Quando cheguei na casa de campo da Senhora Velha, Boris foi me receber. Ele estava
de banho tomado e roupa xadrez. Na verdade, dizem que somos muito parecidos,
temos a mesma cor de fios na cabeça e adoramos passear por vielas bucólicas.
Na metrópole, aliás, era eu além de Velha, a única mortal que conseguia andar com ele
na coleira, mas para desespero geral nenhuma de nós conseguia fazê-lo parar de latir.
Infelizmente Boris não é mais bem vindo no nosso prédio, mesmo com as altas multas
que a Senhora Velha pagou ao condomínio por conta do período que ele se hospedou
lá.
Aqui, Boris está exatamente onde jamais desejou ter saído: ele é o senhor da casa e o
meu verdadeiro anfitrião. Estamos apenas esperando amanhã chegar para que ele
possa me levar conhecer as trilhas por onde gosta de andar e enterrar os seus ossos.
Gosto de saber exatamente todas as características geográficas do terreno onde estou
situada, analisar os riscos climáticos e então relaxar. Deve ser um tipo de memória
ancestral que carrego dos forrageadores...
Pedi autorização à Senhora Velha para que Boris possa dormir no mesmo quarto que
eu. Sinto-me mais segura assim. Trouxe minha bengala e pretendo fazer os passeios
com ela, com meu chapéu e com Boris. Afinal, o que uma mulher precisa além de uma
raposa, um cachorro e um chapéu para conquistar o mundo?