Você já ouviu as histórias que contam sobre você — e não há nada que possa fazer a respeito.
É apenas uma mera personagem dos contos que contam, não consegue convencer ninguém agora que já acreditam te conhecer melhor do que você mesma. E mesmo que não te conheçam, as palavras deles são certamente mais confiáveis do que as suas — quem acreditaria no que alguém diz sobre si mesmo?
A verdade nunca foi a melhor em persuasão, então pode ser deprimente ter ela como sua única arma enquanto a mentira oferece possibilidades infinitas aos outros — tão mais rápidas de explicar e mais fáceis de entender, sem todas aquelas exigências irritantes da lógica, sem a chatice de se limitar à realidade e cortar as asas da criatividade a todo momento.
As histórias deles são tão mais divertidas.
E além disso, elas sempre trazem algo novo. Cada vez mais épicas, chocantes e surpreendentes. Eles sabem como manter o interesse do público, sempre ávido por voltar e ouvir mais — enquanto você só repete a mesma história entediante de sempre.
Não é possível que algo tão sem graça seja real.
E, se o que dizem sobre você é mesmo mentira, como explica todos os sinais?
Por que está sempre evitando a todos, mantendo-se tão distante e quieta? Isso só mostra que quer esconder algo. Como assim você não tem mais paciência para se explicar? Isso só prova que está errada e sabe disso.
Toda vez que te olham, você sabe o que enxergam — as camadas espessas construídas pelas palavras deles envolvendo cada parte de você, mantendo quem realmente é escondida bem longe da superfície, onde os olhos não vão enxergar sem a ajuda de um bom mapa e das coordenadas que ninguém se arriscaria a seguir — pois têm certeza de que acabariam se perdendo pelo caminho.
Agora você está sozinha, e é a única que realmente conhece a verdade — enquanto, ironicamente, é chamada de mentirosa. Você tem se mantido em silêncio agora, nunca refutando uma palavra sequer. Então eles devem estar certos, afinal.
Estavam certos desde o começo, foi o que eu ouvi falar…
Comentários