Narrado por Lizael
Vicente… evaporou minha honra sem eu nem ter feito nada.
Pegou meus trinta e oito e abriu você contra meu testamento.
O cano gelado me acordou mais que tapa de mãe brava.
Aí o sangue começou a escorrer pela minha venda…
E eu caí de joelhos no chão.
E ele ainda teve a ousadia de dizer: — "Se eu te ver de novo, eu te mato.
Era pra eu ter te matado junto com seu irmão Nildo. Mas já que não foi ele, vai ser você em nenhum lugar."
A raiva me cegou… Me tremi todinho, não de medo, mas de fúria.
As duas cabras que estavam comigo?
Levaram bala na testa, um de cada vez, frio, seco, sem dó. O bando de Vicente matou eles como se matasse bicho ruim.
Na hora que Vicente declarou o revolve pra estourar minha cabeça,
a sorte mudou.
A viatura da polícia de Recife passou bem na frente da bodega.
Seu Noronha comentou: — “É a polícia, é a polícia!”
Vicente se distraiu por um segundo. Foi o segundo que me salvou.
Sem pensar, passei a mão em dois litros de Montilla,
lasquei na cabeça de Vicente com toda força. Ele cambaleou.
Dei uma pesada por baixo da mesa, pulei o balcão, e lá tava Seu Noronha tremendo atrás do freezer.
Tiroteio comeu no centro foi tiros qui só a mulestra. A polícia trocando bala com o bando de Vicente.
Chão cheio de caco, garrafa, sangue e grito.
Gritei pra Seu Noronha: — “Tem saída por trás?!” — “Tem sim, corre por ali!”
Me piquei feito alma penada.
Fugi no escuro, com o gosto do sangue na boca e o nome de Nildo queimando na garganta.