A noite a família Santos espera os seus
convidados para o jantar. Márcio acaba de entrar na sala do casarão com sua
irmã, acompanhados pela empregada da família. Roberto, Leonora, Beto, Bibi,
Isa, Pedro e Monique já estão à espera:
—
Chegou o maior responsável pela melhora de Beto. — Fala alegremente Comandante
Santos.
—
Capaz Seu Roberto, fiz o mínimo que um amigo deveria fazer. — Responde Márcio,
um pouco escabulhado.
Márcio
e Pati cumprimenta a todos os presentes.
Pedrinho
convida a Patricia sentar-se ao seu lado, o que ela aceita prontamente, os dois
ficam aos rindo um com outro conversando por meio de sinais. Beto fica olhando
direto para os dois, deixando Isa incomodada com atitude do namorado.
Márcio
se senta ao lado de Monique, se sente um pouco nervoso, mas tenta puxar
assunto:
—
Está linda hoje Monique, como sempre! — Dispara Márcio.
—
Obrigada. — Responde ela encabulada.
A
conversa segue animada entre todos os presentes, falando de amenidades e do
futuro daqueles jovens.
Seu
Roberto está muito feliz por seu filho ter voltado a ser o rapaz alegre de
antes do acidente, sempre rodeado de verdadeiros amigos.
Seu
Roberto indaga de seus convidados:
—
É uma pena os pais de todos não poderem vir, pois são também meus amigos.
—
A mãe estava um pouco indisposta e o pai resolveu ficar com ela em casa. — Responde
Monique.
—
A nossa mãe está de plantão no hospital e a Dona Carla está viajando a
trabalho. — Responde Márcio.
—
O jantar já está pronto. — Avisa a empregada.
Todos
se dirigem a mesa de jantar. Pati e Pedrinho se sentam um do lado do outro para
fazer com que Monique e Márcio sente-se novamente juntos. Eles ainda continuam
conversando por meio de língua de sinais. O irmão de Pati traduz parte da
conversa, olha para sua irmã e seu amigo, e dá pequeno sorriso para ambos.
Aquelas
famílias cruzaram suas vidas de um modo peculiar. Júlio César e sua esposa,
Dona Maria, começaram a amizade quando Júlio e Roberto abriram a empresa de
táxi aéreo após o fechamento da companhia de aviação onde ambos trabalhavam.
Júlio sempre foi um ótimo mecânico de aviação, o melhor que o Comandante Mendes
conhecia. As esposas deles ficaram amigas após a sociedade dos maridos. Ambos
os casais tinham filhos pequenos, e as crianças acabaram se criando
praticamente juntas.
Já
a amizade com a mãe de Márcio foi um pouco depois dessa época. Luciana era empregada da família quando o seu
marido na época vendeu a casa que morava coma a família e fugiu com a amante. O
pai de Patricia e do irmão os abandonou quando eles ainda eram pequenos. Dona
Leonora ficou comovida com situação daquela mulher: Ofereceu lhe uma moradia e
ajuda no que foi necessário para se reerguer.
Luciana
e os filhos foram morar em uma casa menor existente no terreno do antigo sítio
que Leonora e Roberto possuíam. A mãe abandonada com os filhos foi incentivada
pela patroa a estudar. Esse o incentivo deu resultado: Luciana formou-se
enfermeira, arranjou um trabalho na área da saúde e alugou uma outra casa.
Ficou grata para sempre pela ajuda que Dona Leonora deu a ela.
Alguns
anos depois, quando Márcio e Pati já eram adolescentes, Luciana conhece Carla e
depois dela lutar muito contra seus novos sentimentos, acaba se entregando a
eles. O novo casal adquire em pouco tempo junto um apartamento financiado de
tamanho razoável, onde a família vive até hoje.
Seu
Roberto sempre gostou que seus filhos tivessem amigos e aquela mesa cheia lhe
dava muita alegria:
—
E a faculdade Márcio, quando irá se formar. — Pergunta Comandante Santos.
—
Ainda tenho mais três anos. — Responde Márcio.
—
Sabe que se precisar flexibilizar o teu horário por causa das aulas, eu e o
Júlio podemos nos acertar contigo.
—
Sei bem, Seu Roberto.
—
Eu preferiria que tu fosse piloto da empresa, mas quis ir para mecânica e até
está fazendo engenharia disso.
—
O senhor sabe como sempre gostei disso.
—
Sim, me lembro quando tu e o Beto desmancharam minha roçadeira e fiquei muito
brabo com os dois.
—
Eu tinha somente oito anos.
—
Fiquei muito furioso mesmo. A Leonora pediu até para que eu maneirasse, pois os
dois eram somente duas crianças. — Roberto ri da lembrança.
Beto
durante o jantar fica olhando fixamente para Pati e Pedrinho, que continuam se
falando por meio de língua de sinais e rindo. Isa fica incomodada:
— Estou aqui do teu lado. — Fala Isabel
cutucando Alberto.
