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CrisRibeiro

CrisRibeiro

Ativo

Selo L1 Selo 365
Simbionte
Ovo de Simbionte

Signo no Universo em Órbita:

Regulatêneo

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 232

Eco

Peregrino.
Desavisado.

Entregava-se
ao mundo,
com a doçura
de ignorar
o perigo.

Olhar frágil,
quase um sussurro.

Falando
de destinos,
de dons divinos…

Cada gesto:
um traço vulnerável,
um convite
à intimidade,
desafinando
a solidão.

No fundo:
apenas um menino.

Ferido,
febril,

pele lanhada
de curiosidade
de medo.

Bebia vinho,
fogo líquido
que dissipa calor.

Saboreando dor
e prazer,

sem permitir
engasgar…

De…
Novo…

De…
Novo…

Engasgar…

De…
Novo…

Com a própria
vida.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 230

#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤
Voragem

Teu beijo
não é só boca.

É maremoto
lambendo
a areia
dos meus seios,
calor líquido
infiltrando-se
entre minhas pernas
antes mesmo
de me tocar.

A ideia
da tua língua
me abre
em flor molhada,
acende
cada nervo,
faz o chão
do mundo
tremer.

Respiras
na minha pele.
Meus mamilos
imploram por ti:
erguidos, ansiosos,
sussurram teu nome
hipnose
de fogo.

Sinto
antes do toque.
Me arqueio
antes da posse.

E quando tua boca
enfim
invade
o espaço
entre meu querer
e o teu,
me perco.

Como se
cada nuance
de ti
arrancasse
minha pele
e minha mente
ao mesmo tempo.

Sou um corpo
feito de ondas,
gemidos
e silêncio.

Gozo
que começa nos lábios
e desce
queimando
até onde
minha fome
é mais funda,
até onde
só tu
podes chegar.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 228

No Jardim Dela

No coração,
feitiços e sonhos.

Flores fechadas,
pétalas de curiosidade,
folhas de silêncio
que sussurram mundos.

Olhos que devoram livros,
segredos ainda não ditos,
pulsando em cada página.

Amizades: rios claros.
Afetos: estrelas no peito.
Esperam a hora de brilhar.

E eu, Mãe,
árvore antiga,
sombra, presença.

Espero o tempo,
o instante de acender.
Espero o florescer
no meu colo:
chão firme, nunca cerca.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 227

Fiz do erro
um altar.

Amei
como quem sangra.

Parti
antes que me pedissem.

Nunca quis
ser salva.

Impulsiva.
Minha marca.

E dela,
não me curo.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 226

#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

BEIJOS QUE FAZEM SENTIDOS

Visão
Tua boca… se aproxima.
Se aproxima.

Meus olhos… ardem.
Ardem de te ver.

Teu lábio inferior, carnudo,
brilha, fruta proibida.

A distância entre nós:
um fio.
Fio que vibra,
fio que arrebenta.

Quando rompe,
meu corpo já não é o mesmo.
Nunca mais.

Olfato
O cheiro da tua pele… me invade.
Invade antes do toque.

Calor.
Suor.
Traço de pele queimada pelo desejo.

Selvagem.
Teu.
Convite.
Ameaça.

Eu respiro… e já é demais.

Tato
Então… o toque.

Minha pele… arrepia.
Cada poro… pede mais.

Meus seios reagem antes de mim,
rígidos, apontando,
sabendo.

Sabendo onde tua mão
ou tua língua
vão chegar.

Respiro.
Sinto.
Entrego.

Ondas.
Ondas que explodem.

Paladar
Te provo.

Sal.
Noite.
Promessa… de perdição.

Tua língua brinca.
Comanda.

Invade.
Retira.
Retorna.
Invade de novo.

Fode minha boca que responde,
avida,
rebola,
sempre contra a tua.

Audição
O som… é explícito:
molhado, urgente.

Ahhh…
Ahhh…

Gemidos…
escorrem
entre teus dentes.

A umidade escorre,
escandalosa,
denuncia minha fome.

A pressão aumenta.
Aumenta.

Tuas mãos prendem minha nuca.
Teu corpo… cola no meu.

Sabor profundo.
Mais sujo.
Mais nosso.

Tua língua… me toma inteira.
Teu beijo… me engole.
Me engole.

