A noite envolvia a Avenida Paulista em um brilho frenético de luzes e movimento. Do alto do edifício espelhado, Isabelle observava a rua lá embaixo, os farois criando um fluxo contínuo de vida, enquanto o silêncio do escritório vazio a pressionava. O ar parecia mais pesado depois de horas de concentração no projeto, e ela guardava seus papeis com movimentos lentos, como se estivesse exaurindo as últimas gotas de energia.
Vitor estava encostado na mesa ao lado, já com a mochila pendurada em
um ombro, observando-a. Seu rosto carregava o cansaço de um dia longo, mas também algo que ele não conseguia nomear, uma inquietação sutil que parecia se tornar mais presente nas últimas semanas.
— Hoje o escritório venceu a gente, hein? — ele comentou, a voz carregada de exaustão e humor.
Isabelle respondeu com um sorriso breve, mas sincero.
— Com certeza. Mas é sexta, o que já é alguma coisa.
O som de seus passos ecoavam no chão enquanto eles caminhavam até o elevador. Conversaram sobre o fim de semana, mas o diálogo parecia mais mecânico, como se ambos evitassem um tema que não ousavam nomear há semanas. Isabelle, por um momento, observou Vitor apertar o botão do elevador, notando os detalhes em que nunca havia prestado atenção antes: a maneira como ele franzia levemente a testa, como se estivesse sempre refletindo sobre algo importante, ou a descontração que ele exibia, mesmo visivelmente cansado.
O elevador os levou até o térreo, e, ao saírem, o caos lá fora os atingiu. Uma manifestação se formava bem em frente ao prédio. Gritos, faixas e um mar de pessoas bloqueavam a rua, enquanto o trânsito já começava a se acumular.
— Isso vai complicar as coisas. — Isabelle cruzou os braços, avaliando a cena.
Vitor suspirou, observando a confusão com uma expressão resignada. Ele estava exausto, a cabeça ainda cheia de números e prazos, e a ideia de ficar preso ali não o agradava nem um pouco.
— Acho que pegar meu carro está fora de questão.
Isabelle franziu o cenho, pensativa, antes de propor:
— Eu moro aqui perto. A gente pode ir para o meu apartamento, pedir uma pizza e esperar a confusão passar. Melhor do que ficar aqui parado.
Vitor hesitou. O convite parecia tão natural quanto arriscado. Eles sempre foram amigos, dividindo confidências e risadas, mas ultimamente algo mais sutil e inquietante parecia espreitar entre eles. Ele olhou para ela, tentando decifrar o que passava por sua cabeça.
— Tá bom, você venceu. — Ele cedeu, com um sorriso que misturava cansaço e uma ponta de nervosismo. — Só espero que a pizza seja boa.
O caminho até o apartamento foi marcado por conversas espaçadas. Isabelle falava sobre o trabalho, sobre o curso de fotografia que queria fazer, mas Vitor percebia que a energia dela estava diferente. Ela parecia distante, como se o cansaço tivesse roubado parte de sua vitalidade usual. Ele, por outro lado, lutava contra os próprios pensamentos. A proximidade dela, os gestos descontraídos, até mesmo o som da risada — tudo parecia mais significativo naquela noite.
Ao chegarem, Isabelle abriu a porta e fez um gesto para que ele entrasse.
— Bem-vindo ao meu refúgio. Fique à vontade. Vou pedir a pizza, e você pode escolher um vinho ali na adega.
Vitor entrou, sentindo-se estranhamente deslocado. O apartamento refletia Isabelle de uma maneira que ele não havia previsto. Era organizado, mas não rígido. Um sofá cinza com almofadas coloridas, uma estante cheia de livros e pequenos objetos que pareciam contar histórias. Ele notou uma pilha de livros no canto, alguns com marcadores coloridos saindo pelas bordas. Aquela pequena desordem parecia contradizer a meticulosidade que ela exibia no trabalho.
Ele pegou uma garrafa de vinho tinto e a examinou, tentando afastar os pensamentos que começavam a se formar. Isabelle voltou com um sorriso casual e duas taças.
— Boa escolha. — Ela disse, pegando a garrafa de suas mãos e abrindo-a com destreza.
Ela se sentou no sofá e tirou os sapatos, suspirando ao massagear os próprios pés. O gesto era tão casual que Vitor sentiu um desconforto inesperado. Era um tipo de intimidade que ele não sabia como lidar.
