O dia amanheceu e muita gente está reunida no
velório de Dinho. Todos os presentes gostavam muito daquele rapaz, de sua
gentileza, simpatia e bondade, qualidades que deixava a todos que o conheciam
encantados:
—
Nunca imaginei que o Dinho tivesse tantos amigos. — Comenta o padrasto de
Dinho.
—
Seu filho era muito querido por todos. — Salienta Márcio se dirigindo a Dona
Lurdes e Seu João.
Seu
João era um homem grisalho, de um metro e setenta e um, um pouco acima do peso,
com olhos castanhos. Ele havia adotado o falecido como filho, pois Dona Lurdes
já o tinha, fruto de um relacionamento anterior, quando conheceu o atual marido
Dona
Lurdes era mulher magra de cabelos pintados na cor cobre, de um metro e
sessenta e dois de altura, olhos castanhos escondidos por um par de óculos
fundo de garrafa, nos quais estavam marejados em lágrimas da tristeza daquele
momento.
A
filha do casal, Leca, é uma menina de cabelos castanhos cortados na altura dos
ombros, com um metro e sessenta e cinco de altura, um corpo magro com medidas
proporcionais ao seu porte fÃsico. Ela estava ali, inconsolável ao lado do
caixão fechado do irmão, com lágrimas escorrendo constantemente pelo rosto.
Márcio
e Patricia estavam em um canto, discretos tanto em atitude como nas
vestimentas. Viram vários rostos conhecidos naquele evento. Mas o que mais se
sentia falta era o rosto de Beto, que por estar hospitalizado, não pôde se
despedir do amigo.
De
repente, os irmãos veem mais dois rostos conhecidos adentrando aquela sala fria
e fúnebre: um casal de amigos de Dona Leonora, Esteban e Lucas, acompanhados da
filha adotiva, Mel.
Por
ironia do destino, a namorada de Dinho ela filha desse casal. Uma moça de vinte
quatro anos com sÃndrome de Down. Estava em tristeza profunda, contrastando
menina risonha e alegre no qual sempre se apresentava quando todos a viam. Ela
tinha cabelos e olhos castanhos, estava vestindo uma calça, uma blusa e sapatos
pretos com cabelo preso para trás.
O
ambiente era de grande tristeza, mas Márcio estava muito cansado e com sono,
assim dirigiu-se para a copa do local com finalidade de pegar um café, ali
encontrou o Lucas:
—
Olá Márcio, faz algum tempo que não via você e a tua irmã. — Comenta o homem alto de porte atlético e
grisalho, com um copo em plástico contendo café na mão esquerda.
—
Sim, faz algum tempo Seu Lucas, sempre encontro o senhor e seu companheiro em
algum evento comemorativo da empresa. — Responde Márcio servindo um copo de
café para si.
Lucas
é artista plástico e veio há muitos anos do interior de São Paulo tentar a vida
no Sul, após ser expulso de casa pelos pais por causa de sua sexualidade. Era
amigo de longa data de Dona Leonora, pois a esposa do Comandante Santos também
pintava alguns quadros, embora sem o talento de seu amigo.
Esteban
é um homem também grisalho e mais baixo que Lucas, acima do peso e com uma
barriga saliente. Venho da Espanha, proveniente de uma famÃlia rica daquele
PaÃs. No inÃcio da empresa do Seu Roberto foi investidor dessa com finalidade
de expandir seus negócios como empresário. Isso reforçou mais a amizade que
Dona Leonora mantinha com o casal.
Seu
Júlio César, um homem grisalho, alto e de bigode ruivo, também sócio da empresa
de taxi aéreo, chega na copa:
—
Licença Seu Lucas. Licença Márcio. Vou pegar um cafezinho aqui. — disse ele,
pegando um copo e servindo um café para si,
Márcio
termina seu café, coloca o copo em uma lixeira ao lado da mesa da copa:
—
Fiquei sabendo que o acidente foi causado por um motorista que estava
disputando um racha com outro carro que não foi identificado. Eles
passaram com a sinaleira fechada para eles e um dos carros acertou o Beto e
Dinho na moto.
—
Identificaram quem era o motorista? — Pergunta
Júlio com curiosidade.
—
Sim, era o filho mais novo da famÃlia Costaneves, dona da grande construtora
com mesmo nome. — Responde Márcio gesticulando.
—
Sabe se ele está bem? Se está vivo? — Pergunta Lucas olhando para Márcio.
—
Ele está em estado muito grave, somente por um milagre ele vai sobreviver. A
guria que estava no banco do carona morreu instantemente. — Explica Márcio. — A
famÃlia dela está velando-a na capela de baixo.
—
Qual era a idade dos dois? — Pergunta Júlio a Márcio.
—
Ele tinha vinte e ela parece que tinha dezessete.
—
Muito jovens para morrerem. — Lamenta Júlio.
Escuta-se
gritos perto do caixão fazendo que os três se desloquem rapidamente para o
salão da capela:
—
Tu não tem o direito de estar aqui, seu desgraçado, tu nos abandonou. — Grita
Lurdes apontando o dedo para um homem caucasiano de cabelos grisalhos.
—
Quero me despedir do meu filho. — responde o homem.
—
Filho, agora é seu filho. Deveria ter o reconhecido a vinte quatro anos atrás.
Mas não, tu foi um covarde que abandou sua mulher e filho.
João
contém sua esposa e dirige o olhar ao homem:
—
Odair é melhor ir embora. Agradeço a vinda, mas como a Lurdes disse, tu devia
ter sido presente muito antes na vida de Dinho.
O
pai biológico do falecido dá meia volta e sai do salão fúnebre com lagrimas
escorrendo no seu rosto. Ele deveria ter sido mais presente na vida de Dinho.
Queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente. Agora era tarde demais
pois o seu filho já tinha partido para sempre.