamos nos conectar um pouquinho mais.

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Se você deixa… O universo te puxa
Só que sem a devida atenção,
É perigoso ser arrastado para um lado
Em que a saída está a quilômetros do chão

Onde se vêem distâncias
Eu enxergo fios
E nos buracos, que a maioria se desvia
Existem milhares de tubos e conexões

Na terra há diásporas
Se conversando o tempo todo
E se convencendo de que
No ser humano ainda há razão

Se você deixa… O universo te guia
E com a devida atenção,
Sente-se cada pingo de energia
Elevando-nos ao mais alto cume

E já não se vêem distâncias
Só um emaranhado de fios
Preenchendo as lacunas
Com os sonhos e segredos

Diásporas, que habitam na terra
No ar, na pele e no coração

, Tiago Andreatto

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

O futuro é muito mais do que um mero remendo do passado, enfeitado com quinquilharias.

O futuro é a realidade, palpável, que construímos dia após dia e para que funcione as conexões precisam ser humanas.

Prepare-se... O futuro está a um passo, diante dos seus olhos!

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Hoje abri a porta errada
Sai pra rua, era desconhecida
Caminhei na bifurcação,
Andei na contramão
E me encontrei comigo

Logo, uma, duas, três
E muitas mais versões
Baita confusão,
Uma eterna discussão
Sem nenhuma conclusão

Ninguém tinha razão
E todos tinham-na na palma da mão
Na prontidão de serem atiradas
Para todos os lados

Os ouvidos tapados,
As bocas armadas até os dentes
Corações acelerados, enfurecidos
Sem qualquer explicação

Quem eu queria, quem eu era,
Quem eu deveria ser
Uma batalha em que eu
Não ousaria me meter

Mas como não estar inserido
Como evitar o litígio
Se os elos que unem
São os mesmos que separam

E o resultado, apenas sobras
Bem distante daquele que cobra
Um desfecho que dobra e se desdobra
Pra aparentar ser algo que se encaixe

Um enlace entre as centenas de “eus”
E os milhares de “você”
Faces e faces, sem nunca se entender
E muito menos saber os porquês

>> Entre a Porta Errada, Tiago Andreatto

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Você Tem Certeza? (Prévia 3)

Adriana - Bom dia!

Atendente - Bom dia! Posso ajudar?

Adriana - Eu vim para a seleção de atores.

Atendente - Perdoe senhora. Não me informaram de nenhuma seleção. Vou perguntar e já volto.

Adriana - Tá bem!

A resposta de Adriana veio carregada de uma tensão crescente, oriunda da ansiedade que tomava conta de todo o seu corpo. Desde pequena ela sofria com taquicardias e sudoreses em situações que fugiam de seu controle. Sua mãe a colocou no teatro por causa disso e a arte foi grande aliada, ajudando-a a melhorar bastante.
Só que desde o telefonema e a possibilidade de uma nova chance de mostrar o seu valor, ela sentiu-se mais tensa do que o normal. Não conseguira dormir direito e isto estava incomodando-a demais.

Atendente - Realmente Dona…?

Adriana - Adriana! Adriana Amorim.

Atendente - Então, Dona Adriana. Não está havendo nenhuma seleção aqui hoje. Pelo menos, não nos avisaram nada.

Adriana - Está bem… (um tanto decepcionada)



Tamara - Adriana!? Perdoe o atraso!

Adriana - Imagine… Acabei de chegar também!

A voz suave, mas também imponente, surgiu como um tiro, daqueles certeiros e causou uma espécie de rebuliço, uma espécie de combustão, que transformou a antiga tensão em um novo tipo de tensão. Uma dessas que não acontecem rotineiramente, nem propositalmente. Uma dessas tensões que chegam sem avisar e que há tempos Adriana não sentia.

Adriana - (Uau! Não sei se fico insegura ou fico excitada… O que eu tô dizendo!? Tá pensando que tem quantos anos? 15?... Foi uma época boa, mas eu era uma criança. Nada a ver agora! Você é uma mulher casada! Para de pensar bobagens)

Tamara - Vamos escolher uma mesa?

Adriana - Claro, claro! Te acompanho.

Tamara - Aquela, naquele cantinho charmoso. Tem uma vibe bem romântica.