— Bem mais confortável assim. — Ela comentou, olhando para ele de maneira descontraída.
Vitor tomou um gole do vinho, tentando se concentrar no sabor, mas o silêncio que se instalou era quase opressivo. Ele olhou para ela de relance, e por um momento, algo nos olhos dela o fez sentir que estavam em um território novo, desconhecido.
— Isabelle... — Ele começou, mas as palavras morreram em sua boca. Ele não sabia o que dizer, nem o que queria dizer.
Ela inclinou a cabeça, estudando-o com um sorriso quase enigmático.
— Relaxa, Vitor. — Mas sua voz carregava um tom que contradizia as palavras.
O silêncio que se seguiu era diferente. Não era desconfortável, mas carregado, como se algo estivesse se formando no espaço entre eles, algo que ambos sentiam, mas nenhum estava disposto a admitir.
— Isabelle... — Ele começou novamente, mas a hesitação travou suas palavras. Havia algo no jeito como ela o olhava, uma intensidade tranquila que parecia desmontar qualquer argumento que ele pudesse formular.
Ela apoiou a cabeça no encosto do sofá, observando-o com olhos que pareciam ver além da superfície.
— Vitor, você está tenso. — A voz dela era suave, quase provocativa, mas sem perder a familiaridade que ele tanto prezava.
Ele riu, um som curto e nervoso, tentando aliviar o peso da atmosfera que parecia se acumular ao redor deles.
— Acho que é o efeito de uma semana puxada... e talvez desse vinho. — Ele ergueu a taça, tentando adotar um tom descontraído, mas o olhar dela o desarmava.
Isabelle não respondeu imediatamente. Ela tomou um gole do vinho e olhou para a janela, onde as luzes da cidade piscavam como estrelas inquietas. Quando voltou a encará-lo, havia algo em sua expressão que Vitor não conseguiu interpretar.
— Sabe, eu sempre gostei disso... — ela disse, gesticulando para o ambiente ao redor. — Conversar sem pressa, sem distrações. Parece raro, não acha?
Vitor assentiu, mas sentia um impulso diferente. Ele estava acostumado com a energia dela no escritório, com o jeito pragmático e objetivo que ela exibia. Ali, porém, Isabelle parecia diferente: mais vulnerável, mais real.
— Sim... raro e um pouco desconcertante. — Ele admitiu, desviando o olhar para a taça em sua mão.
Isabelle sorriu de leve, como se ele tivesse acabado de confirmar algo que ela já sabia. Ela esticou a perna, os pés descalços tocando de leve o tapete.
— E o que exatamente te desconcerta, Vitor?
Ele hesitou, buscando uma resposta que não fosse tão honesta quanto seus pensamentos naquele momento.
— Acho que é o silêncio. Não estamos acostumados com ele, né?
Ela inclinou a cabeça, como se ponderasse a resposta.
— Talvez. Mas acho que o silêncio também diz muito.
Por um instante, nenhum dos dois falou. O som distante da manifestação na rua parecia um eco, algo que não pertencia àquele momento. Vitor percebeu que sua mão apertava a taça com força demais e tentou relaxar.
— Tá, você venceu. — Ele brincou, tentando aliviar o clima. — O que o silêncio está dizendo agora?
Isabelle o encarou, o sorriso em seus lábios suavizando a tensão no ar, mas os olhos permaneciam sérios.
— Acho que ele está dizendo que estamos evitando alguma coisa.
A resposta dela o atingiu como um soco, e ele sentiu o coração acelerar. Tentou rir, mas o som saiu mais fraco do que pretendia.
— Tipo o quê?
Ela se aproximou um pouco, apoiando o cotovelo no encosto do sofá, os olhos fixos nos dele.
— Não sei... talvez você devesse me dizer.
Vitor sentiu o ar sair dos pulmões, e por um momento, ele quis fugir, quebrar aquela tensão antes que ela o consumisse. Mas algo nele não queria. Algo nele desejava ficar exatamente onde estava.
Ele tomou mais um gole de vinho, o calor do álcool tornando as bordas do momento mais difusas, mas não menos intensas. Isabelle também bebeu, os olhos ainda fixos nele, como se o desafiando a dar o próximo passo.