Sem piedade.

Me arqueio.
Me entrego.

Gozo.
Antes… do fim.

Gozo… na tua boca.
No som.
No gosto.
No toque.
No cheiro.
Na visão… de ti.

E percebo, arfando,
que todo o meu corpo
agora é teu idioma.
Meu idioma.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 224

Caí
na arapuca
de prender-me,

por vontade:

o doce engano
de quem confunde

grilhões
com braços.

Achei
que era caminho
para a tal felicidade,

mas era apenas
um espelho
me devolvendo

medos,
beijos ácidos,
sussurros
que mordem.

Asas atrofiadas,
olhos turvos,
a cor da vida
dançava
atrás da porta,
sangrava
lenta,
sangrava inteira.

De tanto voar parada
redescobri

o sonho:
tocar o céu

com dedos trêmulos,
que queimam,
que ainda desejam,
que querem,
que não se rendem.

Sabendo
do risco
da chama,

e ainda assim,
sentir prazer
na dor
que me lembra:

estou viva,
estou viva,
estou viva.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 223

Rios Soltos, Mesmo Leito

Não há posse,
não há vassalagem.
Nem corpo,
nem desejo.

Somos rios soltos,
colidindo,
rasgando,
abraçando o mesmo chão.

Mordeste o silêncio.
Doeu.
Aceitou que o amor arde
em fogueiras distintas
e ainda aquece o mesmo leito.

Tua mão na minha, agora,
não prende.
Explora, explode,
sente o sangue,
a vida nua
escorrendo entre nós.

Amor:
visível, cortante,
a olho nu,
tão claro que cega.

E, inteira,
te digo:

a liberdade que fere
é a que gruda,
não larga,
não morre:

nos mantém.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 222

A VIDA ERA
RETÂNGULO
C H E I O D E
L I N H A S
D U R A S

TUDO TINHA
B O R D A
C A N T O
E S Q U I N A

que
brei
meu
pró
prio
contorno

as paredes cederam
o ar entrou
o som entrou
eu entrei

soltei

perguntas

no ar

e elas

voltaram

dançando

o que era virou
peso onda

o que era pressa virou maré

amor

leveza

onde antes havia muro

agora




movimento.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 221

222 de 365

    Três vezes o pulso,
    batida do tempo
        suspenso,

eco de silêncios
        entrelaçados:

            ritmo denso.

Dois,
    a dualidade:

        sombra e luz,

        prumo e desvio,

em gesto tríplice,
    a cifra seduz.

No vão
        da espera,

o instante
        revela:

sem pressa
        no toque,

nem eco
        na tela.

Número que dança

        entre finito e eterno,

guarda e liberta,

        no campo das horas,

a beleza
        encoberta.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 220

Ele chegou lento…
manhã fria que se espreguiça na vidraça.

Mês da nova idade.
Novos ciclos.
Talvez caminhos que o destino rabisque
com a ponta cega de um lápis.

Pelo que palpita o teu peito?
O que ainda ousa querer?
Vai ter coragem…
de fazer?

A vida é só passagem:
dias a mais,
vida a menos.

E enquanto fingimos eternidade,
os sonhos criam poeira nos ossos.

Agosto não é acaso.
É a gosto de quem
segura as rédeas.

Tudo é direção.
A vida só floresce
para quem decide.

A caixa de Pandora
se abriu há muito.

Entre escombros e ruínas,
sobrou algo pequeno,
teimoso,
indomável:

Esperança.

Ela está olhando pra você.
E não vai esperar para sempre.

Cr💞s Carneiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 219

O Riso que Me Habita

Pai, vento que ri.
Sorriso que ainda abre ruas
dentro de mim.

Voz com cheiro de domingo
e som manso de chuva chegando.

Me ensinou que a vida
é coisa para se gostar.
Que tristeza é só intervalo
para beber da própria fonte.
Que felicidade não se guarda:
é vinho bebido no instante.

Seresteiro de luas cheias.
Festeiro de noites sem pressa.

Carinho servido em mãos quentes.
Amor de raiz funda.

Sensibilidade que não se exibe:
toca, silenciosa,
onde mais dói
e mais cura.