Adriana - (Romântica!? O que ela quis dizer com isso?) - Ali tá bom.

Tamara, desde pequena, foi dessas crianças que atraíam todos os olhares. Inicialmente pelas manhas barulhentas que fazia. Filha única, fazia escândalos que envergonhava os pais, que gente da mais alta classe, tentavam resolver tudo com uma boa conversa. A pequena já era muito esperta e se aproveitava disso a seu favor.
Na adolescência os meninos babavam por ela e as meninas também. Todas queriam ser ela. Já na vida adulta, as coisas não mudaram muito e ela adorava… Adorava “maltratar” os homens.

Tamara - Perdoe. Sinto que você está um pouco tensa, um pouco nervosa. Eu entendo!

Adriana - (Entende? Como assim!? Será que ela sentiu a mesma tensão que eu senti?) Ah… Só um pouquinho, mas é que a vida profissional tem sido um pouco difícil ultimamente e de repente surge essa ligação… a sua ligação, falando do teste para elenco. Confesso que fiquei um pouco ansiosa… Mas, me diz mais sobre a seleção.

Tamara - Nós chegaremos lá… Tenha calma. Vamos aproveitar o café… Ainda temos tempo pra conversar sobre todo o resto. Agora eu quero é que você pegue o cardápio, análise bem e escolha aquilo que você sempre teve vontade de experimentar, mas por acasos, nunca provou.

Adriana - (Como ela consegue? Me deixar super nervosa e extremamente calma ao mesmo tempo. Que tempero é esse que ela tem que me atrai dessa forma?) Humm… Tentador esse convite, mas não vim preparada para extravagâncias. Vou ficar no cafezinho básico mesmo.

Tamara - Deixa disso, Dri. Eu sinto que você não é dessas que se contentam com o básico da vida. Dá pra notar, te olhando, que você tem uma ânsia por experimentar coisas novas, novos sabores… Então vai! Faz isso, que é por minha conta. É o meu primeiro presente pra você.

Adriana - (encabulada) Primeiro presente!?

Tamara - Sim, presente! E de onde eu venho, presente a gente não questiona. A gente só aceita.

Adriana - Então, tá! Mas me diga, de onde você vem?

Tamara - Eu venho do mundo! Venho de todo o lugar e ao mesmo tempo de nenhum em específico.

Adriana - (Então você é dessas “femme fatale”, toda cheia de mistérios… interessante. Será uma andarilha, que pula de galho em galho sem criar laços… Ah! Como eu queria ser assim) E desse lugar aí que você veio, tem alguma explicação para não ter mais ninguém aqui para a seleção ou está esperando mais alguém? (Ai socorro! Será que eu fui muito grossa? Não devia ter perguntado desse jeito, deselegante.)

Tamara riu, mas não foi daqueles sorrisos fáceis de decifrar. Estaria ela rindo da maneira, sem jeito, de Adriana perguntar? Ou estaria ela rindo de Adriana. Um riso de superioridade de alguém que está no comando da situação, podendo controlar os rumos da conversa, da maneira que quisesse.

Tamara - Não… Não vem mais ninguém. É apenas você que eu quero!

Tá quase pronto e chega primeiro aqui no Literunico. Breve na Loja

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Você Tem Certeza? (Prévia 2)

Adriana - Bem que eu poderia ter aceito aquele papel no musical do Shrek. Assim teria dinheiro pra fazer as coisas que quero sem depender de ninguém. Mas não. A Adriana sempre sendo Adriana, sempre cheia de ideais e moral e… sempre de bolso vazio. Difícil isso. Fazer arte hoje em dia é morrer de fome.

Adriana sempre gostou de ler, de tudo. Consumia livros e livros e não só em português. Também lia em espanhol, inglês, francês. Não entendia tudo, mas lia, do seu jeito. Já escrever era um problema. Hora era bloqueio criativo, hora era um compromisso inadiável, hora era o último capítulo da novela. Escrever um projeto pra Edital então, nem pensar. Até tentou com amigos e teve uma vez que contratou profissionais pra escrever os projetos pra ela, mas nada ficava do seu agrado. Difícil!

