Hipogrilo Crilo ~ O Bestiário de Bruno Ferreira

O texto não tem muita lógica e assim deve ser. A criatura aqui descrita é abominável mas tudo bem. Ela faz parte de um Bestiário: páginas onde seu autor ilustra e conta sobre criaturas fantásticas — ou medonhas

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Caminhando pela penumbra fúnebre, estava um homem qualquer: simplório, honorário, sem mais nada interessante sobre si a se citar. Ele caminhou por horas, dias e semanas a fim de algo encontrar. As lendas locais diziam sobre todo tipo de coisas: tesouros, ouros, besouros dourados… mas o que foi achado jamais se compararia a nada procurado


Na primeira página, mofada, de um livro surrado, com desenhos já falhos, estava escrito, com a pior letra que ele veria entre vida e morte, palavras não muito convidativas…


Se por algum acaso você escutar um cricrilar tão alto quanto o relincho de um cavalo… apenas corra. Corra o mais rápido possível, pois a criatura que estará te perseguindo é capaz de transformar cristais em espinhos com delicadas patadas sujas de sangue.


Essas coisas só respeitam crianças, mas não todas, apenas aquelas que criam crisântemos e servem com menta para que se alimentem. Entretanto, as crianças malvadas colocam pimenta e, bem… essas recebem de presente três grilos para cuidar. Não adianta reclamar. Eles mexerão em tudo, pularão em outras coisas, e assim ficarão, perturbando, até que esqueçamos que o dia já é outro.


É recomendável que se aprenda o mais alto nível da magia dos Hipogrilos; caso contrário, os espíritos do ar poderão — e irão — te abandonar.


Os dentes deles são fortes, como os de um tatu.

Sua mordida trabalha tal qual a de um trator.

Eles são trapeiros e provavelmente deixarão ao lado do seu travesseiro um trapo, como o corpo de um cachorro travesso. Criaturas formadas por pele e desprezo.


Você irá parar no hospício ou se tornar um hipocondríaco se não arrumar um crivo para os estampidos desses malditos.


Todo mês, ao menos uma mãe deixa bebês para as famílias se lembrarem de corrigir as crianças mal-educadas. Essas ninguém quer, nem mesmo os Hipogrilos, formados por sangue e espírito.


E, quando a mãe humana cair de sono, a mãe grilo recolherá os filhotes. Irá cricrilar sua famosa ciciranda, capaz de até os adultos ninar.


Se a pimentisse continuar, uma esquisitice pode rolar. Depois de uma mordida da mãe, a barriga começa a se enrolar; em vez de ela chamar para o jantar, ela gritará: cri-cri — crianças, e assim a população de Hipogrilos continuará a se criar.


O resto do texto se perdeu em algum lamaçal onde o bestiário estava enterrado…


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