— Isabelle, você sabe que... — Ele começou, mas ela o interrompeu, colocando a taça sobre a mesa de centro com um movimento deliberado.
— Vitor, para. — A voz dela era firme, mas não dura. Ela se inclinou mais perto, a pouca distância entre eles, agora quase inexistente. — Você pensa demais.
O cheiro do vinho misturava-se ao perfume dela, e Vitor sentiu a respiração acelerar. Ele não sabia se era o álcool ou o peso do momento, mas algo o empurrava para frente.
Os dois se encararam por um momento.
A tensão que antes estava apenas no ar agora era palpável, como uma corda esticada, pronta para se romper. Vitor se inclinou em direção a ela, e sem pensar, Isabelle foi até ele. O beijo aconteceu de forma quase inevitável. Foi lento, hesitante no início, como se ambos ainda testassem os limites do que estavam dispostos a permitir. Mas o beijo logo se tornou mais firme, mais certo, como se toda a tensão acumulada tivesse finalmente encontrado uma válvula de escape.
O toque de Vitor em seu rosto era suave, mas seu corpo estava firme, como se tentasse conter a intensidade de um desejo que crescia a cada segundo. Isabelle fechou os olhos, entregando-se ao beijo, a sensação de estar ali, naquele espaço pequeno e acolhedor, com ele, era algo que ela não sabia como descrever. Algo em sua mente dizia para parar, para dar um passo atrás, mas o desejo que queimava dentro dela era mais forte. Ela se afastou brevemente, olhando nos olhos dele, tentando entender o que estava acontecendo, mas as palavras simplesmente não surgiram.
Isabelle se levantou do sofá, as pernas ligeiramente trêmulas, e caminhou em direção ao quarto. Ao fechar a porta atrás de si, encostou-se nela por um momento, tentando recuperar o fôlego. A sensação do beijo ainda queimava em seus lábios, e sua mente estava um turbilhão.
O reflexo no espelho não ajudava. Ela viu a si mesma com as bochechas coradas e os olhos brilhando de algo que ela não sabia se era adrenalina ou puro desejo. Seus dedos deslizaram automaticamente até a barra da camiseta que usava, sentindo-se quente demais, como se a roupa pesasse mais do que deveria.
Abriu o guarda-roupa, vasculhando por algo que a deixasse mais à vontade. Por fim, pegou um shorts de algodão curto e uma blusinha de alça. Quando vestiu a peça, percebeu que o tecido leve deixava sua silhueta evidente, o que a fez hesitar por um segundo. O sutiã que usava parecia desnecessário, desconfortável até, então ela o tirou com um movimento rápido, jogando-o na cama. Ao se olhar no espelho novamente, mordeu o lábio, sentindo uma mistura de ousadia e nervosismo.
"Você está tentando ficar confortável ou está tentando provocá-lo?", uma voz interna sussurrou. Ela balançou a cabeça, como se pudesse espantar os pensamentos, e respirou fundo antes de voltar à sala.
Vitor estava próximo à janela, observando as luzes da cidade. A postura dele era tensa, as mãos enfiadas nos bolsos da calça, como se estivesse tentando se conter. Quando ouviu seus passos, virou-se, e por um instante, o olhar dele desceu de forma involuntária pelo corpo de Isabelle antes de voltar aos olhos dela.
Ela sentiu o calor subir pelo pescoço, mas não desviou o olhar. Havia algo diferente no ar agora, algo que tornava cada movimento carregado de significado.
— Achei que você tinha mudado de ideia. — Ele comentou, tentando soar casual, mas a rouquidão na voz o traiu.
— Pensei nisso... mas acho que já é tarde demais. — Ela respondeu, parando a poucos passos dele.
O sorriso que ele tentou esboçar desapareceu assim que ela se aproximou mais. Vitor deu um passo em sua direção, as mãos deslizando para a cintura dela. O tecido leve da blusa fazia o calor do toque dele ainda mais evidente, e Isabelle prendeu a respiração ao sentir os dedos firmes sobre sua pele.
— Você está linda. — Ele sussurrou, o olhar intenso enquanto uma das mãos subia devagar pelas costas dela, parando entre os ombros.
— Não diga isso. — Isabelle murmurou, mas a voz soou fraca, como se ela mesma não acreditasse.
— Por quê? Porque é verdade? — Ele retrucou, aproximando o rosto.