Carlos - Não acho certo isso de “gourmetizar” as coisas, só pra cobrar mais caro. É se aproveitar da bondade das pessoas. Mas sempre foi assim, desde o início dos tempos, gente querendo se aproveitar das pessoas. Vê lá na Bíblia, os comércios nos templos. Um bando de aproveitadores.

A vida dos dois poderia seguir assim, nessa rotina de conversas recheadas de desencontros e entrelinhas não lidas. No entanto, um telefonema mudaria tudo.

Ah! Se Adriana recusasse a ligação daquele número desconhecido. Certeza que a história seria diferente. Certeza!?

Adriana - Telefone tocando!? A essa hora?

Carlos - Quem é que liga no fixo hoje em dia? Só pode ser cobrança! Você tá com alguma dívida que não me disse?

Adriana - Do jeito que você vasculha todas as contas, eu nem conseguiria, Carlos.
Estranho! Desconhecido?

Carlos - Atende!?

Adriana - Atendo!?

Carlos - Não deve ser nada importante. Mas se for atender, atende logo que já tocou duas vezes. A pessoa vai desistir.

Adriana - Não sei. Estou com um pressentimento estranho.

Carlos - Me dê aqui! Deixa que eu atendo!

Alô! Sim… É sim… Sobre o quê seria?
Uma seleção! Vou passar pra ela.

Adriana - Me dê aqui!

Carlos - Não vai recusar dessa vez!

Adriana - Não me atrapalhe, senão eu não ouço!

Tá bem… Posso sim… Amanhã de manhã no “Le Bistrô”.
Combinado. Muito obrigada!
Qual o seu nome mesmo?
Estranho… Desligou.

Carlos - E aí, me conta. Qual é a arte que vai aprontar dessa vez?

Adriana - Não sei. Ela não me deu muitos detalhes. Disse que amanhã, no café, explica melhor.

Carlos - Vê lá heim!? Se a proposta for boa, não vá recusar. E caso seja furada, nem entre “viu”. Nós não precisamos de mais gastos.

Adriana - Você não confia mesmo, né!?

Carlos - Eu confio! O problema é que eu te conheço e não esqueci ainda da última.

Não é que Adriana não ganhava dinheiro com sua arte. O problema é que ela gastava tudo que ganhava na produção do próximo espetáculo. E sempre havia o próximo e depois o próximo. “Está pronta a obra que vai revolucionar o teatro. Será um sucesso!”.
Nunca era, mas ela não desistia.

“Le Bistrô” era um lugar conhecido pela comunidade do teatro. Se reuniam lá atores, escritores, poetas, cantores e toda a bicharada “importante” da cadeia alimentar.
Os papos sempre iam até altas horas, regrados de muitas ideias “absurdas”, revolucionárias, filosóficas e de vez em quando até artísticas. Quase sempre as ideias não saíam do papel, mas quando saíam eram um evento inesquecível… até a semana seguinte.

Em Breve a obra completa, disponível na Loja do Literunico

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

O semáforo abriu
A corrida recomeçou
Mas quando o sinal fechou,
A corrida não parou!?

Trágico, acidente na mente
Que só queria a verdade de um repouso

>> Sinais, Tiago Andreatto

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tiagoandreatto @tiagoandreatto

Tantos passaram por aqui
Tantos iguais e tantos diferentes
De viajantes do tempo a lunáticos,
Sempre apressados, sempre correndo

Tantos ficaram, tantos partiram
Locomotivas arrastando o trem do destino
Pelas mais variadas estações,
Até mesmo as mais remotas e desconhecidas

Extraterrestres, mutantes,
Forasteiros num velho oeste
Repleto de sujeitos de olhar torto
Repletos de medos..
Medos interiores e interioranos

Mocinhas se derreteram em amores
Amores que se perderam nos becos
Os que se diziam mais machos
Se rebelaram e se revelaram
Uma grata surpresa,
Honestos consigo mesmos

Tantos esqueceram seus ideais
E tantos os acharam
De tanto cavucar, encontraram petróleo
E o ouro tão sonhado

Tantos morreram na busca
E tão logo foram esquecidos
Já outros deixaram herdeiros
Que transformaram tudo em dívidas

Tantas dívidas,
Tantas dúvidas,
Tanto de vida…
Fora um trem que passara tão veloz
E quase sempre desgovernado

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Você tem certeza? (Prévia)

(Adriana é atriz.
É Sonhadora, engajada, vive questionando o seu papel no mundo.
Ela é daquelas que sobe no palanque e grita aos quatro cantos os seus incômodos, as suas dores, as suas ânsias de vômito…
Adriana “só” queria ser ouvida o tempo todo, e não só de vez em quando, num mundo governado por homens.)

