

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 168
De Penas Sem Pena
O travesseiro sabe tudo.
Engole gritos,
ampara pesadelos,
ouve coisas
que nem eu admito.
Guarda lágrimas que neguei de dia,
cheiros que já não são meus,
palavras que não tive peito de cuspir.
Psicólogo sem diploma,
padre sem batina,
confessor que nunca responde
mas sempre absorve.
Às vezes sonho.
Outras, só deito.
E espero o sono vir
como quem espera um amante bêbado:
tarde,
errado,
mas melhor que nada.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 167
Ralo
O ralo leva mais do que devia.
Não é só cabelo,
é pedaço.
Um pensamento que escapa,
uma saudade antiga,
um cansaço viscoso.
Ele suga.
E eu deixo.
É bom sumir um pouco
mesmo que seja só
em partes.
Dispa-rates.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 166
Fecho o box.
Paredes de vidro.
Transparência inútil:
ninguém me vê.
Aqui dentro
existo com menos barulho.
A água me cobre,
mas não me apaga.
Desmancho o rosto
para recompor depois.
O espelho não cobra,
mas também não consola.
Deixo escorrer
o que não cabe
em palavra,
ou em grito,
ou em poema.
Dói mansinho,
feito vazamento
que ninguém nota,
mas afoga.
Dói baixinho,
como tudo
que é
constante.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 165
Higiene Pessoal
Sabonete pela metade.
Como eu.
Usada.
Lisa.
Gasto no atrito
de mãos que nunca perguntam.
Cheiro bom escondendo
a sujeira que gruda:
sorriso em manhã de ressaca.
Ninguém sabe
quanto custou se manter limpo,
parecer leve.
Só se espera.
Só se cobra
ser cheiro, ser espuma, ter graça.
Mesmo quando a alma apodrece
no canto do box.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 164
O encontro
foi sol:
simples
feito sede.
Ardeu onde
nem tinha pele…
Aí ele
(olho sem manual)
disse sem dizer:
fica?
E agora
essa dúvida que
morde:
vou?
Ou fico onde já sei
a coreografia?
Tarot ri
como quem já viu esse filme:
vai.
Não se navega
mapa de alma
com GPS
sintonia não se explica
se brinda
(e se tropeça,
dança).
Não deixa o medo
pôr armadura
no que é só
neblina querendo parecer concreto.
Você
é sol
de estourar lente
não cabe em sombra-nenhuma.
Então vai
com medo mesmo
com mão suando
com tudo.
Segundo ato
não tem script
tem espaço.
E você
foi feita
de possibilidades
e luz
que brilha
antes mesmo
de nascer.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 163
A Luz que Pisca
A luz do espelho pisca.
Um alerta.
Um quase.
Não sei se é sinal divino
ou curto no destino.
Talvez Deus
brincando de Morse.
Ou talvez só falte
chamar o eletricista:
fazer remendo no fio
da minha sanidade,
pendurado no teto.
Já pensei em rezar,
em chamar alguém.
Já pensei demais…
É difícil diferenciar fé
(com cara de gambiarra)
de fiação exposta,
com cheiro de queimado,
quando a vida
volta a ser meio apagada.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 162
Azulejos Confessionais
Os azulejos não ouvem,
mas guardam.
Sabem de mim mais que eu.
Sabem do choro mudo,
do sangue escondido,
do suspiro às 3h27.
Confesso a eles
porque não me interrompem.
Não julgam.
Nem dizem que vai passar.
Só ficam:
Friamente fiéis.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 161
Reflexo Falho
O chão frio
do banheiro
permanece
fiel.
A imagem
no espelho
é que trai,
oscila,
feito fases
da lua.
Às vezes
reluz,
noutras
enegrece.
Sempre
trincada,
nunca
inteira.
Talvez
o problema
seja
a penteadeira.
Ou quem
penteia feridas
como se fossem
cabelos.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 160
EIDOLONS
Sinto
saudade
não sei
de quê.
Do que
inventei,
do que sonhei,
do que
menti
para mim.
Saudade
órfã,
bastarda,
costurada
na insônia.
Foi
sem ser.
Ficou
sem estar.
Eco
do não.
Cheiro
de pele
inventada.
Gosto
de beijo
sem boca.
Língua
de Eidolon,
sem
centelha
de alma.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio153
🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤
Mais um dia amanhece gelado.
Mas é fogo que me toma por dentro.
Fecho os olhos, renego o real.
Me lanço a ti : febre, ritual.
Teu sorriso, safado, torto,
convida: “Vem! Me perde no corpo”.