Antes que ela pudesse responder, os lábios dele encontraram os dela novamente. Esse beijo era diferente, mais lento, mais deliberado, como se Vitor estivesse explorando cada segundo. As mãos dele deslizaram até as alças da blusa, e Isabelle sentiu o corpo inteiro arrepiar quando ele traçou o caminho até seu pescoço com os dedos.
Ela não recuou. Em vez disso, suas mãos subiram pelo peito dele, sentindo a firmeza sob a camisa. Quando os dedos alcançaram os primeiros botões, ela hesitou por um momento, mas o olhar de Vitor a encorajou a continuar.
A tensão que preenchia o ambiente parecia vibrar no ar, tornando cada toque, cada movimento, carregado de uma intensidade quase insuportável. As luzes da cidade brilhavam lá fora, mas dentro daquele apartamento, o mundo parecia distante, como se só existissem os dois.
A linha entre o certo e o errado, entre o que eles queriam e o que deveriam querer, desapareceu. Eles estavam ali, juntos, sem mais palavras, apenas o desejo tomando conta.
O apartamento de Isabelle, antes um refúgio tranquilo, agora parecia ser o cenário de algo que, embora inesperado, parecia certo para os dois. Eles estavam à mercê do momento, e as consequências, se é que existiam, poderiam esperar.
Enquanto a mão de Vitor deslizava pelos cabelos de Isabelle, puxando-os com uma mistura de firmeza e cuidado, ela se entregava ao momento, sentindo o coração pulsar descontrolado no peito. A adrenalina do proibido queimava em suas veias, incendiando cada centímetro de seu corpo. As mãos dela exploravam as costas dele, os dedos traçando linhas invisíveis até cravarem as unhas na pele quente, arrancando dele um suspiro gutural. Isabelle sentiu o corpo de Vitor reagir, os músculos tensionando sob seu toque, e provocou ainda mais, esfregando-se nele com uma ousadia quase inocente.
Vitor respondeu apertando a curva de sua bunda com um vigor que arrancou um suspiro entrecortado dela. Isabelle aproveitou a deixa, inclinando-se para beijar o pescoço dele, deslizando os lábios pela pele macia até alcançar o ouvido, onde sussurrou, a voz tingida de malícia: — Eu nem imaginava o quanto desejava isso.
Ele não respondeu. Não com palavras. Apenas segurou a mão dela, os olhos carregados de promessas, e a conduziu até o terraço. O ar noturno os envolveu, trazendo um frescor que contrastava com o calor que irradiava entre eles. — Essa é a maior loucura que já fiz. — Vitor finalmente murmurou, a voz baixa, quase rouca.
Isabelle soltou uma risada suave, balançando a cabeça como quem desdenha do risco. — Loucura nunca foi tão gostosa assim...
Vitor a encarou, os olhos denunciando algo que parecia hesitar em dizer, mas Isabelle não deu tempo. Puxando-o pela gola da camisa, ela sussurrou com um sorriso travesso: — Relaxa...
Seus dedos deslizaram com habilidade, abrindo o zíper da calça dele, e ela o tocou com uma intimidade crescente, sentindo-o pulsar sob sua mão. Vitor arquejou, a cabeça tombando levemente para trás. Antes que ele pudesse articular qualquer palavra, Isabelle se ajoelhou diante dele, a língua desenhando um caminho lento e provocante pela ponta de seu membro. Ele gemeu baixo, a mão deslizando para o cabelo dela, guiando seus movimentos com uma intensidade quase reverente.
— Quero sentir você também. — A voz de Vitor era um sussurro grave, carregado de desejo.
Isabelle ergueu os olhos, o olhar brincando com o dele. — Vai ter tempo pra isso... — murmurou, levando a mão dele até o calor entre suas pernas. — Agora, só me toca.
O toque de Vitor foi como um choque, e Isabelle não conseguiu conter o gemido que escapou de seus lábios. A resposta dele veio sem hesitação. Levantando-a nos braços com uma força segura, Vitor a pressionou contra si, alinhando seus corpos com uma precisão que parecia quase natural. Quando ele finalmente a penetrou, um arrepio percorreu o corpo dela, o prazer crescendo em ondas que se espalhavam com cada movimento.