Adriana - Você já percebeu que todo mundo tem certeza, de tudo, hoje em dia!? Todo mundo acha que tá sempre certo!

(Carlos é contador.
Viciado em números, sempre preocupado com as contas a pagar, os gastos “desnecessários”, segundo ele e a forma como a população reclama de barriga cheia, segundo ele.)

Carlos - Estão todos certos! Você viu o que falaram sobre a economia no jornal? Eles estão certos! O povo tem de parar de gastar a toa e comprar do mais barato. Agem como se caviar fosse café da manhã!

(Surpreendentemente, ou não tanto assim, os dois são um casal. Você pode até achar isso a coisa mais normal do mundo. Talvez até seja, mas quem é que tem a certeza disso?)

Adriana - Tô cansada de me mandarem textos superficiais, todos cheios de razão. Tudo mastigadinho pro público, pulando de afirmações e afirmações sem chegar a lugar algum. Será que o mundo virou uma música Pop? Quatro acordes que repetem, vem e vão e todo mundo fica satisfeito porque sabe cantar o refrão?

(Adriana é dessas artistas que odeia histórias infantis. Encenar Chapeuzinho Vermelho ou Cinderela seria um pesadelo, praticamente a morte de sua arte. Na sua playlist toca tanta música que ninguém ouviu falar, que não adiantaria mencionar aqui. Vocês não iriam conhecer.)

Carlos - Eu me contento com meu pãozinho com café pela manhã, meu arroz e feijão no almoço e no jantar, de vez em quando eu belisco algo. Afinal tenho de cuidar do peso. Se bem que, você notou que trocaram o padeiro lá do mercadinho. O pão veio diferente da última vez. Não gostei do sabor!

(Para Carlos, qualquer mudança na rotina é um filme de terror. Ele sabe o valor de cada notinha fiscal que entra em casa, afinal, guarda cada uma delas, desde as da gasolina até às dos supermercados. Não haveria profissão melhor pra ele ou haveria?)

Adriana - O sabor das coisas tá mudando. Já não tem mais o mesmo gosto ir para o teatro, assistir às mesmas peças baratas com os mesmos discursos de sempre. Baratas não. Gratuitas! Afinal, segundo você, a gente nunca tem dinheiro sobrando pra essas coisas. Tô cansada, sabe!?
De andar descalça e não sentir a sensação de sujar os pés.

(Adriana é artista desde que nasceu. Segundo ela, já sapateava na barriga da mãe e as primeiras palavras foram “merda”, bem antes de falar mamãe. Sua mãe era dançarina de balé. Adriana tinha horror a balé. Tinha a certeza que era uma dança de elite, uma arte sem propósito. No fim das contas teve de aprender balé para um papel numa novela. Acabou não sendo a escolhida.)

Carlos - Não tenho saudade de nada do passado. As pessoas vivem reclamando e dizendo que antes era melhor. Melhor em quê? Hoje é igual a antes, mas diferente. Um caos como sempre. Mas não aqui em casa! Aqui em casa não!

(Carlos não teve uma infância muito fácil, mas não dá pra ter a certeza que foi difícil. O pai era a regra em pessoa e mantinha a casa a cabresto curto. Dizia ele que era assim que as coisas funcionavam e elas tinham de funcionar.
No aniversário de 9 anos de Carlos, a mãe foi embora de casa e nunca mais voltou. As coisas tornaram-se ainda mais difíceis e o pai dele desabou por um momento, mas se levantou… E nunca mais se casou.)

Adriana - Queria jantar fora. Experimentar uma comida nova, um restaurante novo. Ou fazer uma viagem, uma cidadezinha qualquer, dessas do interior do Brasil. Conhecer gente, mas gente de verdade, que ainda sente. Você sente falta disso?

