Com uma voz calma e suave, o mentor ditava os passos:
“Relaxem seus corpos, permaneçam em uma posição agradável, sentados ou deitados, com os membros esticados, evitem cruzar as pernas e os braços, quando fizerem isso, podem colocar uma música calma ao fundo: Contem até três mentalmente e fechem seus olhos, respirem fundo, inspirem pelo nariz e soltem o ar lentamente pela boca… agora, sintam seus dedos dos pés, até começarem a sentir um formigamento? Sintam o formigamento seguir pela sola do pé e depois para o peito do pé, seguindo em direção aos calcanhares, ao tornozelo, lentamente… subindo pelas pernas, sintam a barriga da perna, até chegar aos joelhos… passando agora para as partes de cima das pernas, sintam a existências das coxas, do quadril, a pélvis, a cintura, a barriga, o umbigo, subindo pelas costelas até as costas e os ombros, sintam o formigamento no peito até o pescoço, agora… sintam o formigamento seguir em direção aos braços e antebraços, percebam cada parte de seu corpo, sintam suas mãos, as palmas das mãos, as costas das mãos e seus dedos, cada um de seus dedos. Sintam sua nuca, seu queixo, sua boca, nariz, olhos e o rosto todo, sua testa, sinta a sua cabeça e seu couro cabeludo, tomem consciência de todo seu corpo… Agora, imaginem você saindo de seu corpo e viajando para um lugar tranquilo, bonito, que te transmita de paz, e neste lugar há um espelho, você se olha e vê uma imagem perfeita de você, você vê somente coisas boas de você mesmo: Você é Perfeito!! … respirem fundo novamente e soltem o ar lentamente… contem mentalmente até três e abram os olhos…”.
O ano era 1989, eu estava ainda chegando aos meus primeiros 18 anos, era o mais jovem naquele grupo de pessoas, um grupo formado por empresários e profissionais de empresas do município de Gravataí, era a primeira vez que tinha contato e praticava a técnica de meditação e relaxamento, que hoje conhecemos como mindfulness, a experiência, fazia parte de uma dinâmica que estava sendo ministrada por um colt empresarial, para a associação de jovens empresários do município em parceria com a ACIGRA (Associação Comercial e Industrial de Gravataí), fui levado ali, por convite do empresário dono da empresa em que trabalhava na época, claro que o encontro era para tratar de diversos outros assuntos, voltado ao treinamento do grupo empresarial, dos quais já nem me lembro mais, não recordo em absolutamente de nada do que foi tratado naquele evento, mas o que me marcou naquele dia e carrego os ensinamentos até hoje, foi a prática da técnica de meditação visando ajudar a focar no presente e a reduzir o estresse e a ansiedade.
Não recordo nem o nome do palestrante, lembro que entre o grupo de pessoas além do meu chefe e sua esposa, haviam outros empresários conhecidos devido ao meu vínculo empregatício, mas estava também, um ex-professor da extinta matéria de OSPB (Organização Social e Política Brasil) que era ministrada ainda no ensino fundamental, entre a 7 e 8 séria, o Professor Mário.
O professor Mário, veio a me dar aula na 7ª séria, como professor substituto na Escola de Ensino Fundamental Prof.ª Maria Josefina Becker, existia o boato entres os alunos, que ele era temido, por ser muito sério e rígido com seus alunos, desta forma, o primeiro dia de aula com o tal professor, a ansiedade foi grande entre nós e este dia, ficou gravado na minha memória, assim como o Professor Mário, por ter me dado uma “bronca” de forma gratuita, não me lembro de ter sido repreendido por outro professor ou professora como naquele dia: Ele passou caminhando lentamente entre as classes dos alunos, fazendo indagações para uns e para outros, quando parou de frente a minha classe, era uma mesa com base de metal e tampo em material em MDF com a superfície lisa e esverdeada, havia alguns rabiscos a lápis e caneta, comuns que eram realizados pelos diversos alunos que a utilizavam nos três turnos, apontando com o dedo indicador para os rabiscos, questionou-me com a voz severa e cavernosa:
- Foi tu que fez isso?
Respondi-lhe: - Não, já tava.
Ao que ele me repreendeu:
– Sempre já tava!
Senti meu rosto corar e a raiva tomar conta, pois não era de fazer aquilo e a imputação a mim de algo errado que não de minha autoria me corroeu, engoli seco, mas não retruquei, não era disso, até porque, naquela época, professor era autoridade e temido. Mas o ditado que diz: “a primeira impressão é sempre a que fica”, nesse caso, não se fez valer, pois com o passar das aulas e os ensinamentos que ele me proporcionava, foi me contagiando, quebrado totalmente aquela primeira impressão, seu método e didática de ensino me cativou tanto, que até hoje ainda o tenho como uns dos pouco professores que marcaram minha juventude e que aquele primeiro dia não passou de uma mera encenação, apenas para brincar com a imagem que os alunos faziam dele.
Alguns dos conceitos que uso até hoje, por exemplo: a diferença entre a eficiência e a eficácia, a primeira é fazer a coisa certa, enquanto que a segunda, é: fazer a coisa certa no tempo certo. E, a diferença entre AMAR X GOSTAR:
Gostar: o verbo “gostar” nos traz uma ideia de presente, está relacionado a afinidades comuns, e também me coloca em primeiro plano. Eu gosto daquilo que faz sentido para mim, que me traz um benefício ou me agrada. Por isso, aquilo que me é desagradável eu não gosto, pode ser uma pessoa, uma opinião, etc. Gostar está vinculado ao “ego” pessoa, ao egoísmo.
