Quem disse
que quero ser
uma Clarice Lispector?
Que devo ajoelhar-me diante
de alguém transformado em marca,
ícone engessado em capa de livro caro,
vendido como sacrossanto?
Quem disse
que busco ser
as múltiplas máscaras de Fernando Pessoa,
ou possuir a sagacidade de Carlos Drummond de Andrade,
a complexidade de Machado de Assis,
ou o redemoinho de palavras de Guimarães Rosa
que dilaceram a língua?
Quem disse
que quero ser
Cecília Meireles,
Cora Coralina,
ou tantos outros nomes da escrita,
nacionais e internacionais,
apenas para virar lenda?
Nem penso
em trilhar o caminho polêmico de Monteiro Lobato,
nem me tornar cifra de controvérsias.
Quem disse
que almejo alcançar o mesmo prestígio
de tantos contemporâneos,
ou a fama de um Shakespeare,
ou a genialidade gélida de Agatha Christie?
Não quero transformar meus best-sellers em BEST-SELLER,
nem domesticar a fúria de cada palavra escrita.
Sou eu,
apenas um poeta, um escritor,
meu próprio escárnio,
meu próprio abismo,
meu próprio farol que ilumina nada
e queima tudo.
Leio-os,
admiro-os por minutos,
mas não me visto com a pele de ninguém,
não venero heróis literários,
não ajoelho perante estátuas de papel,
não me curvo a críticos bajuladores,
nem ao altar que transforma pensamento em mercadoria,
nem às grades que contêm a poesia errante,
sufocando sua fé e liberdade.
Sou palavra em carne viva,
verso que cospe no altar da tradição,
estrada que queima atrás de mim,
fogo que nenhum crítico, fã ou mito apagará,
fogo que devora toda complacência literária,
fogo que arde, selvagem,
como tempestade em página aberta.
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