Teu olhar me despe com fúria.
Tua língua: incêndio que murmura.
Tuas mãos: audácia e veneno.
nos meus seios, meu pescoço, terreno.
Abro as pernas. Sou altar, oferenda.
Mas tu me nega. E isso me acende.
Te demoras. Me bebes. Me cravas.
Feiticeiro da carne, desejo que lava.
Teu gozo é culto. Meu corpo, altar.
Sommelier do amor
a me devorar.
Cr🔥s Ribeiro
****Releitura

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio149
🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤
Teus pelos,
meu olhar:
minhas mãos
a deslizar.
Tuas pintas,
o meu fraco:
minha língua
a mapear.
Teu desejo,
os meus lábios :
meu pescoço
a ritmar
Teu suspiro,
meu prazer.
Minha aflição:
te ver gozar.
Teu gemido,
meu sorriso:
minha boca
a se fartar.
Teu carinho,
meu amor.
Nossas mãos
a entrelaçar.
Cr💞s Carneiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio148
Inteira
Sou a escolha
que espera
ser feita.
(por mim)
A dança
entre o risco
e o enraizar.
Nada de metade.
Meu desejo
não é tropeço:
é bússola de pele.
Meu tempo é colheita.
Sei onde sangro,
sei onde floresço.
Me basto.
Mas, se quiserem ficar,
que venham com as mãos nuas
e o coração
sem tréguas.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio147
A chuva chove
os olhos, olham
A ansiedade?
Ansia, ora bolas!
Tudo é.
Menos o amor…
Preguiçoso,
se espreguiça no limiar
e não se atreve.
Que medo de tentar!
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio146
Não mata de uma vez.
Corteja.
Faz do corpo
violino em desatino,
encordoado em nervo,
arqueado em angústia.
É flor do mal
sem vaso.
Não carece jardim:
brota do sangue,
na veia do “tanto faz”.
Cheira amargo:
infância mal digerida,
conselho de mãe cansada.
Dá náusea.
Não,
não é alcaloide.
Não é estricnina.
Não é veneno vendido.
É só a consciência.
Essa vadia elegante
que te visita
ao romper da manhã,
ensinada por infelizes
a se importar com todos
e esquecer de si.
Como uma puta.
Ou uma metralhadora de afetos
em forma de mulher
que, por ser,
já morre
de si.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio145
Em Trânsito
Nunca
os vi.
Nunca.
Mas
nos lemos
por dentro.
Nos salvamos
em madrugadas tortas,
sem toque,
sem rosto.
Presença que atravessa,
não é tela.
É
pele.
Agora
vou.
A estrada:
rito.
Travessia para
tornar
carne
o que já
era
coração.
Urgência
do
tato.
fim
de
exílio,
fome
de
abraço,
olho
no
olho.
Suor.
Riso.
Presença.
Ao vivo.
Não é São Paulo,
são
eles.
Vozes
que
me
cabem.
Amores
que
me
invadem.
Afetos
que
o
corpo
desconhece,
mas
a
alma…
chama
de
casa.
Dia doze:
partida.
Dia treze:
encontro.
Meu mundo
se rende:
sentimento,
verdade.
Sem distância.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 144
🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤 ❤️🔥💞❤️🔥
Cio
Vem.
Agora.
Sem aviso,
sem palavras.
Arranca minha roupa com os dentes.
Com raiva.
Me cola na parede,
me faz saber o que é ser tua.
Vira.
Usa.
Faz.
Se restar algo de mim,
que seja o gosto da tua saliva.
Tô aqui.
Queimando.
Te esperando como quem sangra o tempo.
Meu corpo: função da tua fome.
Não quero promessa.
Nem futuro.
Quero teus dedos cravando.
Tua voz enterrada no meu grito.
Teu prazer na minha pele,
tua ausência latejando.
Me toma
como bicho.
Mas não promete nada depois.
Hoje
é só cio.
E silêncio.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio143
Devaneio em Dó Maior
A hora
(amante distraída)
passa
me deixando no abandono.
Um corpo que finge estar presente
enquanto a alma flutua
despida
num céu sem chão.
Tempo estendido
no varal do talvez.
Seca lento
cheirando a promessas não ditas.
Devaneio:
o lençol onde me deito
quando a realidade pesa.
Crepúsculo dissolve
o que eu jurei cumprir.
O que eu desejei ardentemente…
e não ousei tocar.
Minhas ideias
despenteadas, sensuais
indomáveis
fogem ao toque da razão.
Labirinto.