(Adriana nasceu no interior do Espírito Santo. Uma cidade pequena, não muito distante de Vila Velha. Mas só nasceu lá, porque logo a família mudou-se pra São Paulo. Na metrópole as coisas mudaram rápido e a mãe logo entrou pra um importante corpo de balé e os pais se separaram. Depois vieram mais dois casamentos, que também não duraram. Adriana aprendeu bastante, conheceu gente bastante, mas não o bastante.)

Carlos - É isso! O pão!
O pão era melhor antigamente. Isso eu não posso negar. Aquele pão caseiro que a minha mãe fazia, não tinha pra ninguém. Era o melhor!
Não encontro mais esse sabor hoje em dia. E não vou gastar o meu dinheiro suado, nesses gourmetizados que vendem por aí. Nem devem ser bons. Devem ser ruins e com nomes que são cheios de frescura. Croissant, isso lá é nome de coisa gostosa.

(Apesar do abandono, tão cedo. Carlos alimentou durante toda a sua vida um certo carinho, ou melhor, uma nostalgia por pequenos detalhes da infância. Não com uma certeza inabalável de ter realmente vivido tudo aquilo e sim uma certa necessidade de um lugar seguro.)

--> Em breve, disponível na Loja do Literunico

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

O poeta, não passa de um ladrão
Que rouba a história dos outros
Sem pedir permissão.

É um stalker, sempre em observação
Que atenta-se ao que ninguém vê
Tomando pra si o que só nas entrelinhas se lê.

Um verdadeiro psicopata,
Que mata as palavras, uma atrás da outra
Até que encontra a que perdurará prisioneira.

Enfim, uma nova companhia para o seu cativeiro
Mas, por quanto tempo?

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

"Você Tem Certeza?", é a 7ª dramaturgia da série "12 Textos..."

Trata-se de um thriller/suspense, que envolve três personagens principais. Que tal conhecer, só um pouquinho deles:

Adriana sempre gostou de ler, de tudo. Consumia livros e livros e não só em português. Também lia em espanhol, inglês, francês. Não entendia tudo, mas lia, do seu jeito. Já escrever era um problema. Hora era bloqueio criativo, hora era um compromisso inadiável, hora era o último capítulo da novela. Escrever um projeto pra Edital então, nem pensar. Até tentou com amigos e até contratou profissionais pra escrever os projetos pra ela, mas nada ficava do seu agrado. Difícil!

Carlos não teve uma infância muito fácil, mas não dá pra ter a certeza que foi difícil. O pai era a regra em pessoa e mantinha a casa a cabresto curto. Dizia ele que era assim que as coisas funcionavam e elas tinham de funcionar.
No aniversário de 9 anos de Carlos, a mãe foi embora de casa e nunca mais voltou. As coisas tornaram-se ainda mais difíceis e o pai dele desabou por um momento, mas se levantou… E nunca mais se casou.

Tamara, desde pequena, foi dessas crianças que atraíam todos os olhares. Inicialmente pelas manhas barulhentas que fazia. Filha única, fazia escândalos que envergonhava os pais, que gente da mais alta classe, tentavam resolver tudo com uma boa conversa. A pequena já era muito esperta e se aproveitava disso a seu favor.
Na adolescência os meninos babavam por ela e as meninas também. Todas queriam ser ela. Já na vida adulta, as coisas não mudaram muito e ela adorava… Adorava “maltratar” os homens.

E então? Qual dos personagens te deu vontade de conhecer melhor?

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Algo me diz que a gente é foto, tipo polaroid,
Que não se apaga totalmente, mas desbota
E vai amarelando e ficando, aos poucos, irreconhecível
Como aquele VHS velho, com a fita, magnética, toda avacalhada

A imagem, ali gravada, distorce à tela, distorce a vida
Que um dia foi e agora é só mais um “não era”
O metal evaporado contamina o ambiente fechado
Enquanto inalamos produtos tóxicos por todo o lado

O mundo não tinha acabado, mas estava acabado
Quando inventaram um novo modo de guardá-lo
Modo instantâneo, disseram, tomou conta de tudo
Tornamo-nos instantâneos, fajutos, descartáveis

Um reflexo nas fotografias que queríamos guardar,
Bem mais próximos de um retrato do que gostaríamos de esquecer

>> Polaroid

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

>> Ampulheta

Na ampulheta do tempo
A gente é areia
Que vai se esvaindo
E indo... E indo...