Amar: o amor transmite a ideia de solidez, de doação, de colocar o outro em primeiro plano, buscar o bem do outro e isso faz com que eu interaja não apenas com o que a pessoa tem de bom, mas também me ajuda a perdoar os seus limites e também aquilo que me desagrada.
Por isso, Jesus não disse: “Gostai-vos uns aos outros, assim como eu vos gostei”, ele usou o verbo AMAR.
Mas este livro, não é para falar do professor Mário, então vamos seguir ao que interessa.
A minha avó foi umas das primeiras divulgadoras Seicho-no-iê, no município, a Seicho-no-Iê é uma religião sincrética que incorpora conceitos e terminologia do Budismo, Cristianismo e outras religiões. A religião ensina a crença na "divindade única e absoluta", e um de seus provérbios é "Seja grato por tudo no mundo", concentra seus ensinamentos por meio da prática de gratidão à família e a Deus e no poder da palavra positiva, que segundo a doutrina, pode influenciar uma vida feliz. Umas das três leis mentais: “Lei de causa e efeito”, “A palavra tem força criadora” e “Lei da atração dos semelhantes”. Assim, seguidamente ela fornecia à nossa família revistas, livros e doutrinas baseadas na filosofia, bem como, costumava contar histórias baseada na doutrina, para nós quando crianças.
Entre meus 12 e 16 anos, resolvi ler algumas dessas revistas e procurava internalizar alguns ensinamentos mesmo sem ser praticante e nem frequentar os encontros, mas via sentido em alguns ensinamentos e que me chamava atenção na época era a força da vontade e da mentalização, a força da atração do pensamento, tanto foi, que criei uma suposição para aliviar a dor física, consistia por exemplo: quando estava com dor de cabeça, imaginar esta dor e mentalmente retirava ela da cabeça e enviava para o céu, aquela dor que causava incômodo dentro da cabeça se colocada no céu, no infinito não teria efeito algum devido o tamanho do céu em comparação com a minha cabeça, desta forma dor se esvai, como uma gota de água doce que cai no oceano. Se funcionava? Bom... eu acreditava que sim e realmente deixava a dor de lado e seguia em frente.
Mas isso, eram coisas da minha cabeça, não era uma meditação sistemática como mindfulness, reiki, yoga, etc…
Mais tarde, já no ensino médio, portanto, entre os 15 e 17 anos, frequentei uma escola católica, o Ginásio Dom Feliciano, que é mantida pelas Irmãs do Imaculado Coração de Maria, ali, além do ensino religiosos, havia momentos de reflexões, que nos convidavam a exercitar nossa espiritualidade e a nossa ligação com Deus, mesmo não sendo batizado na religião, eu gostava daqueles momentos, pois trazia uma paz interior um descanso para a mente, em relação Deus, não tinha uma posição definida, se acreditava ou não, digamos que ainda estava conhecendo-o e, o mais importante, estava me conhecendo.
Mais tarde, aos 23 anos, viria a me batizar na igreja católica, não exatamente por convicção religiosa, foi mais uma necessidade que momento exigia.
Voltando a técnica do relaxamento descrita no início, eu a praticava sempre que necessitava, inclusive quando conheci minha esposa, falei sobre ela e praticamos juntos algumas vezes, da mesma forma, mais tarde, quando nossas filhas vieram praticávamos com elas antes de dormir, minha esposa chamava de “A viagem”.
Com o passar dos anos, já estabelecido profissionalmente no serviço público, participando de diversos eventos, assistindo palestras e treinamentos dos mais diversos seguimentos, seja para desenvolvimento pessoal ou profissional, fui aumentando meus rol conhecimentos e integrando aos que já possuía, algumas palestras sobre qualidade de vida, bem-estar, comportamentais, ministrados por psicólogos e mentores especialista da área, tive conhecimento das técnicas como: respiração em quatro tempo ou do “quadrado”, oponopono, yoga, reiki, ayahuaska, tai chi chuan, constelação familiar, ikigai, etc..
Assim, juntando todas as minhas experiências em relaxamento, meditações, reflexões, etc... acabei criando as minhas próprias técnicas, uma delas, por exemplo, quando muito calor ou frio, através de meditação tento controlar a temperatura do meu corpo.
Aliado a tudo isso, ainda, através de minha esposa, adentrei ao espiritismo, conheci um pouco da doutrina espírita de Alan Kardec e o Livro dos Espíritos. E aquilo que aprendi sobre espiritualidade, tinha muito a ver com o que mais se assemelhava sobre minhas crenças e fé.
Frequentar a casa espírita, mesmo que por pouco tempo, me ajudou a passar por uma fase difícil, mas não importa a religião que você segue ou casa que frequenta, ou ainda a frequência com que frequenta, todas as doutrinas te levam uma só, o bem a você e ao próximo, o que importa é como você vive, como você vê a si e aos outros, o que você faz para você e aos outros, é isso que vai fazer de você o que você é.
Mas também não estou aqui para falar das religiões, ou para contar das minhas crenças, pois a história que se segue, é fictícia, mas baseada nessas premissas iniciais que vão desencadear em uma aventura, para o dia em que eu sai de meu corpo, o dia que deixei meu corpo físico e andei perambulando como uma alma-perdida.