Cada escolha é uma dança com a dúvida:
mais uma volta
em mim.
O sossego é só maquiagem.
O incômodo
esconde-se sob a pele
feito desejo calado.
Vertigem.
De tudo que pulsa.
Do que espera.
Do que clama.
Ausência.
De ação
de coragem
de nudez emocional.
Vácuo.
Lugar onde o querer
treme diante do fazer.
E então me embriago
com a promessa mais suave
e mais cruel:
Amanhã.
O nome mais bonito
da mentira.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio142
O Que Já me Queima
Vida pouca,
pequena.
Quisera um compasso
(ou febre)
pra dilatar o instante
em que, enfim,
te houver.
Que minha pele,
(ainda virgem da tua)
saiba arder a eternidade
num só segundo:
tempo nenhum bastando
pra aquilo que já me queima
e consome
antes mesmo
de ser.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio141
Noite no centro:
olhos cegos, mãos nuas.
Espadas cruzam.
Silêncio zingra,
acende o fogo,
morde a carne,
sangra sem aviso.
O peito, covarde, hesita.
Gota seca,
copo vazio,
ninguém vai encher.
Não se mente para dentro:
corte o talvez,
arranque o “se”,
fode a dúvida até ela gritar.
Diz teu nome,
pelada,
sem pedir desculpa
por querer,
por queimar,
por viver.
Não tem prêmio,
não tem castigo,
só consequência.
Você é tudo.
Por que ajoelhar-se
pedindo permissão
para ser amada?
Ama-te primeiro,
sem bênção,
sem perdão.
É o fim.
Ou começo…
Nunca mais como antes.
Levanta,
espelho,
desnuda o desejo:
tempestade que sussurra,
fúria que acaricia a alma,
vento que derruba a calma,
sem ousar disfarce:
Incinera tudo.
Sê inteira.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio140
Partitura da Falta
O real
escapa
me
assusta.
Sigo
na marcha silenciosa
da falta
do que nunca foi meu
e ainda assim
me move.
Causa do meu desejo:
tão perto
que queima
tão presente
que fere.
Visceral.
O gozo impossível
não me curva.
Me ergue.
Me afirma.
Sou mulher
na corda bamba
do querer:
barrada
cortada
castrada.
Não posso
ter tudo.
Mas desejo.
E o desejo rasteja
circula
lateja.
Insiste
mesmo sem razão
mesmo sem licença.
A angústia
rasga o peito
sem nome certo.
Desloca
condensa
encena.
Alerta vermelho:
o perigo mora dentro.
Ali
sob o tapete
varri
o que recusei sentir.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio139
Leve, Lá Dentro
Pés no mato,
o chão respira,
transpira aroma verde
com notas de liberdade.
Trilha que serpenteia
até paragens doces:
lá dentro.
Ali, é ela:
leve,
desfeita no tempo,
em pedaços de vento.
Cada passo
descalça certezas.
Sorriso que nasce,
regado de orvalho,
banhado de Sol.
Sol que ama
quem se atreve
a se ver:
nua,
inteira,
incendiada.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio138
Feitiço
Silêncio:
expectativas desbotadas.
Lençol esquecido no varal
de um amor que não seca mais.
Fui temperança,
plantei paciência em terra rachada,
reguei com esperança:
engoliu-me o deserto.
O tempo não é santo,
não conserta,
não cura tudo.
O amor não basta.
Sozinho, cansa.
Fingi não ver.
Fingi não doer.
Fingi que esperar era amar.
Atriz do próprio abandono,
roteiro escrito à lápis,
alma gritando entre cenas.
A hora de cortar o nó
badalou dentro do peito.
Sem piedade.
Algo morreu.
Não te culpo,
nem me culpo mais.
A vida não é tribunal,
é estrada.
E eu sigo.
Nem sempre reta,
mas sempre minha.
Sou feitiço,
não súplica.
A minha escolha
sou Eu.
Mesmo depois da queda.
Ou talvez…
por causa dela.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 137
🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤 ❤️🔥💞❤️🔥
Língua na Curva
Flor se abre,
molhada.
Lua: cúmplice,
calada.
Sussurro rouco.
Minha sede
é tua dobra.
Tua pele
nunca foge.
No vão da perna,
minha boca
silencia,
arde,
implora.
Tua entrega
me devora.
Lençol no chão.
Tua sombra
me atravessa.
Cada gesto
uma promessa.
Meu peito arfa,
ritmo cru
dos teus dedos.
Minhas coxas,
teus segredos.
Tua carne pulsa.
Te penetro com a fala
e com a língua…
calas.