—
Sim, estou te vendo meu amor. — Reponde Beto.
Um
lugar na mesa está vazio. Esse deveria ser ocupado por Ricardo. Até agora, ele
não apareceu nem deu notícias se viria.
O
relacionamento dele com Bibi é muito tumultuado. Dona Leonora e Seu Roberto
ficam preocupados, pois o rapaz demonstra ser muito violento, apesar de não ter
chegado à violência física de fato com Bianca, limitando-se a ameaças e
violência psicológica.
Para
os pais da família Santos, seria melhor que a filha não namorasse mais seu
agressor. Mas toda vez que ele a agredia, depois pedia desculpas, e ela acabava
voltando com o namorado.
Todos
estão consumindo a sobremesa quando a empregada chega ao local com um aviso:
—
Seu Ricardo está no portão e quer falar com a Senhorita Bianca.
—
Pede para entrar! Eu vou falar com ele! — Bibi se levanta da mesa.
—
Eu vou junto! — Segue Dona Leonora sua filha.
—
Eu também! — Fala levantando-se Roberto.
—
Vou lá também! — Levanta-se -se Alberto, seguindo os outros.
—
Beto! — Chama Isa, correndo atrás do namorado.
Pedro
comenta com a Monique e Pati que ficaram na mesa com ele:
—
Hum, hoje a coisa vai feder! — Dando um gole de suco após a sua fala, sorrindo
ironicamente.
Bianca
chega ao lado de fora, em frente à sua casa, no pátio, e encontra Ricardo. Ele
é um rapaz de vinte e quatro anos, com um metro e oitenta de altura, musculoso,
cabeça raspada, olhos castanhos e humor muito instável. Não trabalha nem
estuda, mas é herdeiro de plantações de soja pelo Brasil. Apresenta-se como
influencer digital, dando dicas de treinos na academia. Não é um homem bonito,
e quem vê de fora não entende o que aquele mulherão que é Bibi viu nele.
Ela
já aparece na frente dele perguntando:
—
Chegou atrasado amor? — Bianca beija Ricardo que a corresponde friamente.
—
Não vim para o jantar. Estou aqui te levar para minha casa. — Diz ele de forma
rude.
—
Hoje eu não vou.
—
Vai sim porque tu é minha e estou mandando! — Ricardo segura Bibi pelos braços
arrastando-a para dentro do seu carro.
—
Larga minha filha seu covarde! — Repreende o rapaz a Dona Leonora.
—
Tira as mãos dela que não respondo por mim! — Grita o Seu Roberto.
Logo
atrás chegam Beto, Márcio e Isa, e Ricardo solta Bibi antes que os presentes
reajam com violência. Ele entra no carro, dá a partida e vai embora, enquanto
Bibi desata a chorar, ainda muito nervosa.
Todos
entram na casa, e Bibi continua chorando, muito nervosa:
—
Por que ele faz isso comigo, por quê? — Pergunta Bianca soluçando.
—Devia
terminar com ele minha filha e denunciá-lo a polícia. — Argumenta Dona Leonora.
Bianca
apenas chora copiosamente.
Pedro,
Monique e Patricia chegam na sala e tentam a acudir a sua amiga.
Beto
está um canto da sala conversando com Isa:
—
Fico muito triste da minha irmã ficar assim, ela devia terminar com esse cara,
seria o melhor a fazer.
—
Mas somente ela pode fazer isso Beto.
—
Ele estragou nosso jantar.
—
Ainda estou aqui, não é. — Isabel dá um beijo em Alberto.
—
Sim, é verdade. Tu vai dormir aqui casa comigo hoje, né?
—
Hoje não amor, fica para próxima. — Responde Isa dando um beijo no namorado.
—
Não quer que eu peça para meu pai te levar em casa?
—
Chamei um carro ele já está aí.
—
Desculpe por tudo, vou te acompanhar até o portão.
—
Não precisa, peço para tua empregada abrir ele para mim, fica junto com a tua
irmã.
—
Então está bem
—
Tchau amor. Eu te amo! — Despede-se Isa de Beto o beijando ardentemente.
A
empregada acompanha Isabel até o carro que veio buscá-la, vê uma situação que a
surpreende, mas guarda para si, retornando para a casa dos patrões.
Márcio
também anuncia que vai embora com Pati. Monique e Pedrinho dizem que vão chamar
o pai para buscá-los:
—
Eu dou carona para os dois até em casa. Querem? — Pergunta Márcio aos irmãos
ruivos.
—
Mas é claro, vamos aceitar sim. — Fala Pedro rapidamente.
—
Então vamos. —Convida Márcio
Os
quatro saem da casa e sobem no Uno de Márcio, a empregada abre o portão, o
carro sai do pátio para seu destino.
A
família Santos continua acolhendo a sua filha, pois passou por um momento muito
tenso. Todos desejam que tudo volte ao normal amanhã.