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rodrigosantos

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Ativo

Signo no Universo em Órbita:

Enigmístico

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rodrigosantos @rodrigosantos

em QUEDA

ele cai
não grita. não chora.
só cai.
porque aprendeu cedo
que dor é coisa para calar.

asas partidas,
ossos rangendo sob o peso do mundo,
o sangue não escorre, seca por dentro.

há dias em que a vida
arranca seu voo com dentes,
e o enterra de pé,
pois não importa o que aconteça,
ele deve permanecer de pé.

mas, ainda assim,
em silêncio,
ele sente.

e tudo bem se o peito arder,
se os olhos tremerem,
se o chão for o único colo.

porque as lágrimas não choradas
são em si um mar inteiro,
e mesmo sem asas
há dignidade em tentar levantar.

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rodrigosantos @rodrigosantos

O movimento rápido dos meus dedos extrai sons ritmados

O toque e a pressão produzem palavras

Já não sei o que é meu e o que é êxtase

Ao fim da digitação, vejo na tela uma versão incompleta e não lapidada da minha alma

rodrigosantos
rodrigosantos @rodrigosantos

Eu odeio cortar cebolas

Elas parecem inofensivas à primeira vista. Apenas camadas lisas e pálidas. Mas basta o primeiro corte para que algo invisível suba aos olhos. Ardem. Queimam. Ainda assim, não se pode parar. Há sempre um prato esperando, uma obrigação para ser cumprida.

Ninguém pergunta se dói, ninguém se importa se os olhos marejam. Apenas esperam que continue, que siga firme, que corte cada pedaço sem hesitar. Dizem que há técnicas para evitar as lágrimas: mastigar pão, resfriar a lâmina, prender a respiração. Mas, no fim, nada impede a ardência. Apenas se aprende a piscar menos, a disfarçar melhor.

"Não seja fresco. É só uma cebola." Claro. Sempre é "só" alguma coisa. Só um problema. Só um peso. Só um homem.

Camada após camada, segue o corte. Raiva, frustração, medo. A cebola não liga. O mundo não liga. Só esperam que eu continue cortando, que eu termine o que comecei.

E no fim, mesmo depois de picada, o cheiro fica nos dedos...
Ah, eu odeio cortar cebolas.