Ele a segurava firmemente pela cintura, ajudando-a a encontrar um ritmo que parecia instintivo, quase primal. Isabelle, perdida no prazer, levantou a blusa, oferecendo os seios para Vitor, que os tomou com voracidade, os lábios quentes e úmidos contra sua pele sensível.
— Me faça gozar... — ela pediu, a voz entrecortada, os olhos fechados enquanto o prazer subia como uma maré avassaladora.
Vitor acelerou os movimentos, cada investida trazendo-os mais perto do ápice. Ao redor deles, as luzes da cidade brilhavam como testemunhas silenciosas, mas tudo parecia distante. Ali, no terraço, o mundo se resumia ao calor, aos gemidos abafados e à explosão de sensações que os consumia.
Ofegantes e rindo baixinho, Isabelle e Vitor se afastaram por um instante, ainda com os corpos colados. Ele pousou a testa na dela, o sorriso brincando nos lábios enquanto tentava recuperar o fôlego. — Você vai me matar desse jeito.
— Que exagero. — Ela sorriu, os dedos desenhando círculos preguiçosos no peito dele. — Acho que você tá sobrevivendo muito bem.
Vitor riu, um som rouco e caloroso que a fez sorrir ainda mais. Ele a colocou no chão suavemente e segurou seu rosto com ambas as mãos, plantando um beijo leve na ponta do nariz dela. — Vem, antes que a gente acabe quebrando alguma coisa aqui.
— Tipo a gente mesmo? — Isabelle brincou, levantando uma sobrancelha enquanto o seguia para dentro.
Ele puxou a mão dela, conduzindo-a ao banheiro. O som da água logo preencheu o ambiente, e o vapor começou a embaçar os espelhos enquanto eles entravam no box juntos. Sob o chuveiro, a tensão foi substituída por algo mais leve e íntimo. Vitor ensaboou os ombros dela com delicadeza, os dedos massageando a pele enquanto ela suspirava satisfeita.
— Acho que nunca tomei um banho tão bom assim. — Isabelle fechou os olhos, deixando que ele cuidasse dela por um momento.
— É porque você nunca tomou comigo antes. — Ele piscou, deslizando a espuma pelos braços dela.
Ela riu, pegando o sabonete da mão dele e se virando para devolver o gesto. — Modesto você, hein?
— Só a verdade. — Ele ergueu os braços em rendição, mas logo fechou os olhos ao sentir os dedos dela deslizando por suas costas.
Entre risadas, pequenos beijos roubados e brincadeiras com a espuma, o banho virou uma mistura de carinho e descontração. Quando saíram, Isabelle enrolou o cabelo em uma toalha enquanto Vitor tentava desesperadamente secar o espelho para olhar o próprio reflexo.
— Vai mesmo tentar arrumar esse cabelo agora? — ela provocou, apontando para os fios desgrenhados dele.
— Claro, né? Preciso manter o charme.
— Que charme? — Isabelle deu uma risadinha e fugiu quando ele tentou jogá-la de volta no box.
Com os corpos limpos e renovados, eles se jogaram no sofá com uma caixa de pizza aberta entre eles e uma garrafa de vinho ao lado. Isabelle segurava uma taça na mão, os pés apoiados no colo de Vitor, enquanto mordia uma fatia com gosto.
— Tá vendo? — ela disse com a boca cheia. — Isso aqui é vida.
— Sexo e pizza? — Vitor ergueu uma sobrancelha, segurando a risada.
— E vinho. Não esqueça do vinho.
Eles brindaram com as taças e riram, as conversas fluindo com naturalidade enquanto dividiam a comida. Vitor contou histórias engraçadas do trabalho, e Isabelle quase se engasgou de tanto rir. Em algum momento, ela acabou derramando vinho na própria blusa e culpando Vitor, que apenas riu ainda mais.
Com a garrafa vazia e os corpos novamente aquecidos, a intimidade voltou a chamá-los. Vitor puxou Isabelle para o colo no sofá, os dedos traçando caminhos preguiçosos pela pele dela enquanto a boca encontrava a dela com urgência. Desta vez, os movimentos foram mais lentos, mais exploratórios, como se cada toque fosse um redescobrimento.
No sofá estreito, eles se entregaram novamente, os corpos se movendo em perfeita sincronia. O som da respiração ofegante preenchia o espaço enquanto o calor os consumia mais uma vez. Quando finalmente chegaram ao ápice, Isabelle deixou o corpo cair contra o dele, o rosto enterrado no pescoço de Vitor.