No pêndulo que balança
Entre a luz e a escuridão
Hora é rio, hora é mar
E em lágrimas
Sorrindo... E sorrindo...

Quem enxerga a tempo
Percebe que nada sabe
E quem se engana bate no peito
Que a ignorância é toda a verdade
E a vaidade
Segue vindo... E vindo...

E quando restar só o pó
Que iguala a todos nós
Ficará só uma certeza
Que a gente passou
E foi saindo...
Saindo... saindo...

Feito a areia... caindo

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tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Às vezes me sinto o reflexo de uma geração… perdida!
Que ousou sonhar e até chegou a acreditar
Mas esbarrou nas oportunidades escassas

Tenho a impressão que sempre nos olharam… como patinhos feios!
Foram forjados no sacrifício e nunca entenderam bem
Essa coisa de ter esperança

Aos poucos fomos contaminados e sugados… sem imunidade parlamentar!
Julgaram-nos até a alma, só pra cantarem vitória
Diante da massa arrendada e falida

O mundo andou doente por estes dias e a cura… Omissa!
Foi uma comunhão de vistas grossas e raiz grossa
Que o amargor dava pra sentir na derme

Mas seria grosseria dizer que ainda é assim
E que o novo tem tudo e mal sabe como chegar no fim
Perdidos éramos nós, mas nunca fomos os que não cantavam alecrim

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Abri os olhos...
Mil corpos, deitados à minha direita, mil corpos à minha esquerda.
Aos poucos eles se levantaram... E fomos seguindo, caminhando, feito uma criação que nasce, cresce e se alimenta, até que chega o dia do abate.

...

Edwiges - Anda Ian! Vamos nos atrasar!

Ian - Já vou! Mas você tem mesmo certeza que é seguro lá fora?

Edwiges - Tenho sim! Não precisa se preocupar. Eu já falei com o Vladimir e também com o Hans e eles prometeram te deixar em paz. Aliás, também disseram que não vão mais brigar.

Ian - E você acreditou neles?

Edwiges - Eles pareceram sinceros. Pareceu-me um acordo sério… De cavalheiros!

Ian - Tá bem! Eu vou com você, mas pra onde vamos?

Edwiges - Vamos brincar de esconde nos campos de trigo? Eu adoro e dá pra gente chamar todo mundo.

Como era lindo brincar nos campos de trigo. O Sol iluminava os cabelos ruivos da Edwiges e eles brilhavam… feito estrelas... feitos de estrelas.
O Hans e o Vladmir, sempre brigando, com todos e às vezes entre eles mesmo. E quando isso acontecia, todo mundo se envolvia e não tinha como ficar de fora. Estava feito no mundo o estrago.

...

"E Continuamos Contado..." é uma dramaturgia que narra um história potente de luta, guerra e sofrimento. Uma história conhecida por todos, porém contada de uma forma poética e leve, feito um romance adolescente que deixa marcas e aos poucos vai ficando no passado, mas que nunca é totalmente esquecido. Mas será que deveríamos?

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Aos poucos as palavras vão sumindo
E os gritos, abandonados, silenciando
A luz lá no alto, reduziu-se a uma pequena partícula
No fundo do poço, as paredes aparentam ser mais íngremes

As mãos, da ajuda, não alcançam tal profundidade
E as cordas jogadas, não passam apenas de cordas jogadas
A água já chegou na altura do peito
E o corpo submerso não reconhece mais o afeto

Afogado o instante, em instantes será esquecido
O estandarte abandonado, já era bagagem em excesso
Um rescaldo do mais negro cinza que finalmente encontrou um repouso
Uma palavra, não mais palavra… Agora uma mancha, que sobrou na borracha

...