Teu gosto me guia.
Me afundo
até a espinha.
Sou fome
que te alinha.
Espasmo violento.
Chuva
arde em meu queixo.
Teu gozo
no meu beijo.
Me habitas inteira.
Teu prazer
me incendeia.
Sou vulva.
Fogo.
Fogueira.
Meu corpo é tua prova.
Tua boca
me conduz.
Sou mulher,
não peça:
me traduz!
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 136
Querer Ser
Riso que veste tua dor,
disfarce de carnaval.
O que te rasga por dentro
quando empurra ao fundo:
quieto.
Vidro quebrado
que não se esconde
sob o tapete.
Feridas viram rotina,
medos sussurram
em lábios entreabertos
exaustos da espera.
Sonhos deixados no acostamento,
entre uma escolha e outra,
te acordam afobada
por temer a derrapada.
Mil versões,
um só nome.
Prazos, metas, boletos.
A existência pendurada
no último cabide
do guarda-vidas.
Te esqueces:
Ser é verbo que exige mergulho.
É se ver no espelho
e escolher acender,
escolher querer.
E,
mais que tudo,
querer ser.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio135
Canto
Para dispersar
todo o pranto
perder-me
em encantos
dissecar
a alma
expor
o matiz
da dor
E ao ardê-la:
me levanto
me estiçalho
me recolho
me espalho
ou me espantalho.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 134
Cárcere Desejado
Espelho
do meu infinito:
Amo-te
com a serenidade
de quem sabe
e a vertigem
de quem se perde.
Sou.
E, sendo,
desdobro-me
em mil versões
que só tua presença
desnuda.
Mais madura
ainda crua ao toque
tocada
pela ternura nos teus olhos
quando me vês
sem defesa.
Teu amor:
cela e céu.
Me aprisiona em liberdade,
me solta
com algemas
de vento.
Te pertenço
como a noite
pertence ao delírio:
Entregue, escura, eterna.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 133
(Imersa)
Aturdida.
Invadida.
Molhada.
Ar?
Suspiros
cor/ta/dos.
Naufrágio.
(Só o doce)
Não-tragédia
é desejo.
Desejo o fundo:
insanamente.
Virar água.
E sal.
E ti.
Me dissolver em você.
E depois,
talvez,
nascer
de novo.
Mais uma vez
renascer.
(Ou não.)
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 132
Agraciada Sou
Filha de Carminha,
tempestade
mansa.
Mãe de Luísa,
meu verbo
mais bonito.
Sou aprendiz do amor:
com tropeço,
com reza,
com sangue gritando nas veias
e abraço largo,
feito abrigo.
Hoje,
uma falta.
A outra,
solta.
Mas o que me costura
por dentro
é essa linha invisível,
bruta,
delicada.
Afeto espesso,
doçura áspera,
rigor que firma
o chão
de quem ama.
A certeza de ter sido querida
é raiz
no tempo que me coube.
E o desejo,
nu,
sem rodeio,
que o bem abrace forte
quem cruzar meus passos,
sempre vem.
Sempre.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio 131
Acuso você
por tudo
que sou
por medo de ser
o que em mim
ressoa
(eu engulo).
Te faço espelho
embaçado:
ver-me
é vertigem.
Projeto em tua pele
as minhas sombras
aponto o dedo
sem sangrar.
Covarde
me escondo
no reflexo
do teu olhar.
Condeno-te
sem lâmina
para que eu siga
intocada.
Mimada
em fugas
protegida
na redoma
de desculpas
ensaiadas.
Mas se tocasses
meu lado B
encontrarias
a chaga viva
o caos manso
a menina
que aprendeu
a não doer
em voz alta.
E tua alma
(tão pura)
talvez tremesse.
Sem filtro
sou farpa.
E no gesto de amar
rasgo.
Dói
em ti.
Mas em mim
dilacera devagar:
agulha cega
bordando carne crua.
Cr💞s Ribeiro

CrisRibeiro @CrisRibeiro
#Desafio130
Areia Movediça
Não foi justo
ter permitido.
Tarde demais,
fiz-me presa.
Afundo em ti:
areia movediça
de um amor sem fim.
Não tento escapar.
Ignoro os cipós lançados.
Salvar-me de quê?
Quero ser engolida,
mastigada,
deglutida.
Quero a prisão.
Cedo demais,
fui permitida.
E é justo,
justíssimo,
morar na tua imensidão.
Cr💞s Ribeiro
*** A você que permitiu: não foi descuido.
Foi abrigo. Foi casa. Foi sim. E segue sendo.