— Você tá me estragando pra sempre, sabia? — ela murmurou, a voz sonolenta.
Ele beijou o topo da cabeça dela, rindo baixinho. — Acho que isso é bom.
Pouco depois, ambos adormeceram no sofá, os corpos entrelaçados. A luz da madrugada começou a iluminar o ambiente, e os dois só acordaram quase ao amanhecer, os raios do sol tocando suavemente seus rostos. Isabelle abriu os olhos preguiçosamente, encontrando Vitor já a observando com um sorriso.
— Bom dia, dorminhoca.
— Bom dia, destruidor de sofás. — Ela sorriu de volta, os olhos brilhando de ternura.
E, mesmo com os corpos ainda cansados, o momento parecia perfeito. Como se o mundo inteiro tivesse parado para deixá-los ali, juntos.
Vitor vestiu a camisa em silêncio, os movimentos lentos, como se quisesse prolongar cada segundo antes de sair. Isabelle estava sentada na beira do sofá, as pernas cruzadas e os cabelos bagunçados, segurando um lençol contra o corpo. O quarto ainda carregava o cheiro do momento que haviam compartilhado, mas a atmosfera já parecia diferente, mais densa, mais pesada.
— Eu deveria ir. — Vitor quebrou o silêncio, ajustando os punhos da camisa enquanto evitava o olhar dela.
— Sim, acho que sim. — Isabelle respondeu, a voz quase um sussurro. Ela não conseguia olhar diretamente para ele. Em vez disso, encarava as almofadas, como se fossem mais interessantes do que o turbilhão em sua mente.
Vitor pegou o celular na mesa e deu um suspiro antes de se virar para ela. Por um momento, ele parecia prestes a dizer algo, mas desistiu. Em vez disso, aproximou-se do sofá e inclinou-se para beijar a testa de Isabelle.
— Nos vemos segunda-feira. — Ele murmurou, como se aquilo fosse suficiente para encapsular tudo o que sentia.
Ela assentiu, sem responder, e o acompanhou até a porta. O corredor do apartamento parecia ainda mais vazio e frio quando ele desapareceu pelo elevador, deixando Isabelle sozinha.
De volta ao quarto, Isabelle deixou o lençol cair no chão e caminhou até a janela, abraçando a si mesma. A cidade parecia tão indiferente à confusão que tomava conta dela. As luzes piscavam, os carros passavam, e lá embaixo, provavelmente, Breno estava a caminho de casa, acreditando que ela havia ficado trabalhando até tarde.
O pensamento fez seu estômago revirar. Ela se jogou no sofá da sala, cobrindo o rosto com as mãos. "O que você fez?", sua mente gritava, mas não havia resposta.
Por um lado, ela se sentia viva como há muito tempo não se sentia. Por outro, a culpa começava a apertar o peito, lenta, como um nó que não podia ser desfeito.
Vitor, enquanto isso, dirigia pelas ruas ainda movimentadas, o silêncio do carro quase insuportável. Ele não ligou o rádio, nem sequer abriu as janelas. Apenas dirigia, os dedos apertando o volante com mais força do que o necessário.
Juliana estaria em casa, provavelmente já dormindo. Ele imaginou o sorriso dela na manhã seguinte, os cabelos bagunçados e o bom humor matinal. A ideia o fez engolir seco.
Quando chegou ao prédio, subiu as escadas como um autômato. Cada passo parecia pesar toneladas, e quando finalmente abriu a porta do apartamento, viu Juliana encolhida no sofá, com um cobertor sobre as pernas e o laptop no colo.
— Você demorou. — Ela disse, sorrindo ao vê-lo. — Eu pedi comida. Achei que você ia chegar morrendo de fome.
Vitor congelou por um momento antes de forçar um sorriso.
— É, o trabalho tomou mais tempo do que eu esperava.
Ele se sentou ao lado dela, tentando parecer casual, mas a sensação de que ela podia sentir algo errado não o deixava em paz. Enquanto Juliana voltava a atenção para o filme na TV, Vitor olhou para o teto, tentando ignorar o peso esmagador da culpa.
Naquela noite, Isabelle e Vitor não dormiram. Ela, no apartamento vazio, olhando para o teto, e ele, ao lado de Juliana, com a mente a quilômetros de distância.