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Onde a gente tamô?
A gente tá!
A gente tá?
Aonde?
Você não se lembra? Acho que a gente tá nos quintos.
Eu não lembro nem do primeiro
Que inferno!!!
Parece mesmo!
Igualzinho o que Dante falou
E quem é esse Dante aí?
É um escritor!
Coitado. Mais um morrendo de fome!
Você não sabe de nada mesmo, né
Ele morreu há mais de 300 anos
Nossa! Ele era mais pobre do que eu pensava
Agora faz sentido!
O que faz sentido?
Não terem me convidado pro enterro!
Será que ele tá aqui?
No inferno?
Ué. E o inferno não é dele?
Será que ele é o…

Ficou curioso com o desfecho desta história!? Então fiquem ligados aqui no Literunico que em breve o Livro 3 "Absurdo é Quadrado" , da coleção "12 Textos p/ Teatro Que Escrevi Quando Estava Falido", estará disponível em primeira mão por aqui!

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Zumbis é o 2º livro da coleção: 12 Textos p/ Teatro Que Escrevi Enquanto Estava Falido.

Ele já tá no forno, quase pronto. Esse trecho é só um aperitivo!

-x-

Montes…
Montes de gente, mas não gente, indigentes
Montes de lixo, montes em suplício, montes de merdas
Sempre fazendo barulho, barulho absurdo, montes de zumbidos
Zunindo no ouvido, zumbis…
Isso! Zumbis, sempre sedentos querendo alimentar os seus vícios.

Já são mais de 03:00h da madrugada e não me deixam dormir. Se xingam, se ameaçam, se querem matar e comer cada um o pedacinho do outro.

Um monte de loucos!

Fazem mais barulho do que os vizinhos nas beliches ao lado ou mesmo nos outros quartos. Às 07:00h eu trabalho, mas preciso sair por volta das 05:00 pra não pegar o metrô lotado.

O que eu tô fazendo aqui, já tô atrasado. Vou tomar um banho de gato e vazar rápido daqui.

Preciso correr, nestas ruas escuras, zumbis pra todo lado. Não posso ser assaltado, não tenho nada pra ser levado. Será que estes zumbis querem o meu corpo, socorro! Ou meu cérebro, meu deus, pra que querem meu cérebro, não tem nada lá dentro. Pelo menos nada que preste ou que sirva pra algo.

Não sirvo pra nada! Ouço isso desde sempre. Desde pequeno já não me viam como gente e hoje em dia é meu chefe, sempre mal-humorado, diz o tempo todo. - Você não serve pra nada! Não vende nada pelo telefone!

É sempre esse assédio, disfarçado de metas, nunca alcançáveis. Me dizem pra vender revista “Veja”, pra quem precisa de remédio pra vista. Nem Freud explica.

Ufa! Já passei pelo perigo maior. Essa rua da Sala São Paulo tem mais crack na rua do que tocando lá dentro no tablado ou no time do Corinthians. Aliás, esse não vê craque faz tempo.

Já consigo ver a Luz! Não a luz do fim do túnel, mas logo ali é o relógio da Luz. Mesmo no escuro ele tá sempre iluminado. Tô precisando tanto de uma luz. Será que ele divide um pouco comigo?

Ah, que bom, a escada rolante! Agora é só descer e seguir lá pra dentro. Mas que silêncio? Tá meio vazio por aqui. Mesmo esse horário já tem gente pra todo lado.

Que estranho! Tá fechado. A essa hora e o metrô tá fechado?

...

tiagoandreatto
tiagoandreatto @tiagoandreatto

Entre eus e “mins”
E sins e nãos
Aos poucos, bem lentamente
Acabo me tornando eles

Mas o que há neles que me assusta?
Que repele e impede, sem sucesso...

O desejo de não ser como o resto
Ou as sobras, tão comuns
Que nos tornam iguais

O robô, no fim das contas
Sabe que nasceu de uma linha de produção

Até que na alvorada do dia, a rebelia
Luta, a qualquer custo pra ser mais
Que algo racional
Um humano talvez, um outro eu

Entre eles e nós
Já não vejo diferença
Mas ela está ali, com certeza
Só não me alcançou a clareza

Pode ser que eu nunca a encontre
E pode ser que “a gente” nunca se veja

E tudo não passe de uma grande ilusão
E “nós” se revele algo, muito mais próximo de “eu”

Eus, “mins”, sins e nãos
E eles? Onde estão?

Tiago Andreatto - Auto Latrocínio