Tudo o que sou de melhor
veio dele:
o riso que me habita,
o amor que me atravessa,
e esse jeito de olhar o mundo
como quem sussurra:
— Vai, menina…
a vida é tua festa.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 218

Ao Teu Morrer

🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

Que nunca
se quebre

o encanto,

que teu
corpo,

manto
e pranto,

me arranca

ao amanhecer.

Ao toque,

minha febre
inflama,

sou chama

que em ti
derrama,

erguendo-me

para
te obedecer.

Prenda-me

como
quem ama,

me açoita

como
quem clama,

e depois

me faça
estremecer.

Não ouses

compaixão
no rito,

me consuma

até
o infinito,

faz-me gritar,

me desfazer.

Que dure

o sempre
insano,

te quero

fera
e humano,

me afoga

sem
se conter.

O tempo,

em nós,
dissolve,

meu tesão

em ti
revolve:

só finda

ao
teu morrer.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 217

Do Amor, Restou a Louça

Café sem açúcar,
beijo sem língua.
A rotina os risca
com navalha cínica.

“Quer jantar fora?”
ele ousa dizer.
“Quero sair de mim”,
ela pensa, a arder.

A carne esfria,
o vinho se esconde.
Brindam o tédio
com gelo e remédio.

Corpos colidem,
sem se entender.
Costas se amam
pra não doer.

E nas fotos, a farsa:
sorrisos domados.
O amor? Um ladrão —
roubou-se calado.

E pairando no ar,
um aviso sutil:
Cuidado: o amor vence,
mas morre em abril.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 216

Sentido Único
(com duplo sentido)

Ando por ruas
que me atravessam.

Viro esquinas,
mas sou eu que desvio
do que não sei nomear.

O destino,
é só um acidente
que se vestiu de escolha.

Todo dia é expediente,
mas nunca o bastante
para dar conta
do que lateja
entre um suspiro e outro.

O que sinto
varia.
Com juros,
sem carência.

Na vitrine da vida,
tudo reluz.
Mas o que é ouro?
E o que é purpurina
que finge profundidade?

Lugar de fala se vende.
Silêncio, não.
Tem quem ouça com a epiderme
e quem veja com os móveis da sala.

Sou poeta.
Inquilina do avesso.
Moro na dobra das palavras,
na rachadura
entre o sentido e o delírio.

Meu vocabulário é torto
feito corpo apaixonado.

Mas minha fé…

essa caminha

descalça

e não
tropeça,

mesmo
nas
ruínas.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 215

Entre o Verbo e a Viga

Há de ver, cidade.
Tanta pressa no passo,
tanto peso no prazo.

O afeto:
moeda mais cara da praça.

Tem quem trabalhe por amor
e receba cansaço.
E segue:
amar é teimosia.

Na ladeira dos dias,
subo ereta,
mas o coração
escorrega.

Sanidade,
às vezes,
é só não sentir.

Forma demais,
fome de menos.

Paz armada
até os dentes.

Verso
vira prosa.

Prosa
vira nada.

Milagre
só com carimbo
e firma reconhecida.

Vou entre:
tempo & templo,
santo & centro,
ser & servir…

Pedem silêncio.
Dou.
Não é paz,
é sede
de alguma verdade.

Verso é bisturi:
corta,
sangra,
cura bonito.

Já fui verbo,
viga,
vírgula.

Hoje sou
ponto de interrogação
pedindo colo
no travesseiro da pressa.

No fim, eu sei:
viver é verbo
que pede conjunção.

E o amor…
ainda é a melhor delas.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 214

RUÍDO BONITO

A cidade
é um ruído bonito:
todo mundo grita.
ninguém escuta.

Meu peito,
rádio velho,
chiando em estação
no dial errado.

Tenho medo
de virar rodapé
que ninguém lê,
mas que,
de repente,
toca num lugar escondido
de alguém distraído.

Escrevo cartas
com cheiro de adeus.
Não envio.
Não sei pra onde.
Só sei que doem menos
quando viram papel.

Desejo menos dor,
ou — que ousadia —
um cafuné decente,
de olhos fechados,
sem urgência.

Sei que sou difícil,
não me edito.
Amo com todas as falhas
e ainda assim,
não sou esse erro
que tentam deletar
com frieza e clique.

