Independência e Soberania: o teatro das palavras
"Independência ou morte!"
"O Brasil é um país soberano!"
Independência e soberania parecem conceitos absolutos, mas são, antes de tudo, palavras moldadas para caber nas disputas do momento. O discurso oficial sempre as apresenta como se fossem garantias inabaláveis da nação, símbolos de orgulho e liberdade. Mas, ao olhar mais fundo, percebe-se que elas são usadas como cortinas para encobrir aquilo que realmente movimenta a engrenagem: negociações de interesse, alianças convenientes e trocas de favores que passam longe de qualquer ideal de autonomia.
O cenário atual deixa isso explícito. De um lado, o presidente Lula invoca a soberania em tom anti-Trump, posicionando-se contra a ingerência norte-americana e defendendo a ideia de um Brasil capaz de decidir seus próprios caminhos. De outro, a direita pressiona por um acordo com os Estados Unidos que inclui uma anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro, algo que, na prática, significa ceder à vontade do próprio Trump e aceitar uma imposição externa.
Esse contraste mostra que o discurso de soberania não é uma prática real, mas um recurso estratégico. Serve para aquietar a população com a sensação de que existe defesa dos interesses nacionais, enquanto, por baixo, o tabuleiro é manipulado para preservar poderes individuais e alianças internacionais. A independência, nesse sentido, é tão utópica quanto a soberania: mais um enredo para dar coesão ao teatro político do que uma condição efetiva.
A verdade é que somos vítimas de palavras que funcionam como anestésicos. As datas comemorativas, os símbolos e os pronunciamentos oficiais reforçam a ideia de que somos donos do nosso destino, mas no cotidiano as decisões se submetem a pressões externas e a jogos internos de poder. No fim, a independência se resume a uma mudança de paradigma oficial, mais estética do que real, enquanto a soberania é invocada como bandeira de um poder que nunca se realiza plenamente.
E é nesse espaço que o povo é manipulado. Fica-se preso entre um “mal necessário”, a negociação que parece inevitável para manter a estabilidade, e o “absurdo destruidor”, que é a submissão explícita a interesses alheios. Entre essas duas opções, a liberdade verdadeira nunca se apresenta.
Talvez a grande ilusão seja acreditar que independência e soberania existem como verdades universais. No fundo, são ferramentas retóricas de um jogo que permanece o mesmo: a disputa entre dominantes, onde o que se chama de “bem do povo” é, quase sempre, apenas o reflexo de interesses particulares travestidos de discurso coletivo.
Não existe independência, apesar de existirem cenários de maior dominação.
Não existe soberania, pois mesmo em uma democracia, nosso voto é definido pela lógica da publicitária/algorítmica baseada em investimento financeiro, onde são empresas supra nacionais que garantem eleições.
Os interesses reais do povo, aqui, quando levados em consideração, são apenas peões descartáveis espalhados num tabuleiro de xadrez.
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