Apartamento de Isabelle, 2013.
O eco dos passos de Vitor desaparecia pelo corredor enquanto Isabelle permanecia imóvel na porta de seu apartamento. Sua mente girava, um redemoinho de sensações conflitantes: culpa, desejo e um vazio que parecia imenso e insuportável. A noite passada havia mudado tudo.
Por dias, Isabelle evitou olhar diretamente para Breno. Ela se afogava em desculpas, justificando as longas horas no trabalho, o cansaço crescente, mas a realidade era uma ferida aberta. Cada vez que fechava os olhos, o toque de Vitor parecia pulsar em sua pele, como uma marca indelével. A lembrança do beijo roubado, do calor dos corpos entrelaçados, do que haviam permitido acontecer — tudo parecia gravado nela, um segredo que ela não sabia como esconder.
Do outro lado, Vitor se esforçava para seguir a rotina. Mas o perfume de Isabelle, que parecia flutuar no ar, o perseguia onde quer que fosse, nos corredores do escritório, nas camisas de cama vazias. Juliana, sua namorada, notava o silêncio dele, os olhares perdidos, e começava a desconfiar, mas ele ainda não sabia o que dizer a ela. As palavras pareciam insuficientes diante daquilo que sentia, ou talvez, do que ele temia não ser mais capaz de controlar.
Os meses seguintes foram uma dança cuidadosa. Isabelle e Vitor continuaram a trabalhar juntos, mas a proximidade que antes parecia natural agora era carregada de uma tensão palpável. Eles evitavam ficar sozinhos, como se a simples presença do outro pudesse incitar algo incontrolável. O que haviam começado não poderia ser desfeito, mas também não podia ser consumado. A linha entre o desejo e o arrependimento parecia fina demais.
E então, Vitor pediu transferência. Uma promoção o levaria para outra cidade, longe de tudo o que havia acontecido. Isabelle, por sua vez, começou a se dedicar ainda mais ao seu relacionamento, como se estivesse tentando afogar algo que jamais conseguiria esquecer. Quando Breno a pediu em casamento, ela aceitou, na esperança de que o amor por seu namorado e futuro marido, e a vida que construiriam juntos apagassem o que ela já havia perdido.
A distância física separou-os, mas a memória daquela sexta-feira nunca se apagou completamente. Eventualmente, mensagens esporádicas começaram a surgir. Um “Feliz aniversário” aqui, um “Parabéns pela promoção” ali. Pequenos gestos de cordialidade que disfarçavam uma saudade persistente, como se entre as palavras educadas, ainda houvesse algo não dito.
Durante esses doze anos, Isabelle construiu uma vida que parecia perfeita aos olhos dos outros. O nascimento do filho Lucas, trouxe novas alegrias e desafios, e ela se entregou ao papel de esposa e mãe, acreditando que esse seria o lugar que a faria sentir-se completa. Breno era um bom homem, paciente e amoroso, mas algo dentro dela dizia que ele nunca seria capaz de tocar nas partes mais profundas de sua alma.
Vitor também seguiu em frente. Casou-se com uma mulher encantadora, Paula, que conheceu meses depois de seu término com Juliana, construiu uma carreira sólida, mas, nas noites mais silenciosas, seus pensamentos vagavam para Isabelle. Ele não mencionava isso em voz alta, nem para si mesmo. Mas, às vezes, uma música ou o cheiro de um vinho o transportava de volta àquele apartamento iluminado pelas luzes da cidade, onde tudo parecia possível.