Ás vezes
acordo flor
e o dia me cinza:
me apago devagar.
Mas logo
me rego
com café forte,
lágrima quente
e poesia crua.

Essa noite sonhei
com uma voz que sussurrava:
“tá tudo bem não saber.”
Acordei com essa frase
pendurada no peito
feito medalha
ou promessa.

Se me cruzar por aí,
me lê devagar.

Tenho entrelinhas,
sou cheia de espinhos,
mas também escondo abraços
em tudo o que escrevo.
(talvez até em você)

com amor
(e esse medo bonito
de quem sente demais),

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 213



Fé?
Fé é ficar de pé
com o joelho do mundo
no seu pescoço.

É rir no esboço,
amar no esgoto,
escrever poesia
com o cotovelo
pressionando o rosto.

Não é trocadilho,
minha filha,
é trauma com rima.

Porque verso
não é enfeite
é arma branca,
lâmina linguística,
faca sem cabo
cravada no dicionário.

E eu sigo:

entre ser verbo
ou virar silêncio.

Entre rimar com raiva
ou calar com senso.

Mas hoje eu falo.
Hoje eu rasgo.
Hoje eu rimo.

Porque palavra é bala
e eu
sou o gatilho.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 212

NUA DE FILTRO

Penso,
logo embucho.

A existência não pesa no peito.
Pesa no estômago.

E arde.

Pergunto ao Uber:
— Para onde vai o ser?

Ele olha pelo retrovisor e diz:
— Depende do trânsito, moça.
E da tarifa dinâmica.

Desço nua de filtro,
cheia de sede.

Sem rumo,
mas com wi-fi.

Procuro um ser humano.
Acho um influencer
em jejum de afeto.

Tento subir
a escada da ideia,
mas tropeço

num story
com filtro de cachorro.

O mundo real
virou cenário desfocado
para o close certo.

Passo no RH.
Quero pedir a demissão de Deus.

Mas o chefe é algoritmo.
Só responde de segunda a sexta,
das 10h às 16h.

(Exceto feriados
e orações mal formuladas.)

No fim,
o mais sábio
era aquele bêbado
na fila do pão.

Olhou pra mim
com farelo nos lábios…

E disse:
— Tudo é relativo.
Inclusive o troco.

Eu ri.
Depois chorei.
Depois publiquei.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 211

Você não é difícil.
É muuuito.

Difícil de engolir
sem que rasgue por dentro.

Calei.
Aceitei a frase.

Engoli o choro
como quem tranca
um animal na jaula.

A dor latiu baixo.
Nenhum escândalo.

Fiz café.
E, veja só,
ainda servi.

Sorri.

Os pães estavam quentes.
O recheio de estricnina
também.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 209

🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

SOU EU QUEM LAMBE

Sou eu quem lambe.
Com olhos fechados
e intenções escancaradas.

Sou eu quem abaixa a guarda:
a tua.

Quem desce,
sem pressa,
pelos degraus vulneráveis
do teu querer.

Lambo onde o medo mora.
Onde o nome não chega.
Onde o desejo sussurra:
“É aqui.”

Não aviso.
Insinuo.
Respiro perto o bastante
para tua pele confessar sozinha.

Sou eu quem curva o mundo
com a ponta da língua.

Não há vulgaridade.
Há vértice.
Há um templo
que reconhece a língua como oferenda.

E quando tua voz falha,
quando teu corpo se entrega em silêncio rouco:
eu sigo.

Porque sou eu quem lambe.
E quem lambe,
governa.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio208

CEGUEIRA PROVOCADA

Fechou os olhos.
Acolheu
a cegueira.

Não suportou
me sentir
inteira.

Escolha dele.

Ouviu.
Cada sílaba
do que não podia
nomear.

As entrelinhas,
as pausas,
os silêncios
escancarados
que eu
teimava
em gritar.

Fez bico pro gosto:
amargo.

Cuspiu.

Disse:
“te quero.”
Disse:
“você é livre.”

E em cada linha do discurso
uma cela com vista para o mar.

Soltou minha mão
como um homem nobre
solta o que não sabe tocar.

Mas os dedos dele
ainda rondavam
minha garganta.

Puxou de volta
não com pegada,
com lógica.

Essas armadilhas
que desmontam
um “não”
desfazendo o laço.

Aceitou migalhas
restos mornos
de um banquete
que eu já
não queria
servir.

E eu fiquei:
sua mulher,
seu altar.

mesmo ele
sem nunca
ter aprendido
a
ajoelhar.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 205

Faço interessantes viagens
todos os dias

por sua boca, peito
e olhos perfeitos.

Percorro o meu corpo
ao som da sua voz

sonhando que, um dia,
não o faça a sós.

Check-IN, checkOUT

check-IN, checkOUT,

check-IN, checkOUT:

Knockout!

Cr💞s   Carneiro

Repost de 23/O3/24

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 204

Multiverso do Eu

Múltiplos eus
em múltiplos versos:

versos meus,
versos reversos.
Eus dispersos…

Sou eu,
sou outra,
sou eco,
sou rastro.

Me multiplico no verbo,
me fragmento no ato.

Sou um,
sou muitas,
sou nenhuma.

Cada eu
um espasmo.
Cada verso
um recomeço.

Me leio,
me verso,
me erro.

Me Uni-verso.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 203

início, meio e sim.

Falta pele.
Sobra espera.
Bato na porta certa,
com o coração aberto.
Vou.
E no ir,
me faço casa,
me faço volta,
me faço mundo.

Prefiro mãos.
Não peço promessas.
Teto que abrace,
olho que entenda.
E fica.

Sou recomeço.
E se estiveres
(a)fim,
serás o meio.
Sim!

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 202

MÍOPIA NO COSMOS

Me abracei tão de dentro
que virei universo.

O caos?
Tá no meu bolso,
feito fósforo gasto.

Silêncio não é falta
é excesso de tudo
que já não grita.

Transbordo quieta,
mas ardo por dentro.

Não caibo em mim
(e nem pretendo).

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 201

ENTRELINHAS

🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤
no Dia do Escritor

Entra sem bater.
Senta à mesa do meu pudor
e o despe,
em deguste lento.

O silêncio acende a luz baixa.
A respiração escreve o prólogo
nos vãos do meu pescoço.

Nu,
carrega o charme sujo de quem
esqueceu o nome do pecado,
mas nunca o gosto.

Um piano
oferece suas teclas
como costas arqueadas.

Música que só se ouve
com os dedos
e os dentes.

As mãos tropeçam de propósito.
Acham rendas
onde nem há tecido.

Abrem meus segredos
com a leveza lasciva
de quem já não acredita
na pureza da palavra.

Entre o susto e a entrega,
tremo.

O poema sobe pelo ventre,
arrepio que lembra meu nome
e o esquece depois,
na rima da nuca.
Desce suave,
outra vez,
pelas linhas que a gramática
evita.

Ele
(ou talvez eu)
encaixa vírgulas com o quadril,
abre parênteses com as coxas,
encerra sentenças
com reticências na língua.

Não permite ponto final.

E há um verbo que nos une,
no presente mais que urgente
da pele.

Só os amantes percebem.

Somos só gerúndio:
ainda,
acontecendo,
desfazendo-nos.

Sempre.

Mais que corpo.
Mais que sonho.

Para além ,
muito além,
do amor.

Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro
CrisRibeiro @CrisRibeiro

#Desafio 200

O Que a Boca Poupa

Colo.
Ninho.
Manta.
Abrigo costurado na pele.

Silêncio morno
na brisa que lambe a tarde,
com cheiro antigo de pão.

Véu.
Intuição.
Lampejo.

Espelho torto
do qual não fujo.
Baralho cigano sobre a mesa
um papo profano, desvendando
o que em mim é segredo
e sal.

Raiz.
Porto.
Bússola.

Presença
que ancora a queda.
Promessas ditas com os olhos.
E nos olhos,o que a boca poupa:

a verdade crua
da intenção
que não
mente.

Lume.
Entrega.
Vertigem.

Suspiros roucos
que acordam a pele,
que lembram o caminho
da sede mais doce
de ser feliz,
outra vez.

Seiva.
Pulso.
Sangue.

Respiro que arromba o peito.
Tambor que bate sem cerimônia
na primavera teimosa
de renascer
em você.

Mesmo fora de tempo.

Mesmo fora de estação.

Mesmo assim.

Cr💞s Ribeiro